Paço do Bispo / Arquivo Municipal de Vila Viçosa

IPA.00004452
Portugal, Évora, Vila Viçosa, Nossa Senhora da Conceição e São Bartolomeu
 
Casa nobre da segunda metade do séc.18, com vasto pátio e frontaria sóbria, enunciando já a tendência neoclássica. Do edifício quinhentista resta apenas um dos salões no 1º piso com abóbada renascentista; a disposição em " L" e o tratamento dos alçados resultam dos acrescentos realizados no séc. 18, durante a reforma operada por D. João V bem como a ampla cerca, outrora cedida para a realização da feira anual. As fachadas são rasgadas por vãos de verga recta, apresentando molduras, igualmente rectas, de cantaria de mármore aparente na fachada principal e, na fachada lateral esquerda caiadas no primeiro e segundo registos. A fachada principal é rasgada, inferiormente por portal descentrado, encimado por janela de sacada, definindo eixo a partir do qual o ritmo dos vãos foi composto, segundo princípios de sobriedade e rigor, atestando a intervenção ao gosto neoclássico. A fachada lateral direita é rasgada supriormente por quatro janelas de peitoril, sendo as duas mais à direita intercaladas por dois óculos circulares, provavelmente resultantes de uma intervenção recente. O piso térreo servia de habitação para alguns criados e clientes da Casa de Bragança; o segundo piso correspondia às sobrelojas; no andar nobre ficavam a cozinha, despensas, a casa de jantar (ESPANCA, 1985) e uma capela, que, actualmente, não pertence à estrutura palaciana: apresenta planta rectangular, portas com ombreiras e vergas do modelo de corda saliente, típico na região a partir do reinado de D. José I e tecto decorado por estuques, não tinha altar sendo o vão do oratório precedido por portas de madeira com pintura de marmoreados. O ritmo da fenestração da fachada principal, a sobriedade do conjunto e sua presença enquanto elemento aglutinador da praça. Num dos salões do piso térreo sobrevive uma abóbada renascentista único vestígio do edifício quinhentista.
Número IPA Antigo: PT040714030016
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Residencial senhorial  Paço senhorial    

Descrição

Planta composta, em L, disposta em 3 pisos. Massa disposta na horizontal com cobertura diferenciada em telhados de duas e três águas. Coincidência interior-exterior.Fachadas rebocadas e caiadas de branco, com pilastras de cantaria de mármore nos cunhais e com molduras dos vãos igualmente de cantaria aparente. Fachada principal de pano único delimitado por cunhais esquadriados e disposta em três registos; remate em cornija e beirado; no primeiro registo, à esquerda, rasga-se portal de moldura de verga recta, com fecho central, ligeiramente saliente e recortada lateral e superiormente, ladeada por finas volutas acompanhando o recorte da moldura; portadas de madeira almofadadas, ombreiras com bases paralelipipédicas salientes ladeadas por pequenas e finas volutas; sobre o portal cartela de cantaria recortada, decorada com motivos geométricos, rematada por cornija seguida de friso, decorado com três pequenas cartelas salientes, suportando janela de sacada do piso superior; a janela de sacada de verga recta possui moldura terminada por cornija, com guarda em gradeamento de ferro, integrando caixilharia com bandeira, esquema repetido nas restantes seis que ritmam o terceiro piso; o portal é ladeado por portais simples, dois à esquerda e quatro à direita, que possuem portadas de madeira; no segundo registo seis janelas de peitoril com moldura de cantaria. Fachada lateral direita rasgada inferiormente por duas portas simples e à esquerda por uma pequena fresta; no segundo registo três janelas de verga recta; no terceiro registo quatro janelas de peitoril de verga recta e moldura de cantaria. Fachada posterior denotando uma construção menos cuidada, constituída por duas alas projectadas em ângulo recto com arcadas térreas e uma galeria disposta em arcaria de dez tramos, envidraçada. INTERIOR: no piso térreo, vários salões um deles, de planta rectangular, com abóbada de nervuras em alvenaria suportada por coluna central; existe ainda um poço e algumas dependências rústicas. Escadaria de dois lances e patamares em mármore branco, antecedida de arco vestibular de meia volta; as salas do primeiro piso, apresentam tectos em estuque moldado e alguns vestígios de pinturas. Existe ainda capela.

