Igreja e Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Faro / Santa Casa da Misericórdia de Faro

IPA.00004537
Portugal, Faro, Faro, União das freguesias de Faro (Sé e São Pedro)
 
Arquitectura religiosa e de saúde, maneirista, rococó e pombalina. Igreja da Misericórdia de planta centralizada, de cruz grega de topos rectos integrada num quadrado e com pequenos quadrados nos ângulos, tendo adossado a N. antigo hospital pombalino, de planta rectangular com dois pátios interiores. Fachada principal virada a O. de corpos alinhados, tendo a igreja três panos, terminados em frontão triangular no central e balaustrada nos laterais, rasgados por vãos sobrepostos; no central, porta de verga recta entre pilastras jónicas encimado por entablamento e nicho com imagem da Virgem, janela de frontão curvo e óculo no tímpano, e nos laterais, portal de verga recta e frontão triangular encimado por janela de sacada à face e óculo. O hospital tem três pisos, o primeiro de cantaria com arcada de arcos de volta perfeita, sobrepostos por janelas de peitoril encimadas por cornija e janelas de peitoril mais baixas. Interior da igreja coberta por falsa abóbada de berço nos braços da cruz e cúpula sobre trompas e possantes pilares no cruzeiro; coro-alto, retábulos colaterais de talha dourada e policroma rococós, um no topo do transepto da Epístola neoclássico e o retábulo-mor maneirista, com telas sobrepostas representando as Obras da Misericórdia corporais. Interior do hospital descaracterizado, mas conservando pátios com cobertura em abobadilha de arestas de falsas lunetas.
Número IPA Antigo: PT050805050038
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício, igreja e hospital  Misericórdia

