Mosteiro de Santo André de Ancede / Igreja Paroquial de Ancede / Igreja de Santo André

IPA.00004837
Portugal, Porto, Baião, União das freguesias de Ancede e Ribadouro
 
Arquitetura religiosa, maneirista e tardo-barroca. Mosteiro de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, de fundação medieval, ocupado, no séc. 16, pelos Dominicanos, responsáveis pela sua reconstrução. É de planta poligonal irregular, composto por igreja de três naves internas, capela-mor, torre sineira e sacristia, tendo a zona conventual no lado direito, formando ângulo com a igreja e dando acesso à portaria. Igreja com coberturas diferenciadas, em masseira nas naves e em falsa abóbada de berço na capela-mor, ambas com caixotões, iluminada uniformemente por janelas retilíneas, algumas em capialço, rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal em empena e com os vãos rasgados em eixo, composto por portal e janelão. Fachadas com cunhais apilastrados e rematas em frisos e cornijas, a lateral esquerda com amplo portal. Interior com coro-alto, batistério na base da torre sineira, púlpito no lado da Epístola, presbitério elevado, onde se rasga o acesso ao claustro. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, ladeado por capelas colaterais. Capela-mor com supedâneo de degraus centrais, contendo retábulo de talha pintada de branco e dourado, neoclássica. Zona regral de dois pisos, desenvolvida em torno de claustro, marcada por vãos retilíneos rasgados regularmente. Na zona oposta à igreja, a cozinha, refeitório e despensas. Mosteiro de origem românica, profundamente alterado nos séc. 17 e 18, sendo exemplo disso as diferenças de vãos e dos pináculos que rematam os cunhais. Do templo primitivo resta apenas uma rosácea na fachada posterior da capela-mor, que hoje abre para a tribuna, permitindo criar um efeito de camarim, recurso que não se coaduna com o retábulo neoclássico, revelando uma alteração profunda na estrutura, levada a cabo no séc. 20. Subsiste, ainda, a estrutura mendicante da nave. A austeridade do tratamento da fachada principal da igreja contrasta com a exuberância decorativa do portal da antiga portaria, tardo-barroco; o portal lateral, feito em plena centúria de Setecentos segue esquemas maneiristas, no remate em tabela e aletas e na modinatura do próprio portal, com frisos e pilastras almofadados. No interior, destaca-se a qualidade de entalhe do púlpito, barroco joanino, encimado por figura alegórica e o espólio decorativo que surge na nave. Na sacristia mantêm-se vestígios dos antigos retábulos-relicários, relegados para espaços internos, menos ostensivos, pelas ordens mendicantes. É de salientar o sistema hidráulico do edifício, que passa pelo interior das construções e mesmo pelo interior dos paramentos, em canais talhados nas pedras das paredes, com passagem por tanques e a partir destes em canais de solo com percursos bem definidos.
Número IPA Antigo: PT011302010009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro / Templo  Mosteiro masculino / Igreja paroquial  Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho

Descrição

Planta poligonal irregular, composta por igreja, parte das dependências monacais, desenvolvidas em torno de um claustro, no lado direito, formando um ângulo com a fachada da igreja, surgindo, isolado, uma ala que tem, no extremo, a Capela do Bom Despacho (v. PT011302010027). IGREJA de planta retangular composta por três naves, visíveis interiormente, capela-mor e torre sineira no lado direito, de volumes articulados e escalonados, com coberturas escalonados em telhados de duas águas, sendo em coruchéu piramidal, revestido a cantaria de granito na torre sineira. Fachadas em cantaria de granito aparente, rematadas em cornijas, tendo pináculos fusiformes nos ângulos na principal e piramidais com bola na posterior. Fachada principal virada a O., rematada a meia-empena, tendo a torre sineira adossada à restante, rasgada por portal de verga reta, encimado por janelão retilíneo, ambos com molduras salientes. Fachada lateral esquerda com o remate interrompido sobre o portal, mais baixo e encimado por cruz latina sobre esfera, ladeado por aletas e por pináculos de bola. O portal é de verga reta e moldura recortada, rematado por friso e tabela retangular vertical, com nicho em abóbada de concha, encimado por frontão triangular, e ladeado por aletas e pináculos piramidais com bola, sobre plintos paralelepipédicos, tudo almofadado. No nicho, a imagem de São Domingos. Possui três janelas, duas em capialço e uma retilínea, esta protegida por grades. Fachada lateral direita adossada à zona regral. Fachada posterior em empena encimada por cruz de Malta no vértice, rasgada por rosácea com dupla moldura, a interna em toro. Torre sineira em alvenaria rebocada e pintada, com cunhais em cantaria, tendo três registos definidos por frisos e cornijas, o inferior com óculos na face N., o intermédio com o mostrador do relógio, em cantaria e enrolado, formando cartela. No topo, as ventanas de volta perfeita, assentes em impostas salientes. A estrutura remata em frisos e cornijas, com gárgulas de canhão, e pináculos de bola sobre altos plintos paralelepipédicos. INTERIOR de três naves e quatro tramos, definidos por arcos torais de volta perfeita, assentes em pilares de cantaria, com perfis biselados, exceto na parede do cruzeiro, onde os arcos assentam em mísulas. Paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejo de padrão 2x2, a azul e branco e formando acantos, encimados por barra com o mesmo elemento decorativo, que se prolongam sobre o portal, formando uma moldura cerâmica. A nave central tem teto de madeira em masseira, reforçada por tirantes metálicos, sendo de um pano nas laterais, divididas em caixotões de madeira pintada, com rosetões dourados nos ângulos; pavimento em taburnos de madeira e réguas de cantaria. As janelas e portas estão encimadas por sanefas de talha dourada, recortada e decorada por motivos fitomórficos, tendo lambrequins. Coro-alto amplo, percorrendo as três naves, de madeira com guarda em balaústres de talha pintada, com acesso pelo lado da Epístola, através da torre sineira. Possui órgão positivo de armário. A ladear o portal, pia de água benta embutida no muro, em cantaria de granito, estriada e de bordo boleado. No lado da Epístola, sob a torre sineira e rasgado na parede fundeira, o batistério protegido por grades de bronze, parcialmente douradas, formando frisos, enrolamentos e, no topo, possui cartela com inscrição. Contém pia batismal em cantaria de granito, composta por pequeno pé, em toro, e taça ornada por folhas estilizadas. No lado da Epístola, nicho retilíneo e com moldura de cantaria, almofadada, contendo altar. No mesmo lado, adossado ao pilar, o púlpito, de talha dourada, quadrangular, assente em consola e com guarda plena, ornada por motivos fitomórficos; tem acesso por escadas adossadas ao pilar; possui guarda-voz do mesmo material, encimado por figura alegórica. Presbitério elevado por três degraus, protegido por teia metálica, pintada de preto e dourado, tendo, no lado do Evangelho, órgão elétrico e, no lado oposto, o portal de acesso ao claustro. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, enquadrado por friso de cantaria e sobrepujado por sanefão de talha dourada, com decoração vazada, contendo cartela com as insígnias da Ordem de Malta e decoração de acantos, com lambrequins. Está ladeado por dois nichos de volta perfeita, revestido a cantaria, contendo mesas de altar compostas por tampo e pilares de cantaria, encimados por mísulas com imaginária. Capela-mor com as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejo de padrão 2x2, a azul e branco, tendo cobertura em falsa abóbada de berço, de madeira, formando caixotões de talha pintada de branco e dourado, formando cartelas enroladas por acantos e com rosetões nos ângulos; está assento em frisos e cornijas de talha, com mísulas equidistantes. Possui mesa de altar em cantaria de granito, composta por tampo e pilar central, almofadado. Sobre supedâneo de três degraus centrais, com maciços almofadados, o retábulo-mor, de talha pintada de branco e dourado, assente em banco de cantaria, de planta côncava e um eixo definido por quatro colunas torsas, percorridas por pâmpanos, assentes em plintos paralelepipédicos, e encimadas por frisos e corinijas. Ao centro, ampla tribuna contracurva, convexa, com moldura saliente e envolvidas por folhagem, contendo trono expositivo de cinco degraus, ornados por festões e com apainelados interiores, decorados por motivos fitomórficos. Nas ilhargas da tribuna, duas mísulas com imaginária; na base, portas de volta perfeita, de acesso à tribuna. A estrutura remata em apainelados de talha e, ao centro, por espaldar recortado, decorado por festões, e por frontão semicircular, ladeado por urnas. Altar em forma de urna, com o frontal decorado por cartela central, contendo as iniciais "AM", e festões, encimado por sacrário de talha pintada e dourada, formando quarteirões laterais e rematando em cornija contracurva, com a porta ornada por motivos eucarísticos. No lado da Epístola, a sacristia, em cantaria de granito aparente, com teto plano, dividido em caixotões de madeira pintada, e pavimento em lajeado. No lado direito, o corpo da zona monástica, retangular e parcialmente sem coberturas, ladeado pela porta carral. Virada a N., a fachada da portaria, em empena, enquadrando uma falsa, em cortina, truncada por plinto volutado e cruz latina, tendo, nos ângulos, pilares fusiformes sobre plintos galbados. É rasgada por portal em arco abatido e moldura recortada, encimada por cornija e espaldar curvo, que une ao janelão, em arco abatido e remate em cornija em cortina. Evolui em dois pisos, com claustro central, contendo, na fachada O., três janelas retilíneas no piso inferior, duas jacentes, e, no superior, onze vãos retilíneos, três deles com sacadas e, ao centro, a janela regral. Fachada posterior com vários corpos adossados, um deles com chaminé, indicando o local da antiga cozinha, rasgada por portas e janelas retilíneas. Possui chafariz adossado ao muro, composto por espaldar reto, flanqueado por pilastras toscanas almofadadas e remate em friso e cornija, contendo apainelado fitomórfico e bica, ladeada por silhares com florões; a bica verte para pequeno tanque retilíneo, ao nível do chão; está ladeado por bancos de cantaria.

