Quinta e Casa de Pascoaes / Casa de Pascoais

IPA.00004833
Portugal, Porto, Amarante, União das freguesias de Amarante (São Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão
 
Arquitectura residencial, maneirista, neoclássica, revivalista. Quinta composta por solar de planta em U integrando capela no topo do braço, formando terreiro fechado com portal, dependências agrícolas e de serviço, jardim formal, pomar e terrenos agrícolas com vinha. Solar com planta de influência francesa, de fachadas de decoração simples, ritmadas por vãos de verga recta, com escadaria, na ala central da fachada principal, revestida a azulejos de padrão seiscentistas. Destes azulejos existem dois padrões iguais aos existentes no Convento de São Gonçalo (v. PT011301330001), o P-441, e na Igreja de São Pedro de Amarante (v. PT011301330020, o P-456 (SIMÕES, OLIVEIRA, 1997). Interior profundamente remodelado no séc. 19 com tectos de madeira, alguns em masseira e pavimento em soalho e laje de granito. Ala dos aposentos de Teixeira de Pascoaes com decoração de influência neogótica, patente nos arcos angulares dos vãos e nos merlões do remate das fachadas dessa ala. Capela de planta rectangular, massa simples com entrada transversal, desprovida de decoração nas fachadas. Interior com coro-alto e retábulo de talha policroma de transição do maneirismo para o barroco nacional, cuja decoração de querubins, colunas salomónicas e pâmpanos denotam já uma clara influência deste último período estilístico. Portal de acesso ao terreiro neoclássico ainda com influência rococó na decoração de volutas simulando orelhas, no paquife da pedra de armas e na forma bojuda dos bustos. Este portal apresenta claras semelhanças, apesar de mais simplificado, com o portal da Casa do Eirô de Baixo (v. PT011705050047), em Mondim de Basto, actual Câmara Municipal. Jardim formal construído em patamares pontuado por canteiros geométricos de buxo, com tanques e monumental fonte maneirista com estrutura de pórtico de clara influência na tratadística de Vignola. O solar encontra-se sensivelmente no centro da propriedade, parcialmente murada, com jardim formal a preceder o portal que fecha o terreiro. Conserva ainda vários azulejos seiscentistas a revestir a escadaria e a formar silhar em torno do terreiro. No interior conserva-se ainda a cozinha original, em quota mais elevada, com todos os seus elementos característicos, como o tecto em telha vã, um lançadouro, cantareiras e uma zona distinta usada para a lareira, separada por vão ladeado por colunas toscanas e integralmente coberto pela chaminé. Na ala de Teixeira de Pascoaes conserva-se ainda sua biblioteca e objectos pessoais, estando o espaço organizado de modo a recriar a ambiência de trabalho do poeta. O jardim mais antigo, junto à fachada posterior possui uma monumental fonte com estrutura semelhante a portal. Junto a este desenvolvem-se grandes alamedas com ramadas de vinha que percorrem o vasto pomar, interceptados por um mirante mandado fazer por Teixeira de Pascoaes de modo a admirar a magnífica paisagem que tanto o inspirava.
Número IPA Antigo: PT011301160013
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Casa nobre  Tipo planta em U