Descrição

Planta composta por três grandes núcleos: o antigo hospital, rectangular com dois pátios interiores, desenvolvido a N. da igreja; a igreja em cruz grega inserta num quadrado; e o antigo recolhimento também rectangular, a S. da igreja, com pequenos corpos interligando-os. Imponente massa, de volumes articulados e coberturas diferenciadas a uma, duas e quatro águas e em domo revestido a telha de canudo e com beiral escalonado sobre o cruzeiro. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com pilastras nos cunhais, percorridas por embasamento de cantaria, superiormente moldurado, e rematadas por friso e cornija. Fachada principal virada a O. com os três corpos no mesmo alinhamento. IGREJA: de três panos, delimitados por pilastras de cantaria, as dos extremos sobrepujadas por fogaréus pintados de branco sobre acrotérios, terminada em frontão triangular sobrelevado no pano central, rematado por pináculos piramidais e cruz de ferro ao centro, e em balaustrada de cantaria nos laterais. No pano central rasga-se portal de verga recta moldurado, enquadrado por pilastras jónicas, ambas assentes em plintos de mármore de embrechados da Arrábida, suportando entablamento, com friso do mesmo mármore, encimado por nicho de arco de volta perfeita sobre pilastras, tendo nos seguintes elementos fitomórficos relevados, sobrepujado por friso de mármore de embrechados e frontão triangular; ladeia o nicho, aletas volutadas, com espaço entre estas e as pilastras do nicho igualmente preenchido a mármore de embrechados, e dois anjos esvoaçantes e vestes amplas; no alinhamento das colunas, acrotério com face frontal esculpida com mascarão em baixo-relevo e pináculo arredondado; sob o nicho, albergando imagem da Virgem, de cabelo solto e mãos postas em prece, integra-se pedra de armas do Bispo D. Afonso Castelo Branco. Sobre o portal, abrem-se janela rectangular encimado por friso e frontão curvo e, no tímpano, óculo circular. Nos panos laterais, simétricos, rasgam-se portal de verga recta e moldura exterior formando brincos, encimado por friso em mármore de embrechados e frontão triangular, tendo no tímpano, de cantaria, almofada circular em mármore; superiormente, separado por friso de cantaria, abre-se janela de sacada à face, gradeada, de verga recta e frontão triangular sobrepujado por óculo circular. No INTERIOR cruz grega de braços rectos integrando quadrados nos ângulos, cobertos por falsa abóbada de aresta, os de NE. e SE. constituindo salas de passagem e arrumos, e os de NO. e SO. interligando a nave e o transepto por arcos de volta perfeita, com pedra de fecho realçada, assentes em pilares. Braços da cruz cobertos por falsa abóbada de berço, delimitados por amplos arcos de volta perfeita assentes em pilastras, interligadas por cantaria, criando possantes pilares no cruzeiro, de suporte à cúpula de alvenaria rebocada sobre trompas. Alçados percorridos por silhar de azulejos de vários padrões policromos, reaproveitados, um deles monócromo azul e branco de produção recente. Coro-alto de madeira, com balaustrada também de madeira, tendo no sub-coro guarda vento de madeira; nos ângulos, guarda vento pouco salientes; no do Evangelho tem a guarda do púlpito apeado, de madeira, facetada, decorada por arcos de volta perfeita sobre colunas, e confessionário, também de madeira, com pano central de arco de volta perfeita e várias arquivoltas sobre colunas e interiormente mainelado; pia de água-benta formada por capitel decorado com elementos fitomórficas sobre coluna; no do lado da Epístola, mísula com imagem. Braços do transepto simétricos, rasgados no topo por porta de verga recta encimada por cornija, a do lado do Evangelho de acesso à sacristia, sobrepujada por tela figurando uma Glória de Putti, e a da Epístola de acesso ao antigo recolhimento, actualmente encoberta por retábulo de planta recta, com tela figurando a Visitação; possuem retábulos colaterais semelhantes, de talha dourada e policroma, de planta convexa e três eixos. Arco triunfal sobre pilastras, revestidos no exterior e intradorso com talha dourada, ornado por elementos fitomórficos, concheados e enrolamentos; exteriormente o arco é enquadrado por dois vasos de flores e duas cornijas curvas interrompidas por medalhão central pintado com a figura de São Francisco de Borja, padroeiro do Algarve, em oração, de onde pendem festões em talha. Capela-mor com as paredes forradas a madeira, a metade inferior pintada de beje e a superior, separada da anterior por friso de óvulos, em pérola, tendo ao centro tribuna rectangular, com armação de grelha de madeira, moldurada, encimada por bandeira rematada em cornija semicircular; a do lado do Evangelho é fingida e no oposto corresponde à tribuna das