Castelo de Vila do Touro

IPA.00004748
Portugal, Guarda, Sabugal, Vila do Touro
 
Castelo construído no séc. 13, pela Ordem do Templo, após o Concelho da Guarda lhe doar, em 1220, o padroado e dízimos de algumas igrejas na região, na condição da Ordem edificar um castelo em Touro para proteger os habitantes, e da concessão do foral, em local estratégico do Riba Côa, para defesa da fronteira leste de Portugal. É formado por uma simples cerca, com planta poligonal irregular, adaptada à morfologia acidentada do terreno, integrando afloramentos rochosos, com paramentos aprumados, em cantaria, sem remate, possuindo acesso por uma única porta, virada a sul e à povoação, em arco apontado, de dupla arquivolta, sobre impostas, provavelmente do séc. 14. A fortificação nunca chegou a ser concluída, devido à perda de importância estratégica, com o avanço da fronteira para leste, estando já no início do séc. 16, "todo derroído" e com algumas das antigas oito casas do interior do recinto, adaptadas a pardieiros. Segundo Gutiérrez Gonzalez, a sua construção visava fazer frente, juntamente com a fortificação de Sortelha, aos castelos leoneses-castelhanos do Sabugal, de Alfaiates e de Vilar Maior.
Número IPA Antigo: PT020911390054
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Planta poligonal irregular, devido à sua adaptação à topográfica extremamente acidentada do terreno. As muralhas, com o perímetro quase completo, apresentam paramentos aprumados, em aparelho elementar pseudo-isódomo, com a altura máxima de 4 metros, integrando pontualmente os afloramentos rochosos naturais; não possuem remate e o adarve encontra-se já muito destruído, tendo em algumas zonas escadas de acesso. Tem uma única porta, aberta na frente sul, denominada por Porta de São Gens, com vão em arco apontado, de dupla arquivolta, com aduelas desencontradas, na face virada para a vila, sobre impostas, marcadas por friso saliente. Conserva ainda os gonzos em cantaria e a abóbada em berço quebrado com o extradorso a descoberto; na face interna, o arco assenta igualmente em imposta percorrida por friso. No interior do recinto existem grandes afloramentos rochosos e, no lado norte, as fundações de um edifício de planta retangular.

Acessos

Vila do Touro *1, EN 233 (Guarda - Sabugal) ; EM 563 (Pega - Vila do Touro); Rua Pedro Alvito; Rua do Castelo. WGS84 (graus decimais): lat.: 40.417176; long.: -7.106486

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Peri-urbano, isolado. Implanta-se num cabeço situado a mais de 800 metros de altitude, marcado por afloramentos graníticos ciclópicos, mostrando uma vertente escarpada, sobranceira à Ribeira do Boi, a cerca de 1 Km de distância, no ponto de sua confluência com o rio Côa. A superfície do recinto murado encontra-se revestida por vegetação herbácea e arbustiva espontânea, destacando-se algumas espécies arbóreas, como azinheiras e faias. No sopé do lado norte destaca-se a Fonte de mergulho de Paia Gomes (v. IPA.00012247), com vão em arco apontado. No lado oposto observa-se o cabeço da Enxércia, onde se ergueu a Capela de São Gens (v. IPA.00012242) e o Calvário, num vasto barrocal hoje descaracterizado por construções recentes e pela implantação dos depósitos de água. Na vertente sul, de pendente mais suave, desenvolve-se a antiga vila estruturada pela Rua Direita, cujo percurso é complementado por duas vias paralelas. Junto à porta de acesso ao castelo, e na continuidade de uma calçada, situa-se a Capela de Nossa Senhora do Mercado (v. IPA.00012243). Ao lado regista-se uma construção profundamente dissonante. Do castelo tem-se amplo domínio visual sobre a envolvente, avistando-se a cidade da Guarda (v. IPA.00028093) e o castro do Jarmelo (v. IPA.00002915), entre outros pontos de referência na paisagem mais longínqua. Na margem oposta do rio Côa, em território do antigo reino de Leão, mas hoje pertencente ao território português e à freguesia de Ruvina, implantava-se o castelo de Caria Talaia.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 / 14

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUEÓLOGO: Marcos Osório da Silva (1998, 2014).

