Igreja Paroquial de Airães / Igreja de Santa Maria / Igreja de Nossa Senhora

IPA.00004859
Portugal, Porto, Felgueiras, Airães
 
Arquitectura religiosa românica, gótica, seiscentista e rocócó. Igreja paroquial de estrutura românica, orientada, de planta longitudinal, de três naves, cabeceira quadrangular simples e torre sineira adossada à fachada lateral da capela-mor. A estrutura da igreja era inicialmente de uma só nave, possivelmente alterada na transição românico-gótica, com o acrescento de duas naves laterais. Insere-se no românico com características de Ferreira e Paço de Sousa, já a denotar a arquitectura gótica mendicante ao nível da iluminação interior, com fachadas rasgadas por frestas, algumas em capilaço e em arco de volta perfeita, distribuídas na fachada principal, nos topos da nave central, na cabeceira e duas em cada uma das fachadas laterais. Também associado a este foco surge a decoração vegetal biselada, dos capitéis e frisos, tanto do exterior como do interior. Portal principal, inserido em gablete gótico, semelhante ao da Igreja Matriz de Unhão (v. PT011303280004), conferindo-lhe profundida, de quatro arquivoltas, a interior em arco quebrado e as exteriores em arcos de volta perfeita, suportadas por colunas. A arquivolta exterior apresenta modinatura gótica ornamentada. As colunas apresentam bases decoradas com círculos, losangos e elementos vegetalistas, complementadas com garras e máscaras, fustes redondos à excepção de um, prismático, ornamentado com máscaras e capitéis, com padrões comuns à bacia do Sousa, com decoração de inspiração vegetalista, nomeadamente cogulhos, acantos e entrançados, já de feição protogótica. As fachadas são rematadas por cornijas apoiadas em cachorros quadrangulares lisos, na nave central, e em banda lombarda, na capela-mor, semelhantes à da Igreja do Mosteiro de Fonte Arcada (v. PT010309090001) e à da Igreja de Roriz (v. PT011314190006). A organização interior é visível através da morfologia exterior. Naves separadas por arcada assente em espessos pilares de secção circular, com coberturas de madeira, a central com falsa abóbada de berço e as laterais, com falsas abóbada em meia asa de cesto. Arco triunfal com arquivoltas quebradas, a exterior e respectiva a imposta ornamentada. Capela-mor de dois tramos, com cobertura em abóbada quebrada, com arco toral com capitéis decorados, segundo modelos temáticos mais evoluídos do que os do portal principal, de forma caliciforme e com anjos ajoelhados com candelabros. Paredes da capela-mor integralmente revestidas a azulejos policromos, de padrão do séc. 17. Retábulos colaterais de talha policroma, rococós, com decoração exuberante de motivos fitómorficos e concheados. Na fachada posterior da capela-mor ainda são visíveis pedras almofadas romanas.
Número IPA Antigo: PT011303020007
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal de três naves e capela-mor mais estreita, a que se adossa lateralmente a S. sacristia de planta rectangular e a N. torre sineira de planta quadrada, com escada de acesso exterior. Volumes escalonados de dominante horizontal, quebrada pela verticalidade da torre sineira, com coberturas diferenciadas em telhados de uma água nas naves laterais e sacristia, e de duas águas na nave central e capela-mor e em terraço na torre sineira *2, sobre a qual se eleva pára-raios e suporte de bandeira. Fachadas em aparelho isódomo, pseudo-isódomo e rusticado de granito aparente, apresentando a fachada posterior, da capela-mor, algumas pedras almofadadas romanas. Fachadas com estreito embasamento saliente, rematadas em cornija na fachada principal, torre sineira e fachadas posteriores das naves, capela-mor e sacristia, em cornija sob beiral nas naves laterais e fachada lateral da sacristia, em cornija suportada por cachorrada, sob beiral na nave central e em cornija suportada por banda lombarda, sob beiral na capela-mor. Fachada principal, orientada, de três panos escalonados, com central mais elevado. Pano central, correspondente à nave central, com remate em empena com cruz pátea no vértice. Ao centro abre-se portal principal inserido em gablete, terminado em cornija, e com faces laterais, com banda lombarda. Apresenta quatro arquivoltas, a interior em arco ligeiramente quebrado e as restantes em volta perfeita, apresentando-se a arquivolta exterior decorada com ornato entrelaçado. As arquivoltas assentam nas impostas, suportadas por colunas de fuste liso, com capitéis e bases lavradas. Do lado esquerdo, colunas com bases decoradas com elementos vegetalistas e círculos enlaçados, apresentando a exterior um unhão e a central uma máscara. No fuste da coluna exterior, junto ao capitel, três máscaras. O capitel exterior e central do lado esquerdo apresentam decoração de