Acessos

Rua Dr. Couto Jardim (antiga Rua dos Fidalgos), junto ao topo N. do Terreiro do Paço

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 740-E/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012 / ZEP Conjunta, Portaria n.º 527/2011, DR, 2.ª Série, n.º 88, de 06 maio 2011/ Incluído na Zona Especial de Proteção da Igreja dos Agostinhos (v. PT040714030005)

Enquadramento

Urbano, no centro Histórico, numa zona de terreno com declive ligeiramente acentuado, com pavimento calcetado. A fachada principal confronta com o Terreiro do Paço, a N.; a O. a R. Dr. Couto Jardim com vasto logradouro (antiga cerca); fachada esquerda adossada. Nas imediações o Paço Ducal (v. PT040704030009), a Igreja dos Agostinhos (v. PT040714030005), o Convento das Chagas (v. PT040714030004 ), o Palácio dos Caminha (v. PT040714050052), o Antigo Palácio dos Matos Azambuja (v. PT040714030011) e a Fonte Grande (v. PT04071430057).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: paço senhorial

Utilização Actual

Cultural e recreativa: arquivo

Propriedade

Privada: Fundação

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Tomás Luís (pinturas murais Séc.17 )

Cronologia

1542 - construção pela então Duquesa de Bragança, D. Joana de Mendonça, viúva do Duque D. Jaime, como habitação particular; Séc. 16, início - construção dum passadiço com ligação ao Convento das Chagas (v. Pt0407140030004) no qual as filhas da Duquesa de Bragança - Maria e Vicência professavam e com as quais a mãe pretendia ter contacto; 1580 - D. Joana falece e o paço é dividido em duas metades, herdadas em dote, pelas duas filhas da duquesa sendo destruido passadiço; uma das metades fica agregada às Chagas e a outra ao filho D. Fulgêncio, prior da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, que, após a sua morte foi adjudicada a Gaspar de Matos Fialho, morador na mesma povoação; 1583 - D. Antão de Oliveira de Azevedo, veador da duquesa D. Catarina, foi o primeiro aposentador; 1586, 27 Julho - escritura de compra da metade das irmãs religiosas, pelo Duque D. Teodósio II, pela quantia de 520$000 rs; 1590, 9 Fevereiro - escritura de compra da metade de Gaspar de Matos Fialho e de sua mulher Sabina Antónia, igualmente por 520$000 rs, pelo Duque D. Teodósio que converte o paço em hospedaria da casa ducal, vinculado ao Morgado da Cruz, instituído em 16 de Novembro de 1596, não podendo, então, ser alienado pelos descendentes; 1602 - os Duques de Bragança chamam o pintor Tomás Luís de Lisboa para pintar câmaras no Paço; 1622 - Manuel de Oliveira, casado com D. Pascoela Leitão, pais de Francisco de Oliveira, à época tabelião de notas, é aposentador do paço; 1643 - Francisco de Oliveira é Prior da Madalena de Monforte; séc. 17, 2ª metade - residência do Dr. João Pinto Ribeiro; 1683 - localizavam-se, junto ao paço, as casas do alcaide-mor João de Tovar Caminha; Séc. 17 - é residência de várias personagens notáveis, próximas à Casa de Bragança; séc. 18, início - durante a Guerra Peninsular, o paço é requisitado pelo exército inglês e transformado em aquartelamento e hospital; nesta centúria foi construída a capela; 1743, 13 Fevereiro - nomeação de D. João da Silva Ferreira, Bispo de Tânger, como Bispo Deão, confirmada pelo arcebispo de Évora D. Frei Miguel de Távora e selada e autenticada pelo provisor do arcebispado Dr. Frei Jerónimo de São José; durante o seu bispado, por decisão de D. João V, o paço foi alvo de grandes transformações estruturais, com vista a albergar os Deões da Colegiada de São Jerónimo tendo D. João V dirigido um pedido ao Papa Bento XIV a fim de que os Deões da Capela de Vila Viçosa passassem a ser Bispos Titulares, sendo para isso necessário constituir um palácio digno desse estatuto; por esssa altura as seis janelas de peitoril do andar nobre passaram a ser sete janelas de sacada, voltadas para o terreiro do paço, e o pátio coberto e com escada; 1797, 22 Março - nomeação de D. Vicente da Gama Leal, Bispo de Hetalonia; 1795, 21 Agosto - nomeação de D. José Nicolau de Azevedo Coutinho Gentil, Bispo titular de Zoara; 1812 - já em período de paz, é restaurado e habitado pelo bispo de Olba, D. Vasco José de Nossa Senhora de Boa Morte Lobo; devendo-se a esta intervenção pinturas e estuques de alguns tectos do andar nobre; 1834 - 1835 - com a extinção das ordens religiosas, o Bispo de Nemésis, D. Fr. Manuel da Encarnação Sobrinho abandona o paço, tendo sido o último bispo a ocupá-lo; 1849 - na sequência da passagem do imposto das feiras para a receita camarária o mercado *2 deixa de se localizar nas traseiras do paço passando para o Carrascal; assim, das quatro portas de acesso ao cerrado, apenas três foram mantidas, embora tenham sido sucessivamente absorvidas por outras estruturas; 1853 - instalação dos almoxarifes do Estado de Bragança, apesar de continuar a servir de aposentadoria para a Família Real, que foram realizando obra, em diversos momentos, sobretudo na fachada posterior; 1874 - Sebastião do Canto e Castro Mascarenhas, administrador Geral da Casa de Bragança, manda edificar o estábulo da vacaria, obra orçada em 30.000 rs, implicando o desaparecimento da porta do cerrado que dava acesso à R. dos Fidalgos, bem como o aproveitamento de materiais resultantes da demolição das estruturas do primitivo mercado, e que, pouco tempo depois foi transformado em cavalariça, pelo sucessor de Sebastião Mascarenhas, Augusto César Falcão da Fonseca; 1889 - a porta voltada ao Lg da Fonte Pequena (v. Pt040714050056) é aforada ao proprietário das casas de João de Tovar Caminha, que nesse terreno edifica moradias de renda; 1892 *3 - demolição das tendas e / ou barracas das feiras do cerrado e consequente transformação em bosque de eucaliptos, sendo mantida apenas a porta de acesso ao Terreiro do Paço, devido ao aforamento da Casa de Bragança; 1974, 25 de Abril - ocupação do edifício pela L.U.A.R. para nele instalar o Centro Popular Cultural Bento de Jesus Caraça; 1976 - 1978 - o paço é ocupado pela Junta Nacional de Educação; 1983, 09 dezembro - Proposta de classificação pela Fundação da Casa de Bragança; 1984, 06 janeiro - Ofício do IPPC à CM de Vila Viçosa a informar que o imóvel se encontra em vias de classificação; 1994, 20 de Outubro - despacho de abertura do processo de classificação; 1996 - aqui funcionavam os serviços administrativos da Fundação Casa de Bragança; 2009, 04 novembro - Proposta de classificação pela DRCAlentejo; 2009, 27 novembro - Despacho de abertura do processo de classificação pelo Diretor do IGESPAR; 2010, 26 abril - Proposta da DRCAlentejo para a classificação como IIP - Imóvel de Interesse Público; 2010, 15 dezembro - Parecer de 15-12-2010 da SPAA do Conselho Nacional de Cultura a propor a classificação como MIP - Monumento de Interesse Municipal; 2012, 23 de Abril - publicado no DR, nº 80, 2ª série, o Anúncio nº 8895/2012 de Projeto de Decisão relativo à classificação como MIP.

