Edifício e Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Tentúgal

IPA.00004710
Portugal, Coimbra, Montemor-o-Velho, Tentúgal
 
Igreja de Misericórdia maneirista que segue a tendência estética e artística da região de Coimbra, bem como as características gerais das igrejas de Misericórdia do distrito. Planimetricamente, segue o esquema menos comum da tipologia, sendo uma das cinco do distrito com nave e presbitério. com sala do Despacho adossada à fachada lateral esquerda aberta para a nave através de tribuna. Igreja com fachada principal de grande riqueza decorativa e iconográfica terminada em empena rasgada por vãos organizados num eixo central, composto por portal de arco de volta perfeita moldurado, enquadrado por colunas coríntias sustentando arquitrave, sobreposto por janela e tabela com relevo da Mater Omnium e uma representação de temática invulgar nas fachadas das Misericórdias, representando a Anunciação ladeando o portal, tendo em dois nichos sob baldaquinos a figura do Anjo Gabriel, do lado esquerdo, e o da Virgem, do direito. Fachadas laterais com porta travessa e janelas molduradas. Interiormente a igreja apresenta-se sóbria, possuindo o coro-alto de cantaria e alvenaria sobre arco abatido, contrariando a tipologia do distrito, que são de madeira; o vão da porta travessa da Epístola foi fechado e nele colocado um oratório dedicado ao Senhor da Cana Verde, em madeira pintado com marmoreados, de produção oitocentista. O coro-alto, púlpito, tribuna, presbitério e outros vãos moldurados a cantaria possuem afinidades de tratamento; a tribuna, no lado do Evangelho, de vão rectangular, com arquitrave decorada sustentada por pilastras, nos extremos, e colunas dóricas de terço inferior marcado, assentes em plintos lisos, tem data de construção e era junto dela que se colocava o cadeiral dos Mesários, actualmente inexistente. Presbitério acedido por escadas laterais e frontalmente rasgado por vão com colunas, albergando grupo escultórico em pedra de Ançã, do renascimento Coimbrão, composto por Cristo deitado no túmulo, rodeado por quatro Santas Mulheres, São João, Nicodemos e José da Arimateia. Constitui um dos mais significativos das Misericórdias do Centro do País; as figuras surgem quase inteiras e policromadas, junto de Cristo, deitado, com as mãos no baixo ventre e boca entreaberta. Retábulo-mor igualmente em pedra de Ançã do renascimento Coimbrão, de planta recta e sete eixos demarcados por colunas coríntias, de terço inferior marcado, e de dois andares separados por friso decorado com ferroneries, elementos vegetalistas e querubins e cornija, formando edículas com relevos representando cenas da vida de Cristo, da Virgem, Santos Padres, Evangelistas e personagens bíblicas. Foi executado pelo escultor Tomé Velho, da Oficina de Coimbra, limitando-se o programa pedagógico-catequético a cenas da vida de Cristo, da Virgem, personagens bíblicas, Santos Padres e Evangelistas. Pode-se afirmar que o retábulo de Tentúgal constitui o expoente máximo deste programa, traduzido em termos escultóricos, no distrito de Coimbra. Possui ainda a particularidade de conjugar dois retábulos colaterais com o mor, formando um único retábulo, com estrutura adaptada ao vão da fachada posterior e ao perfil da cobertura; nos plintos do remate foi inscrito o nome do mestre que o pintou e sobre as mesas de altar a alusão a uma reforma da igreja. Os altares, em forma de urna pintados a marmoreados, são da segunda metade do séc. 18. Na sacristia conservam-se alguns azulejos reaproveitados, provenientes de um antigo silhar de padrão policromo, tipo tapete, de finais do séc. 17, do padrão P-342 e P-604, e o lavabo é também maneirista. Sala da tribuna com baldaquimo de talha dourada barroca, de estilo nacional. Edifício da mesa maneirista, de dois pisos, com portal central de verga recta moldurada entre pilastras suportando friso decorado e cornija sobreposto por brasão nacional, ladeado por janelas jacentes no primeiro piso e de sacada sobre mísulas volutadas no segundo; no interior, possui no salão nobre cofre das esmoldas dos pobres com decoração barroca. Apesar de estarem documentadas obras na torre sineira em 1722, é provável que se refiram a uma reforma e a sua construção inicial ser anterior, provavelemente do séc. 17, possuindo então um vão inferior de passagem para o pátio e outras dependências, já que não existe nenhuma referência a torres sineiras construídas no séc. 16 junto a uma Misericórdia.
Número IPA Antigo: PT020610110007
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício e igreja  

