Igreja Paroquial do Botão / Igreja de São Mateus

IPA.00005206
Portugal, Coimbra, Coimbra, União das freguesias de Souselas e Botão
 
Arquitectura religiosa, manuelina, maneirista e barroca. Igreja paroquial de planta longitudinal composta de três naves, com cinco tramos, tendo adossado lateralmente várias capelas, e capela-mor rectangular, contrafortada, e dois absídiolos quadrangulares, interiormente com tectos de madeira na nave e abóbadas de berço em caixotões nas capelas e absidíolos e abóbada estrelada na capela-mor, e iluminada axial e lateralmente. Fachada principal, rebocada e pintada, terminada em empena e rasgada por portal de verga recta, enquadrado por colunas suportando frontão interrompido e óculo quadrilobado. Fachada lateral direita com porta travessa de verga recta e fresta. No interior, as naves são separadas por arcos de volta perfeita sobre colunas toscanas. Baptistério no lado do evangelho, e capelas laterais, mais ou menos profundas, com arcos de volta perfeita sobre pilastras ou colunas, caneladas, suportando entablamento, interiormente com abóbadas de berço, com caixotões, decorados, e albergando retábulos pétreos, de planta recta e três eixos, típicos da Escola Coimbrã. Púlpito em cantaria, de planta circular e guarda plena, decorada com vários elementos, sobre coluna, seguindo igualmente as características da Escola Coimbrã. Capela-mor com retábulo pétreo seguindo o mesmo esquema e absidíolo do Evangelho revestido a azulejos de tapete, maneiristas, e com retábulo de talha dourada, de planta recta e três eixos, também maneirista. Igreja remodelada ao longo do tempo, subsistindo vestígios de vários períodos. Do período manuelino, conserva a sacristia e a capela-mor, acedida por arco quebrado, coberta por abóbada estrelada com bocetes decorados, e com portal na parede do lado da Epístola, onde surge o monograma FP, que Pedro Dias (1982) identificou como referência ao mestre construtor Francisco Pires. O mesmo autor relaciona a sacristia e a capela-mor com outros imóveis de Montemor-o-Velho, afirmando serem subsidiárias da Arte que se praticava no estaleiro de Santa Cruz de Coimbra. Dá como exemplo a Igreja de Santa Maria da Alcáçova, tendo em conta a presença de outro monograma no exterior do portal lateral da Igreja e as afinidades entre a decoração dos bocetes e das mísulas da Igreja do Botão com os capitéis e bases dessa e, a semelhança do traçado das curvas e dos perfis das molduras da porta da sacristia do Botão, com a porta lateral da Igreja de Montemor. Inicialmente de nave única, foi no séc. 17 ampliada, a expensas do povo, para três naves, a que se adossou, parcialmente na fachada principal, campanário terminado em empena, e várias capelas laterais. Conserva em alguns frontais de altar azulejos hispano-mourisco, do séc. 15 / 16, o do retábulo do Sacramento, executado em técnica de aresta, datável do séc. 16, cujo padrão, com cercadura, concilia motivos geométricos diversos, organizados segundo uma composição radial sugerindo rosáceas. No interior, sublinha-se o revestimento com azulejos de padrão, de módulo 6x6, monocromo, em tons de azul, com rosetas e entrelaces, datado do séc. 17, que, de acordo com João Pinho, é um padrão muito apreciado e usado na região de Coimbra. Tal, leva o autor pôr a hipótese de se tratar de um modelo de fabrico coimbrão, datável dos finais do séc. 17. A Capela de Santo António tem nas paredes azulejo de padrão lisbonense, de módulo de 2x2, tricolor, azul, amarelo e branco, envolvido por friso de larga difusão em Portugal. Os retábulos pétreos são maneiristas, mas o da capela de Nossa Senhora da Piedade, datada de 1721, tem na base do colunelo, do lado direito, a inscrição "16" e, no frontão, a data de 1661; a sua estrutura é semelhante ao confrontante da capela de Santo António. O retábulo da capela-mor, segundo Francisco Lameira, é de tipo narrativo ou didáctico, recorrente durante os sécs. 15 e 16; resultou de uma encomenda das freiras laurbanenses que incluía um outro, do qual restam alguns fragmentos no Museu Machado de Castro, segundo Nelson Correia Borges. Este retábulo pertencia inicialmente a outro local e só foi colocado na capela-mor durante as obras de restauro de 1940 / 1944, seguindo orientações eclesiásticas e substituindo um outro retábulo de talha, datado do final do séc. 17 / início do séc. 18. Este retábulo, cujas características nos remetem para a produção coimbrã, poderá ser de João de Ruão, ou da sua oficina. O retábulo do absidíolo do Evangelho, espaço de devoção da Irmandade de São Mateus, data do primeiro terço do séc. 17, possuindo o ático vazado por óculo. A torre sineira adossada a uma das capelas laterais foi construída no séc. 20.
