Castelo dos Mouros

IPA.00004641
Portugal, Lisboa, Sintra, União das freguesias de Sintra (Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro de Penaferrim)
 
Arquitectura militar, medieval e romântica. Castelo de planta irregular implantado em terreno elevado, formado por duas cinturas de muralhas, sendo a interior reforçada por cinco torres e vários cubelos de planta quadrangular e circular e de alçados verticais. Na liça integra capela visigótica, reconstruída no período românico, de planta longitudinal com nave e capela-mor mais estreita e baixa, rasgada por duas portas travessas, a principal e várias frestas; o portal S. mantém íntegra a decoração dos capitéis com motivos vegetalistas e animais fantásticos. Sem percepção dos limites na maior parte da sua extensão, constituído por vegetação ornamental disposta com um sentido determinado e acompanha de elementos construídos, como banco, canteiros, estátuas e peças de água. Segue uma atitude pictórica sendo estudado numa sucessão de imagens e pontos de vista paradoxalmente inspirado e sugestivo de pinturas de pintores paisagistas de Inglaterra. Rigorosamente projectado para parecer natural e espontâneo numa perspectiva de sobreposição de planos progressivamente mais longínquos e difusos. Este estilo encontra no estilo chinês um profundo conhecimento e domínio da beleza aparentemente natural mas com um conceito temporal radicalmente diferente: assente numa ideia nostálgica do tempo erguem-se nos espaços paisagistas elementos construídos intencionalmente em ruínas. Oferece um cenário lendário a que se pode associar um carácter paradisíaco, insólito e enigmático. O castelo dos Mouros, pela sua situação geográfica e robustez, era considerado, juntamente com o de Santarém, um dos principais pontos da estrutura militar da Belata - província muçulmana que corresponde mais ao menos ao Ribatejo e Estremadura. O imóvel sofreu profundas remodelações ao longo do tempo, predominando essencialmente um carácter de ruína romântica, resultante dos estragos provocados pelo tempo e das obras de D. Fernando II. As torres, que inicialmente deviam ter dois registos, têm feição bastante modificada, sem qualquer vestígio da divisão interna em pisos ou sistema de cobertura. No entanto, a localização destas e dos cubelos parece coincidir com a representada na gravura de Duarte de Armas. O facto da capela estar dentro das muralhas do castelo levou à tradição de considerá-la mesquita. Se bem que é provável a existência de um local de culto para a população islâmica, que parece ter sido numerosa na época, não cremos que possa existir uma associação com este edifício. Será mais lógico pensar-se num possível reaproveitamento para o culto moçárabe. Uma gravura do séc. 19 regista parte dos motivos pintados na parede testeira da ábside com rosetões inscritos em círculos de fundo azul, ornamentos fitomórficos envolvendo a barra exterior e a representação do orago.
Número IPA Antigo: PT031111120005
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Castelo de planta irregular, com cerca de 450 m. de perímetro; implanta-se sobre forte maciço rochoso que, a NO. e N. é aproveitado como defesa natural intransponível. É formado por dupla cintura de muralhas, conservando na liça capela de pequenas dimensões. Na muralha exterior abrem-se, junto à Abelheira e a poente da Tapada dos Bichos, portas de acesso em rodísio, de onde partem caminhos serpenteantes. A 2ª cintura de muralhas é reforçada por cubelos quadrangulares e um circular, tendo adarve inserido na espessura das muralhas com parapeito para protecção, e é coroada por merlões piramidais. É nela que se abre a entrada principal do castelo, protegida por 2 cubelos avançados e por adarve que encima o pano da muralha. Perto dispõem-se ruínas de antigas edificações, correspondentes a celeiros e zona de recolha de animais e a uma cisterna; esta tem planta rectangular com 18 m. de comprimento, 6 m. de largura, 6 m. de altura, da soleira da porta ao pavimento, e 3 m. ao fecho da abóbada, que é de canhão e vazada por duas clarabóias; a água podia ser tirada por bomba no tanque que a encima. Pela muralha distribuem-se ainda cinco torres, de planta quadrangular e uma circular, de alçados encimados por merlões piramidais e junto às quais existem ainda vestígios de antigas construções e uma pequena saída em cotovelo, actualmente entulhada e cheia de silvas, abre para a zona N., a qual talvez correspondesse à Porta da Traição, não correspondendo a uma identificada como tal, em arco de ferradura, que abre para a Praça de Armas. No topo S., surge a torre mais alta, conhecida como Torre Real. No perímetro do castelo existem várias tulhas ou silos árabes, actualmente bastante entulhadas, tendo uma delas, segundo a tradição, ligação com a povoação de Rio de Mouro. A CAPELA, orientada, tem planta longitudinal, com nave e capela-mor rectangular mais estreita e baixa, com fachadas em alvenaria e cantaria aparente, sendo a nave rasgada por duas frestas em cada um dos lados; os acessos processam-se pelas fachadas O., esta arruinada *1, levando a escadas descendentes, e pela fachada S., onde se rasga arco pleno, de dupla volta, apoiados em colunelos de capitéis decorados, com elementos vegetalistas e animais fantásticos: basiliscos e grifos. Fachada N. com abertura a c. 1,5 m do solo, correspondente a uma primitiva porta, elevada devido ao declive acentuado do terreno. Na fachada posterior, são visíveis quatro níveis de aparelho, e pequena fresta. Arco triunfal duplo assente sobre colunas de base semelhante às do portal S. com capitéis de motivos fitomórficos talhados a bisel e vestígios de ter possuído uma porta. Capela-mor com abóbada de berço com vestígios de frescos, visíveis também sobre a fresta da parede, representando um firmamento e a auréola de uma figura, correspondente ao orago, rodeado por motivos florais e geométricos, tudo rodeado por um friso com geométricos. Do lado do Evangelho e da Epístola, pequenos nichos rectangulares para alfaias. Por entre as edificações do castelo cresce de forma aaparentemente natural vegetação exótica e auttóctone que acentua o caractér romântico deste local.