Descrição

Planta longitudinal de nave única com presbitério sobrelevado, tendo adossado à fachada posterior sacristia rectangular, mais baixa, à fachada lateral N. torre sineira quadrada, a qual tem adossada também a N. o edifício da Casa do Despacho, de planta rectangular, articulando-se com outros corpos da Misericórdia. Volumes articulados, com coberturas em telhados de duas águas na igreja e sacristia, a quatro águas no edifício da Casa do Despacho e em coruchéu na torre sineira, revestida a azulejos azuis e brancos, colocados em losango. IGREJA de fachadas rebocadas e pintadas de branco, com pilastras nos cunhais, sobrepujadas por beiral e pináculos piramidais com remate em bola assente em plintos de faces lisas, rematadas em cornija, lateralmente encimada por beiral e com algerozes. Fachada principal orientada, terminada em empena, de friso e cornija, formando volutas nos ângulos inferiores e interrompida ao centro por plinto sustentando globo e cruz de braços em granada. Portal de arco de volta perfeita, de dupla moldura côncava decorada com querubins e a exterior com motivos fitomórficos, escudo encimado por coronel na pedra de fecho e lateralmente sobreposta por imagem do anjo Gabriel, do lado esquerdo, e da Virgem lendo num genuflexório, no direito, ambas sobre mísula e sob baldaquino circular escalonado e interiormente concheado, o da Virgem com dossel; o portal é enquadrado por colunas coríntias, com terço inferior marcado, suportando entablamento, de friso ornado por motivos vegetalistas, rematado lateralmente por pináculos piramidais sobre plintos; ao centro, sobrepõem-se janela, enquadrada por pilastras, as do interior de fuste decorado por elementos fitomórficos, e aletas, e tabela rectangular vertical, delimitada por colunas e enquadrada por aletas estilizadas, albergando relevo com representação da Mater Omnium, numa vertente Imaculista e com dois anjos segurando o manto. A torre sineira, recuada em relação à frontaria da igreja e com cunhais de cantaria, sobrepujados por pináculos sobre plintos, possui acesso inferior por porta de verga recta inserida em amplo vão de arco de volta perfeita, e superiormente pequeno janelo moldurado; no topo, separado por cornija, sineira de arco de volta perfeita sobre pilastras, ambos moldurados, com cartela recortada no fecho. O edifício da Casa do Despacho, avançado em relação à torre e à igreja, apresenta fachada rebocada e pintada de branco, de dois pisos, com pilastras de ordem colossal nos cunhais, sendo rematado por friso e cornija em massa pintada de cinzento. Ao centro, abre-se portal de verga recta envolvido por molduras e pilastras molduradas com capitéis em voluta, suportando cornija inferiormente denticulada e com friso vegetalista, sobrepujada por um outro friso e brasão coroado entre aletas e pináculos terminados em bola. Lateralmente abrem-se de cada lado duas janelas rectangulares jacentes, molduradas, encimadas por janelas de sacada, sobre mísula volutada, de verga recta com pequena corija e friso e com guarda em gradeamento de ferro. Fachada lateral direita da igreja rasgada por duas janelas rectangulares, com moldura em capialço, uma outra na zona do presbitério sem moldura, e um portal de verga recta, entaipado, encimado por friso e cornija. A fachada lateral esquerda, correspondente às várias dependências anexas, possui dois pisos, rasgados por janelas de guilhotina ou de sacada, sem guarda, a diferentes alturas e portal de verga recta. Posteriormente, a sacristia é encimada por sineira terminada em empena, coberta de telha, e com arco de volta perfeita, a torre tem vão de arco de volta perfeita e o edifício da casa do Despacho está completamente descaracterizado, sendo rasgado por vãos irregulares, os do piso superior de sacada. INTERIOR com paramentos rebocados e pintados de branco, com pavimento de madeira e guias de cantaria e cobertura de estuque, de três panos, assente em cornija moldurada, formando caixotões. Coro-alto sobre arco abatido, de pedra de fecho em voluta vegetalista, assente em colunas de capitel decorado com querubins, possuindo superiormente, entre cornijas, friso com almofadas rectangulares, com guarda em balaustrada de madeira; no sub-coro, guarda-vento de madeira e pia de água benta em mármore, semicircular ornada de folhas de acanto. No lado do Evangelho abre-se porta lateral, de verga recta, acedendo a pequeno pátio entre a torre sineira e os anexos adossados, e tribuna de vão rectangular, com arquitrave de friso ornado por almofadas rectangulares, e intradorso com losangos, sustentada por pilastras nos extremos e colunas dóricas de terço inferior marcado, assentes em plintos lisos. No lado da Epístola, dispõem-se, no vão da porta travessa, oratório de madeira pintada, de porta envidraçada, com concheado nos seguintes, albergando imagem do Senhor da Cana Verde, encimado por coração inflamado, e com frontal de altar, tipo urna, marmoreado; e púlpito de bacia rectangular, sobre mísula, com cornija a prolongar-se pelo lance de escadas que termina