Descrição

Quinta com núcleo construído sensivelmente ao centro, composto por solar e dependências agrícolas. O solar de planta em U, integra capela no topo do braço S., formando terreiro fechado no topo E. por muro com portal precedido por jardim formal murado, ladeado a N. pela adega, com acesso por portão voltado a uma antiga casa de caseiro. Junto à fachada lateral N. do solar desenvolvem-se dependências agrícolas e de serviço, ligadas à adega, formando pátio interior, e a O. e S. jardim formal, pomar e terrenos agrícolas com vinha. PORTAL rasgado em muro rebocado e pintado de branco, rematado por cornija de granito ritmado por bustos masculinos, também em granito. O portal, em arco abatido, apresenta portão de ferro, com bandeira possuindo o monograma da casa "CP", é ladeado por janelas gradeadas, interiormente com conversadeiras, e pilastras que se prolongam até a espaldar elevado e recortado superiormente, culminando em fragmentos curvos de cornija, e sob estas decorações de volutas e cartelas. Acima da pedra de fecho do portal encontra-se pedra de armas encimada por estátua. SOLAR com volumes de dominante horizontal, com coberturas em telhados de três e quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, à excepção da lateral N. e parte do extremo da lateral S., em alvenaria de granito. Apresentam vãos de verga recta emoldurados, marcadas por cunhais e cornija sob beiral nos remates, a granito. Fachada principal voltada a E., de dois pisos, rasgada regularmente, no primeiro piso, por portas, e no segundo, por janelas de sacada com guarda de ferro, nas alas laterais e portas e janelas de peitoril na ala central. Esta ala apresenta a todo o comprimento escadaria de três lanços rectos composta por lanço central de acesso a patamar que se liga a outros dois lanços divergentes que culminam em pequenos alpendres sustentados por colunelo, protegendo as duas portas que se abrem no ângulo das alas. Estes alpendres apresentam tectos de masseira de madeira com pedra de armas pintada. A escadaria é revestida a azulejos policromos a azul e amarelo, de diferentes padrões seiscentistas, que se espalham pelo embasamento das alas laterais e do muro do portal, envolvendo todo o terreiro. Sobre os vãos dos lanços divergentes rasgam-se janelas jacentes em arco angular ladeadas por arcos plenos, do lado esquerdo de acesso à zona reservada a turismo de habitação, e do lado oposto, formando nicho com fonte. No topo da ala direita surge o volume dos lagares, de um só piso, aberto por três portas, a central carral. Fachada lateral S. voltada ao pomar, de dois pisos, marcada por varanda corrida de pedra, aberta inferiormente por três nichos em arco pleno, um deles correspondendo a casa de fresco, com bancos, pequena fonte com carranca e edícula com imagem pétrea, conhecida como Fonte do Silêncio, com placas de bronze, incrustadas na parede, com o nome dos amigos de Teixeira de Pascoaes que visitaram o local. No extremo direito, pano ligeiramente recuado, com escadaria de acesso a varanda que comunica com a ala correspondente aos aposentos de Teixeira de Pascoaes. Esta ala apresenta merlões sobre a cornija de remate. Fachada lateral N., voltada ao pátio interior, de um só piso, rasgada por portas e janelas. Fachada posterior, a O., voltada ao jardim, de um e dois pisos, devido ao declive do terreno, rasgada por portas e janelas de peitoril. INTERIOR: No primeiro piso encontra-se a zona reservada a turismo de habitação com amplo salão, quartos e sanitários, todos com pavimentos em tijoleira e tectos de madeira. Segundo piso organizado por dois pequenos corredores paralelos que partem das duas entradas da fachada principal que intercedem em corredor perpendicular a estes, que percorre todo o solar. O corredor pequeno da ala N. apresenta lavabo de granito com espaldar rectangular, com bica carranca, ladeado por pilastras e rematado por entablamento encimado por volutas. Apresenta taça semicircular com interior concheado. Este corredor comunica ainda com o jardim, sala de jantar e com a cozinha, em quota superior e acesso por escada de granito. A cozinha apresenta paredes em granito, com cantareiras, cobertura em telha vã, e pavimento em laje de granito. No centro, surge lançadouro e na parede testeira vão ladeado por duas colunas toscanas, de acesso ao espaço ocupado pela lareira, com lar e trafegueiro, em granito. Este último espaço é integralmente coberto por chaminé de granito. O corredor paralelo oposto dá acesso ao salão nobre, com tecto em masseira de madeira com pedra de armas pintada, e à zona dos aposentos de Teixeira de Pascoaes, composta por quarto, biblioteca / escritório e sala. Estes espaços apresentam vãos em arco angular com a cruz de Cristo sempre presente na decoração, nomeadamente nas portas e no pano de apanhar da lareira. O longo corredor perpendicular dá acesso a salas e quartos com tectos e pavimentos de madeira, e casa de banho com pavimento de grés com desenhos florais e silhar de azulejos com temática floral. Quase todas as divisões possuem conversadeiras em granito ou em madeira. CAPELA de planta rectangular, com entrada transversal, massa simples. Fachada principal rebocada e pintada de branco e lateral e posterior em alvenaria de granito. Remates em cornija sob beiral com cruz sobre acrotério na empena da fachada lateral, e nos extremos pináculos piramidais com bola. Fachada principal voltada ao terreiro rasgada por vãos de verga recta, dispostos irregularmente, correspondentes a portal e janelas em capialço, uma delas, jacente. Sobre o muro do terreiro surge a sineira, em arco pleno, coroada por cruz latina. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em laje de granito e tecto de masseira com caixotões de madeira. Coro-alto protegido por balaustrada de madeira. Subcoro ocupado pela sacristia, com acesso por porta de verga recta e lavabo de granito com espaldar decorado por volutas, bica floral e taça concheada. Na parede testeira da capela sobre supedâneo encontra-se retábulo em talha. JARDIM composto por duas áreas distintas. A primeira, de construção mais recente, a preceder o portal principal, com caminho central ladeado por canteiros geométricos de buxo, pontuados por laranjeiras, agapantos e roseiras. O lado S. deste jardim é murado, surgindo ao centro espaldar triangular, com composição ornamental de volutas e coroamento por pináculo. A segunda área, mais antiga, apresenta jardim construindo em três patamares. O patamar superior, chamado de Terreiro Pequeno, é coberto por ramada de vinha e apresenta bancos, coluna e chafariz de taça floral, tudo de granito. Sobre o muro de suporte, voltado ao patamar intermédio surgem alegretes e relógio de sol. O patamar intermédio apresenta no extremo O. monumental fonte, conhecida como Fonte dos Golfinhos, cuja água é conduzida para grande tanque de granito, no patamar inferior. Em ambos os lados deste patamar intermédio surgem alegretes e bancos. O último patamar prolonga-se por área de canteiros geométricos de buxo pontuados por camélias, roseiras e agapantos. Para S. desta área encontra-se o extenso POMAR, composto essencialmente por laranjeiras, percorrido por alamedas cobertas por ramadas de vinha, onde se encontra um mirante, sobre paredes de granito, com passagem inferior, coberto por quatro águas, com paramentos pintados de rosa, o pano S., voltado à paisagem, integralmente envidraçado, e acesso lateral por escada. No pomar surgem ainda dois tanques de granito, um deles, bastante afastado da casa, de grandes dimensões, com mina de água e junto a esta, espaldar rebocado e pintado de branco, com pequeno nicho encimado por pináculos e cruz.