entrelaçados simples e vegetalistas, e o interior decoração em colchete. Do lado direito, colunas com base exterior e central lisas, apresentando esta última uma máscara, e a interior friso em losango. O capitel exterior apresenta uma máscara, o central decoração em colchete e o interior elementos vegetalistas. Sobre o gablete rasga-se fresta. Panos laterais, correspondentes às naves laterais, rasgados por portas de verga recta. Fachada lateral S. rasgada, ao nível da nave lateral, por duas janelas rectangulares em capialço e por porta de verga recta, e ao nível da sacristia por porta também de verga recta e janela quadrangular. Fachada lateral N., simétrica à oposta ao nível das naves lateral. Torre sineira com acesso por dois lanços de escadas de granito, separadas por patamar protegido por guarda de granito percorrida por bancos também de granito. O primeiro lanço é protegido, na face exterior, por guarda simples de ferro. Apresenta dois registos definidos pelo estreitamento do muro ao nível do segundo. Primeiro registo rasgado na face N. por porta de acesso em arco ligeiramente quebrado, com marcação dos pés-direito e aduelas, e segundo registo, rasgado nas quatro faces por ventanas em arco de volta perfeita. Fachada posterior, a E., com nave central e capela-mor em empena, apresentando a primeira cruz pátea no vértice. Na junção do corpo da capela-mor com a torre sineira, apresenta inferior e superiormente gárgulas de granito. É rasgada por frestas, a da nave central simples e a da capela-mor em capialço inserida em arco de volta perfeita moldurado com marcação das aduelas, e na sacristia por janela rectangular. No INTERIOR, naves com paredes em cantaria de granito aparente e pavimento em laje de granito e soalho na nave central e em estrados de madeira, mais elevados, nas naves laterais. Nave central com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira assente lateralmente em cornija do mesmo material, apresentando ao centro cartela pintada com a representação de Nossa Senhora da Assunção. Nas laterais com cobertura em falsa abóbada em meia asa de cesto, assente em cachorros na parede de separação da nave central e em cornija do mesmo material na parede oposta. Naves separadas por arcos de volta perfeita, os centrais suportados por pilares redondos e os dos extremos por meios-pilares. Na parede da nave lateral do lado do Evangelho, junto à parede fundeira, baptistério, com pavimento em laje de granito, inscrito em arco de volta perfeita com pia baptismal de granito com taça octogonal, sobre base facetada. Lateralmente ao arco, armário de alfaias litúrgicas, inscrito na parede. Junto à janela, mísula de granito, que se repete na nave oposta e lateralmente à porta, pia de água benta de granito. Na parede testeira, das naves laterais, sobre supedâneos de granito, retábulos de talha policroma com decoração marcada a dourado, o do lado do Evangelho dedicado à Virgem entronizada com o Menino e o do lado da Epístola ao Sagrado Coração de Jesus e ao Sagrado Coração de Maria. Arco triunfal composto por duas arquivoltas de arco quebrado, a exterior moldurada por friso perlado, assentes em impostas que se prolongam pela parede testeira da nave, criando uma faixa decorada com motivos fitomórficos. A arquivolta interior é suportada por meias colunas, com capitéis decorados com motivos fitomórficos, e bases lavradas assentes em largo soco de granito. Capela-mor com pavimento em laje de granito e paredes revestidas a azulejos de padrão seiscentistas policromos a azul e amarelo, com excepção da parede testeira em cantaria de granito aparente. Apresenta cobertura em abóbada de berço quebrado assente em cornija de granito, de dois tramos, com arco toral suportado por fragmentos de coluna com capitéis decorados, o do lado do Evangelho com anjos ajoelhados com candelabros. A parede fundeira, correspondente ao arco triunfal, apresenta também duas arquivoltas e faixa decorada. Parede lateral do lado do Evangelho com porta de arco de volta perfeita, de acesso à torre sineira, e parede do lado da Epístola com porta de verga recta de acesso à sacristia, encimada por fresta em capialço com moldura em arco de volta perfeita, ladeada por janela rectangular em capialço. Ao centro altar de talha dourada decorada com motivos fitomórficos, com tampo suportado por quatro colunas com capitéis compósitos. Na parede testeira, sobre supedâneo de três degraus, sacrário de talha também dourada, profusamente decorada com motivos fitomórficos. Sacristia com pavimento em tijoleira, e paredes rebocadas e pintadas de branco e em cantaria de granito aparente, e cobertura em tecto de madeira. Apresenta lavabo constituído por pia circular de granito, encimada pela abertura do depósito inscrito na parede.

