Igreja Paroquial de Valadares / Igreja de São Tiago

IPA.00004840
Portugal, Porto, Baião, Valadares
 
Igreja paroquial medieval, seiscentista e barroca, de planta composta por nave, capela-mor e sacristia no lado esquerdo, com coberturas interiores diferenciadas em falsas abóbadas de berço, ambas pintadas, a da capela-mor com caixotões pintados, iluminada por janelas retilíneas rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal integrada no tipo de fachada campanário, rasgada por portal de arco dobrado, apontado. Fachadas rematadas em cornijas, as da capela-mor e um dos lados da nave assentes em cachorrada; as laterais possuem portas travessas de verga reta. Interior com coro-alto de execução recente, púlpito tardo-setecentista, quadrangular e assente em coluna. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, ladeado por retábulos de talha do estilo barroco joanino e encimado por decoração entalhada, maneirista. Capela-mor com retábulo de talha dourada do estilo barroco nacional, de planta côncava e três eixos. Igreja de construção medieval, de que subsiste uma inscrição, alusiva à primitiva construção, a cachorrada decorada da fachada esquerda da capela-mor e as pinturas murais da parede testeira, datáveis do final do séc. 14. Terá sido remodelada no séc. 16, com a construção de nova fachada principal, ainda em arco apontado, dobrado, de arestas biseladas e com frisos de esferas, da mesma data em que se construiu a empena campanário, uma solução recorrente nas igrejas paroquiais do distrito de Bragança. A existência de várias mísulas na fachada lateral esquerda da nave deixa antever a existência de um corpo adossado, talvez a primitiva escada de acesso ao campanário e a um antigo coro-alto, sendo o atual de feitura recente, com escadas interiores. O interior é notável pela sua decoração setecentista, destacando-se o teto com cartela e friso rococó, representando o orago, na qualidade de mata mouros, os retábulos colaterais, de talha joanina, com colunas ornadas por profusão de laçarias e folhagem, que se prolongam em arquivolta de anjos de vulto, sendo de especial relevo as ilhargas com figuras híbridas, atlantes, e a porta do sacrário da estrutura da Epístola, com um cálice e o Menino Jesus como Salvador. Estes estão encimados por nichos de talha joanina com baldaquinos e drapeados a abrir em boca de cena, que enquadram um tríptico estruturado por quarteirões e colunas maneiristas, uma solução bastante rara para o enquadramento dos arcos triunfais. O retábulo-mor, de talha barroca nacional, datará do séc. 18, uma vez que anuncia, na sua gramática decorativa, elementos típicos da talha joanina, como os drapeados, a profusão de anjos encarnados e a exuberância da moldura do sacrário. Sofreu reforma posterior, com a feitura dos apainelados sob os eixos laterais, o novo altar e os dois primeiros degraus do trono, talvez do final de Setecentos. O púlpito está assente em coluna toscana, em entasis, com profusa decoração de marmoreados fingidos, apresentando guarda galbada. A capela-mor ostenta cobertura em caixotões pintados, de provável feitura setecentista, mas repintada e remodelada em data mais recente.
Número IPA Antigo: PT011302190008
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta poligonal composta por nave, capela-mor e sacristia adossada ao lado esquerdo, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas e três (sacristia) águas, rematadas em beiradas simples. Fachadas em cantaria de granito aparente com as juntas preenchidas a argamassa de cimento e rematadas em cornijas, a lateral direita da nave e a capela-mor assente em cachorrada decorada, na capela-mor com elementos antropomórficas. As empenas do arco triunfal e da fachada posterior, claramente alteadas, são encimadas por cruzes latinas, pétreas, sobre plintos. Fachada principal virada a SO., rematada em empena truncada por campanário de dupla sineira, assentes em maciço de muro e com remate angular, encimado por cruz latina; tem acesso por escadas metálicas na fachada principal. Esta é rasgada por portal em arco ligeiramente apontado, dobrado, assente em impostas salientes, os arcos com as arestas biseladas