em voluta, ambos possuindo guarda de balaústres de madeira, e tendo no cimo vão de verga recta, com guarda porta de tecido, encimada por sanefa de talha marmoreada. Presbitério acedido por escadas laterais, percorridos por cornija decorada com frisos de óvulos e dardos e dois outros vegetalistas, terminada lateralmente em volutas, com guarda em balaustres de madeira; frontalmente é rasgado por vão rectangular central, com pilastras e colunelos laterais de capitéis em voluta, albergando grupo escultórico em pedra de Ançã, policromo, composto por Cristo morto deitado num leito, com almofada e mãos sobrepostas no baixo ventre, rodeado pelas figuras de Nicodemos, José da Arimateia, segurando lençóis, quatro Santas Mulheres, uma delas segurando frasco de óleos perfumados, e São João; ladeia o vão, nichos rectangulares verticais, encimados por frontão triangular e envolvidos por grotescos em ferronerie, acantos e drapeados. Retábulo-mor em pedra de Ançã, de planta rectangular de sete eixos, demarcados por colunas coríntias, de terço inferior marcado e pintado de outra cor, todos de dois andares separados por friso decorado com ferroneries, elementos vegetalistas e querubins e cornija, dois deles mais pequenos, compondo quase um intercolúnio a flanquear o central, com dois nichos sobrepostos, de arco de volta perfeita concheado, encimados por inscrição identificativa, e nos eixos extremos com o painel superior formando ângulo, adaptando-se à estrutura da cobertura; remate em frontão curvo vazado por óculo elipsoidal no eixo central, nos intermédios em falsa semi-cúpula concheada, e nos restantes por anjos e querubins, assentes em plintos com inscrições, algumas delidas, e dois deles com "JOSÉ" / "PINTOU". Cada edícula alberga relevos, no eixo central representando a Visitação e superiormente a Mater Omnium; no eixo extremo do lado do Evangelho figura em edícula de arco de volta perfeita concheado sobre pilastras a figura de São Pedro, sobre mísula, ladeada por acólitos segurando livros e turíbulo, e superiormente, no painel rematado em ângulo, relevo de São Domingos; no eixo intermédio a cena da Anunciação, encimado pela da Natividade e pela Adoração dos Reis Magos; nos intercolúnios surgem as figuras de São Gregório e Santo Agostinho; no eixo extremo do lado da Epístola figura igualmente em edícula um Santo Padre, talvez São Martinho, ladeada por acólitos segurando livro e turíbulo, e superiormente relevo com São Francisco recebendo os estigmas; no eixo intermédio surge representado o Sonho de São José encimado pela cena do Nascimento de São João Baptista e pela da Circuncisão; nos intercolúnios surgem as figuras de Santo Ambrósio e São Jerónimo. Predela com representação dos quatro Evangelistas, com os respectivos atributos, intercalados pelas mísulas de sustentação das colunas com anjos ostentando símbolos da Paixão. Altar-mor tipo urna, pintado a marmoreados, decorado com elementos vegetalistas e cruz dourada; altares colaterais semelhantes, tendo ao centro cruz com resplendor dourado, e encimados por cartela suportada por anjos, possuindo a inscrição, do lado do Evangelho "REFORMADA EM 1867 SENDO / PROVEDOR EMÍDIO G. S. MACHADO / O ESCRIVÃO JOAQUIM O. PEREIRA", e do lado oposto "SENDO ESCRIVÃO / JOAQUIM O. PEREIRA / REFORMADA POR ANTÓNIO B. S. SOUSA". No sotobanco, entre os altares surgem ainda inseridos em nichos, de arco abatido, as imagens relevadas do rei Davi, tocando arpa, do lado do Evangelho, e o profecta Elias, do lado oposto. No presbitério, do lado do Evangelho, abre-se porta de verga recta, com friso ornado por óvulos de acesso à sacristia e dependências. Na sacristia, com restos de um antigo silhar de azulejos de padrão policromo aplicado no capialço das janelas, conserva-se lavabo de espaldar decorado por mascarão com uma bica, delimitado por pilastras que suportam cornija, friso e frontão triangular, onde se insere o reservatório; taça rectangular exteriormente gomada. Na sacristia partem escadas para a sala da tribuna, onde se dispõem ógão e amplo baldaquino de talha dourada, composto por colunas torsas decoradas por pâmpanos e fénices sustentando entablamento encimado frontalmente por tabela rectangular jacente pintada com o lenço de Verónica, encimado por frontão triangular interrompido ladeado por aletas; o intradorso do baldaquino é formado por caixotões ornados por florões e querubins e alberga imagem do Senhor da Cana Verde. Ligam ainda a outra dependência, que comunica com o coro-alto acedido por porta de verga recta, decorada por várias molduras e friso de óvulos sobre plintos com almofada, bem como ao salão nobre do edifício da Mesa; este possui pavimento cerâmico e cobertura de madeira formando gamela, tendo num dos lados lareira de cantaria com friso de elementos vegetalistas e do outro o antigo cofre das esmolas dos pobres, de amplo vão, de verga abatida moldurada, encimada por frontão de lances interrompida por folha de acanto, tendo no tímpano cartela inscrita com " DIVITIAE / PAUPERUM", entre elementos vegetalistas.