Acessos

Airães, Lugar do Mosteiro

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 129/77, DR, 1ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 *1

Enquadramento

Rural, isolada, rodeada por campos agrícolas e algumas casas de habitação, em terreno com ligeiro declive. Implanta-se em adro elevado, lajeado a granito, com zona rebaixada frontalmente marcada nos ângulos por altos pináculos piramidais. Acesso junto à fachada principal por ampla escadaria e a N. por escada de dois lanços, com patamar em calçada portuguesa em calcário com o desenho de cruz pátea em basalto. O muro de suporte do adro é percorrido exteriormente por canteiros, frontalmente a O. e lateralmente a N. A face posterior do adro e a lateral S. são delimitadas por muro de granito, apresentando-se arborizadas, respectivamente com oliveira e cipreste. A O., fronteira à fachada principal, localiza-se a casa paroquial, e a E. grande zona ajardinada.

Descrição Complementar

RETÁBULOS: Idênticos, apresentando planta côncava de um só eixo enquadrado por colunas coríntias, com fuste, marcado no terço inferior, decorado com motivos vegetalistas, formando falsa espiral. Remate formado por espaldar recortado enquadrado por volutas assentes em fragmentos de entablamento, ricamente decorado por concheados e motivos fitomórficos. Os fragmentos de entablamento são unidos por cornija recortada. O corpo do retábulo do lado do Evangelho, apresenta ao centro dois nichos sobrepostos recortados, com fundo pintado, abergando imaginária, ladeados por peanhas com imaginária protegida por baldaquino. E o do oposto grande nicho recortado e moldurado, com renda, e fundo pintado com motivos fitomórfico e volutas. Alberga imaginária, colocada sobre peanhas. No sotobanco, altar em forma de urna com frontal decorado. Os retábulos são profusamente decorados com concheados, motivos fitomórficos e volutas.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial *3

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese do Porto)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 11 / 12 / 13 / 14 / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1091 - Primeira referência documental à Igreja de Santa Maria de Airães; 1184 - data que estaria inscrita em pedra desaparecida, referida em 1726 por Craesbeeck; séc. 13, final - séc. 14 - remodelação da igreja com introdução de elementos góticos, e possível construção das naves laterais, passando de uma igreja de nave única para de três naves; séc. 17 - revestimento da capela-mor com azulejos; 1726 - Francisco Xavier da Serra Craesbeeck menciona a existência, junto ao púlpito, de uma pedra com a seguinte inscrição "E(ra) M CC XX II VII / ID(us)", referente ao ano de 1184 da Era Cristã; 1758, 01 Maio - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Manuel de Oliveira, é referido que a Igreja tem por orago Nossa Senhora da Assunção, com festa a 15 de Agosto; é uma reitoria colada, apresentada pelo Rei e rende 150$000; 1776 - segundo Mário Barroca, a igreja terá sofrido obras de grande vulto, dotando a igreja de retábulos colaterais *4; nesta data terá desaparecido a inscrição mencionada por Francisco Craesbeeck; séc. 19 - possíveis obras de remodelação e redecoração; 1864, 14 Outubro - carta do pároco João Gonçalves dos Santos informando o Director das Obras Públicas, que a igreja se encontrava em bom estado de conservação, fruto da reforma anterior *5; 2008, 18 de junho - proposta da DRCNorte para delimitação de ZEP; 12 de novembro - parecer favorável do Conselho Consultivo do IGESPAR, I.P.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes na nave e estrutura mista na capela-mor e torre.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito aparente, em madeira nas coberturas das naves e da sacristia, e em betão na cobertura da torre; granito em muros de vedação e de suporte, pavimentos exteriores e escadas, pavimentos interiores, abóbada da capela-mor e base da torre, e gárgula da capela-mor; ardósia em tampo de sepultura no exterior; argamassa na cobertura da torre; telha cerâmica "Nacional Antiga" nas coberturas da sacristia, capela-mor e naves; ferro em caixilhos, vãos de acesso à torre e ferragens; chumbo em caixilhos das frestas e nos remates de empena; zinco n.º 14 em rufos e caleiros; cobre nas goteias da torre; madeira nos pavimentos das naves, coberturas e tectos, e vãos de portas e armários; cartão asfáltico nas coberturas; azulejos na capela-mor; vidro texturado amarelo nas janelas, e vidro de vitral nas frestas; vidro temperado na fresta da base da torre.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, História da Arte em Portugal, O românico, vol. 3, Publicações Alfa, Lisboa, 1986; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa 1988; BARROCA, Mário Jorge, Epigrafia Medieval Portuguesa (862 - 1422), Corpus Epigráfico Medieval Português, vol. II, tomo I, Porto, 2000, pp. 460, 461; CAPELA, José Viriato, MATOS, Henrique e BORRALHEIRO, Rogério, As freguesias do Distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758 - Memórias, História e Património, Braga, Universidade do Minho, 2000; IPPAR, Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Lisboa, 1993; www.valsousa.pt, 5 Abril 2005.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; Diocese do Porto: Secretariado Diocesano de Liturgia