Número IPA Antigo: PT020603080087
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta por três naves, de cinco tramos e capela-mor, rectangular, mais estreita, ladeada por dois absidíolos quadrangulares, tendo adossado na fachada lateral esquerda uma capela rectangular e, na oposta, três capelas, rectangulares e torre sineira, quadrangular, colocada no topo da primeira. Volumes escalonados, com coberturas em telhados de uma, duas e quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, as laterais terminadas em beirada dupla e as das capelas laterais e capela-mor em cornija de cantaria; a principal e a lateral direita são percorridas por embasamento, igualmente rebocado e pintado. Fachada principal terminada em empena, coroada por cruz latina de cantaria, decorada com os instrumentos da Paixão, e rasgada por portal de verga recta sobre impostas volutadas, ladeado por duas colunas toscanas, assentes em plintos, que suportam arquitrave e fragmento de frontão, de friso denticulado, tendo no tímpano cartela rectangular com inscrição, enquadrada por volutas. Sobre o portal, rasga-se óculo quadrilobado. À direita encontra-se aposta campanário, em cantaria aparente, de aparelho irregular, terminado em empena, rematada por cornija, com dois vãos em arco quebrado, encimados por inscrição. Fachada lateral esquerda cega, abrindo-se no topo da capela lateral, janela jacente, moldurada; a lateral direita é rasgada por portal de verga recta e fresta moldurada e, a capela, com cunhais de cantaria, por janela jacente moldurada. Torre sineira, ligeiramente mais estreita que a capela, com embasamento de cantaria, cunhais marcados, coroados por pináculos piramidais sobre plintos, e terminada em frisos e cornija, coberta em coruchéu piramidal, coroado por pináculo e catavento em ferro, em forma de galo; apresenta na fachada lateral direita e posterior frestas molduradas e na frontal relógio circular moldurado; superiormente, rasga-se em cada uma das faces vãos em arco de volta perfeita, moldurados, albergando sino, existindo sobre o frontal lápide com inscrição. A segunda capela, terminada em empena, é rasgada por janela e a que se lhe segue, é mais pequena e termina em cornija sobreposta por beirada. A fachada posterior é composta pelos volumes da capela-mor, com contrafortes escalonados de cantaria nos cunhais e ao centro, encimados por gárgulas de canhão, decoradas com motivos geométricos relevados e zoomórfico, e dos absidíolos, rasgadas lateralmente por fresta com moldura de capialço e janela quadrada, respectivamente, gradeadas. INTERIOR com naves separadas por arcos de volta perfeita, sobre colunas toscanas, pavimento, desnivelado a partir do último terço, com zonas de circulação e capelas em cantaria e cerâmico nas restantes áreas, e com tecto em madeira, de masseira; as paredes são rebocadas e pintadas de branco. O portal axial é ladeado, do lado da Epístola, por pia de água benta cilíndrica, tendo na base dois troncos entrelaçados. Na nave do Evangelho, dispõe-se baptistério, sobre soco de cantaria, com pia baptismal facetada, protegida por teia de balaústres, e tendo frontalmente nicho de alfaias quadrangular. Nas naves laterais, ao nível do tramo médio, rasgam-se duas capelas, semelhantes, a do lado do Evangelho, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, e a oposta a Santo António; são acedidas por arcos de volta perfeita, em pedra de Ançã, decorado com acantos e intradorso com almofadas de motivos geométricos, sobre colunas compósitas, enquadradas por pilastras, de fuste almofadado com motivos geométricos, assentes em plintos também almofadados, sobrepostas por colunas caneladas, de terço inferior marcado, sobre mísulas, suportando arquitrave, ornada com motivos geométricos; seguintes com acantos relevados. Interiormente, têm cobertura em abóbada de berço, com caixotões contendo motivos geométricos diversos em alto-relevo, sobre friso ritmado por mísulas e cornija. A capela de Nossa Senhora da Piedade possui teia de madeira, e ambas têm nicho de