Acessos

Rua Dr. Armando Gonçalves. VWGS84 (graus decimais) lat.: 40,223142; long.: -8,583881

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 37 728, DG, 1ª série, n.º 4 de 05 janeiro 1950

Enquadramento

Urbano, adossado, junto ao principal eixo de vila e à entrada da mesma. Fachada principal da igreja precedida por pequeno adro sobrelevado em relação ao passeio, acedido por dois degraus, e vedado por gradeamento de ferro, enquanto a torre e o edifício da casa do Despacho ficam ao nível do passeio. Junto à fachada lateral direita da igreja ergue-se o Solar dos Viegas de Novais Ferraz (v. PT020610110030), existindo a ligá-los portão de ferro de acesso ao quintal da fachada posterior, e no qual se conservam alguns elementos de cantaria que se destinavam à conclusão daquele solar; o edifíco da Mesa tem adossado pano de muro com amplo portal de arco quebrado, de acesso ao pátio posterior, encimado por janela no segundo piso, que pertencia a um antigo vínculo dos Viegas Novais Ferraz, e que por sua vez se encosta a um palacete brasonado da família Breus Limas de Morais (v. PT020610110044). Quase fronteiro, ergue-se a Capela de Nossa Senhora das Dores (v. PT020610110025).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Francisco Rodrigues Cardoso. CANTEIRO: Afonso Salgado. CARPINTEIROS: António Vaz; Manuel João; Marcos Gomes. EMPREITEIROS: Ricacho. ESCULTOR: Tomé Velho. FERREIRO: Domingos Francisco. IMAGINÁRIOS: Manuel Fernandes; Manuel Francisco; Oficina e Escola de Esmoriz. PEDREIROS: António Rodrigues; Cristóvão Fernandes; Fernão Luís; Agostinho Pires; António Pires; Simão Fernandes; Gaspar Rodrigues; Domingos Vaz; João Fernandes; Simão Luís; Francisco Rodrigues; Afonso Rodrigues; André Serra; Mateus Gonçalves; Estêvão Fernandes; Miguel Fernandes; Manuel Gonçalves; Amaro Lopes; Manuel Pires; Gonçalo Pires; Fernão Fernandes; Amaro Lopes; Domingos Gomes; António Fernandes Galhetas; Francisco Álvares; Belchior Rodrigues; Domingos Simões; Marques Gomes; Francisco João; António Vaz; pintor: António Simões.