recolhidas; superiormente, cornija de talha dourada e policroma. Retábulo-mor assente em sotobanco de madeira pintado a imitar mármores pretos, de planta recta e três eixos, delimitados por seis colunas coríntias, com o terço inferior decorado por acantos, tendo no central boca da tribuna decorada por acantos rendilhados emoldurando tela com Visitação, interiormente com pintura de brutescos, formando apainelados, com acantos enrolados e cartelas com querubins; nos eixos laterais surgem três telas sobrepostas, figurando seis obras da Misericórdia corporais, do lado do Evangelho dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede e vestir os nus e, do lado da Epístola, enterrar os mortos, remir os cativos e dar pousada aos peregrinos; sobre friso e cornija, tabela rectangular com tela da 2ª obra corporal, visitar aos doentes *1, ladeada por pilastras e consolas que sustentam frontão de lanços encimado por pelicano; sobre os eixos laterais, edícula com aletas volutadas contendo imaginária e com remate em frontão de lanços com pináculo no centro, motivo que se repete nas colunas exteriores da estrutura retabular. Sobre o supedâneo, de cada lado, dois cadeirais dos Mesários, de cinco lugares cada, com pés em sapata, de espaldar alto vazado e subdividido, terminando em arcos de volta perfeita rematados com acantos; o cadeira do Provedor tem a mesma estrutura, mas é mais larga e tem braços. Pavimento da nave em tacos de madeira e, no sub-coro e supedâneo, em lajes. Sacristia rectangular, com entrada exterior sob a arcaria do hospital, possuindo arcaz de mogno, alternando armários de portas entalhadas com gavetas lisas, encimado por espaldar baixo, também de mogno, formando almofadas rectangulares ritmadas por pilastras esculpidas; ao centro, nicho envidraçado com imaginária, terminado em arco de volta perfeita, envolvido por volutas de enrolamentos vegetais. No corredor da sacristia, lavabo de espaldar rectangular com duas bicas, encimado por friso e frontão triangular interrompido por cruz sobre acrotério, datado de 1738. ANTIGO RECOLHIMENTO com fachada virada a O. de um pano e a virada a S. de três, ambos delimitados por pilastras, com dois pisos separados por friso, e terminada em platibanda cega, excepto no pano mais a E. da fachada S., que termina em balaustrada. Fenestração simétrica com janelas de peitoril altas sobrepostas, de verga abatida e fecho realçado e caixilharia em guilhotina; na fachada S., o pano lateral esquerdo possui no primeiro piso porta com bandeira e o pano do extremo oposto, mais largo, possui no primeiro porta entre duas frestas de topos semicirculares, e no segundo, três janelas de sacada à face com gradeamento de ferro e bandeira superior. HOSPITAL com fachada principal de pilastras nos cunhais, de três pisos, o primeiro em cantaria, formando arcaria de nove arcos de volta perfeita, sobre pilares rectangulares, sobrepostos nos restantes por vãos dispostos regularmente, rasgando-se no segundo, separado do anterior por friso, janelas de peitoril, encimadas por friso estreito e cornija, com frisos verticais interligando-as ao primeiro piso, encimadas por janelas, também de peitoril, de moldura simples. Sob a arcada, pavimento em calçada à portuguesa com motivos geométricos, tendo ao centro medalhão circular inscrito com "HMF", e cobertura em falsa abóbada de lunetas. Paredes com silhar de azulejos monocronos azuis e brancos, de padrão moderno. No enfiamento dos arcos, abrem-se portas e janelas de verga recta e moldura simples, sendo a central mais alta, correspondendo à principal entrada do antigo hospital; é ladeada por caixa de esmolas, de arco quebrado, em ferro, pintada de verde, embutida na parede, encimada por filactera também em ferro com a inscrição "AUXILIAI O VOSSO HOSPITAL". Fachada N. de três pisos e dois panos, o primeiro estreito, com eixo de vãos iguais à fachada principal, e o outro muito comprido, e fenestração irregular, tendo no primeiro piso portas alternadas com pequenas janelas, de moldura simples e verga recta, e nos dois superiores, janelas de peitoril, mas sem moldura. Fachada posterior irregular com portão de acesso a veículos. INTERIOR algo descaracterizado pela adaptação às novas funções, conservando dois pátios interiores, com arcarias de arco de volta perfeita assentes em pilares rectangulares, com coberturas em abobadilhas de arestas de falsas lunetas. Bandeira real da Misericórdia com Mater Omnium sobre coroa de anjos e com anjos abrindo o manto para albergar sob ele a representação bipartida da sociedade: à sua mão direita um Papa, um cardeal, um bispo, um freire da Santíssima Trindade e vários elementos das Ordens religiosas; à sua mão esquerda, o imperador, um rei, uma rainha e nobres de ambos os sexos.