Acessos

EN 321

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 225/2013, DR, 2.ª série, n.º 72 de 12 abril 2013 *1

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, implantado entre dois aglomerados de casas, rodeado por terrenos de cultivo, correspondendo à antiga cerca do cenóbio. Surge em ligeiro declive, com terreiro de acesso amplo, sobre plataforma artificial, sustentada por muro, encimado por guarda de proteção em cantaria de granito. Junto ao edifício e adossada ao corpo da antiga hospedaria a Capela de Nosso Senhor do Bom Despacho (v. PT011302010027).

Descrição Complementar

A cartela das grades do batistério é ovalada, contendo pintura em grisaille, criando uma cartela enrolada com a inscrição: "NISI QVIS RENATVS / FVERIT EXAQVA, ET / SPIRITV SANCTO NON / POTEST INTRIORE / IN REGNVM DEI / Ioann. C. 3.º V. 5", surgindo no reverso a pintura do Batismo de Cristo. A sacristia possui dois oratórios de volta perfeita, assentes em pilastras pintadas com motivos fitomórficos, uma delas integrando estrutura de talha pintada de marmoreados fingidos e florões dourados, contendo edículas e bustos relicários.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro masculino / Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial / Cultural e recreativa: edifício multiusos

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese do Porto - igreja) / Pública: Municipal (Mosteiro)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Daniel Vale (2001-2023); Siza Vieira (2001-2023).

