Povoado fortificado da Cárcoda / Castro de Cárcoda

IPA.00004999
Portugal, Viseu, São Pedro do Sul, União das freguesias de Carvalhais e Candal
 
Aglomerado proto-urbano. Povoado da Idade do Ferro com posterior ocupação romana. Povoado fortificado / castro, com casas circulares, elípticas e rectangulares, algumas com átrio lajeado, agrupadas em núcleos, provida de aparelho defensivo complexo composto por muralhas com panos de reforço e fosso; integra arte rupestre: insculturas de tipologia básica da arte rupestre do Noroeste peninsular. Número muito abundante de insculturas de temática muito variada.
Número IPA Antigo: PT021816040007
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Povoado  Povoado da Época do Ferro  Povoado fortificado  

Descrição

Povoado constituído por núcleos de casas circulares, rectangulares, elípticas e de plantas indefinidas, que se distribuem maioritariamente pelas encostas E., S. e O., acompanhando as curvas de nível. As casas, de áreas e alturas diferenciadas, agrupam-se e distribuem-se por quatro sectores: o sector 1 (casas 1, 5, 6, 7 e 13), na encosta E., é constituído por uma casa de planta elíptica e quatro rectangulares de cantos arredondados, por trás das quais existe um muro de protecção a formar corredor, uma escada a compensar o desnível de terreno e um esgoto coberto de placas de pedra a circundar a casa 1; o sector 2 (casas 8, 9, 12, 23 e 24), a meia encosta do cabeço central, possui uma casa circular e 4 rectangulares dispostas ao redor de um pátio lajeado, algumas aproveitam as rochas como parte da caixa-murária, deixando uma saliência para o interior como assento ou patamar; o sector 3 (casas 14 a 22) situa-se a NE., segundo um eixo N. / S., apresenta 5 casas rectangulares, 1 circular e 2 de planta indefinida. No pavimento da casa 17 uma fiada de pedras de 3,5 m com rasgo para encaixe de divisória de madeira. Sob o chão das casas 16, 18, 19 e 20, 2 canos de escoamento cobertos de placas; no centro do Castro outro núcleo mais pequeno junto a um reduto de planta circular, com 1 casa circular e 1 elíptica a ladear pátio lajeado e 3 casas rectangulares. As casas são providas de portas e soleiras e as paredes são todas construídas externa e internamente com pedras miúdas, regulares, e têm 1 a 2m de altura. São assentes em barro cinzento e possuem pavimentos de terra batida, nalgumas estão escavadas lareiras feitas de pedra e tégula e encontram-se vários silos, pias e recipientes ou reservatórios. O sistema defensivo do castro é constituído por panos de muralha duplos e triplos, que circundam o povoado numa extensão de 660m, com cerca de 1,30m de altura, construídos com pedras regulares de pequenas dimensões, de aparelho poligonal, havendo um circuito mais pequeno, de 400m, na zona mais elevada. A NO., por trás da muralha, existe um fosso, parcialmente aberto na rocha, com mais de 6m de altura. O castro possui um conjunto de gravuras rupestres muito significativo em número e variedade, concentrando-se em 2 áreas: na parte mais baixa e mais alta do castro, correspondentes a locais de culto e práticas religiosas: as insculturas apresentam temáticas muito diversas: covinhas, linhas sinuosas, serpentiformes e angulosas, reticulados, espirais, antropomorfos, arcos de círculo, círculos concêntricos, halteres, cruzes, sulcos rectilíneos e escutiformes.

Acessos

Outeiro da Cárcoda, EM Carvalhais - Roçadas, a N. de Carvalhais, cortando à esquerda, a 1km em caminho de terra batida

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 40 361, DG, 1.ª série, n.º 228 de 20 outubro 1955

Enquadramento

Rural. Na encosta S. de um outeiro com três cabeços, no sopé da serra da Arada, a 550m de altura, flanqueado por duas ribeiras convergentes, Galinhela e Salgueiro, que se unem a S., circundado por pinhais e eucaliptais a E. e S. e terrenos pedregosos com mato rasteiro de carqueja e urze a O. e N.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Época Construção

Idade do Ferro

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

Séc. 07 a.C. - 04 - prováveis balizas cronológicas de construção e ocupação do castro de acordo com a tipologia planimétrica das casas que o compõem e com o espólio encontrado; 1954 - descoberta do Castro por Correia Tavares, membro da Comissão Municipal de Arte e Arqueologia, dando lugar à 1ª fase dos trabalhos arqueológicos: sondagens que permitiram verificar a a existência de vestígios de casas que integravam um castro; 1954 - a descoberta é comunicada à Junta Nacional de Educação; 1954 - o local é visitado pelo Dr. Bairrão Oleiro da Universidade de Coimbra e pelo Prof. Dr. Amorim Girão, no seguimento das quais se começaram a proceder a escavações arqueológicas sistemáticas; 1954 - início da 2ª fase de trabalhos subsidiados pela Câmara Municipal de São Pedro do Sul, em que Correia Tavares, sob orientação do Dr. Bairrão Oleiro desentulhou algumas das casas, pondo a descoberto paredes e pavimentos e um espólio significativo *1; 1954 / 1955 - escavado o sector 2; 1955 - 3ª fase das escavações, descobrindo-se o sector 3, totalizando 24 casas identificadas e limpas onde apareceram inúmeros objectos e utensílios *2.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Paredes de alvenaria de pedra granítica aparelhada de pequenas dimensões; muralhas de alvenaria de pedra granítica de aparelho poligonal e helicoidal; pavimentos de lajes de granito e de saibro batido.