Acessos

Praça D. Francisco Gomes, nº 13 - 17, Rua da Misericórdia, nº 1- 5 e Rua João Dias, nº 2 - 14

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 173/2014, DR, 2.ª série, n.º 41 de 27 fevereiro 2014 / Incluído na Zona de Proteção da Fortaleza de Faro (v. PT050805050013)

Enquadramento

Urbano, adossado, no centro Histórico (v. PT050805050140), no núcleo da Mouraria, desenvolvido durante o séc. 16 no exterior das muralhas medievais, conhecido como intra-muros ou vila adentro, mas nas imediações de uma das suas principais entradas, a Porta de Nossa Senhora de Entre Ambas as Águas, onde, em 1812, o Bispo D. Francisco Gomes de Avelar mandou o Arq. Francisco de Xavier Fabri construir um portal - actualmente conhecido como o Arco da Vila ( v. PT050805050002 ). O edifício da Misericórdia, no seu conjunto, ocupa um quarteirão, com as fachadas laterais a formar gaveto em dois importantes eixos viários da cidade. Fronteiro à fachada principal, virada à ria de Faro, desenvolve-se o jardim Manuel Bivar e a Marina.

Descrição Complementar

Imponente massa composta pelo antigo hospital, igreja e recolhimento da Misericórdia, edifícios de diferente cronologia e modinatura de vãos, mas formando um conjunto uniforme e harmonioso. O hospital e a fachada principal da igreja resultaram de uma reforma arquitectónica pombalina após o terramoto de 1755, conforme comprova a documentação e a gravura da Vista da Praça da Cidade de Faro, de Novembro de 1753, assinada por J. M. de S., onde se representa a Igreja da Misericórdia exteriormente denunciando a sua planimetria interior em cruz grega, com fachada joanina, de um só pano, rasgada por portal e janela de perfil recortado, e terminada em frontão recortado, e o hospital com vários corpos articulados. Planimetricamente, a igreja apresenta solução pouco comum, sendo a única igreja do Algarve de planta centralizada e a única Misericórdia do país com esta tipologia. A integração da planta em cruz grega num quadrado e a criação de pequenos quadrados nos ângulos, ainda que resultante da campanha pombalina, constitui um modelo simplificado das plantas de Bramante ou Miguel Ângelo para a antiga igreja de São Pedro de Roma. Procurou-se enriquecer a fachada com contrastes cromáticos, utilizando mármores embrechados da Arrábida com calcário, quer no pano central, quer nos laterais, onde os vãos do 2º e 2º registo iluminam espaços do hospital e recolhimento. O portal principal segue o modelo maneirista, mas parece conciliar elementos dessa época reaproveitados com outros pombalinos; a figura da Virgem no nicho, de mãos postas em prece, é do séc. 16 / 17. Retábulos laterais rococós com alguns elementos posteriores, como a decoração vazada da cornija borromínica e elementos decorativos envolvendo os nichos. A talha que reveste o arco triunfal e o enquadra é do início do séc. 19, mas com laivos rococós. O retábulo-mor maneirista possui a boca da tribuna com decoração barroca e os nichos laterais enquadrando a tabela são pouco comuns; os seus três eixos são preenchidos com telas sobrepostas, de meados do séc. 17 e a da tabela já do 19, representando a Visitação, cujo dia de celebração, a 2 Julho, passou a ser considerado o dia das Misericórdias, e as Obras da Misericórdia corporais, aludindo à sua função enquanto instituição de beneficência, constituindo um programa iconográfico pouco comum nos retábulos destas Irmandades, onde normalmente surgem representadas cenas da vida da Virgem ou de Cristo. Estes painéis, inspiram-se nas gravuras editadas por Dirck Volkertsz, alcunhado de Coornhert, ainda que o pintor tenha introduzido algumas simplificações compositivas e, noutros casos, tenha censurado certos pormenores, como as figuras desnudas, que no retábulo surgem cobertas. Apresentam as figuras com um tratamento anatómico de grande expressão e vigor e ainda, variadíssimas figuras que preenchem em demasia o espaço pictórico, não surgindo enquadradas por um cenário real, mas, em alguns casos, por meias arquitecturas, e a principal, que pratica a acção caritativa, surge, maioritariamente secundarizada pelas cores frias que enverga, sempre suplantada pelos pedintes, com manchas mais coloridas, com o recurso frequente ao vermelho. Os painéis não são dispostos segundo a ordem numérica das obras de Misericórdia Corporais, mas agrupadas por prioridade das necessidades e acções da Misericórdia. Assim, do lado do Evangelho, surgem as telas com "dar de comer aos famintos" (4ª C.), "dar beber a quem tem sede" (5ª C.) e "cobrir os nus" (3ª C.), ou seja, as necessidades humanas básicas, e do lado da Epístola as de segunda ordem: "enterrar os mortos" (7ª C.), "remir os cativos" (1ª C.) e "dar pousada a peregrinos" (6ª C.); no topo, "visitar os enfermos" (2ª C). O retábulo apresenta ainda grandes afinidades com o da Misericórdia de Silves (v. PT050813070006), visto que ambos seguem o mesmo programa iconográfico e os painéis pintados foram inspirados nas gravuras de Dirck Volkertsz, ainda que os de Faro tenham melhor qualidade e revele maior criatividade do pintor. A tela da Visitação segue modelo do séc. 17, representando a Virgem e Isabel acompanhadas dos respectivos maridos. Cadeiral dos mesários neoclássico, composto por dois cadeirões de cinco lugares corridos cada e um isolado para o Provedor. A pia de água-benta no sub-coro foi feita escavando o centro de um capitel visigótico que, segundo, D. Fernando de Almeida, possivelmente veio da Santa Maria de Ossonoba. Em meados do séc. 20, uma das enfermarias do hospital ainda mantinha a sua estrutura, com duas galerias laterais superiores para vigilância dos doentes e com retábulo na parede testeira, e um corredor com tecto de madeira em reixa. Retábulos colaterais de estrutura semelhante, de planta convexa e três eixos, delimitados por colunas com terço inferior marcado no fuste, o qual forma espira nas colunas centrais; no central rasga-se um nicho de arco em volta perfeita extravassando para o ático, e nos laterais duas mísulas com imaginária; ático rematado em cornija saliente com dois anjos estofados e espaldar encurvado com resplendor e querubins encimado por cornija borromínica; altar em forma de urna. Retábulo do topo do braço da Epístola de planta recta, com pilastras decoradas por elementos fitomórficos suportando consola e frontão triangular com pomba do Espírito Santo no tímpano; enquadra tela figurando a Visitação, onde Santa Elisabete recebe Maria, ambas acompanhadas pelos respectivos esposos. Altar com Cristo morto, envidraçado, e moldurado a talha dourada e policroma, decorado com elementos fitomórficos e concheados. O silhar de azulejos seiscentistas recolocados na igreja um pouco ao acaso apresentam padrões policromos diferentes: o P-604, de 6 X 6 azulejos, o friso de modelo raro, o F-9, a cercadura muito frequente C-82 e um outro padrão não identificado.

