Real Fábrica de Vidros de Coina

IPA.00004661
Portugal, Setúbal, Barreiro, União das freguesias de Palhais e Coina
 
Forno de vidro com estruturas em tijoleira. É o único exemplo de estruturas de manufactura vidreira do séc. 18 no nosso país. Uma das maiores manufacturas do país e mesmo da Europa. A Real Fábrica de Vidro de Coina foi ainda a matriz da manufactura da Marinha Grande e esteve na origem daquela povoação vidreira ( CUSTÓDIO )
Número IPA Antigo: PT031504080002
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Extração, produção e transformação  Fábrica  Fábrica de vidro  

Descrição

Vestígios de estruturas da zona de trituração da matéria prima; galgas dispersas pelo terreno, duas pedras dos pilões nas proximidades. Para além de vestígios de outras estruturas de manufactura postas a descoberto, localizam-se três fornos: um para cristal, outro para vidro branco e o 3º para vidro verde e vidraça. Identificaram-se ainda vestígios estruturais de fornos de calcinação, de olaria, da arca de tempero do vidro e de recozimento da vidraça. Vestígios estruturais do armazém das matérias primas 1*. Poço com bocal de pedraria, coberto por cimento.

Acessos

Estrada da Quinta da Areia, Rua do Mercado

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 dezembro 1997

Enquadramento

Urbano em planície, isolado em terreno aberto

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: fábrica de vidro

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1719 - Início da construção da fábrica de vidros cristalinos, por ordem de D. João V 2*, em terrenos pertencentes ao almoxarifado do Vale do Zebro, mantendo-se assim, até 1776; 1721 - 1723 - início da laboração, sendo, no seu começo, gerida pela Fazenda Real, funcionando, provavelmente, por secções, em função dos vários fornos construídos; 1727 - visita da família real; 1732 - 1737 - administração de Joam Butler; 1737 - a manufactura é entregue a uma companhia de mercadores ingleses, tornando-se campo de experiências tecnológicas, de conflitos e de interesses, sobretudo entre ingleses e franceses; 1737 - 1741 - administração de Joam Poutz; 1741 - administração de John Beare, irlandês, por abandono daquele, tenta evitar a ruína da fábrica; 1747 - exposição ao rei, realizada pelos técnicos directamente relacionadas com Beare, relatando as razões internas e externas que explicavam o problema e a decadência de fábrica; 1746 - a crise energética e a carestia da lenha leva à extinção da fábrica pelo Senado da Câmara de Lisboa, continuando a laborar até 1747; 1747 - D. João V priva a manufactura de Coina de toda a sua protecção e declara-a extinta; 1747 - 1748 - resolução de John Beare de transferência para a Marinha Grande; durante alguns anos, o que restava da manufactura de Coina que esteve nas mãos do Almoxarifado dos fornos do Vale do Zebro que, com o tempo, se transforma em fábrica de estamparia; 1769, 7 Julho - concessão de alvará a Guilherme Stephens para o restabelecimento da manufactura de vidros da Marinha Grande; 1769, 17 Outubro - após a reconstrução das instalações de Beare, inicia-se a laboração da manufactura com os fornos de vidraça; 1770 - 1771 - a produção de vidro cristalino passa a ser uma das grandes preocupações de fabrico; 1984, 19 de Setembro - início de trabalhos arqueológicos (escavações e sondagens) levados a cabo pela Associação de Arqueologia Industrial da Região de Lisboa com o apoio técnico da Câmara Municipal do Barreiro; 1984 - descobrem-se as estruturas da cave do forno; 1985 - trabalho de escavação em estratigrafia vertical, numa das quadrículas do campo que revelam um segundo nível de ocupação por uma fábrica de estamparia ou tinturaria, tendo sido mais tarde o lugar servido para lavoura; 1986 - novas estruturas descobertas, tendo estas últimas duas campanhas revelado a existência de moldes em barro refractário; 1988 - 1990 - decorreram novas campanhas arqueológicas sob a alçada da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial; 1989 - foram descobertos, perto das estruturas de um forno, indícios que podem levar a esclarecer a problemática sobre o início do uso dos fornos na área de Coina (CUSTÓDIO); 1996, 02 Agosto - Despacho de classificação como Imóvel de Interesse Público.

