Albergaria de Canaveses e Capela do Espírito Santo

IPA.00004928
Portugal, Porto, Marco de Canaveses, Marco
 
Albergaria de origem medieval. Capela com fachada de gosto maneirista. Inicialmente, terá sido um paço, mandado construído pela rainha Santa Mafalda, para sua residência, e que por testamento determinou tornar-se Albergaria.
Número IPA Antigo: PT011307210026
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Assistencial      

Descrição

Edifício térreo de planta longitudinal, composta por capela de nave única adossada a dois compartimentos rectangulares, denominados sala e cozinha *1. Volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhado de três águas. A fachada principal orientada a NE é constituída pela associação dos dois corpos de empena triangular, capela e sala. A fachada da capela, mais elevada, é rematada por cornija tendo no vértice central um acrotério e nos extremos pináculos piramidais. No ângulo um sino suspenso numa sineira metálica. Apresenta portal simples de verga recta, encimado por um pequeno óculo quadrilobado sobre o qual se insere um nicho de arco pleno. A fachada da sala, com beiral saliente apresenta ao eixo uma porta igual à da capela e ao mesmo nível, sobrelevada relativamente ao terreno dada a pendente deste. O acesso faz-se através de uma escada em madeira. A fachada NO., correspondente ao lado mais extenso da sala, rematada por cornija em granito com beiral saliente é marcada apenas por uma porta ladeada por duas aberturas rectangulares gradeadas. O acesso faz-se por uma escadaria em granito apoiada numa zona lajeada parcialamente destruida. A fachada posterior apresenta no corpo da sala uma janela rectangular gradeada e no corpo da antiga cozinha uma porta. A fachada SE, constituída pela fachada lateral da capela mais elevada e pelo corpo da cozinha, apresenta respectivamente uma janela e uma porta. No INTERIOR, a sala corresponde a um espaço amplo caiado com a estrutura da cobertura visível com asnas de madeira. Num dos extremos, um lagar e na restante área vários tonéis. O espaço interior da capela, com tecto curvo em madeira apresenta um altar-mor pintado e dourado. O compartimento outrora cozinha está actualmente ocupado por vasilhame, patenteando um tecto plano em madeira bastante degradado.

Acessos

Lugar de Ordem, Rua de São Nicolau, n.º 1165

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Urbano, isolado, insere-se na margem direita do Tâmega, a meia encosta, na Quinta da Albergaria. A albergaria e a capela implantam-se recuados, relativamente à R. de São Nicolau, envolvidos por terreiro com alguns desníveis, definido por muro de granito gradeado. Neste, implantam-se, alguns corpos de apoio à actividade agrícola, a habitação da caseira, e junto à albergaria, incluído na propriedade, na parte posterior, um tanque de grande escala, com a forma de um decágono, abastecido pela ribeira do Vale do Covo. Nas proximidades, mais junto ao rio, a Capela de São Lázaro (v.PT011307210013), o conjunto formado pelas Igrejas de Santa Maria (v. PT011307210014) e de São Nicolau (v. PT011307210024) e o Cruzeiro do Senhor da Boa Passagem (v. PT011307210012).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Assistencial: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Extração, produção e transformação: lagar / Devoluto

Propriedade

Privada: pessoa singular.

