Igreja da Santa Casa de Misericórdia de Aveiro

IPA.00005173
Portugal, Aveiro, Aveiro, União das freguesias de Glória e Vera Cruz
 
Igreja de Misericórdia maneirista, de planta tridentina, com capela-mor muito profunda e fachada principal com portal axial tratada como retábulo com decoração italo-flamenga. Liga-se à arquitectura noroestina, tendo afinidades epocais com a igreja de São Salvador de Moreira da Maia, São Salvador de Grijó e a Misericórdia de Guimarães.
Número IPA Antigo: PT020105060007
 
Registo visualizado 1111 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta rectangular, composta por duplo rectângulo correspondendo à planta longitudinal da igreja, de nave única e capela-mor profunda; pátio interior rectangular da Casa do Despacho. Volumes diferenciados e coberturas em telhados de duas águas. A Casa do Despacho organiza-se num pátio interior com varanda corrida de dois pisos em colunata toscana e inclui escadaria de acesso lateral. Na igreja, a parede, revestida a azulejos, desenvolve um portal em dois registos com remate arquitravado. No primeiro registo, assente num embasamento, abre-se ao centro um portal arquivoltado tendo, de cada lado, duas colunas coríntias com terço inferior decorado e no seu interior um nicho com escultura de vulto redondo e acima deste um medalhão da época. Dividido por entablamento muito pronunciado, o segundo registo, com correspondência da ordem arquitectónica, rasga dois vãos rectangulares e, ao centro, uma edícula emoldurada por pilastras decoradas com uma escultura de vulto. Ao cimo pseudo-remate com escudo entre volutas correspondendo, de cada lado, duas urnas e uma esfera armilar. Nas fachadas exteriores - que abre do lado esquerdo um portal dórico de acesso ao pátio - a igreja desenvolve um entablamento que corresponde ao lançamento interior da abóbada e que divide a estrutura vertical e rectangular do corpo do templo, e um remate triangular, ladeado por dois pináculos e com cruz assente num plinto, ao centro. Interior revestido a azulejos de padrão organizados em dois níveis, ao longo da nave e pintado na capela-mor; coro-alto de cantaria, assente em arco abatido, com balaustrada e órgão de tubos, quatro pias de água benta, duas no sub-coro e duas no corpo na nave, dois cadeirais colaterais opostos - um deles com remate em talha - e púlpito; arco cruzeiro desenvolvido em três registos ladeado por dois retábulos laterais de cantaria com esculturas de vulto redondo. Cobertura em abóbada de canhão, formando caixotões, assente em entablamento. Capela-mor com retábulo de talha dourada revestindo toda a parede fundeira e cobertura em abóbada de berço formando caixotões. Estrutura de grande verticalidade, a iluminação é feita, através do coro-alto, por um janelão losangular e dois vãos rectangulares, e dois enormes janelões chanfrados na nave, de cada lado, sendo triplos na capela-mor. CORPO ADOSSADO de planta retangular e cobertura em telhado de quatro águas. Fachada principal de cunhais apilastrados e rematado em cornija, com dois pisos, separados por cornija bastante pronunciada, assente em duas carrancas laterais, que coroam pilastras almofadadas, e em falsas mísulas, decoradas com florões, que se dispõem no fecho dos vãos e entre os mesmos, e por um mezanino intermédio. O piso térreo é rasgado, à direita, por porta de verga reta e bandeira, moldurada a cantaria, de acesso ao pátio da Misericórdia, e por três vãos de arco abatido, o central mais estreito e correspondendo a portal da loja e os laterais a vitrinas. Estes vãos, envolvidos por cornija, são encimados pelas falsas mísulas de onde partem festões de flores. Ladeando o portal, surgem sobrepostos cartelas recortadas, envolvidas por motivos vegetalistas, fragmentos de frisos verticais decorados e as falsas mísulas com florões, flanqueadas por festões, as quais sustentam frontão interrompido de volutas desenvolvido ao nível do mezanino, onde se abrem três janelas jacentes de capialço. No piso superior rasgam-se três janelas de sacada, assentes em mísulas e com guarda em ferro, de verga reta encimada por friso e cornija.

Acessos

Rua de Coimbra, nº 27

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 735/74, DG, 1ª Série, nº 297 de 21 dezembro 1974 *

Enquadramento

Urbano. Integrado no largo municipal, tem adossado, ao seu lado esquerdo, a Casa do Despacho e respectivos anexos. A frente urbana fronteira integra o Teatro Aveirense e a Escola Secundária Homem Cristo.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia / pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ENSAMBLADOR: Pedro de Oliveira (1675). Gregório Lourenço, mestre ( autoria ); Francisco João, construtor; Francisco Fernandes, mestre de obras; João Álvares.