alfaias, com a configuração do portal. Albergam retábulos em cantaria, de planta recta e três eixos, ladeados por orelhas recortadas, conservando vestígios de policromia. Na nave do Evangelho rasgam-se sequencialmente duas capelas, pouco profundas, com arco de volta perfeita, o primeiro com vestígios de pintura mural e intradorso rasgado por um nicho, de cada lado, albergando imagens, e o segundo sobre pilastras toscanas, tendo na parede de fundo nicho curvo. Na nave da Epístola existem também duas outras capelas, intercalados por púlpito; a primeira, mais simples, tem arco de volta perfeita, sobre pilastras, ambas almofadadas, e apresenta parede rebocada e pintada de branco rasgada por nicho curvo longilíneo, assente em friso horizontal; a segunda é acedida por arco de volta perfeita, decorado com elementos vegetalistas e querubins e de intradorso almofadado, sobre colunas coríntias, encimadas por cornija, interiormente com abóbada de berço; apresenta altar com frontal integrando imagem do Cristo Morto em maquineta. Púlpito em pedra de Ançã, cilíndrico, com guarda plena decorada por cartelas, carrancas, vieiras e outros elementos, conservando vestígios de policromia; assenta em base ornada de motivos vegetalistas e coluna toscana. Arco triunfal quebrado de várias arquivoltas, a interior sobre capitel fitomórfico, encimado por um baixo-relevo, de cantaria, com representação do Calvário, policromo. Capela-mor com parede do lado do Evangelho rasgada por portal, de arco contracurvado, dobrado, acedendo ao absidíolo, ladeado por mísula de cantaria suportando imagem, e a da Epístola por fresta moldurada. Cobertura em abóbada estrelada com cinco bocetes, destacando-se o central, policromo, com representação das armas de D. Catarina de Eça, suportadas por dois anjos tenentes dourados e, a de topo, dividida em dois círculos concêntricos, o interno com decoração vegetalista e o externo com inscrição, sobreposto por cruz de Cristo; as restantes apresentam decoração vegetalista e geométrica, conservando vestígios de douramento. Na parede testeira surge o retábulo-mor, de cantaria, de planta recta, três eixos, definidos por pilastras decoradas com cartelas e frutos, sobrepostos por colunas balaustres sobre plintos, e dois registos, marcados por entablamentos com querubins nos frisos; no primeiro registo surge sacrário em forma de templete, de faces definidas por colunas, ladeado por imagens, e terminado em tambor e lanternim, encimado por crucifixo, entre dois anjos músicos; nos eixos laterais tem nichos concheados, albergando as imagens relevadas de de São João Evangelista (Evangelho) e São João Baptista (Epístola). No segundo registo surge, ao centro a representação da Coroação da Virgem, em que esta é ladeada por Cristo e Deus Pai, e nos eixos laterais, inseridos em nichos pouco relevados, anjos músicos. Ático em frontão triangular, no eixo central, com Deus Pai no tímpano, e elementos recortados nos laterais. Banco ritmado por plintos paralelepipédicos decorados com a representação de quatro Apóstolos, figurando, à esquerda, São Paulo e São Tiago Maior e, à direita, Santo André e São Pedro, intercalados por cartelas pintadas e enquadrando, ao centro, representação das Almas. Altar paralelepipédico, com frontal revestido a azulejo hispano-mourisco, com motivos geométricos policromos e cercadura, ornada de motivos vegetalistas estilizadas envolvido por moldura, decorada com motivos geométricos policromos. Absidíolos acedidos por arcos de volta perfeita sobre pilastras, de fuste almofadado, o do lado da Epístola decorado com símbolos da Paixão, supedâneo de três degraus e cobertura em abóbada de berço de caixotões, decorados, no lado do Evangelho, com motivos Marianos e florões e, no lado da Epístola, apenas com florões. O absidíolo do lado do Evangelho apresenta paredes revestidas a azulejo de padrão, de módulo 6x6, P-603, envolvido por cercadura B-45, em 22 ao alto, sendo a do lado do Evangelho rasgada por janela quadrada, moldurada e gradeada. Na parede fundeira surge retábulo de talha dourada, de planta recta e três eixos, ladeado por orelhas de talha, policroma. O absidíolo do lado da Epístola tem na parede lateral direita nicho de alfaias e janela de verga abatida, moldurada; destaca-se altar paralelepipédico com frontal revestido a azulejo hispano-mourisco, policromo e de motivos geométricos.

