Casa dos Costa Barros

IPA.00000434
Portugal, Viana do Castelo, Viana do Castelo, União das freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela
 
Casa nobre manuelina e maneirista, de planta rectangular e frente de lote largo. Fachada principal manuelina, de dois pisos, cada um deles rasgado por quatro vãos, sendo no térreo portais de verga recta ou em arco, e no segundo piso por janelas de peitoril, de diferentes tamanhos e modinaturas, com molduras sublinhadas por toros, sobre colunelos, com bases facetadas e capitéis fitomórficos, prolongado, nas janelas, em pináculos ou outros elementos vegetalistas. Fachada posterior maneirista, com vãos de modinatura rectilínea e molduras simples, tendo no piso térreo portais sobre imposta e janelas com grades em papo de rola e no último portas-janelas com sacada corrida. Casa abastada quinhentista a que se apôs brasão no séc. 18, aquando da sua aquisição por nova família, na posse da qual ainda permanece. Dada a decoração da fachada principal, constitui um exemplar importante da arquitectura residencial manuelina nacional. Apesar dos vãos do piso térreo, de arco festonado ou recto, possuírem decoração manuelina, é no andar nobre que se manifestou maior preocupação decorativa, com os arcos trilobados, duplos e canopiais, rendilhados por motivos fitomórficos, os quais também os envolvem, ou rematam as hastes dos colunelos, arcos e pináculos, revelando, assim, a organização social do espaço interior. Destaque para uma das janelas, de maiores dimensões e profusão decorativa. É possível detectar ainda uma campanha de obras renascentista, na qual se encurtou a altura das janelas, nas laterais com pano de peito simples e encobrindo parte dos colunelos e da sua possível base, e na janela maior, com um pano de peito ornado de urnas, enrolamentos, cornocópia e quimeras, típicos deste período clássico. Provavelmente, o segundo pano de peito desta janela é também deste período. Interior com vestíbulo lateral a partir do qual evoluem as escadas de ligação aos vários pisos, à volta das quais existem arcos abatidos sobre colunas e guarda de cantaria, num estilo, propositadamente projectado pelos arquitectos, como mais moderno.
Número IPA Antigo: PT011609310015
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre    