Acessos

EN 210 (Amarante - Arco de Baúlhe), cruzamento com estrada secundária no Lugar de Pascoaes. Rua da capelinha

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 129/77, DR, 1ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977

Enquadramento

Rural, isolado, implantado em encosta de pendor suave, com acesso particular por pequena estrada calcetada, aberta nos terrenos da quinta, ladeado por mata e por alto muro em alvenaria de granito que fecha parte grande área da quinta. Na proximidade junto ao cruzamento com a EN 210 encontra-se pequena capela (v. PT011301160175).

Descrição Complementar

DEPENDÊNCIAS DE SERVIÇO com fachadas em alvenaria de granito, em torno de pátio interior, com acesso pela cozinha, coberto por ramada de vinha. Numa das dependências fica a cozinha dos trabalhadores, com forno e lareira com lar e trafegueiro de granito; FONTES: Fonte da escadaria da fachada principal com grande bica carranca enquadrada por volutas. Taça trilobada e gomada; Fonte dos Golfinhos, no jardim, com estrutura de pórtico pétrea, de planta recta, com três eixos, divididos por pilastras. No eixo central surge grande nicho com imagem de São João Baptista, coroado no fecho por pinha, e nos eixos laterais pequenos nichos. Tanque rectangular com bicas em forma de dois golfinhos, ladeado por bancos. Remate em entablamento encimado por ático com aletas e nicho com imagem de Santo António, rematado por frontão curvo interrompido por pináculo. Lateralmente encontra-se porta de acesso à mina; AZULEJOS: Escadaria e panos da fachada principal, voltados ao terreiro, com silhar de azulejos seiscentistas de padrão, monocromos a azul e policromos a azul e amarelo. Encontram-se misturados, na maioria mutilados, aproveitando algumas partes dos painéis para organizar padrões diferentes. Em alguns locais estão completamente misturados, sem qualquer lógica de padrão. Dos painéis 4x4 verificam-se os padrões P-441, P-456 e P-444 e dos 6x6 o P-602 (variante) e P-604. Encontram-se ainda a cercadura C-71, o friso F-10 e as Barras B-1 e B-30, esta última disposta de modo a formar painel; TALHA: Retábulo da capela de planta recta, com três eixos, rematado por entablamento decorado por querubins, elevado no eixo central por arco pleno de remate da tribuna. Esta apresenta painel relevado com glória de anjos e sol, no centro. Eixos laterais enquadrados por colunas salomónicas decoradas por pâmpanos, enquadrando peanha com imagem sobre fundo pintado com arabescos. Banco decorado por querubins, arabescos e imagens de santos. Altar recto, com frontal decorado por três painéis decorados por arabescos.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Comercial e turística: casa de turismo de habitação