Acessos

Botão, Largo do Botão

Protecção

Em vias de classificação

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado sobre uma plataforma elevada, formando adro ajardinado e suportada por muro em alvenaria, rebocado e pintado de branco, à excepção da sua face lateral direita, em reboco, rematada por balaustrada recente capeada a cantaria e adossado a outra construção na sua face principal. O acesso é feito através de escadaria de cantaria, de um só lanço, composta por degraus semicirculares, com guarda em gradeamento de ferro, antecedendo portão de ferro flanqueado por pilares de cantaria, rematados por cornija e pináculo. No adro existem diversos canteiros relvados com arbustos, flores e árvores e caminhos em pavimento cerâmico. As fachadas principal e lateral direita voltam-se para o largo onde se destaca um chafariz. As fachadas laterais esquerda e posterior voltam-se para a paisagem envolvente de carácter acidentado e de vegetação densa, de grande porte.

Descrição Complementar

INSCRIÇÃO: No Largo da Igreja existe um chafariz com a seguinte inscrição: CMC 1930. No portal principal, no fecho do frontão, existe a inscrição 1635. A empena é coroada por uma cruz de pedra com base datada de 1862. No topo do antigo campanário, existe a inscrição FEITO NA ERA 1605. Na parede lateral da torre sineira, surge a inscrição relativa ao relógio e sua colocação: FORNECIDO E COLLOCADO POR ANDRADE DE MELLO; um dos sinos da torre possui inscrição datada de 1977 e definindo a sua proveniência da oficina de Braga Oficina de sinos Serafim Jerónimo. No retábulo da capela lateral do Evangelho, existe a inscrição 1661 no ático. Na capela-mor existem duas lápides com inscrição: À MEMÓRIA DE ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA O QUAL FALECEU NO DIA 23 DE SETEMBRO DE 1862 EM TESTEMUNHO DE RESPEITO E GRATIDÃO MANDOU COLOCAR ESTA LÁPIDE SUA PRIMA E CUNHADA D. I.GNEZ AUGUSTA DE SEIÇA ALMEIDA E SILVA; SPON SOSUODISEDERATISSIMO EMMANOEL JOAC HIM DE SILVA QUI VI DUS NOVEMBRIO ANNO 1869 OBDOR-MIVIT IN DOMINO IN PERPE TUI DE-SI DERI TESTIMONIUM HOC MONUMENTUM CONSECRAVIT E JQS CONJUX D AGNES AUGUSTA DE SEIÇA ALMEIDA E SILVA; e, na porta, do lado do Evangelho, surge o seguinte monograma: FP. No bocete da abóbada existe a inscrição: "Esta capela sacristia mãndou fazer a muj illustre s(e)n(h)ora a s(enh)ora dona C(atari)na deca abadesa de Lorvã a quall obra se acabou no ano do S(e)n(h)or de mjll b c(entos) e x b anos". Na capela de Santo António existe uma lápide com a seguinte inscrição: AQUI JAS NUN O ALVARES PER EIRA FIDALGO DA CAZA DE S M(A)G(ESTA)DE E D DAMAZIA DE CASTRO SUA MOLHER E SEU PAI MANUEL FE O DE MELO SEN HOR DE MONTE REDONDO E SE U AVO P(EDR)O FEO DE CASTRO SENH OR TAMBEM DE MONTE REDON DO E ESTRIBEI RO MOR DEL REI D AFONSO O Q UINTO Q FALE CEU NA ERA DE 155(8). Na capela de Nossa Senhora da Piedade existe retábulo pétreo, de planta recta, e três eixos, definidos por colunas caneladas, de terço inferior decorado com motivos vegetalistas, sobre plintos paralelepipédicos ornados de acantos, sendo o central alteado por colunas balaústres, terminados em cornija, com querubins no friso; o eixo central é rematado por cartela com inscrição entre pináculos e os laterais por aletas, decoradas com motivos vegetalistas, ladeadas por urnas; no eixo central surge representada em relevo a cidade de Jerusalém e a cruz do calvário e os laterais têm nichos concheados com imaginária. A capela de Santo António apresenta as paredes revestidas a azulejo de padrão do módulo 2x2 P- 33, envolvidos por cercadura C-82 e friso F-10, enquadrando na parede do lado do Evangelho cartela, de cantaria, com duas pedras de armas referentes a três famílias *1; na parede do lado da Epístola, sob o nicho de alfaias, rasga-se janela jacente, de capialço, gradeada. O retábulo, de cantaria, tem planta recta e três eixos equidistantes, definidos por colunas caneladas e terço inferior com cartela recortada, sobre plintos almofadados, tendo em cada eixo nichos pouco profundos, em arco de volta perfeita, interiormente concheados e albergando imaginária sobre mísula; ático em tabela rectangular, delimitada por colunas, tendo ao centro nicho do mesmo perfil albergando imagem, terminado em cornija, e ladeado por apainelados adaptados ao perfil da cobertura, com anjos relevados. O absidíolo do Evangelho tem retábulo em talha dourada, de planta recta e três eixos, definidos por duas colunas de fuste espiralado e de terço inferior ornado com motivos vegetalistas e querubins, e dois quarteirões, com acantos e querubins, todos sobre plintos paralelepipédicos com motivos fitomórficos; no eixo central tem nicho em arco abatido sobre pilastras, decoradas com motivos vegetalistas, interiormente pintado de branco e albergando imagem sobre apainelado, no banco, com três anjos atlantes relevados; nos eixos laterais surgem dois painéis pintados sobrepostos e separados por friso fitomórfico, em talha, figurando a Apresentação de Jesus ao Templo e, no superior, A Fuga para o Egipto, assinada e datada, por António Pinto Ferreira, 1692 (Evangelho) e o Nascimento de Cristo e, no superior, A Anunciação a Maria pelo arcanjo Gabriel (Epístola). Sobre cornija, com friso decorado com motivos vegetalistas e querubins, desenvolve-se o ático, adaptado ao perfil da cobertura, com apainelado em arco de volta perfeita, decorado com motivos vegetalistas relevados, terminado em cornija volutada interrompida por cartela recortada e rasgado ao centro por óculo oval. Sotobanco com apainelados decorados com motivos geométricos, policromo.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Coimbra)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARTESÃO: Andrade de Mello (1904). ESCULTOR: João de Ruão (séc. 16); João Afonso (séc.15). FUNDIDOR: Oficina bracarense de sinos Serafim Jerónimo (séc. 20). PINTOR: António Pinto Ferreira (1692).