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1976 / 1977 - em curso obras de valorização do imóvel, as quais estão a ser executadas sob a orientação do Bispo Auxiliar do Porto, D. Domingos Pinho Brandão e do arquitecto Solla Campos; recuperação do aspecto primitivo do paramento exterior e interior de cantaria, arranjo do tecto da igreja, da 1ª fase do pavimento, colocação definitiva dos altares, restauro total da Sacristia e sondagens em diversas zonas interiores; DGEMN: 1979 - reparação da instalação eléctrica, compreendendo os trabalhos de instalação eléctrica de iluminação, tomadas e de som; Câmara Municipal de Felgueiras: 1992 - arranjo da área envolvente; 1998 - execução de um parque de estacionamento junto à igreja; DGEMN: 2004, Janeiro - levantamento arquitectónico; Fevereiro - avaliação do património móvel pelo Departamento de Restauro da Universidade Católica; Julho / Novembro - conservação e salvaguarda de coberturas e paramentos exteriores, tectos das naves laterais e outros madeiramentos, e fresta da base da torre; 2005, Fevereiro / Abril - conservação e salvaguarda dos paramentos e madeiramentos interiores e instalação eléctrica; 2007 - organização de um espaço museológico, após os trabalhos de conservação de um conjunto de imagens da igreja, nomeadamente a imagem de Nossa Senhora, em pedra policromada, finalizou-se a intervenção com a organização de um espaço museológico, na nave sul, e execução de suportes expositivos.

Observações

*1 - DOF: Igreja de Santa Maria de Airães. *2 - a cobertura da torre ruiu em data incerta, tendo sido substituída por laje de betão. *3 - * 4 - A Rota do Românico do Vale do Sousa inclui 19 imóveis: Igreja de São Miguel de Entre-os-Rios (v. PT011311100010), Igreja de Gândara (v. PT011311040009), Igreja de São Gens de Boelhe (v. PT011311020008), Igreja de Abragão (v. PT011311010015), Memorial da Ermida (v. PT011311150005), Capela da Senhora do Vale (v. PT011310080004), Igreja de São Pedro de Ferreira (v. PT011309050001), Ponte de Espindo (v. PT011305130009), Ponte de Vilela (v. PT011305020008), Igreja de Aveleda (v. PT011305020004), Torre de Vilar (v. PT011305260005), Igreja Matriz de Unhão (v. PT011303280004), Igreja de São Vicente de Sousa (v. PT011303260008), Igreja Velha de São Mamede de Vila Verde (v. PT011303330020), Igreja de Paço de Sousa (v. PT011311220003), Igreja de Cete (v. PT011310080001), Igreja Matriz de Meinedo (v. PT011305130002) e Mosteiro de Pombeiro (v. PT011303150001). *4 - Segundo este autor, terão transformado a igreja de nave única numa igreja de três naves. *5 - Na mesma carta, diz que segundo a tradição, terá sido "(...) convento dos Templários, ainda hoje o local em que ela está situada tem nome de mosteiro (...)".

Autor e Data

Isabel Sereno e João Santos 1994 / Patrícia Costa 2005

Actualização

 
 
 
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