Cronologia

1457, 20 Abril - Elaboração do Compromisso e estatutos da Confraria de São Pedro e São Domingos por D. Diogo Álvares, com sede na ermida de São Pedro; 1495 - com a subida ao trono de D. Manuel, D. Álvaro de Portugal volta do exílio e são-lhe restituídos todos os bens anteriormente confiscados, nomeadamente o domínio de Tentúgal; 1496 - fundação de um hospital da Confraria no rossio defronte do antigo convento; 1504, 1 Março - Tentúgal é elevada a cabeça de Condado, título dado por D. Manuel a D. Rodrigo de Melo, filho de D. Álvaro; 1568 - anexação dos rendimentos sobejos do Hospital de Tentúgal ao Hospital de Nossa Senhora da Conceição de Coimbra; 1583 - instituída a Irmandade da Misericórdia pelos oficiais da Câmara; 6 Março - alvará de D. Filipe I confirmando a fundação da Confraria da Misericórdia e anexando-lhe a Confraria de São Pedro e São Domingos com os 100.000 rs anuais que do rendimento dos bens da dita confraria e hospital estão aplicados para a sustentação do hospital e mercearias; ficou a cargo da Misericórdia, que recebia a renda dos 100.000 rs do Mosteiro de Nossa Senhora do Carmo, na qualidade de administrador legal de todos os bens da confraria de São Pedro e São Domingos; 3 Agosto - novo alvará de D. Filipe à Misericórdia concedendo-lhe "todos os privilégios, liberdades, mercês e graças" outorgados a outras Misericórdias do reino; a de Cantanhede devia-se reger pelo alvará concedido à de Tentúgal; abertura dos alicerces para a construção da igreja, documentando-se a chegada dos primeiros carregamentos de pedra de Portunhos e Ançã; pagamento a um empreiteiro chamado Ricacho "de sinal do portal principal"; pagamento a António Rodrigues, pedreiro de Cantanhede, um dos "mestres da obra"; pagamento de 100 rs ao pedreiro Cristóvão Fernandes e a Fernão Luís e Agostinho Pires; pagamento de 700 rs ao moldureiro de Ançã que fez as molduras das portas travessas; pagamento de 460 rs a Tomé Velho 460 rs para ele dar ao empreiteiro Ricacho; Provedor e demais irmãos da Misericórdia pagam a Tomé Velho 800 reis como mestre da obra; os carpinteiros António Vaz e Manuel João recebem 600 reais pela feitura de tumba (Pedro Dias, 1991); 1583 - 1584 - nas obras destes anos trabalham entre outros os pedreiros António Pires, Simão Fernandes, Gaspar Rodrigues que executa as cantarias das frestas da igreja e recebe 4 vintéis por dia, Domingos Vaz, João Fernendes e Simão Luís, e o carpinteiro António Vaz; 1584 - Tomé Velho recebe 460 reais para dar também ao mesmo Ricacho; Maio - encomenda da cantaria do portal principal a Ricacho, que recebeu 400 reais, tendo executado a escultura no local; 1585, início - na Casa de São Martinho e Mesa da Misericórdia, refere-se estar concertado o imaginário Manuel Fernandes para fazer uma imagem de Cristo crucificado para a Misericórdia, com uma cruz e calvário, que daria como acabado até dia 15 de mês de Março que vem e do tamanho do da Misericórdia de Coimbra; 1586 - data do portal; referência aos pedreiros Francisco Rodrigues e Afonso Rodrigues (de Ançã), André Serra, Mateus Gonçalves, Estêvão Fernandes, Miguel Fernandes, Manuel Gonçalves, Gaspar Rodrigues, Amaro Lopes, António Pires, Manuel Pires, Gonçalo Pires, Fernão Luís (Pedro Dias, 1991); 5 Junho - reunião de Mesa em que compareceu Tomé Velho, morador no Lug. de Lamarosa, que mostrou a traça do que era necessário fazer para acabar o portal; assentou-se que faria tudo conforme a dita traça por 20 mil reais, pagos em três pagas, ficando obrigado a fazer e assentar no lugar à sua custa sendo-lhe fornecidos oficiais para o fazer, devendo acabar a obra até Abril; 8 Junho - decide-se em Mesa colocar no fecho do portal da igreja as armas do Marquês Senhor da vila, D. Francisco de Melo, 2º Marquês de Ferreira e 2º Conde de