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 17, segunda metade - Construção do solar, provávelmente a mando de João Mendes de Vasconcelos e Queirós; 1672 - instituição da fábrica da capela; séc. 17, final / séc. 18, início - construção da fonte do jardim; é Senhor da Casa de Pascoaes, João Inácio de Vasconcelos Queirós e Magalhães, filho do primeiro proprietário; séc. 18, segunda metade - é Senhor da Casa de Pascoaes, António Teixeira Mendes de Vasconcelos, neto do primeiro proprietário; 1808 - o solar é incendiado por ocasião das Invasões Francesas; apenas é poupada a capela, apesar do retábulo e imaginária terem sido vandalizados com golpes de baionetas dos soldados de Napoleão; séc. 19, meados - reconstrução do solar; 1862 - construção do portal de acesso ao terreiro; 1877, 2 Novembro - nascimento em São Gonçalo de Amarante de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, conhecido como Teixeira de Pascoaes, cujo o nome retirou da sua Casa de Pascoaes; 1879 - o solar encontrava-se bastante degradado; o Conselheiro João Pereira Teixeira de Vasconcelos e D. Carlota Guedes Monteiro, pais de Teixeira de Pascoaes *1 mudam-se para o solar; posteriormente mudam-se para Amarante para que o filho mais velho pudesse frequentar o liceu; 1913 - Teixeira de Pascoaes abandona a carreira judicial e refugia-se na sua Casa de Pascoaes, dedicando-se unicamente à escrita *2; 1916 - D. Carlota manda restaurar o solar e remodelar a antiga sala de baile, transformando-a na ala dos aposentos de Teixeira de Pascoais; 1922 - após o falecimento do Conselheiro, a casa deixa de ser habitada permanentemente e Teixeira de Pascoaes e família passam a ir todos os invernos para Lisboa; séc. 20, primeira metade - Teixeira de Pascoaes manda construir o mirante do pomar; 1952, 14 Dezembro - falecimento de Teixeira de Pascoaes no solar; a propriedade passa para o seu sobrinho João Pereira Teixeira de Vasconcelos.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura dos edifícios, portal, fontes, tanques, alegretes, muros de suporte dos socalcos, bancos e mesas do jardim, relógio de sol, escadaria, elementos decorativos, varandas, pavimentos da cozinha e capela, lavabos, e lareiras, em granito; portas, janelas, tectos, pavimentos do segundo piso do solar e balaustrada do coro-alto, em madeira; retábulo em talha policroma; fachada principal com azulejos tradicionais; casa de banho com pavimento de grés; portões e guardas das sacadas em ferro; coberturas em telha de aba e canudo, excepto na adega e um dos anexos, em telha marselha.

Bibliografia

MENESES, F. Alpoim, História Antiga e Moderna da Sempre Leal e Antiquissima Vila de Amarante, Lisboa, 1814; VASCONCELOS, J. de, Amarante in A Arte e Natureza em Portugal, V.P., 1905; MIKETEN, Roberval, Amarante Visitada, 1985; BINNEY, Marcus, Casas Nobres de Portugal, Lisboa, 1987; AZEVEDO, Carlos, Solares Portugueses, Lisboa, 1988; RIBEIRO, Paula de Oliveira, VILHENA, João Francisco, Casas D'Escritas, 1997; SIMÕES, J. M. dos Santos, OLIVEIRA, Emílio Guerra de, Azulejaria em Portugal no século XVII, tomo I - Tipologia, 2ª edição, Lisboa, 1997; CMA, www.cm-amarante.pt, 28 Julho 2005; http://www.cm-amarante.pt, 28 Julho 2005; http://genealogianetopia.pt, 20 Junho 2006.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Proprietário: 1916 - Restauro do solar; transformação de salões em quartos; séc. 20, primeira metade - remodelação da ala ocupada por Teixeira de Pascoaes, modificando a morfologia dos vãos e introduzindo novos elementos decorativos; construção do mirante.

Observações

*1 - Teixeira de Pascoaes partiu para Coimbra, em 1896, onde tirou o grau de bacharel em Direito. Exerceu advocacia a partir de 1901, sendo em 1911 nomeado juiz substituto em Amarante. Em 1913 abandonou a carreira judicial dedicando-se unicamente à escrita; *2 - o solar havia pertencido ao seu avô, António Pereira de Azevedo, médico da Casa Real, que o havia herdado do sogro.

Autor e Data

Isabel Sereno 1994 / Paula Noé 1996 / Joaquim Gonçalves 2006

Actualização

 
 
 
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