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade*2 / Assistencial: lar

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Nicolau de Frias ( atr.) e Francisco Xavier Fabri; ENTALHADOR: Gabriel Domingues da Costa e José da Costa (séc. 19); PINTORES: João Rodrigues Andino, José da Silva e Vicente Bianchini (1817) e Arcangelo Fuschini (séc. 19).

Cronologia

1499, 9 Outubro - D. Manuel determina que as praças de venda se mudassem das Alcaçarias para a Ribeira, levando assim ao deslocamento do centro urbano; pouco depois ali se deve ter construído uma capela dedicada ao Espírito Santo *3; 1501, 26 Janeiro - carta régia de D. Manuel autorizando João Dias e sua mãe a aproveitar umas tercenas para a edificação dum estabelecimento, tendo em vista o tratamento de doentes; 1540 - decretada a transferência da sede do bispado do Algarve de Silves para Faro; 1559 - D. Sebastião por carta de mercê concede 1% das sizas de todo o rendimento da Alfândega de Faro e vilas de Loulé e Albufeira; 1577 - transferência efectiva da sede do bispado para Faro, sendo o primeiro prelado a residir na cidade D. Afonso de Castelo Branco, 2º Bispo do Algarve; 1581 - D. Afonso Castelo Branco funda a Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia, tornando-se seu Provedor (cargo que se manteve nos prelados seguintes); 1583 - reforma ou reconstrução da ermida manuelina do Espírito Santo para instalação da Irmandade, obras atribuídas ao Arq. Nicolau de Frias; 1596 - as tropas inglesas, comandadas pelo Conde de Essex, no regresso da expedição a Cádis, atacaram a cidade, incendiaram-na e espoliaram-na, deixando bastante maltratada a Misericórdia; séc. 16 / 17 - incorporados no hospital as casas de D. Catarina da Fonseca Henriques, viúva de Simão de Sousa, por ela legadas a um recolhimento de meninas pobres que fundou em vida, habitando com as recolhidas, as quais tinham a obrigação de socorrer os doentes; séc. 17, princípio - encomenda do retábulo-mor pelo bispo D. Fernando Martins Mascarenhas; 1671 - veio para a Diocese algarvia (vaga desde 1649) D. Francisco Barreto II, o qual mandou abrir no retábulo-mor uma tribuna central e colocar um trono para exposição do Santíssimo, trabalhos executados pelo mestre marceneiro da região e entalhador Gabriel Domingues da Costa; 1671 - 1679 - Bispo D. Francisco Barreto II e Provedor da Misericórdia aumentou e adaptou parte do recolhimento a hospital, tendo-se gasto na obra 900$000 rs; 1676 - segundo Francisco Lameira, o pintor tavirense João Rodrigues Andino recebeu 38$000 rs para a obra da nova tribuna e do retábulo; as seis telas são inspiradas no ciclo de gravuras sobre o Juízo Final e as Seis Obras da Misericórdia, gravadas e editadas em Leidem (em 1552), por Dirck Volkertsz, com alcunha de Coornhert; 1677 - pintor recebeu mais 3$000 para consertar o painel de Santa Isabel, ampliando-o assim para o novo espaço; 1678 - notícia das primeiras celebrações da Semana Semana em Faro, data a que remonta a Procissão do senhor Morto *2; 1679 / 1680 - execução de duas telas da Bandeira Real da Misericórdia pelo pintor João Rodrigues Andino por 56$840 rs; 1685 - considerou-se muito decente e proveitosos que o "vão da meia laranja de dentro e as quatro capelas se guarnecessem de azulejo, porque também o ar do mar a cria nas paredes em tal forma salitre que estão já as abóbadas d'elas sem guarnição e aparecendo-lhe os tijolos"; data da transcrição em acta das obras concluídas; 1733 - Cardeal Pereira ordena obras no recolhimento; 1736 - D. Luís Caetano de Lima informa da existência de um segundo recolhimento, para donzelas nobres, junto à igreja da Misericórdia; posteriormente, após a transferência das recolhidas para Loulé, o edifício foi incorporado no hospital; 1738 - data do lavabo no corredor de acesso à sacristia; 1755, 1 Novembro - terramoto danifica a Igreja da Misericórdia, obrigando a transferência do culto para uma casa da R. Nova do Pé da Cruz, mas não afecta muito o hospital, que admite doentes logo nos dias imediatos; o bispo D. Frei Lourenço de Santa Maria, também provedor da Misericórdia, ordena as obras na igreja; o tesoureiro, Alferes António de Castro Ribeiro, paga 10$980 ao pintor José da Silva no concerto das seis bandeiras da Misericórdia que ficaram muito destruídas com o terramoto; 1758 - conclusão das obras na igreja; séc. 18, 2ª metade - feitura dos dois retábulos laterais do transepto; 1784 - pintura do escudo real no tecto da sala onde se reúne a Irmandade; 1789 - pagamento de 26$575 por encarnar o Senhor Morto, pratear o frontal do