Descrição

Planta rectangular de massa simples e cobertura diferenciada, em telhado de quatro águas, integrando clarabóia envidraçada central. Fachadas de dois e três pisos, rebocadas e pintadas de branco, com águas furtadas recuadas. Fachada principal virada a NO., de dois pisos, terminada em cornija sobreposta por beirada simples bastante avançada. No piso térreo abrem-se quatro portais, de cércea sensivelmente distinta, o principal disposto à esquerda, de arco festonado e duplo toro, o interior mais fino, sobre colunelos, o exterior com capitel fitomórfico; possui portão baixo de ferro. Os três outros portais são de verga recta, com um ou dois toros, sobre dois ou quatro colunelos, assentes em bases cilíndricas percorridos por frisos, e de capitéis fitomórficos, diferentes; o portal do extremo direito possui ainda no topo do terço inferior decoração igual à da base. No segundo piso rasgam-se quatro janelas de peitoril, de tamanho e decoração distinta. A primeira do extremo esquerdo, possui arco polilobado, com moldura sobreposta por toro com o mesmo perfil, de fecho em leque fitomórfico, o qual parte de dois colunelos laterais, com base decorada assente em cornija recta, e de capitéis fitomórficos, que se prolongam superiormente em motivos lanceolados; a janela tem ainda pano de peito de cantaria, liso. Segue-se o brasão de família, envolto em paquife e com pingente fitomórfico. A segunda janela, a mais simples, tem arco bilobado com moldura sobreposta por toro com o mesmo perfil, sobre colunelos de capitéis fitomórficos e com base formando pingente; no vértice do arco surge pinha. A terceira janela possui ampla moldura rectangular, disposta na vertical, definida nos topos por cornija recta, e lateralmente por dois pináculos, prolongados inferiormente e assentes em mísulas facetadas, com motivo fitomórfico no terço superior e coroados por pináculos de cogulhos vegetalistas; a janela tem arco trilobado, de duas arquivoltas, a interior também trilobada e a exterior de volta perfeita, partindo da chave dois toros que o transformam em canopial, com remate em pináculo fitomórfico sobre a cornija; possui pano de peito profusamente decorado por figuras híbridas, urnas e enrolamentos vegetalistas; no terço inferior, os colunelos exteriores são entrecortados por cornija, criando segundo pano de peito inferior, decorado ao centro por elementos fitomórficos relevados e entrelaçados; no intercolúnio surge moldura de acantos vazados, que se prolonga e envolve toda a janela. A janela do extremo direito apresenta duas arquivoltas, uma de arco bilobado, interiormente trilobado e com pinhas nos ângulos, e a arquivolta exterior canopial, com fecho fitomórfico, assente em colunelos, de bases facetadas e capitéis vegetalistas, os exteriores prolongados e terminados em alcachofras e folhas laterais; tem ainda pano de peito liso terminado em cornija. Fachada posterior de três pisos e águas furtadas mais recuadas, percorrida por faixa cinzenta, abrindo-se, lateralmente, no piso térreo, dois portais de verga recta sobre impostas salientes, o da esquerda maior, e, ao centro, três janelas de peitoril molduradas e com grades em papo de rola; no segundo piso abrem-se cinco janelas de peitoril molduradas e no terceiro, igual número de portas-janelas, rectilíneas, com sacada, tendo guarda de ferro com motivos lanceolados ao centro e papagaios de ferro. As águas furtadas são rasgadas por vãos rectilíneos de molduras simples. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco ou bege, pavimento em soalho e tectos planos, de estuque, liso ou com cartela central. Pela porta principal acede-se a pequeno vestíbulo, rectangular, com pavimento de lajes de cantaria, e de onde partem as escadas de acesso aos outros pisos, com os primeiros seis degraus antigos e a restante estrutura em cantaria de granito polido, possuindo guarda em ferro e corrimão de madeira; a caixa das escadas desenvolve-se sensivelmente ao centro da casa, coberta pela clarabóia envidraçada sobre estrutura metálica, tendo em cada um dos três pisos, arcos abatidos, sobre colunas cilíndricas, de capitéis rectilíneos, assentes em plintos paralelepipédicos estreitos, interrompendo a guarda, de cantaria, vazada por motivos ovais, tudo em cantaria de granito polido. À volta existe corredor de distribuição às várias dependências, compostas por dez quartos, todos com casas de banho, TV, rádio, telefone e aquecimento, uma sala de convívio e um bar, este ao nível do piso térreo da fachada posterior, com pavimento em tijoleira e acesso por escada. Os espaços comuns têm portas envidraçadas.

Acessos

Santa Maria Maior, Rua de São Pedro, n.º 22 a 28. VWGS84 (graus decimais) lat.: 41,693050; long.: -8,826628

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 41 191, DG, 1.ª série, n.º 162 de 18 julho 1957 (fachada principal) / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 149 de 27 junho 1973 *1

Enquadramento

Urbano, flanqueado, no centro histórico da cidade, inserido no extremo E. da malha urbana que era envolvida pela antiga muralha, a poucos metros da qual ficava a porta das Atafonas. Implanta-se adaptada ao declive do terreno, formando frente de rua, quer na frontaria, quer na fachada posterior, a primeira estreita, pavimentada a lajes de cantaria e com circulação automóvel condicionada. À fachada lateral e à posterior adossam-se a outras construções.