Tentúgal; Novembro - sendo Provedor Lopo Pires de Amorim, decide-se mandar lajear a igreja, fazendo-se sepulturas, que depois se dessem a quem as quisessem por 500 reais de esmola; 1587 / 1588 - carregamento de pedra de Ançã e pagamento de 400 rs ao imaginário Manuel Fernandes por trabalhar nas empenas da fachada que se terminava; o mesmo executa as cruzes da empena; ali trabalham também os pedreiros Fernão Fernandes, Domingos Gomes, António Fernandes Galhetas, Francisco Álvares e Belchior Rodrigues; mestre Tomé Velho recebe pela execução do anjo da frontaria; despesa de 250 rs com o varão de ferro que o anjo tem na mão; Tomé Velho recebe 535 rs por algumas vezes que foi chamado para dar ordens nas obras; Agosto - pagamentos de telha, percebendo-se assim que se procedia à cobertura da igreja; cerca - provável execução do relevo da Mater Omnium da fachada; referência aos pedreiros Domingos Simões, Marques Gomes e Francisco João e ao ferreiro Domingos Francisco; 1589 - desembargador Lopo de Almeida dá 4 000 reais à Misericórdia; a cobertura encontra-se em execução; execução da fechadura na porta principal da igreja; 1592, Setembro - compram-se a Ricacho de Ançã 4 palmos de algerozes com assentamento a cargo do pedreiro Francisco Rodrigues e seu irmão (Pedro Dias, 1991); Outubro - terminado o pavimento da igreja, encomendando-se 12 lajes tumulares na Póvoa ao canteiro Afonso Salgado, que cobra 2 tostões por cada; continuam os acabamentos; pagamento de 200 rs pela pia de água benta ao pedreiro Francisco Rodrigues; 1594, 12 Outubro - novo pagamento a Tomé Velho, no valor de 600 rs; pagamento de vários carregamentos de pedra de Portunhos; 1595, Agosto - Mesa paga ao pedreiro António Pires a pedra necessária para os trabalhos da sacristia e anexos, onde trabalhava o pedreiro Estêvão Fernandes; Outubro - os carpinteiros António Vaz e Marcos Gomes foram pagos pelas portas da sacristia; 1596 - ao começar-se a obra do retábulo, pagou-se 100 rs a um oficial que andou um dia rebocando o lugar do "retábulo-velho"; Maio - pagamento de 180 reais ao escrivão que fez a obrigação de Tomé Velho para executar o retábulo; Julho - Tomé Velho recebe 28 000 rs por conta do retábulo-mor; dão-lhe toda a pedra existente na Casa, que corresponde a 34 carradas à razão de 200 rs cada, num total de 7 140 rs, e da casa do imaginário vieram seis carradas de pedra, por 300 rs; a Misericórdia pede dinheiro emprestado ao Provedor António Couto para fazer face às despesas das obras; 1597 - pagamento a Tomé Velho de 29.000 rs à conta do retábulo, no qual entra uma adição que se lhe deu em Julho que soma 7350 rs e mais 2000 rs dos vinte que o Bispo mandou para se repartirem pelos pobres; depois - a Misericórdia passou a receber os 100$000 rs da Confraria de São Pedro e São Domingos através do Mosteiro de Nossa Senhora do Carmo, a quem foram doados todos os bens da dita confraria apenas com o encargo de 100$000 rs para a sustentação do Hospital; 1598, Janeiro - execução de crucifixo por Manuel Francisco pela quantia de 160 reais; séc. 17 - azulejos da sacristia; 1600 - pagamento a Tomé Velho de 5370 rs "de merenda" pela obra do retábulo, constituindo o último pagamento deste; 1607, 20 Outubro - Braz do Couto e Vasconcelos, filho de Franciosco do Couto e Vasconcelos, um dos fundadores da Misericórdia, fez testamento onde instituía uma capela em Nossa Senhora dos Olivais com obrigação de "uma missa cada semana e responso na igreja da Misericórdia"; 1685 - pagamento de 9080 rs ao pintor António Simões para fazer os retábulos crus e outros serviços, como a grade para uma bandeira; 1686, 22 Junho - Provedor Manuel Lopes Gavicho manda fazer à sua custa um livro para nele se lançar o nome dos Irmãos da Misericórdia e inícia a sua escrita, já que o antigo estava em