altar-mor, castiçais e outras miudezas; 1795 - o bispo D. Francisco Gomes de Avelar, provedor da Misericórdia e seu grande protector ordena remodelação da igreja e hospital da Misericórdia; para tal comprou as casas que foram do Capitão Manuel Roiz Correia, junto à igreja, e que foram sequestradas pelo Juízo da Provedoria, por dívida à Fazenda Real, e mandou chamar o Arq. Genovês Francisco Xavier Fabri, então residente em Lisboa, com o compromisso de lhe dar 200$000 rs, casa, cama e mesa; séc. 19 - substituição da tela no ático do retábulo-mor pela actual; 1814 / 1815 - execução do retábulo da enfermaria das mulheres pelo entalhador de Faro José da Costa e sob o risco de Francisco Fabri; pintura e douramento do retábulo; pintura da tela para o retábulo da enfermaria das mulheres representando a Visitação (pago a 26 Dezembro 1814 - 227$610) e para a enfermaria dos homens representando "A Morte de São José, talvez pelo pintor Arcangelo Fuschini; segundo Horta Correia, estas telas foram compradas em Lisboa, a partir de uma encomenda feita pelo bispo D. Francisco Gomes de Avelar; pagamento da folha de um barril de óleo, quatro vigas, douramento do retábulo das duas enfermarias, custo do quadro, tafetá para as cortinas do quadro, pago em 26 Setembro 1810 - 275$610; 1817, 30 Maio - data da tela de D. Francisco Gomes de Avelar pintada por Vicente Bianchini; 1856, 12 Janeiro - violento terramoto abriu fenda na cúpula do cruzeiro, levando o Governador Civil a interditar a igreja até a sua inspecção e dos mestres dizerem que não apresentava perigo iminente; foi mandada consolidar de imediato; 1856 / 1857 - pagamento de 323$240 pelos concertos internos nas abóbadas, quatro arcos e nas paredes da igreja, e de 71$325 com reparos e concertos externos das paredes ruídas, nos telhados da igreja e resto do edifício, casa de albergue e paredes do cemitério; 1861 - despesa de 71$925 com a obra da nova sacristia, e 313$515 com um guarda-vento para a porta principal da igreja; pagamento de 100$000 rs por dois cadeirões para a capela-mor; séc. 20 - transferência do retábulo com a tela da Visitação de uma antiga enfermaria para a igreja, colocando-o no topo do transepto da Epístola, tapando a porta que ligava ao albergue; 1958 a 1960 - remodelação da ala N. do hospital; 1995, 15 maio - a Câmara Municipal de Faro envia ao IPPAR proposta de classificação do imóvel como IIP - Imóvel de Interesse Público; 1995, 16 outubro - Proposta de abertura do processo de classificação peloIPPAR/DRFaro; 1995, 23 outubro - Despacho de abertura do processo de classificação pelo Presidente do IPPAR; 2003, 07 janeiro - Parecer do Conselho Consultivo do IPPAR a propor a classificação como IIP - Imóvel de Interesse Público; 31 janeiro - despacho de homologação do edifício como Imóvel de Interesse Público pelo Ministro da Cultura; 2007, 05 dezembro - Proposta da DRCAlgarve propondo ZEP conjunta ao Núcleo Histórico de Faro, abrangendo este imóvel; 2007, finais - no âmbito do Programa Equipamentos Urbanos de Utilização Colectiva, a SCMF apresenta candidatura de apoio financeiro para obras de recuperação da igreja; 2008, 23 maio - Parecer do Conselho Consultivo do IGESPAR relativo à ZEP; 2008, Dezembro - a CMFaro aprova protocolo de apoio à recuperação do imóvel no montante de 100mil Euros; 2009, 1º trimestre - tendo em conta as conclusões do estudo preliminar levado a efeito pela empresa Oz - Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade em Estruturas e Fundações, Lda., sobre as anomalias existentes na igreja, a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Faro, o capelão da instituição e o Moto Clube de Faro, principal organizador do evento, consideram a não realização nesse ano da procissão anual do Senhor Morto*2; 2010, 15 novembro - Proposta da DRCAlgarve para alargamento da ZEP do Património Classificado do Núcleo Histórico de Faro Vila Adentro.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de cantaria calcária, rebocada e pintada, excepto no primeiro piso da fachada principal do hospital; alvenaria rebocada; elementos estruturais, molduras dos vãos, pias de água-benta e outros elementos em calcário; frisos e molduras na fachada principal em mármores embrechados da Arrábida; janelas de vidro simples ou colorido; abobadilhas de tijolo; coro-alto, portas de madeira e outros elementos em madeira; arcaz de mogno; retábulos de talha dourada e policroma; telas pintadas; silhares de azulejos; pavimento de tacos de madeira e lajes; madeira, azulejaria, talha, ferragens; cobertura exterior em telha de canudo.