Acessos

Rampa da Pena, São Pedro de Sintra ou Abelheira, cimo da Serra de Sintra. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,792987; long.: -9,388685

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP, Portaria n.º 670/99, DR, 2.ª Série, n.º 150 de 30 junho 1999 *1 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264)

Enquadramento

Implanta-se num dos topos da Serra de Sintra, de onde se poderá desfrutar explêndido panorama, abrangendo todo o concelho de Sintra e, em dias límpidos, até Mafra e Ericeira. Tem acesso por Santa Maria, através de porta protegida por sistema de rodísio ou pela estrada de acesso ao Palácio da Pena. O castelo localiza-se no limite do Parque Natural de Sintra-Cascais, na encosta N. da Serra de Sintra (v. PT031111050264). Nesta área da encosta predominam os declives superiores a 40% verificando-se declives moderados, acentuados e muito acentuados. O Parque apresenta exposições preferenciais a N.. Esta vertente é rica em água, explorável através de minas, e que tem um movimento descente sendo recolhida pela ribeira de colares. A Serra de Sintra é constituída por um maciço eruptivo com abundância de granitos, sienitos, gabros e dioritos. O solo desta zona insere-se na família dos solos litólicos, húmicos, câmbicos, normais, de granito (Mng) que, em parte de fase delgada, apresenta afloramentos rochosos. O clima é caracterizado por temperaturas mais baixas e precipitação mais elevada que nas regiões circundantes devido à proximidade do oceano, ao relevo e à densa vegetação. A flora local é densa e diversificada com uma grande percentagem de exóticas introduzidas sobretudo no séc. 16 por D. João de Castro e no séc. 19 por D. Fernado II e Sir Francis Cook. Também a fauna se caracteriza por uma grande biodiversidade. Ao Parque da Pena estão anexas as seguintes áreas: Tapada dos Bichos, Tapada do Inhaca, Tapada do Borges, Pinhal do Prior e Tapada do Forjaz, Pinhal do Sereno, Pinhal do Tomado e Pinhal do Vale dos Anjos. Nas proximidades da Pena localizam-se outros monumentos como o Parque da Pena (v. PT031111120005), a Quinta da Penha Verde, a Quinta da Regaleira, (v. PT031111110077), a Quinta do Relógio (v. PT031111110078), o Parque de Monserrate (v. PT031111110131) e outros. O Castelo dos Mouros e outras propriedades locais funcionam como como ponto de atracção turística, actividade principal da zona.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: monumento