Cronologia

Séc. 16, inícios - instituição da Misericórdia de Aveiro, com casa na Capela de Santo Ildefonso, junto à igreja matriz de São Miguel; 1585 - Filipe II concede à Santa Casa da Misericórdia de Aveiro privilégios semelhantes aos que tinha a de Coimbra; 1599, Outubro - ligação ao início das obras de Francisco Fernandes; 1600, 6 Jullho - contrato com Gregório Lourenço para a feitura da obra; 1600, 10 Julho - cerimónia oficial do lançamento da primeira pedra; 1600, 27 Julho - lançamento da primeira pedra; 1601 / 1610 - João Francisco surge à frente das obras, como aparelhador; 1608 - conclusão da Casa do Despacho e do corpo da igreja, faltando o pórtico e a capela-mor; 1615 - já existia o hospital da Misericódia; 1640 - as obras do fecho da capela-mor encontram-se em fase terminal; 1651 - obras efectuadas pelo mestre João Álvares, de Ançã; 1652 - Simão da Costa e a mulher, Ana Marques, doam uma série de imóveis à Misericórdia, em troca de missas por sufrágio; 1655 - é provedor da Misericórdia o Duque de Aveiro, D. Raimundo de Lencastre; 1669, Julho de - a Capela de Santo Ildefonso deixa de ser utilizada, considerando-se, portanto, que as obras da igreja estariam concluídas; 1675 - feitura das grades para a igreja pelo ensamblador Pedro de Oliveira; 27 agosto - contrato com Pedro de Oliveira para a execução das grades das tribunas; séc. 18 - douramento da capela-mor; 1767 - execução do órgão; 1876 - fachada revestida a azulejos; 1928, cerca - decoração da fachada do primeiro piso da Casa do Despacho, por Gregório Lourenço, do Porto, e acompanhamento das obras pelo seu irmão, Francisco João; 1970, 24 julho - proposta de classificação da DGEMN; 9 outubro - parecer da 4.ª Sub-Secção da 2.ª Secção da JNE a propor a classificação como IIP; 15 outubro - Despacho de homologação do Subsecretário de Estado da Administração Escolar; 2009, 23 dezembro - proposta da DRCCentro de ZEP conjunta da Igreja da Misericórdia de Aveiro e do Teatro Aveirense; 2010, 11 fevereiro - devolvido à DRCCentro por despacho do Director do IGESPAR, para aplicação do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206 de 23-10-2009; 6 julho - nova proposta da DRCCentro, mantém delimitação de ZEP conjunta; 2011, 30 março - parecer favorável da SPAA do Conselho Nacional de Cultura.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Paredes de alvenaria com cunhais e vãos de cantaria e revestimento azulejar na fachada e interior, cobertura de telha, abóbadas de pedra calcária de Ançã; púlpito e pias baptismais de pedra calcária de Ançã; sanefas, cadeirais e retábulo-mor em madeira.

Bibliografia

Aveiro - Cidade Arte Nova, Câmara Municipal de Aveiro, 1999; BRANDÃO, Domingos de Pinho - Obra de talha dourada, ensamblagem e pintura na cidade e na Diocese do Porto - Documentação. Porto: Diocese do Porto, 1984, vol. I; GONÇALVES, A. Nogueira, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Aveiro, VI, Lisboa, 1959; SMITH, Robert, A talha em Portugal, Lisboa, 1963; NEVES, F. Ferreira, A Igreja da Misericórdia de Aveiro, in Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. XXXIII, Aveiro, 1967; NEVES, Amaro, Aveiro. História e Arte, Aveiro, 1984; VALENÇA, Manuel, A Arte Organística em Portugal, vol. II, Braga, 1990; AMORIM, Inês, Misericórdia de Aveiro e Misericórdias da Índia no século XVII - procuradoras dos defuntos, in Actas do I Congresso Internacional do Barroco, vol. I, Porto, 1991, pp. 113-137; NEVES, Amaro, A Misericórdia de Aveiro, Coimbra, 1996; GIL, Júlio, CALVET, Nuno, As mais belas cidades de Portugal, Lisboa, 1995; p. 90; RUÃO, Carlos, Arquitectura Maneirista no Noroeste de Portugal. Italianismo e Flamenguismo, Coimbra, 1996; RUÃO, Carlos, MVSEV, 4ª Série, nº 6, Porto, 1997, p. 60 - 61 e 68; NEVES, Amaro, A «Arte Nova» em Aveiro e seu Distrito, Ed. da CMA, Aveiro, 1998, p. 142; VITERBO, Sousa, Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, vol. 1, Lisboa, 1922.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; CMA: Arquivo Fotográfico

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DREMC

Intervenção Realizada

Santa Casa da Misericórdia: 1972 / 1975 - obras de consolidação, reparação e restauro da Casa do Despacho, anexos e da fachada para a rua de Coimbra (pelos registos fotográficos fica-se a saber que a arcaria lateral do pátio retomou o seu aspecto inicial, ou seja, aberta nos dois pisos); 1997 - obras de restauro.

Observações

* - DOF: Igreja da Misericórdia de Aveiro, Salas do Despacho e anexos. *1 - As modificações posteriores são a nível decorativo e não estrutural: talha dourada barroca (Séc. 18) nas sanefas dos janelões do corpo da igreja e num dos cadeirais; azulejos de tapete seiscentistas, de fabrico lisboeta, no interior sendo os exteriores do tipo estampilha (Séc. 19) e os do coro-alto de fabrico moderno, reproduzindo o padrão inicial. *2 - A antiga atribuição da Misericórdia de Aveiro a Francisco Fernandes e a sua ligação a Coimbra encontra-se cabalmente ultrapassada, quer pelos estudos arquivísticos, quer pelos estudos de comparação estilística.

Autor e Data

Margarida Alçada 1983 / Carlos Ruão 1996

Actualização

 
 
 
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