Bibliografia

TAVARES, Manuel Correia, O Castro da Cárcoda de Carvalhais - São Pedro do Sul, Beira Alta, vol. 13, Viseu 1954, pp. 333-338; Idem, Carvalhais- Elementos para o Estudo da Freguesia, Viseu, 1963; Idem, Ruínas Arqueológicas da Cárcoda, Viseu, 1974; SILVA, Celso Tavares da, CORREIA, Alberto, O Castro da Cárcoda, Viseu, 1977; CRUZ, António João de Carvalho da, Cossoiros do Castro da Cárcoda, Beira Alta, vol. 40, Viseu, 1981, pp. 383-394; PEDRO, Ivone, Cerâmica Comum do Castro da Cárcoda (São Pedro do Sul), Beira Alta, vol. 52, Viseu, 1993, pp. 275-310; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74597 [consultado em 28 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

CMSPS

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1954 / 1955 - descoberta e primeiras escavações arqueológicas do Castro em 3 fases sucessivas, por iniciativa de Manuel Correia Tavares, sob orientação do Dr. Bairrão Oleiro, que pôs a descoberto 24 casas e estruturas anexas e recolheu um espólio considerável e diversificado composto por objectos de pedra, metal, vidro e cerâmica; 1975 / 1976 - o Centro Juvenil de Arqueologia e Etnologia de Viseu realizou 2 campanhas de escavações com direcção e orientação de Celso Tavares da Silva e Alberto Correia. O Castro encontrava-se coberto de vegetação rasteira que foi eliminada na sequência de 2 incêndios que grassaram na serra, permitindo ainda visionar outras estruturas e elementos de arte rupestre. Foram seleccionadas 2 novas áreas: A - no centro do Castro, a 30m N., um amplo reduto de planta circular; B - no ângulo NE., trabalho estatigráfico junto à muralha. No sector A foram descobertas 2 casas, 1 circular e 1 elíptica, a flanquear átrio lajeado, e a SE. 3 muros de casas rectangulares. No sector B a prospecção da muralha foi feita através da abertura de uma sanja-piloto com 5m de comprimento E. 1,55m de profundidade, verificando-se a existência de 3 panos de muralha paralelos, escalonados, com altura máxima de 1,55m *3; 1977 / 1980 - o Centro Juvenil de Arqueologia e Etnografia de Viseu efectuou mais 4 campanhas arqueológicas anuais, dirigidas por Celso Tavares da Silva, tendo sido realizadas diversas sondagens.

Observações

*1: Na 1ª campanha foram encontrados moinhos, rojões de forjas, 1 objecto de liga metálica, esquírolas ósseas, coissoros, inúmeros pedaços de cerâmica: tégulas, ímbrices, bocas e fundos de vasos com e sem decoração, de pastas pobres; 1 pedra siglada com inscrição epigráfica romana truncada e 1 machado de diorite. Na Quinta das Roçadas, a 500m, apareceu 1 víria de ouro batido. *2: O espólio exumado e estudado encontra-se no Museu Etnológico de Viseu, no Instituto Arqueológico da faculdade de Letras de Coimbra e na Escola de Carvalhais: Pedra - fragmentos de pias, mós manuais, percutores esféricos de granito e anfibolite (brancos e vermelhos), amoladeiras, fragmento de coluna, 1 cabeça de cipo; Metal - fíbulas, anéis e carranca de bronze, escórias de forjas e 1 jorra de ferro de 20 Kg, utensílios perfurantes, ponta de lança, facas e pregos de ferro, moedas romanas de bronze do séc. 1 a 4; Vidro - fragmentos de taças; Cerâmica - tégulas, ímbrices, pesos de tear prismáticos de barro vermelho, cossoiros, fragmentos de vasilhas (dóliuns e ânforas) de pastas e cores variáveis, terra sigilata (alguma de verniz brilhante), cerâmica pintada com traços vinosos de tipo ibérico e ondeados. *3: Durante os últimos trabalhos de escavação foi descoberto e recolhido um espólio composto por cerâmica de cobertura: tégulas e ímbrices; cerâmica castreja: fragmentos de vasos de pasta grosseira de fabrico manual, alguns decorados; cerâmica comum: fragmentos de cerâmica fina com paredes polidas, fragmentos de talhas, potes e vasos; terra sigilata hispânica: fragmentos de taças e pratos; metais: fragmentos de pregos e placas de ferro e escórias; contas de colar de cores e materiais variados; sementes de milho miúdo.

Autor e Data

Lina Marques 1998

Actualização

 
 
 
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