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Parques de Sintra Monte da Lua S. A. (Instituto da Conservação da Natureza, Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Câmara Municipal de Sintra e Instituto da Conservação da Natureza, Instituto Português do Património Arquitectónico; tel.: 219237300)

Época Construção

Séc. 07 / 08 (conjectural) / 12 / 13 / 16 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Barão von Eschewege.

Cronologia

Séc. 07 / 08 - provável construção da capela de São Pedro; séc. 08 / 09 - construção do castelo pelos mouros; 1031 - após perda de Córdova, a lei moura de Badajoz optou por entregar a Afonso VI de Leão e Castela, alguns territórios peninsulares muçulmanos, entre eles Sintra; voltou-se a perder o castelo; 1147 - após a conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, o castelo entregou-se voluntariamente aos cristãos; D. Afonso Henriques confiou então a guarda do castelo a "30 povoadores" e concedeu-lhes privilégios através de carta de Foral, outorgada pelo rei em 1154, incrementado o povoamento do interior do castelo; séc. 12, 2ª metade - a capela de São Pedro torna-se sede da freguesia; séc. 12 / 13 - D. Sancho I reformou o castelo; obras na capela, sendo executados os capitéis; 1375 - D. Fernando I, por conselho de João Annes de Almada, Vedor da Fazenda, reedificou-o; 1383 - ainda estava bem fortificado, sendo seu governador D. Henrique Manuel de Vilhena; progressivamente vai perdendo importância militar; séc. 14 / 15 - a instalação na zona da vila velha de Sintra, levou ao lento abandono do castelo; séc. 15, meados - a capela ainda mantinha culto, conforme depreendemos pelos frescos da capela-mor alusivos ao orago e pela aquisição de imagem em pedra de ançã (actualmente na igreja de São Pedro, na vila de S. Pedro); 1493 - a capela estava já abandonada, com as portas arrombadas e a ser constantemente profanada pelos judeus, ao que parece, os únicos habitantes no sítio do castelo; séc. 16 - transferência da paróquia de São Pedro para a nova igreja edificada no termo da vila; com a expulsão dos judeus por D. Manuel, o castelo foi despovoado completamente; 1755 - terramoto afecta bastante a capela e prejudica o castelo; 1768 - a Capela é descrita por Francisco de Almeida Jordão como tendo a nave descoberta, "a porta principal fica a poente, e da banda do Sul tem outra porta pequena, e uma janella fronteira (...) Alem da imagem pintada no altar-mor, havia outra de pedra que, ainda existe na ermida de Santa Eufemia, para onde a levaram" (pp. 9-10); 1830 - litografia de Burnett imortaliza a zona da capela; 1838 - as suas torres estavam em ruína; 1840 - escritura de aforamento de D. Fernando II tomando a seu cargo a conservação e melhoria do castelo, para a qual pagaria de foro 240 reis anuais; consolidou-lhe as muralhas, arborizou-o, abriu percursos de acesso, criou recantos de contemplação; procedeu a obras de conservação na capela, visíveis sobretudo na parede S. e respectiva entrada, fachada O. e ábside; junto ao flanco S. da capela fez monumento destinado a recolher ossadas que fossem encontradas e plantou uma árvore no centro da nave; a reforma do recinto foi orientada pelo Barão von Eschewege; séc. 19, finais - o administrador dos Serviços Florestais, Carlos de Nogueira, manda proceder a várias obras no castelo e capela, em cuja ábside foi colocada uma porta de madeira, adaptando-a a estábulo; 1979 - escavações arqueológicas na capela de São Pedro pelos serviços culturais da CMS *2; 1996 - Despacho do Ministro da Cultura, de 26 Junho, determinando a Zona Especial de Protecção do imóvel; 1997, 22 julho - publicação da Zona Especial de Proteção pela Portaria n.º 523/97, DR, 1.ª série-B, n.º 167.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Calcário com aparelho "mixtum vittatum", calcário azul de Sintra nos colunelos da capela e frescos na capela-mor.