Bibliografia

LAMEIRA, Francisco I. C. e SANTOS, Maria Helena Rodrigues de, Visitação de Igrejas Algarvias, Faro, 1988; IDEM, Faro. Edificações Notáveis, Faro, 1995; IDEM, A Misericórdia de Faro, Faro, 1995; IDEM, Faro: a arte na história da cidade, s.l., 1999; MELLO, Magno Moraes, Pintura do Concelho de Faro: Inventário, Faro, 2000, pp. 235 - 255; PAULA, Rui M. e PAULA, Frederico, Faro Evolução Urbana e Património, Faro, 1993; PINTO, Maria Helena Mendes e PINTO, Victor R. M., As Misericórdias do Algarve, Lisboa, 1968; ROSA, J. A. Pinheiro e, Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Faro, Faro, 1984; SERRÃO, Vítor, As sete obras corporais de Misericórdia pintadas no retábulo maneirista da Misericórdia de Silves, Revista Monumentos, nº 23, Lisboa, 2005, pp. 116 - 127; SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no século XVII, Tomo I e II, Lisboa, 1997; TOJAL, Alexandre Arménio, PINTO, Paulo Campos, Bandeiras das Misericórdias, Lisboa, 2002.

Documentação Gráfica

CMF

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1925 - grandes obras no hospital; 1958 - remodelação da ala N. do hospital: SCMF: 1997 - obras de intervenção na igreja.