Cronologia

1116 - D. Gonçalo, Bispo de Coimbra, considera a necessidade de restaurar o Mosteiro do Lorvão, que lhe fora doado sete anos antes pelo Conde D. Henrique e D. Teresa e nomeia o prior Eusébio abade, entregando-lhe os respectivos bens, entre os quais se encontram referenciadas a restauração da igreja e do culto cristão em Botão; séc. 13 - existência de querelas entre o Mosteiro do Lorvão e a Sé de Coimbra sobre os direitos da igreja, que finda em 1231; séc. 16 - feitura do baixo-relevo do Calvário; 1515 - durante o abadessado de D. Catarina de Eça *3 procederam-se a remodelações da igreja, das quais subsistem a capela-mor, a entrada da sacristia e o campanário; 1516, 31 Outubro - concessão de foral; séc. 16, 2ª metade - encomenda do retábulo do Sacramento pelas freiras laurbanenses à oficina do mestre escultor João de Ruão; séc. 16 - construção da capela do lado da epístola, conforme atesta pedra de armas, um outro brasão pintado na parede e uma campa, tendo pertencido aos senhores de Monte Redondo; séc. 16, final - novas alterações na capela-mor e a sacristia; séc. 17 - feitura de pintura a marmoreado fingindo, ainda subsistente nas colunas e arcos que dividem as naves e no púlpito, séc. 17, 1ª metade - construção e ampliação do corpo da Igreja, a expensas da população local, datando desta campanha os arcos-capela do lado do Evangelho; feitura do retábulo de talha dourada do absidíolo do Evangelho; revestimento da parede do arco triunfal a talha; 1605 - mudança do campanário para junto do portal principal; 1635 - construção e ampliação do corpo da igreja e campanário; 1661 - execução do retábulo da capela lateral do Evangelho; 1674 - a paróquia do Botão possuía cinco Confrarias: do Senhor e da Senhora do Rosário de Jesus, de Santo António, de São Brás, Bispo Mártir, e outra de São Mateus; 1692 - pintura do painel do retábulo do absidíolo do Evangelho; séc. 17, 3º quartel - execução da Capela de Nossa Senhora da Piedade, instituída desde 1721 por Manuel Gomes da Cunha; séc. 17, final - a capela-mor e a sacristia sofrem novas alterações; séc. 17, final / séc. 18, início - feitura do retábulo-mor, em talha; séc. 18 - a escultura de Nossa Senhora com o Menino foi paramentada pelos franciscanos, visto a Ordem Terceira oficiar na capela do absidíolo do Evangelho; 1712 - o Padre Carvalho da Costa refere que a povoação pertencia ao Mosteiro do Lorvão, por doação do Conde D. Henrique, a qual tinha 280 vizinhos e hospital; a igreja era vigararia e pertencia ao bispado de Coimbra; 1721- de acordo com o vigário André de Campos Cordeiro, nesta data não existia na freguesia do Botão Mosteiro, Misericórdia ou Recolhimento, mas Hospital responsável pela administração de uma Irmandade, com sede na Igreja de São Mateus, cuja fundação se desconhecia; 1758 - a vila tinha setenta e oito vizinhos e duzentos e oitenta e quatro almas; o pároco da Igreja do Botão era o Padre Vigário Colado; a imagem do orago de São Mateus era venerada no altar-mor e era paramentado pela abadessa do Mosteiro do Lorvão; a capela de Nossa Senhora da Piedade era administrada pelo Convento de São Bento de Coimbra; o altar dos Esponsórios de Nossa Senhora era administrado por José Cordeiro, além de altares dedicados a São Brás e ao Senhor Jesus; no absidíolo do Evangelho estava sediada a Ordem Terceira; possuía hospital onde os irmãos eram internados de graça e eram recebidos pobres de passagem e necessitados da freguesia; a Irmandade de São Mateus auferia um rendimento de 35$000 reis e o pároco um rendimento de 150$000 reis; a capela de Santo António, instituída por Nuno Álvares Pereira, era designada por capela de São