Cronologia

1107 - fundação do Mosteiro da Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho; 1160 - devido a problemas de salubridade, foi transferido para este local, mantendo-se o edifício antigo; o moderno foi patrocinado por D. Afonso Henriques; séc. 16, primeira metade - período de degradação das dependências monacais, existindo um número muito reduzido de religiosos; séc. 16 - passou a ser comenda; 1557 - D. João III doa o Mosteiro aos Crúzios; 1560 - demorando a autorização papal de doação aos Crúzios, D. Catarina, enquanto regente do Reino, doa-o à Ordem de São Domingos de Lisboa, passando a ser couto dos Frades Dominicanos; grandes campanhas de obras com o objetivo de recuperar o conjunto arquitetónico; 1689 - reedificação da igreja; 1706 - segundo o Padre Carvalho da Costa, na igreja dos fregueses, dividida da dos frades, existe o túmulo dos Sousa, Senhores de Baião; tem um púlpito grande e redondo, feito de uma só pedra; tem de renda 4.500 cruzados e tem vigário e cinco religiosos; é um couto autónomo, com poder militar e de justiça; a paróquia é um curato com 100$000 de rendimento; 1731 - edificação da capela de Nossa Senhora do Bom Despacho; 1735 - construção do portal N. do mosteiro; 1753 - construção da adega e dos celeiros; 1758, 28 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco João Pinto de Almeida, é referida a igreja como estando fora do lugar, mas no meio da freguesia, sendo dedicada a Santo André; possui três altares, o mor, com sacrário, o do Santíssimo e o de Nossa Senhora do Rosário, com Irmandade própria; o pároco é cura apresentado pelo prior de São Domingos de Lisboa ou pelo seu procurador, tem de renda 80$000; séc. 18, final - feitura do sacrário que se encontra no altar-mor; feitura das grades do batistério; reforma da fachada da portaria; séc. 19 - execução do retábulo-mor; 1834 - extinção das Ordens Religiosas; o mosteiro foi vendido em hasta pública, passando a ser propriedade do Visconde de Vilarinho de São Romão; 1932 - a igreja e capela passam para a paróquia de Ancede; séc. 20, meados - reforma do retábulo-mor, com ampliação da estrutura e reforma da tribuna, gerando um camarim transparente; 1982, 29 novembro - proposta de classificação da Câmara Municipal de Baião para a Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho; 1985 - Câmara Municipal de Baião compra a zona regral e antiga cerca por 30 mil contos a José Lima; 1999, 26 fevereiro - Despacho de abertura do processo de instrução relativo à eventual classificação do conjunto constituído pela Igreja e Mosteiro de Santo André de Ancede, Quinta do Mosteiro e Capela do Bom Despacho; 2001 - início das obras de conservação, restauro e reabilitação do mosteiro, organizadas em cinco fases, a zona regral, casa dos moços e adro com projeto do arquiteto Siza Vieira, e a igreja com projeto de Daniel Vale; 2003, 26 junho - inauguração da 1ª fase das obras de recuperação e remodelação do mosteiro; 2011, 05 dezembro - parecer da SPAA do Conselho Nacional de Cultura a propor a classificação como Monumento Nacional e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção; 01 julho - proposta da DRCNorte para a classificação do Conjunto Constituído pela Igreja e Mosteiro de Ancede, Capela do Bom Despacho e Terreiro Fronteiro como Conjunto de Interesse Público; 2023, 21 abril - inauguração oficial do Mosteiro de Ancede Centro Cultural (MACC), com a presença do Primeiro-Ministro António Costa; aguardam ainda financiamento para serem recuperados os celeiros, o parque de estacionamento, o pombal, as eiras, a cerca e os jardins já existindo projeto.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria e cantaria de granito; elementos estruturais, modinaturas, colunas, frisos, cornijas, arcos, escadas, tanques, cruzes, mísulas, pia de água benta, pia batismal, pavimentos, altares e outros elementos em cantaria de granito; portas, mísulas, caixilharias em madeira; retábulo de talha pintada; sinos e grades do batistério em bronze; rosácea com vitrais; janelas com vidros simples; cobertura em telha.

Bibliografia

COSTA, António Carvalho da (Padre) - Corographia Portugueza… Lisboa: Oficina de Valentim da Costa Deslandes, 1706, tomo I; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Diccionário Geographico, Estatistico, Chorographico, Heraldico, Archeologico, Historico, Biographico e Etymologico de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal. Lisboa: 1882, vol. 1; ALMEIDA, Bernardo Vasconcelos e Sousa (Dir.) - Ordens Religiosas em Portugal: das origens a Trento - Guia Histórico. Lisboa: 2005; www.cm-baião.pt, [consultado em 11 janeiro 2007]; www.ippar.pt [consultado em 11 janeiro 2007].

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN, SIPA / Diocese do Porto: Secretariado Diocesano de Liturgia

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DREMN; DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, vol. 4, n.º 22, fl. 113-122

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 2003 - 1.ª fase de obras de recuperação do Mosteiro, com intervenção no celeiro, adega, lagar, com tratamento de rebocos e pintura, estrutura e colocação de coberturas; colocação de redes de saneamento e águas.

Observações

*1 - A classificação abrange a Igreja, Mosteiro, capela do Bom Despacho e Terreiro fronteiro. *2 - Exceto o celeiro, adega e lagar, ainda utilizados, estando o demais edifício em ruínas.

Autor e Data

Sónia Basto 2007 / Paula Figueiredo 2013 (no âmbito da parceria IHRU / Diocese do Porto)

Actualização

 
 
 
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