Observações

*1 - a cena "dar de comer a quem tem fome" apresenta, em primeiro plano, no lado direito, uma figura masculina que entrega um pão a uma outra, feminina, ajoelhada; vários personagens assistem ao evento, enquadrados por uma meia-arquitectura, de que se vislumbram algumas colunas e pilastras; "dar de beber a quem tem sede" é uma cena mais tenebrista, com o domínio das cores ocres, pontuada por uma única nota mais intensa, o vermelho das vestes de uma criança que ergue os braços para quem distribui a bebida, rodeado por várias pessoas que estendem uma malga para encher; "vestir os nus" representa, no lado direito, uma figura envelhecida, que veste um necessitado, o qual revela um tratamento muscular muito pronunciado, aproximando-se, do lado esquerdo, outra figura semidesnuda; do lado da Epístola, "enterrar os mortos", em que várias figuras depositam um féretro na sua sepultura, que reparte a cena diagonalmente, formando um contraste intenso com as figuras que se encontram num plano superior, constituídas por vários assistentes e um diácono envergando dalmática, que ministra os últimos sacramentos; mais uma vez, meias-arquitecturas definem um cenário pouco definido; "remir os cativos" consiste numa tela dividida em duas zonas por uma mesa, estando, no lado direito, alguns turcos, que recebem o dinheiro dado por um frade trino e por uma figura ajoelhada que vai tirando as moedas de um cofre, no lado oposto; no fundo, os remidos e outras figuras religiosas, bem como um apontamento de uma cena marítima; "dar pousada aos peregrinos" representa uma figura vestida à romana, de veste branca, que recebe vários peregrinos que se aproximam pelo lado esquerdo; na tabela uma tela representando a 2ª obra corporal, "visitar os doentes" mostra um moribundo, assistido por três figuras masculinas, duas mais próximas, rodeado por várias figuras femininas e crianças que choram desconsoladamente; *2 - esta Procissão é uma das maiores do Algarve e a mais imponente que se realiza em Faro; as ruas são ricamente decoradas, saindo a procissão da Igreja da Misericórdia, pelas 21h00, aberta por um friso de tochas; segue-se a matraca que simboliza as ondas de ódio amontoadas pelos Judeus à volta de Cristo; o guião é ladeado por duas lanternas; a alguns metros, a iniciar as alas, as balandraus com tochas, a cruz com o lençol pendurado e entre as alas, o tumbinho carregando o Corpo de Cristo, debaixo do pálio; seguem a procissão, o clero, todo vestido de negro, as entidades oficiais, representantes de várias instituições e alas intermináveis de "promessas" e, no meio, os três andores; *3 - no livro das Visitações do séc. 16 às igrejas algarvias, a Capela do Espírito Santo e o hospital adossado são descritos do seguinte modo: a igreja tem as paredes "d'alvaneria, madeirada de castanho, telhada de valladio, está o madeiramento para se forrar, o chão he per llagear ne(m) lladrilhar, he quadrada, esta Igreja tem de comprimento 32 palmos, de llargo o mesmo e d'alto 28. Nella está hu altar de madeira, sobe-se a elle per três degraos, tem de comprido 13 palmos, d'alto 5 e de llargo 4, sobre elle hu painel de portas, pintado a Vinda do Esprito Sancto sobre os Apóstollos, velhos e nas portas a Saudação, tudo velho. O cruseiro he de dous arcos de pedreria, redondo, cõ hua colluna no meio cõ sua vasa e capitel de pedra. Tem cada arco de llargo 12 pallmos e a mesma altura das paredes. O corpo desta Igreja tem de comprimento 38 palmos e de largo 28. O portal he de três portados redondos, lavvrado de parreira, cercado à roda de hu cordão grosos cõ hu nó em riba lavvrado de folhagem, nelle huas portas de bordo lavvradas de maceneria e no alto hua pombinha, tem dous postigos de boa brandura traçados pello meio, tem d'alto este portal 15 palmos, de largo 9, tem hua pia de ágoa benta junto deste portal. ...Destrás desta Igreja à banda do llevante está hua porta de pedreria de ponto, tem d'alto 12 palmos, de largo 7 e meio cõ huas portas de castanho, velhas. Está hu pátio espasoso e grande em que se allimpão os pobresa, da banda do norte vai hua esquada d'alvenaria de 14 degraos sem emcostos, nelle está hu portal de pedreria quadrado, tem d'alto 7 palmos e meio e de vão sinquo e meio, nelle huas portas de castanho, boas, vai para hua emfermaria a modo de dormitório, tem sinquo lleitos da banda do norte, de castanho, cõ seus guardapós . He madeirado d'asnas, emcaniçado cõ 4 llinhas pollo meio, o chão bem sollado tem de comprido 60 palmos. Desta casa para a banda do llevante está outro portal da mesma maneira, vai para hua casa quadrada da mesma maneira do dormitório que cerve de cozinha. Desta casa vai outro portal da mesma maneira, he mais pequeno, para outra casa da maneira desoutra, he perllongada mais hu pouco, com hua agenella que vai para hu chão do Esprital. He argamaçada, aqui pousa o espritalleiro cõ sua molher, cerve bem esta casa. Da banda do llevante está outro dormitório norte sul cõ hua varanda de tavoado madeirado de castanho, ripado do mesmo, telhada de valladio de hua só ágoa cõ três portas. Hua vai para hua cas onde estão quatro lleitos velhos sem camas, em que dorme os pasajeiros, à banda do llevante hu buraco em que está outra casa que serve de pobres e as outras são muito velhas, da mesma maneira. No cabo desta varanda está hua casa sobradada, está allugada, rende para a casa. Da banda do llevante vai hua barraca de hus que he do Esprital, nos baixos destas casas huas llogeas que cerve de sal para a barraca, rende hus annos pellos outros dez mil reais. Da banda do norte vai outra barraca ao llongo da parede da emfermaria que foi nave de aterecana em que o Esprital tem a terça parte do que rende a barraca per que lha deixou João Fez Guitério, rende quatro mil reais para o Esprital tem 360 reais de foros. Tem 4 camas novas, outras 4 velhas. ..." Actualmente subsiste parte do portal manuelino da capela do Espírito Santo, depositado no Museu da cidade de Faro.

Autor e Data

Francisco Lameira 1996 / Paula Noé 2002

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