e o interior ornado por friso de esferas, que se prolonga pelas impostas. Fachada lateral esquerda com porta de verga reta, e duas janelas em capialço no corpo da nave, este marcado por várias mísulas, indiciando a existência de um corpo adossado, desaparecido. À capela-mor, adossa-se a sacristia com porta de verga reta, de arestas biseladas, e pequena fresta na face SO.. A fachada lateral direita tem três janelas retilíneas, em capialço, duas na nave e uma na capela-mor; a nave possui porta travessa em arco apontado. Fachada posterior em empena rasgada por janela em arco apontado. No lado direito, o corpo da sacristia, levemente recuado e cego. INTERIOR com as paredes em cantaria de granito aparente e coberturas em falsas abóbadas de berço de madeira, a da nave pintada e a da capela-mor em caixotões com molduras de talha pintada e caixotões pintados, ambas assentes em frisos e cornijas de madeira, reforçadas por tirantes de madeira; pavimento da nave em soalho. As portas travessas estão encimadas por sanefas de talha pintada de marmoreados fingidos, formando um cornija e lambrequins franjados. Coro-alto de madeira pintada de castanho com guarda torneada e acesso por escadas de madeira, de dois lanços, no lado da Epístola. No lado do Evangelho, no sub-coro e elevada por um degrau de cantaria, pia batismal em cantaria de granito, composta por pequena coluna, assente em pé em toro, ornado por elementos zoomórficos nos ângulos, e por taça hemisférica e de bordo levemente saliente. Junto a esta, três genuflexórios de madeira. No mesmo lado, púlpito quadrangular com bacia em cantaria, assente em coluna toscana com entasis, tudo pintado de marmoreados fingidos, de guarda plena galbada, em talha pintada de branco, azul, rosa, negro e dourado, ornada por acantos, querubins, cartelas recortadas e acantos. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas, revestido a talha dourada, constituída por folhagem e tendo, no fecho, consola de acantos com a pomba do Espírito Santo. Está ladeado por retábulos colaterais, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus (Evangelho) e a Nossa Senhora de Fátima (Epístola) e encimado por tríptico pintado, formando três eixos definidos por elementos de talha pintada, constituídos por dois quarteirões, assentes em consolas, e duas colunas espiraladas e o terço inferior ornado por brustesco, estas assentes em plintos paralelepipédicos, com as faces ornadas por acantos, querubins e assentes em consolas de atlantes. O tríptico representa São Tiago mata mouros, ladeado por São Gonçalo e São Vicente Ferrer, estes marcados por duas mísulas de acantos, encimadas pelas pombas do Espírito Santo. Está flanqueado por dois nichos com o fundo pintado por flores, com sanefa de acantos, lambrequins e drapeados a abrir em boca de cena, tendo, exteriormente, coluna torsa, assente em consola de atlante. Junto ao arco triunfal, a mesa de altar, paralelepipédica e ambão. Sobre supedâneo de um degrau em cantaria, o retábulo-mor, de talha pintada de branco, azul e dourado, de planta côncava e três eixos definidos por seis colunas torsas, decoradas por pâmpanos e anjos encarnados, assentes em consolas e plintos paralelepipédicos com as faces decoradas por acantos e anjos, que se prolongam em três arquivoltas torsas, unidas por aduelas salientes e formando quatro apainelados de acantos. Ao centro, tribuna de volta perfeita e boca rendilhada, contendo trono expositivo de cinco degraus, os superiores galbados, encimados por resplendor e com os fundos pintados de marmoreados fingidos com moldura de acantos douradas e a cobertura dourada, formando caixotões de acantos. Os eixos laterais formam nichos encimados por baldaquinos de acantos e drapeados a abrir em boca de cena. Altar em forma de urna, decorado por concheados, encimado por sacrário com moldura de acantos e anjos encarnados, que sustentam drapeados franjados e coroa fechada, com a porta ornada pelo Menino Salvador, sobre as iniciais "IHS". Sacristia com as paredes em cantaria de granito aparente e pavimento em lajeado, contendo arcaz de madeira, armário embutido na estrutura murária e confessionário móvel, de madeira.