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 12 - Provável construção do Paço a mando da Rainha D. Mafalda *2; 1157, 4 Novembro - morre em Coimbra a Rainha D. Mafalda, destinando em testamento a instalação de uma Albergaria no edifício *3; 1200 - foi administrador ou albergueiro, Mendo Paes; 1294 - foi administrador ou albergueiro Martim Johannes; Séc. 14 - o Infante D. Pedro terá residido nesta Albergaria, aquando dos desentendimentos com o seu pai, D. Afonso IV; 1393, 5 Novembro - por má administração da Albergaria, a Câmara e o povo nomearam um administrador para a governar; 1453, 16 de Dezembro - toma posse como administrador ou albergueiro Gonçalo Gil; 1459 - por provisão do rei D. Afonso V foi concedido a Gonçalo Gil o título de administrador perpétuo, tendo sido também determinado que a administração da albergaria passaria dele aos seus descendentes, ficando encarregues de a melhorarem e não danificarem; 1485 - Gonçalo Gil deixa de ser o administrador; 1485 / 1508 - foi administrador ou albergueiro, Pedro Gil; 1508, 23 Junho - toma posse como administrador ou albergueiro, Gonçalo Gil, irmão de Pedro Gil; 1579, 29 Dezembro - por escritura, Gaspar Sousa de Carvalho passa a administração a seu filho, Álvaro Pessoa de Carvalho; 1580, 22 Janeiro - toma posse Álvaro Pessoa de Carvalho que à sua morte lega a administração a seu filho Luiz; o povo não aceita esta nomeação, passando-a para o seu irmão o Padre Gaspar Pessoa de Carvalho; por ser pouco zelador da albergaria o rei D. Pedro II nomeia administrador da mesma e dos bens dos Pessoas o corregedor de Guimarães, Capitão de infantaria Francisco Pinto de Queiroz; o povo está descontente com esta nomeação; 1672, 30 Agosto - por sentença de Lisboa, é reafirmado que a administração pertence à Câmara e não à Coroa, pelo que nomeiam Gonçalo de Faria Velho; 1740, a partir - as rendas começam a reduzir-se; 1742, até - governou até morrer o capitão Manuel Pinto Ribeiro de Andrade, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo; após - por não se chegar a consenso para um novo administrador passou a Albergaria, bem como as suas regalias para o padroado Real, conforme o expresso no testamento de D. Mafalda; 1750, 29 Julho - D. João V concede o alvará de administrador a João Guedes Pinto ou João Guedes de Vasconcelos, de que não houve acordo pela Câmara; 1772 - não se chegando a acordo com nova nomeação, entre a Coroa e a Câmara, passa novamente a administração nesta data para a Câmara; 1782, 23 Dezembro - por má administração da Albergaria, dos seus rendimentos e conservação do dito, perdem-se novamente os privilégios e a albergaria e os seus bens passam para o padroado real; 1791, 26 Setembro - através de carta régia de D. Maria I passa de padroado real para o administrador D. Joaquim de Queirós de Vasconcelos Coimbra Camacho, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Malta, Senhor da Casa do Pinheiro no concelho de Santa Cruz e do Morgado de nossa Senhora da Conceição da cidade de Braga; séc. 19, 1ª metade - a administração passa para D. Gaspar de Queirós Camacho de Vasconcelos Sousa Coimbra Barros e Lencastre, Senhor do Morgado dos Coimbras, filho de D. Joaquim de Queirós de Vasconcelos Coimbra Camacho; 1853 - morte de D. Gaspar de Queirós Camacho de Vasconcelos Sousa Coimbra Barros e Lencastre, passando a administração para o seu filho D. António de Queirós de Vasconcelos Sousa Coimbra de Lencastre, Senhor do Morgado dos Coimbras; 1892 - morte de D. António de Queirós de Vasconcelos Sousa Coimbra de Lencastre, passando a administração para D. José Maria Queirós e Lencastre; 1935 - pertence ainda a D. José Maria Queirós e Lencastre; 1930 / 1940 - existe apenas um compartimento na sala com um catre e os restantes encontram-se em ruínas, destinados agora a gado e depósito de forragens; séc. 20, déc. 70 - a albergaria passa para a família do actual proprietário.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes em alvenaria de granito aparente no exterior e interior, excepto na capela rebocada no interior; cobertura em telha marselha apoiada sobre estrutura de madeira; portas em madeira; pavimento em soalho de madeira na capela; tecto corrido em madeira na capela e cozinha; grades em ferro forjado nas janelas

Bibliografia

SOUSA, António Caetano de, História Genealógica da Corte Real Portuguesa, 1735- 1749; Livro das Ordens, Torre do Tombo, fl.29; VITERBO, Elucidário da Língua Portuguesa, 1865; VASCONCELOS, Manuel de, A Vila de Canaveses, Lisboa, 1935; Guia de Portugal, IV-I, Coimbra, 1985.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Proprietário: 1930 / 1940 - Restauro da capela.

Observações

A questão da administração da Albergaria, foi sempre muito disputada, tanto no reinado de D. Dinis como nos de D. Afonso IV e D. Pedro I, pelo que foram muitas as reclamações contra os albergueiros por parte do povo de Canaveses, originando várias cartas régias. Sabe-se que esta albergaria possuíu dois livros de Tombo, mas só um deles é conhecido e está nas mãos da família Lencastre. *1 - Em termos organizativos, este pequeno paço, era constituído por capela, sala e cozinha. Inicialmente, a sala era constituída por nove compartimentos, separados por divisórias em castanho até meia altura e tinham dentro um catre. Os documentos mais antigos fazem crer que havia três camas para nove peregrinos; *2 - a Rainha Santa Mafalda terá mandado construír este edifício para sua residência, para acompanhamento das obras da ponte, e terá aí permanecido até se recolher no Mosteiro de Arouca. No Livro das Ordens, fl. 29 (na Torre do Tombo) lê-se: " Deixo o meu Paço de Canaveses que eu fiz em que pousei enquanto mandei fazer a ponte sobre o Tãmega..."; *3 - a albergaria seria para recolher temporariamente pobres e peregrinos, dando-lhes obrigatoriamente na entrada e saída, lume e sal, poderiam eventualmente receber cuidados de enfermaria e se algum falecesse seria enterrado com três missas. A Rainha, fez com que a Albergaria tivesse rendas próprias tais como: os foros e rendas das freguesias de São Pedro e Santa Maria de Fornos, a apresentação da igreja de Santa Maria Sôbre-Tâmega, as azenhas do rio Paçô, os fornos de cozer pão, as portagens da Ponte de Canaveses (actualmente submersa), o rendimento de duas quintas nas proximidades e etc.

Autor e Data

Isabel Sereno 1999

Actualização

 
 
 
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