Bernardo sendo seu patriarca São Bento e, era administrada pelos herdeiros de Gonçallo Fellis e por Magdalena de Castro; 1760, 24 Maio - constituição dos Estatutos da Irmandade de São Mateus; 1760, 3 Junho - referência à confirmação dos Estatutos da Irmandade e Misericórdia de São Mateus, que devia ter até duzentos irmãos, tendo os de fora que pagar entrada no valor de $120 reis e a cada ano $060 reis; 1775, 15 Outubro - reunião de Mesa da Irmandade de São Mateus, com assistência de cabiduais, para acrescentar cinco capítulos aos Estatutos, passando a ser constituídos por trinta e um capítulos, dado que os primitivos vinte e seis mostravam-se insuficientes para a amplitude do património da Confraria; 1779, 21 Dezembro - faziam parte da Irmandade de São Mateus 207 associados; 1779, 24 Dezembro - aprovação da ampliação dos estatutos da Irmandade de São Mateus, elaborada quatro anos antes; 1801 - a Irmandade de São Mateus possuía 583 pés de oliveira, distribuídas por várias propriedades na freguesia, algumas de exploração própria outras arrendadas a particulares mediante o pagamento de foros, um hospital para acomodação de viajantes; o seu património móvel era composto por: cruz de prata para procissões, cruz de prata prateada, cálice de prata em ouro, tumba para enterrar irmãos, campainha para avisar os irmãos pela freguesia; 1862, 23 Setembro - colocação de lápide na capela-mor em memória de António José da Silva; 1869 - num livro de Registo das Irmandades e Confrarias existentes no Distrito refere-se a Irmandade de São Mateus ou Misericórdia de São Mateus, com compromisso datado de 14 Maio de 1760 e a existência de 150 irmãos, tendo a seu cargo a gestão de 880$000 reis de fundos provenientes de escrituras e prédios, obtendo uma receita de 52$100 rs de juros, foros, rendas e jóias, a despesa era de 56$210 reis, tendo sido a última eleição em 1853, estando as contas de 1856 e 1857 aprovadas bem como o orçamento para 1867 e 1868; 1869, 2 Novembro - lápide da capela-mor; 1876 - o número de irmãos aumentou para 207, existindo um fundo de 689$900 reis; foram transaccionados, por escritura pública, capitais no valor de 1.141$950 reis, a par de uma dívida activa de 34$815 reis; 1876, 6 Abril - o Governo Civil atribui alvará aos estatutos da Irmandade de São Mateus; 1876, 26 Dezembro - a Irmandade aprova e confirma os estatutos; 1878, 27 Agosto - o Bispo de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina aprova e confirma os estatutos da Confraria de São Mateus; 1892 - inventário de bens da Irmandade de São Mateus; 1895 - referência inscrita no sino virado a O., na torre sineira do lado direito; 1902, Julho / 1904, Janeiro - construção da torre sineira, do lado direito, promovida pela Junta da Paróquia; 1904 - colocação do relógio na torre sineira; 1910, 26 Outubro - Decreto-Lei firmando a dissolução das mesas administrativas das Irmandades ou Confrarias, que seriam substituídas por Comissões, implicando que os seus bens passassem para a posse das Juntas de Freguesia, organismo a que competia a gestão desses; 1913 - cópia de Acta da Mesa da Irmandade de São Mateus; 1930 - colocação do chafariz em frente à igreja; 1940 / 1944 - desmantelamento do coro-alto, bem como de talha de altar e mudança do retábulo do Sacramento para o altar-mor durante as obras de restauro realizada pela DGEMN; 1941 - matrícula de Irmãos; 1977 - colocação do sino virado a S. na torre sineira; 2018, 06 novembro - publicação da abertura do procedimento de classificação do edifício em Anúncio n.º 184/2018, DR, 2.ª série, n.º 213/2018.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes e estrutura mista nas capelas.