Dados Técnicos

Estrutura autónoma

Materiais

Cerâmica: 2 tipos de tijoleira, 5 tipos de tijolos (fornos), telha de meia-cana (fabrico manual); calcário aparelhado provavelmente de Belas); calcário fóssil da região do vale do Tejo (enchimento de paredes); escória; pregos de ferro forjado (escápula).

Bibliografia

MERVEILLEUX, Charles Frederic, Memoires Instructifs pour un voyage dans les diverses états de l'Europe, 1730; Descriptions de la Ville de Lisbonne ou l'on traite de la cour, de Portugal, de la Langue Portugaise, des Meurs, des Habitans (...), Amsterdam, 1730; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. 2 e 5; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, A Indústria Vidreira Nacional in Catálogo da Companhia Industrial Portuguesa, Lisboa, s.d.; FROTHINGAM, Alice Wilson, Hispanic Glass with Examples in Collectin of the Hispanic Society of America, New York, 1941; BARROS, Carlos Silva, Real Fábrica de Vidros da Marinha grande - II Centenário, Lisboa, 1969; MENDES, H. Gabriel, A Abertura e Exploração da Mina de Azouge de Coina, no final do séc. XVIII, em duas plantas da Mapoteca do Instituto Geográfico e Cadastral, Sep., Lisboa, 1969; MACEDO, Jorge de Borges de, Problemas da História da Indústria em Portugal no séc. XVIII, Lisboa, 1982; Colecção de Cartazes da Intervenção Arqueológica, Barreiro, 1984 - 1986; A Indústria do Vidro no séc. XVIII, A Real Fábrica de Vidros de Coina, Catálogo de Exposição, Barreiro, 1988; CUSTÓDIO, Jorge, A História do Vidro - Aspectos na sua Produção no Portugal dos séc. XV a XVIII, Al - Madam, nº 2; IDEM, A Real Fábrica de Coina e as Origens da Indústria Vidreira da Marinha Grande (1719 - 1826) in Actas do I Encontro Nacional sobre Património Industrial, Coimbra, 1989; IDEM, A Real Fábrica de Vidros Cristalinos de Coina (1719 - 1747) - Contribuições Histórica-Arqueológicas sobre a Manufactura de D. João V (texto policopiado), s. d..

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID; Palácio das Necessidades: óleo figurando o imóvel

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

DGEMN: DSID

Intervenção Realizada

CMB - Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial: 1984 - Início do estudo científico da fábrica, tendo como principal objectivo a intervenção arqueológica; sucederam-se 5 anos de trabalho que revelaram as estruturas de alguns fornos e puseram a descoberto grande número de fragmentos de artefactos.

Observações

As magníficas areias de Coina, com um teor elevado de óxido de ferro, fundamentais para a composição do vidro, assim como a mancha florestal que antigamente caracterizava a margem esquerda do Tejo e a proximidade de Lisboa, foram as razões preponderantes na escolha da localização da Real Fábrica de Vidros de Cristalinos. Nela era fabricada, além do vidro cristalino, frascaria diversa, garrafaria (especificamente as garrafas inglesas para vinho do Porto), vidraça (com a técnica de moldagem em mesa de bronze) e espelhos. Os seus produtos foram conhecidos não só no país, como no Brasil, em Espanha e chegaram à China quando D. João V pretendeu renovar as relações com o Império do Oriente; 1* - Areia (sílica), areia triturada, quartzo, óxido de ferro (ocre), cinzas, barro para os potes, kali (erva marinha); 2* - Segundo Jorge Custódio ainda não há a certeza se o edifício é joanino ou se foi construído na época de D. Maria.

Autor e Data

Paula Noé 1996 / Albertina Belo 1998

Actualização

 
 
 
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