Descrição Complementar

O brasão de família da fachada principal, datado do séc. 18, apresenta escudo francês, com campo partido, tendo no I as armas dos Costa, de vermelho, com seis costas de prata, postas 2, 2 e 2, firmadas nos flancos; e no II as dos Barros, de vermelho, com três bandas de prata, acompanhadas de nove estrelas de seis pontas, de ouro, postas 1, 3, 3 e 2; tem como diferença uma brica de oiro com um trifólio azul; elmo de frente, com paquife e timbre dos Costas, duas costas de prata, passadas em aspa e atadas de vermelho.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Comercial e turística: casa de turismo de habitação

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 16 - Época provável da construção da casa; 1679 - a casa era habitada por Constantino de Sousa e Cunha e sua mulher D. Garcia Furtado de Mendonça; não havendo descendência do casamento, a casa e demais bens foram doados por testamento de D. Garcia a João da Cunha Sotto-Maior; depois passou para a posse de Rafael da Gama Coelho, cavaleiro da Ordem de Cristo; 1750, 24 Novembro - data da Carta de Armas dadas a José Mâncio da Costa Barros; 1765, 11 Julho - a casa foi arrematada por José Mâncio da Costa Barros, filho de Manuel da Costa Braga e de sua mulher Esperança Maria de Barros, também de Viana, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e Comissário de Mostras da Vedoria Geral da Gente de Guerra do Minho; na sequência desta compra, o mesmo manda aplicar as suas armas na fachada; José Mâncio teve um filho de nome Fernando José Mâncio da Costa Barros, Senhor da Casa da Rua de São Pedro e da Quinta de Perre; 1992 - adaptada a turismo de habitação.

Dados Técnicos

Sistema estrutura de paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; cornija, molduras dos vãos, sacada e outros elementos em cantaria de granito; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; pavimento em lajes de cantaria, soalho ou em tijoleira; tectos de estuque; silhar de azulejos nas casas de banho; colunas, escada, guarda e arcos na caixa de escadas em granito polido; escada interior com grades de ferro e corrimão de madeira; algerozes metálicos; grades e papagaios em ferro; cobertura de telha; clarabóia de vidro sobre estrutura de ferro.

Bibliografia

GUERRA, L. de Figueiredo, A Janela da Rua de S. Pedro em Viana do Castelo in Limia, nº 4, série 1, Porto, Jan. 1911, p. 59 - 60; IDEM, As Janelas Quinhentistas em Portugal in Portvcale, vol. 1, nº 2, Porto, 1928, p. 58 - 63; MACHADO, Coronel A. de Sousa, Viana de outros tempos e sua gente através da memória de Porto Pedroso, in Arquivo do Alto Minho, vol. 16, 2ª série, tomo 1, Viana do Castelo, 1968, pp. 35-80; ALPUIM, Maria Augusta d', VASCONCELOS, Maria Emília de, Casas de Viana Antiga, Viana do Castelo, 1983; DIAS, Pedro, A Arquitectura Manuelina, Porto, 1988; CALDAS, João Vieira, GOMES, Paulo Varela, Viana do Castelo, Lisboa, 1990; FERNANDES, Francisco José Carneiro, Viana Monumental e Artística. Espaço Urbano e Património de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 1990.

Documentação Gráfica

Proprietário

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1991 / 1992 - obras de conservação e restauro da casa para adaptação a turismo de habitação, sendo o projecto do Arquitecto Carlos Souto e do Rui Petterson; construção das águas furtadas recuadas, não afectando o equilíbrio das fachadas.

Observações

*1 - DOF: Fachada do prédio manuelino da Rua de São Pedro, nº 28. *2 - Também é conhecida por Casa dos Pintos Leites, Casa dos Magalhães Pintos, Solar do Morgado e Solar do Terreiro. No livro de honra da casa destacam-se, entre outras personalidades ilustres ligadas à política e cultura nacional e internacional, as visitas de Dom Duarte Pio e do Dr. Mário Soares (ex-Presidente da República).

Autor e Data

Paula Noé 1992 / 2008

Actualização

 
 
 
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