Igreja Paroquial de Montemor-o-Velho / Igreja de São Martinho

IPA.00004272
Portugal, Coimbra, Montemor-o-Velho, União das freguesias de Montemor-o-Velho e Gatões
 
Igreja paroquial que se inscreve no gótico simples e austero de tipo regional (DIAS, 1978 e 1986) com alterações posteriores: arco cruzeiro maneirista, torre sineira de tipo setecentista, retábulos laterais maneiristas e retábulo colateral (S.) barroco, túmulo de Luís Pessoa manuelino (arcossólio e colunelos), sendo o jacente de tipo renascentista (vide decoração das cotoveleiras); o tipo de armadura endossada, em particular o sistema de anéis e rebites da cota de malha, borzeguins, joalheiras, são característicos de finais do séc.15 / inícios do séc. 16. É tradicionalmente atribuído à oficina de Diogo Pires o Moço, ou sua oficina, e comparável ao de Diogo de Azambuja, de 1518, no Convento de Nossa Senhora dos Anjos na mesma vila.
Número IPA Antigo: PT020610070013
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta, nave única, capela-mor rectangular com torre sineira quadrada adossada a E. e sacristia a N., baptistério a N., da nave. Não coincidência exterior / interior, volumes articulados, cobertura diferenciada em telhado de 2 águas na nave e capela-mor, de uma água no baptistério. Fachada principal orientada, de pano único definido por paraestáticas munidas de plintos e ábacos moldurados rematados por urnas; portal rectangular e janelão rectangular central de jambas prolongadas abaixo do peitoril moldurado em frontão recortado invertido; sobre a verga lápide de pedra com inscrição *1; remate em frontão de lanços arquitravado coroado por cruz de Cristo em pedra. Fachada lateral N. de 2 panos divididos por contraforte de 3 degraus; no 2º pano o corpo do baptistério rasgado de pequena fresta na face O.. Fachada lateral S. de 4 panos definidos por contrafortes, idênticos ao anterior ( um deles com um relógio de sol inciso ), erguendo-se sobre murete corrido. No 1º pano, ao centro, porta rectangular, semelhante à principal, sobreposta de lápide de pedra com inscrição em caracteres medievais *2; no 3º pano janelão rectangular de lintel curvo com pedra de chave saliente; no 4º pano pequena pedra com inscrição medieval. Capela-mor de dois panos, a S. definidos por contraforte, idênticos aos anteriores, sendo o 2º rasgado por janela de verga curva. Torre sineira de dois andares, com cornija arquitravada divisória, o 1º rasgado superiormente por olhos de boi nas faces E. O. e S. e por porta rectangular a N. com acesso por escada de patamar e varanda de grades, adossada à face E. da sacristia; piso superior de parastáticas, munidas de bases e capitéis inseridos na cornija de remate, rasgado de 4 janelões sineiros em arco de volta redonda; cobertura coroada nos ângulos por urnas e ao centro por cimeira quadrangular. Interior: espaço diferenciado iluminado pelo janelão da fachada O. e pela janela que ocupa toda a largura do 4º tramo a S.; nave de 8 tramos rectangulares definidos por arcos torais de volta quebrada descarregando em pilares de secção quadrangular adossados aos muros munidos de ábacos continuados pela cimalha; o pilar de descarga do último arco a S. limita-se a um único bloco de pedra funcionando como mísula. Nos dois primeiros tramos da nave o coro-alto, de madeira e varandim de balaústres, com acesso por escada NE.. No 3º vão a N. arco de volta redonda, munido de portão de ferro, abrindo para o baptistério / capela de Santa Catarina de 2 tramos definidos por arco toral descarregando no muro fundeiro por mísula em chanfro; no 1º tramo o túmulo de Luís Pessoa; no 2º tramo antipêndio revestido de azulejos aqui reaproveitados. No 6º vão N. da nave púlpito de madeira sobre base piramidal de mármore, com acesso por porta rectangular; no 7º vão porta de comunicação com a sacristia através do corpo anexo à fachada N. do templo; no interior daquele, vão em arco de volta redonda, de cantaria aparelhada, parcialmente encoberto pelo pé direito dos muros. No 7º vão S. da nave altar colateral de talha dourada. Arco triunfal de volta perfeita, altares laterais de pedra; na capela-mor de dois tramos porta de comunicação com a sacristia e janelão de verga trabalhada na face S.; retábulo-mor de madeira com portas de comunicação para o muro fundeiro da capela onde se vê fresta ogival entaipada. Coberturas em abóbada de berço quebrado na nave, baptistério e capela-mor *3.

Acessos

Rua Conselheiro Pinheiro; Rua dos Penedos

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 5/2002, DR, 1ª série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002

Enquadramento

Urbano. Harmonização com o meio envolvente constituído por casario baixo de habitação; adossado a várias construções: a N. corpo anexo prolongando-se desde o muro fundeiro do Baptistério até à sacristia com a qual comunica; na zona da cabeceira a E. casa quadrangular anexa à torre sineira. A igreja ergue-se sobre adro murado sobranceiro a via de circulação com excelente vista sobre o vale; a SE., muro munido de portão de ferro, adossado à face S. da capela-mor.