Bibliografia

CUNHA, António A.R. da, Cintra pituresca ou memória discritiva da villa de Cintra, Collares e seus arredores, Lisboa, 1838; CASTRO E SOUSA, A. D., Investigação ao Castelo, situado na Serra de Sintra, Lisboa, 1843; JORDÃO, Francisco de Almeida, Relação do Castello e Serra de Cintra e do que ha que ver em toda ella, 2.ª ed., Coimbra, 1874; LEITE DE VASCONCELOS, J., Museu Ethnologico Português in O Archeologo Português, vol. 3, nº 9 - II, Lisboa, 1897; JUROMENHA, Visconde de, Cintra Pitoresca ou Memoria Descritiva da Vila de Colares e seus Arredores, Lisboa, 1905; PEREIRA, Alves, Arquivo do Concelho de Sintra, Sintra, 1951; SOUSA, Tude e, Mosteiro, Palácio e Parque da Pena na Serra de Sintra, Lisboa, 1951; FONTES, Joaquim, Exposição de Arte Sacra do Concelho de Sintra, Sintra, 1955; CAMPOS, J.A. Correia de, A arqueologia árabe no país e o II Congresso Nacional de Arqueologoa, Lisboa, 1972; COSTA, Francisco, O Foral de Sintra de 1154, Sintra, 1976; SERRÃO, Vitor, Um ignorado templo pré-Românico: A Capela de S. Pedro do Castelo dos Mouros in Jornal de Sintra, Ano 47, n.º 2382, 18 Abr. 1980, p. 1, 2, 6; nº 2383, 28 Abr. 1980, p. 1; n.º 2384, 2 Maio 1980, p. 1; REAL, Manuel Luís, Perspectivas da Flora românica da "escola" Lisbonense. A propósito dos dois capitéis desconhecidos de Sintra, no Museu do Carmo, in Separata Sintria, I-II, Sintra, 1982; GIL, Júlio, Os mais Belos Castelos e Fortalezas de Portugal, Lisboa, 1986; SALDANHA, António Nuno, A Capela de S. Pedro de Canaferrim, em Sintra in AEDIFICIORUM, Ano 1, 1 Jul. 1988, p. 35 - 39; RIBEIRO, José Cardim (coord.), Sintra. Património da Humanidade, s.l., 1996.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; DGA/TT: Memórias Paroquiais, tomo XI, p. 2541

Intervenção Realizada

DGEMN: 1939 - reconstrução das muralhas de alvenaria argamassada; restauração completa da porta lateral da capela; 1954 - desmonte de algumas rochas situadas no Parque das Merendas, encostado no Castelo; 1965 - colocação de posto de transformação para iluminação festiva; 1986 - obras de beneficiação; durante o Verão é frequente grupos de escuteiros consolidarem muralhas e procederem à sua limpeza, por vezes apoiados pela CMS, com recurso frequente ao cimento para consolidação das muralhas; Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A.: 2001- intervenções várias, limpeza e desmatação; colocação numa das muralhas, de uma caixa eléctrica.

Observações

*1 - Zona Especial de Proteção conjunta da Igreja de Santa Maria e Castelo dos Mouros. *1 - os capitéis da fachada principal da Capela, com decoração fitomórfica, encontram-se recolhidos no Museu do Carmo. *2 - as escavações na capela revelaram, à sua volta, a existência de uma necrópole medieval, remontando as sepulturas, até agora escavadas, aos finais do séc. 12, inícios do séc. 13.

Autor e Data

Paula Noé 1991 / Pereira de Lima 2005

Actualização

Luisa Cortesão 1998
 
 
 
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