mau estado; 1687 - obras na tribuna e escadas do presbitério dirigidas pelo arquitecto Francisco Rodrigues Cardoso, do Lug. de Lamarosa; 1692, 1 Setembro - término do livro dos Irmãos da Misericórdia, escrito pela mão do Provedor; nos trinta e seis Irmãos nobres registados, encontram-se doze clérigos, cinco licenciados e dezanove homens das principais famílias da vila; 1693 / 1994 - pagamento das carradas de pedra de Portunhos e Ançã, necessárias às reformas; 1694 - data inscrita na tribuna dos mesários assinalando a sua construção; séc. 17, finais - provável execução do edif´cio da Casa do Despacho; 1712 - o Padre Carvalho da Costa refere aexistência de Misericórdia e hospital; 1721 - Memória Paroquial diz que na igreja tiveram sepultura Diogo de Ceiça Lobo e sua mulher Maria Viegas, com armas dos Lobos e outra com as armas dos Frades e a inscrição "sepultura de Manuel Alvares Frade"; 1722 - construção da torre sineira e provável remodelação da frontaria; 1721 / 1740, entre - manuscrito particular descreve a igreja como uma das melhores do Reino, bem proporcionada, com casa do Despacho espaçosa e com torre construída "não há muitos anos"; 1756 - data numa das janelas do edifício da Casa do Despacho assinalando a reforma do edifício; 1755 - 1796, entre - os rendimentos da Misericórdia orçavam em 500$000 rs, sendo 400$000 rs desses para legados e obrigações anuais e 100$000 rs para obras pias voluntárias e conservação dos edifícios; tinha ainda a seu cargo o Hospital e recebia para a sua sustentação 100$000 rs por ano da Confraria de São Pedro e São Domingos; 1771 - data de uma cópia do Compromisso original da Misericórdia de 1583; 1795 - data de um Inventário de todos os livros e papéis do cartório da Misericórdia; 1834 - até esta data, a vila era domínio dos condes de Tentúgal; 1840 - provável colocação do 1º sino; 1863 - antes da lei de extinção dos vínculos, o arco sob a torre não estava entaipado e dava serventia entre a igreja e a casa do Despacho; 1866, 22 Junho - lei mandando proceder à desamortização dos bens das Câmaras e Juntas de Paróquia, Irmandades e Confrarias, Recolhimentos, Hospitais e Misericórdias, na sequência da qual se procedeu à venda dos bens das mesmas; 1867 - reforma da igreja por António B. S. Sousa, sendo Provedor Emídio G. S. Machado e escrivão Joaquim O. Pereira, conforme inscrições sobre os altares colaterais; 1897 - colocação do segundo sino fundido por José Augusto, de São João das Areias; 1896 - o seu rendimento era de 8849$000 rs e o seu capital nominal era de 18.900$000 rs e o mutuado era de 2.075$000 rs; 1910 - o Provedor comprou a imagem do Senhor da Cana Verde junto ao púlpito, proveniente de um Convento, e a do baldaquino da Sala do Despacho, proveniente do Convento da Natividade, de Tentúgal (v. 0610110020); 1980 - queda da cobertura da nave; 2003, 8 Janeiro - venda abusiva do então provedor de 240 azulejos do séc. 18 (720 €), 165 azulejos do séc. 19 e 20 (880 €) um paramento (500 €), um lote de talhas e uma arca (1500 €), um lote de pedras (1250 €), e alguns azulejos partidos (150 €), tudo num total de 5000 €.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de cantaria, rebocada e pintada; elementos estruturais, pilastras, cornijas, molduras dos vãos, colunas e estrutura do coro-alto, do púlpito, tribuna, presbitério e retábulo-mor em pedra de Ansã e de Portunhos; balaustrada do púlpito e coro-alto em madeira; oratório em talha marmoreada; baldaquino da sala da tribuna em talha dourada; pavimento de madeira e guias de cantaria na igreja, em taco de madeira na sala da tribuna e cerâmico no edifício da Casa do Despacho e anexos; janelas de vidro simples; cobertura interior em estuque, em madeira e em placas de cortiça prensada num dos anexos e exterior de telha cerâmica.