Cronologia

Época Neolítica e do Bronze - ocupação humana do local, conforme revela a identificação de achados a arqueológicos avulsos; 1220, novembro - o concelho da Guarda doa à Ordem do Templo o padroado e dízimos de certas igrejas que os doadores tinham nas herdades entre o rio Ariorde e a Guarda e que o concelho dá à milícia, na condição de esta edificar um castelo em Touro para proteger os habitantes; ficam contudo resguardados os direitos episcopais (FERNANDES, 2009, p. 99); 01 dezembro - tendo em vista o povoamento e fixação dos moradores no local, Pedro Alvites, Mestre da Ordem do Templo, concede carta de foral a Vila do Touro, seguindo o modelo de Salamanca / Numão, e onde se refere ser obrigação dos moradores a construção do castelo; 1221, maio - o concelho da Guarda doa à Ordem o lugar de Cabeça de Touro, ficando montes, fontes e rios comuns ao concelho e à Ordem, devendo as suas bandeiras ir juntas às do exército do rei (FERNANDES, 2009, p. 99); 1290 - as Inquirições referem que o castelo fora saqueado e destruído pelo concelho da Guarda, visto este opor-se à criação do concelho da Vila do Touro; 1297 - com a assinatura do Tratado de Alcanizes entre D. Dinis e D. Fernando IV, do reino de Castela e Leão, Vila do Touro perde a sua importância estratégica fronteiriça, sendo interrompida a lenta construção da fortificação, tal como aconteceu em Caria Talaia; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários; séc. 14 - época provável da construção do arco da porta da fortificação; 1508, 12 outubro - data da elaboração do Tombo dos bens da comenda de Vila do Touro, elaborado por frei Francisco capelão, fazendo-se uma breve descrição do castelo *2; o chão dentro do castelo, entre os barrocais e os pardieiros, estão aforados a Lopo Afonso, que paga anualmente dois alqueires de pão; 1510 - D. Manuel concede foral novo a Vila do Touro; 1527 - no Numeramento, a vila conta com 162 moradores; o castelo está já arruinado; 1641 - 1668 - durante a Guerra da Restauração os habitantes constroem um reduto no Largo da Igreja, também denominado Largo do Reduto (ALMEIDA, 1945); 1758, 04 maio - segundo o Frei António Duarte, nas Memórias Paroquiais da freguesia, a povoação está integrada no bispado da Guarda e comarca de Castelo Branco, pertence ao rei e a comenda está nas mãos do Porteiro Mor; tem 260 fogos e as povoações de Baraçal, Abitureira, Quinta das Vinhas, Quinta dos Moinhos, Quinta de Roque Amador, Quinta de São Bartolomeu e Rapoula do Côa; refere, ainda, que junto à vila existem umas paredes muito antigas pertencentes a um reduto que dizem ser "feitas pellos mouros"; 1836 - extinção do concelho durante as Reformas Liberais, sendo integrado no concelho do Sabugal; 1837 - extinção das comendas, passando os seus bens para os Próprios Nacionais; 1886, cerca - segundo Pinho Leal, a vila fora fortificada, mas à época "restam apenas alguns lanços dos seus velhos muros em ruínas"; 1940 - 1950 - nestas décadas, a porta da fortificação está entaipada; 2018 - escavações no castelo, a cargo do Gabinete de Arqueologia e Museologia do Sabugal e pela Universidade de Coimbra.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria e alvenaria de granito; portal em cantaria de granito.