Acessos

Largo da Igreja

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 438/2012, DR, 2.ª série, n.º 179 de 14 setembro 2012

Enquadramento

Rural, isolado, implantado a meia encosta, a que se adapta, fechado por pequeno muro na zona posterior e lateral esquerda, que protege o templo de uma via pública em terra batida e divide uma propriedade, onde se insere casa de habitação unifamiliar, de dois pisos. Encontra-se envolvido por terrenos de cultivo, organizados em socalcos.

Descrição Complementar

O TETO DA NAVE tem o fundo pintado de branco, percorrido por friso recortado de acantos e rocalhas envolvidos em "ferronerie", tudo pintado de azul, vermelho e amarelo-dourado, que centram reserva recortada e volutada, envolvida por moldura recortada de fragmentos de frontão, de cornija e concheados assimétricos, representando a imagem do orago, encimada por querubins. Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes de talha pintada de branco, vermelho e dourado, de planta reta e um eixo definido por duas colunas ornadas por laçarias, entrelaçados e elementos fitomórficos,assentes em consolas com querubins, prolongando-se em uma arquivolta de anjos de vulto e folhagem, interrompidos por pedra de fecho, que se ligam à estrutura que ladeia o tríptico do arco triunfal. Ao centro, apainelado de volta perfeita, envolvido por moldura de acantos e boca rendilhada, tendo o fundo pintado de flores e possuindo baldaquino com lambrequins e drapeados a abrir em boca de cena. Altar paralelepipédico, encimado por ampla banqueta de acantos e por sacrário embutido, o do Evangelho transformado em nicho e o lado oposto mantendo a porta decorada por cálice e o Menino, tudo envolvido por profusa decoração de acantos, rosetas e querubins. As ilhargas apresentam decoração fitomórfica, tendo nos quarteirões, figuras de cariátides híbridas e envolvidas por vieiras. O TETO DA CAPELA-MOR encontra-se dividido em caixotões de madeira pintada de vermelho, azul e dourado, envolvidas por acantos pintados e com florões nos ângulos, contendo painel com acantos enrolados e plumas. Na PAREDE TESTEIRA, pinturas murais formando um retábulo fingido, formando quatro painéis a representar Santa Catarina, uma Pietà, São Tiago e Santa Bárbara, surgindo, nas paredes laterais, cenas menos definidas, que poderão representar São Paulo e, no lado oposto, uma cena com figuras fantásticas. Possui a inscrição: "ESTA OBRA MANDOU FAZER JUAN CAMELO DE (BORO?) / SENDE ABADE DESTA YGREJA ERA DE MIL E CCCCtos E".

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese do Porto)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 12 / 13 (conjectural) / 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1178 - data gravada na fachada N. da capela-mor, correspondendo, provavelmente, à data de construção do primitivo templo; séc. 13 - provável reconstrução da igreja; 1400 - data gravada numa inscrição truncada na pintura mural da parede testeira; séc. 16 - remodelação de algumas zonas do templo, nomeadamente da fachada principal, com a abertura de novo portal axial e construção do campanário; séc. 17 - reconstrução da nave e abertura das janelas em capialço; feitura da estrutura do arco triunfal; 1623 - o Catálogo dos Bispos do Porto refere que a igreja tem Santíssimo Sacramento; a paróquia rende 300$000; séc. 18 - execução do retábulo-mor e dos retábulos colaterais; 1706 - segundo o Padre Carvalho da Costa a paróquia é abadia do padroado dos Condes de Baião e Marquês de Arronches e rende 450$000; tem 120 vizinhos; 1758, 15 abril - segundo as Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Ricardo Félix Barroso Pereira, é referida a igreja situada fora da povoação, tendo como orago São Tiago; tem os altares mor e o de Nossa Senhora do Rosário e do Santo Nome de Jesus; tem sediadas a Irmandade das Almas e as confrarias do Santíssimo, Nossa Senhora do Rosário e Santo Nome; o pároco é abade, apresentado por João Costa de Ataíde, e a paróquia rende 700$000; 1977, 26 maio - na sequência da descoberta das pinturas murais, é feita uma proposta de classificação pelo Instituto José de Figueiredo; 1989, 13 dezembro - Despacho de abertura do processo de classificação do vice-presidente do IPPC; 2010, 19 maio - proposta da DRCNorte para classificação do edifício como Interesse Público e fixação da Zona Especial de Proteção; 2011 - o edifício passa a integrar a Rota do Românico; 31 maio - parecer favorável do Conselho Nacional de Cultura; 17 novembro - publicação do projeto de decisão relativo à classificação do edifício como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção, em Anúncio n.º 16975/2011, DR, 2.ª série, n.º 221.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito; modinaturas, cornijas, cachorros, supedâneo, cruzes e bacia do púlpito em cantaria de granito; tetos, portas, mobiliário, tirantes e bancos de madeira; retábulos, púlpito, estrutura envolvente do arco triunfal de talha pintada e dourada; escadas do campanário metálicas; coberturas exteriores em telha cerâmica.

Bibliografia

A colecção de pintura do Museu Alberto de Sampaio, Séc. XVI - XVIII. Lisboa: IPM, 1996; CAPELA, José Viriato, MATOS, Henrique, BORRALHEIRO, Rogério - As Freguesia do Distrito do Porto Nas Memórias Paroquiais de 1758. Braga: Universidade do Minho, 2009; CORREIA, Vergílio - Monumentos e Esculturas Séc. III - XVI. Lisboa: Editora Livraria Férin, 1924; COSTA, António Carvalho da (Padre) - Corographia Portugueza… Lisboa: Oficina de Valentim da Costa Deslandes, 1706, tomo I; http://jfvaladaresbaiao.wordpress.com/, [consultado a 18 novembro 2011].

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DREMNorte, SIPA, Arquivo "Mural da História"; Diocese do Porto: Secretariado Diocesano de Liturgia

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20 - limpeza das cantarias e refechamento de juntas.

Observações

Autor e Data

Paula Figueiredo 2013 (no âmbito da parceria IHRU / Diocese do Porto)

Actualização

 
 
 
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