Bibliografia

COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]; GÓIS, Correia, A vila de Tentúgal "Memórias Históricas", Coimbra, sd.; DIONÍSIO, Sant'Ana, Guia de Portugal, Beira Litoral, Beira Baixa e Beira Alta, Lisboa, 1944; CONCEIÇÃO, A. Santos, Terras de Montemor-o-Velho, Montemor-o-Velho, 1992 ( reedição da obra de 1944 ); CORREIA, Vergílio, GONÇALVES, A. Nogueira, Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Coimbra, Lisboa, 1952; BORGES, Nelson Correia, Coimbra e Região, Lisboa, 1987; GONÇALVES, Carla Alexandra, Thomé Velho, Escultor e Arquitecto do Maneirismo Coimbrão, Sep. da Revista Munda, nº 23, Coimbra, 1992, pp. 105 - 130; CARDOSO, João José Ferreira da Silva, Santas e Casas. As Misericórdias do Baixo-Mondego e as suas igrejas nos séculos XVI e XVII (Dissertação de Mestrado em História da Arte do Renascimento e do Maneirismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Coimbra, 1993 / 1995; GÓIS, Correia, Concelho de Montemor-o-Velho. A Terra e a Gente, Montemor-o-Velho, 1995; DIAS, Pedro, A Oficina de Tomé Velho, construtor e escultor do Maneirismo Coimbrão, in Actas do VI Simpósio Luso-Espanhol da História de Arte, Viseu, 21 a 25 de Outubro de 1991, Tomar, 1996, pp. 15 - 62; SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no século XVII, tomo 2, Lisboa, 1997; PAIVA, José Pedro, Portugaliae Monumenta Misericordiarum, vol. 1, Lisboa, 2002; TOJAL, Alexandre Arménio, PINTO, Paulo Campos, Bandeiras das Misericórdias, Lisboa, 2002; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74007 [consultado em 23 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; Santa Casa da Misericórdia de Tentúgal (datas extremas da documentação 1584 - 1950)

Intervenção Realizada

DGEMN: 1979 - Reconstrução da cobertura em pré-esforçado; 1981 - construção de nova cobertura exterior e interior; reparação das fachadas; remoção do silhar de azulejos existente no presbitério; SCMT: 1983 - remodelação total do interior do edifício da Casa do Despacho para instalação do Centro de Dia; DGEMN: 1986 / 1987 - obras de beneficiação; conclusão do restauro; SCST: 2002 - restauro das bandeiras reais e da Paixão; 2005, Abril - restauro do órgão pela Oficina e Escola de Esmoriz.

Observações

Os retábulos colaterais, interligados com o mor, têm a invocação de São Pedro, do lado do Evangelho, e de São Martinho, no da Epístola. O órgão da autoria de D. Manuel Benito Gomes de Herrera e reformado pelo Padre Lourenço da Conceição. Sofreu alguns acrescentos e alterações, como um fole novo e uma base de um flauto de 12 fechado (GUIMARÃES, Pedro 2005), proveio do Convento de Nossa Senhora da Natividade (v. 0610110020).

Autor e Data

João Cravo e Horácio Bonifácio 1992 / Francisco Jesus 2000 / Paula Noé 2003

Actualização

 
 
 
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