Bibliografia

ALMEIDA, João de - Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: 1945; BARROCA, Mário Jorge - «Aspectos da Evolução da Arquitectura Militar da Beira Interior». In Beira Interior - História e Património. Guarda: 2000, pp. 215-238 (https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/55798/2/MJBarrocaarquitectmilitar000126965.pdf); BARROCO, Joaquim Manuel - Panoramas do Distrito da Guarda. Guarda: 1978; COLAÇO, J. M. Tello de Magalhães - Cadastro da População do Reino. Lisboa: 1929; CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da - Inventário do Património Edificado, Estudos de Caracterização do Plano Director Municipal do Sabugal. Sabugal: 1990; COSTA, António Carvalho da - Corographia Portugueza. Lisboa: 1708; DIAS, Mário Simões - Memórias da Beira Côa. Coimbra: 1998; «Escavações no castelo de Vila do Touro» (http://www.cm-sabugal.pt/escavacoes-no-castelo-vila-do-touro/#more-7115), [consultado em 22 agosto 2016]; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 1886, vol. 11; CORREIA, Joaquim Manuel - Terras de Riba-Côa, Memórias sobre o Concelho do Sabugal. Lisboa: 1946; FERNANDES, Maria Cristina Ribeiro de Sousa - a Ordem do Templo em Portugal (das origens à extinção). Dissertação de Doutoramento apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto: texto policopiado, 2009; GOMES, Rita Costa - Castelos da Raia. Beira. Lisboa: IPPAR, 1997, vol. 1; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas da Beira Interior. Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2010, vol. 6; GONÇALVES, Luís Jorge Rodrigues - Os Castelos da Beira Interior na defesa de Portugal (séc. XII - XVI). Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1995; JORGE, Carlos Henrique Gonçalves - O Concelho de Vila do Touro em 1758 - Memórias Paroquiais. Vila do Touro: 1990; PEREIRA, Mário (direção) - Castelos da Raia da Beira. Distrito da Guarda. Catálogo da Exposição. Guarda: 1988.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, 1758, vol. 40, n.º 263, fls. 1619-1622

Intervenção Realizada

JFVT: 1994 - limpeza do recinto intra-muros; 1995 - desentaipamento da porta de São Gens, pavimentação do acesso com destruição parcial de rochedo, plantação de árvores; 1996 / 1998 - limpeza anual do recinto; 1998 - sondagem arqueológica junto à porta, orientada pelo arqueólogo da Câmara Municipal do Sabugal, Marcos Osório da Silva; 2014 - 2014, julho - agosto - escavações arqueológicas, na sequência do acordo de colaboração entre a Câmara Municipal de Sabugal e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a orientação do arqueólogo da Câmara Marcos Osório.

Observações

*1 - O topónimo de Vila do Touro deriva de "taurus", estando provavelmente relacionado com o culto da ganadaria, anterior à Nacionalidade. Contudo, segundo a tradição popular, o topónimo Touro tem a ver com uma lenda que refere ter sido encontrado um bezerro de ouro, num terreno circundante. Refira-se que ainda hoje, a nordeste da antiga vila, existe o Ribeiro do Bezerrinho. *2 - No Tombo dos bens da comenda de Vila do Touro faz-se a seguinte descrição do castelo: "sobre a dicta villa contra o norte tem a hordem huu castello em huu cçerro de penedia alto. o qual estaa de todo derroído e as casas delle todas em pardieiros honde se mostra auer em outro tempo oito casas. e tem huua çerca arredor que da banda do norte tem ajnda huu lanço de muro forte e boom de cantaria. e asi ao sul tem outro e nelle huu portal forte e bem obrado. o comendador da dicta comenda he alcaide do dicto castello e nom haa outro alcaide se nom elle. O chão que dentro do dicto castello estaa antre barrocaaes e os ditos pardieiros. traz ora lopo afomsso e paga delle de Renda em cada huu anno dous alqueires de pam. abaixo da porta do dicto castello quanto seja huu jogo de melham. tem a hordem huu chão que se diz seer em outro tempo adega da hordem. e leua oito varas de longo e sete de largo. parte ao norte com chãoo d ante porta do dicto castello e das outras bandas com Ruas publicas".

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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