Materiais

Estrutura de alvenaria rebocada e caiada; molduras dos vãos, arcos, capelas, em cantaria; retábulo de talha; portas de madeira; janelas de vidro simples; grades de ferro; cobertura de telha; algerozes metálicos.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGARQ/TT: Dicionário Geográfico de Portugal, vol.7, nº 48, p. 1055 a 1066, 1758

Intervenção Realizada

DSU: 1940 / 1942 / 1943 / 1944 - campanha de obras orçadas em 58.000$00, promovidas pela Comissão do Culto Católico do Botão (constituída pelo Padre Manuel José Rodrigues, Lourenço Rodrigues, António Pereira, José Maria dos Santos, António Lopes Pinto, Manuel Lopes Pinto e José Baptista), patrocinada pelo Fundo de Desemprego, e com a colaboração da Câmara Municipal de Coimbra e da Segunda Zona da Secção de Melhoramentos Urbanos; procedeu-se à regularização dos terrenos à volta, sobretudo os da fachada lateral esquerda e posterior que, em resultado de um deslizamento de terras, apresentavam um nível superior ao do pavimento, de cerca de dois metros; construção de um muro de suporte das terras com cento e sessenta e três metros cúbicos, impedindo que as águas pluviais e regas se infiltrassem na construção, de modo a evitar a deterioração do mobiliário e melhorar a climatização interna; consolidação das paredes sobre os arcos que dividem a nave com tirantes de ferro; demolição de parte de alvenaria considerada parasitária ou, em mau estado de conservação, num total de dezoito metros cúbicos; aprumo das arcadas da nave, o que incluiu o levantamento dos estrados de madeira, na superfície de 160 m2, incluindo a escada de acesso ao coro e o próprio coro; renovação dos tectos, vigamentos e telhados, e de toda a telha, tendo sido colocados onze milheiros de telha de tipo nacional; construção do tecto em madeira de pinho aparelhado; criação do adro envolvente; consolidação das paredes, consistindo na renovação do emboço, reboco e pintura a branco; renovação da caixilharia de madeira de castanho e pavimento em sarrafado, ao qual se acrescentou lajes em cantaria nas naves e capelas, numa área de 71 m2; mudança do retábulo do Sacramento para a capela-mor, em substituição do retábulo de madeira do séc. 18; limpeza das juntas de cantaria na abóbada da capela-mor, dos arcos das naves, das abóbadas da capela da Piedade, dos altares pétreos e dos contrafortes exteriores, cunhais e cimalhas; reparação e restauro da cantaria moldurada e lavrada de todos os altares e arcos descobertos durante a campanha de obras; reparação e restauro de cantaria moldurada e lavrada dos altares e arcos descobertos com as obras; descoberta, do lado do Evangelho, de um arco-capela do séc. 17; séc. 20, meados - reparação do relógio da torre sineira; Comissão Fabriqueira: 1990, década - obras de restauro no pavimento com substituição de parte da madeira por mosaico cerâmico; picagem, reboco e caiação das paredes exteriores a O. e a S..