Dados Técnicos

Estrutura mista, travada por tectos em abóbadas e sobre o qual descarregam coberturas de duas pendentes.

Materiais

Alvenaria de pedra rebocada e caiada, alisares e cunhais em mármore, cobertura em telha de canal e cobrideira, caixilhos e portadas em madeira, pavimentos de tijoleira e sobrado.

Bibliografia

ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha - Compêndio de Notícias de Villa Viçosa. Concelho da Província do Alentejo e Reino de Portugal, 1892; PESTANA, M. I., O Arquivo da Sereníssima Casa se Bragança, Informação Documental, Rel. I-150, 1949-57; ESPANCA, Túlio, Figuras gradas e casario antigo dos arruamentos de Vila Viçosa, in A Cidade de Évora, Boletim da Comissão Municipal de Turismo de Évora, nº 57, Évora, Janeiro-Dezembro 1974, pp. 201-281; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora, vol. 9, Lisboa, 1978; ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha - Memórias de Vila Viçosa, Cadernos Culturais da Câmara Municipal de Vila Viçosa, nº 27, Vila Viçosa, 1985; www.fcbraganca.pt , 7 Agosto 2006.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR: DRE; CME

Documentação Administrativa

IPPAR: DRE; CME

Intervenção Realizada

Centro Cultural Bento de Jesus Caraça: séc. 20, anos 80 - instalações sanitárias, canalização de águas, supressão duma parede, colocação de um tecto falso (placas de platex) num dos compartimentos, refechamento de fendas no tecto da sala Florbela Espanca e recuperação de rebocos.

Observações

Em Vila Viçosa decorriam anualmente duas feiras, uma em Maio, e outra por altura das festas de Santo Agostinho, durante um período de oito dias, tendo em conta a autorização régia de D. João III. Esta última, feira foi dividida em duas, uma entre os dias 29 e 31 de Agosto e a outra entre 29 de Janeiro e 2 de Fevereiro, a partir de 1528, devido à concessão de uma mercê régia ao Duque D. Jaime que assegurava a manutenção e alargamento do espaço da feira, tendo promovido a construção do abarracamento (com tendas para capelistas, drogas e especiarias do Oriente), da feira no terreiro adquirido a Pedro Chaves, situado nas traseiras do Largo da Fonte Pequena (v. Pt040714050056); no mesmo período, procedeu-se à regularização do terreiro do Paço Ducal, anteriormente um olival, para servir de infra-estrutura das feiras de gado, ficando o adro da igreja de Santo Agostinho e o Largo da Saboaria reservado para outros produtos (ESPANCA, 1978).

Autor e Data

Castro Nunes 1996 / Paula Amendoeira 1998

Actualização

Marta Ferreira 2006
 
 
 
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