Observações

*1- Os brasões da capela de Santo António são dois escudos, um deles individualizado - com as armas dos Melos, à esquerda - e o outro dividido entre três apelidos - Feios, Pereiras e Melos, à direita. As armas dos Melos caracterizam-se por terem como base a cor vermelha, com dobre-cruz de ouro, acompanhada de seis bosantes de prata e com bordadura do segundo esmalte; no timbre usavam uma águia estendida de negro, bosantada de prata. As armas dos Feios têm escudo azul composto por três bandas de vermelho, perfiladas a ouro, possuindo no timbre um ramo de feijoeiro em flor, todo ele em verde. No escudo do lado esquerdo são ainda visíveis as armas dos Pereiras, apresentando escudo vermelho, sobre o qual se dispõe uma cruz de prata florenciada e vazia, motivo que se repete no timbre, embora pintado de vermelho e ladeada por duas asas de ouro ou prata estendidas. *2 - D. Catarina D’Eça, terá nascido em 1440, julga-se na vila d’Eça, em resultado do último casamento de D. Fernando, senhor de Eça, na Galiza, com D. Isabel d’Ávila. Assim, era neta do Infante D. João, e bisneta de D. Pedro e de D. Inês de Castro. Foi abadessa do Mosteiro do Lorvão entre 1472 e 1521, tendo desenvolvido uma acção mecenática bastante importante na freguesia do Botão, em Gouveia e no Lorvão, a qual pode ser atestada, não só pelas obras arquitectónicas, mas também por obras de escultura, paramentos e objectos litúrgicos. Para a vila de Botão mandou construir um celeiro e um paço, de que restam apenas alguns vestígios, constituindo como que um ante-espaço do próprio Mosteiro do Lorvão, servindo inclusive de lugar de vilegiatura da abadessa e das doentes. *3 - Atendendo aos registos do Padre Manuel Dias, Padre do Botão em 1674, existiam, neste concelho, cinco Confrarias, nomeadamente: do Senhor de Jesus, da Senhora do Rosário, de Santo António, de São Brás e de São Mateus. Todas estavam em funcionamento e cada uma tutelava e administrava o seu património, sendo a de São Mateus a que mais se evidenciava, uma vez que, era da sua competência gerir o Hospital onde estava sediada (informação que pode ser verificada nas Informações Paroquiais, de 1674, segundo João Pinho). No entanto, todas possuíam paramentos e alfaias, tendo particular interesse o caso da Confraria do Senhor, a qual detinha: dois castiçais, um cálice, uma custódia, um turíbulo e um vaso em prata; lâmpadas, castiçais de latão, três toalhas para o altar, pano para púlpito, vestimenta com alva, amita e cordões, duas galhetas e prato de estanho, além de olivais que se assumia como fonte directa de rendimento. Pese embora o facto de não se conhecer, em concreto, as circunstâncias da constituição da Misericórdia do Botão, João Pinho, não despreza a hipótese da fundação desta irmandade remeter para a expansão da Misericórdia em Portugal, no contexto do reinado de D. Manuel I, tendo como modelo a de Lisboa criada por D. Leonor. Conforme João Pinho refere, as eleições desta confraria realizar-se-iam no oitavário de todos os santos e a sua orgânica seria constituída por: um juiz, um procurador (com obrigação de cobrar as entradas dos irmãos, fintas, condenações e rendimentos da Irmandade dados em rol pelo escrivão), um escrivão (com obrigação de fazer os termos, lançar contas, dar o rol para a cobrança, escrever as eleições, ter o rol dos irmãos, apontar suas faltas), um mordomo (obrigado a receber as cobranças feitas pelo procurador e pagar as despesas necessárias de tudo dando conta no fim do ano); nove cabiduais e um andador (para avisar os irmãos dos falecimentos e horários dos funerais), porém, além destas funções todos tinham a obrigação maior de acompanharem o irmão defunto à sepultura. Actualmente restam, no Botão, três irmandades: a Irmandade de Misericórdia de São Mateus, no Botão, abrangendo as aldeias de Outeiro e Mata de São Pedro; a Irmandade de São João, em Larçã, e a Irmandade de Santo António que detém Póvoa do Loureiro e Paúl. *4 - Em torno da igreja, tal como noutras zonas da freguesia do Botão, foi encontrada tijolaria romana.

Autor e Data

Francisco Jesus 1999 / Marta Ferreira 2006

Actualização

Cecília Matias 2003
 
 
 
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