Descrição Complementar

Túmulo de Luís Pessoa: arcossólio, em meia-laranja, de arquivolta dupla assente em colunelos de capitéis vegetalistas; arca rectangular tendo na face dois escudos, iguais, de armas, compostas e sobreposto, dos Pessoas e dos Costas; ao centro a inscrição "NESTA SEPULTURA IAS O MVI / ONRADO FIDALGO E DE MVI / NOBRE E ANTIGA GERAÇÃO DOS / PESSOAS LUIS PESOA COM SVA / MULHER MICIA CORESMA A QUAL / FALLECEO NO ANO DE 1524 E ELLE/NA ERA DE 1531" (transcrição de CORREIA, 1952). A arca assenta em três leões, decorado o espaço entre eles por azulejos hispano-árabes; sobre a tampa rectangular lisa, o jacente com a cabeça, coberta de barrete, sobre almofada dupla ornada de borlas, vestindo armadura completa com as cotoveleiras decoradas por sol de 8 pontas e cota de malha de fileiras alternadas de anéis e rebites. Altar lateral N.: pintado e dourado de balaústres enquadrando nichos laterais com as imagens de Santo Antão e Santa Águeda; ao centro nicho mais elevado ladeado por colunas, com a imagem de Santa Luzia; elementos de suporte, cimalhas, etc., relevados de cabeças de anjinhos, cartelas, motivos vegetalistas etc., dourados e polícromos; sacrário de talha dourado e cortina. Altar lateral S.: idêntico na estrutura arquitectónica mas sem nichos; ao centro uma imagem de Nossa Senhora, reaproveitada. Retábulo-Mor: pintado e dourado, de 2 colunas suportando frontão interrompido; aos lados, sobre mísulas, as imagens de um Santo Bispo e de uma Nossa Senhora.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Coimbra)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 / 14 (conjectural) / 16 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 09 - Fundação do convento beneditino de São Martinho pelo Abade João do Mosteiro do Lorvão ou pelo Padre Arhgar (ANDRADE, 1715); o mosteiro terá sido construído no local onde se encontra a actual igreja que teria sido sua capela (CONCEIÇÃO, 1944); 985/87 - destruição da vila de Montemor por Al-Mansor; 1040 - D. Fernando Magno manda destruir o Castelo e a povoação; 1088 - reedificação dos mesmos; 1130 - data provável da fundação da igreja segundo lápide da fachada S.; 1195 - carta de doação por D. Sancho I ao abade de Alcobaça e Ceiça da Herdade da Barra ressalvando o domínio útil dos dízimos e coroa pastoral da igreja de São Martinho; 1201 - foral da vila por D. Sancho que a manda repovoar; 1210 - D. Sancho deixa em testamento o senhorio da vila a suas filhas D. Teresa e D. Sancha; 1211 / 1216 - confirmação da doação por Inocêncio III; 1212 - D. Teresa e D. Sancha refugiam-se em Montemor fazendo da vila núcleo de resistência contra D. Afonso II; fortificam e restauram torres e muralhas; foral da vila por D. Teresa e D. Branca; 1248 - foral confirmado por D. Afonso III; 1285 - cónego da Sé de Coimbra João Guilherme Chancino, deixa em testamento verbas para se levantar a igreja; 1286 - D. Dinis doa o Padroado das igrejas da vila a sua irmã D. Branca; 1322 - D. Dinis doa o senhorio da vila ao infante D. Afonso; 1355 - D. Afonso IV doa a Igreja de São Martinho ao padroado do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra; 1357 - D. Pedro I confirma a doação; 1362 - igreja documentada; 1369 - instituição da capela dos Coutinhos por Afonso Vasques; séc. 15 - Infante D. Pedro e depois seu filho D. João senhores da vila; D. João II doa-a a seu filho Jorge de Lencastre passando depois para a Casa de Aveiro; Séc. 16 - altares laterais da igreja; 1516 - foral novo por D. Manuel; túmulo de Luís Pessoa, cavaleiro da Casa Real, falecido em 1531 e de sua mulher e sobrinha D. Mécia Quaresma Costa falecida em 1524 / 1529; 1596 - túmulo de Diogo Zuzarte já no altar de Santa Luísa; 1715 - Manuel Pessoa de Sá e Cunha, fidalgo da casa do Rei, administrador da capela de Santa Catarina; nesse ano existia ainda a capela dos Pinas que pertenceu primeiro a Afonso Briam; 1860 - construção portão de ferro no adro da igreja; 1880 - segundo lápide na fachada O. reforma da igreja (não confirmada porém em Diário do Governo), ter-se-ia então alterado a fachada principal e o interior (arco cruzeiro, elevação do pavimento da igreja que se encontaria ao mesmo nível do do baptistério); construção da torre sineira; pintura do retábulo-mor e das imagens do retábulo lateral N.; 1923 - o Prior Augusto Nunes Pereira põe a descoberto o arcossólio e a estátua jacente que se encontravam revestidos de pedra e cal.

Dados Técnicos

Sistema estrurural de paredes portantes.

Materiais

Exterior: alvenaria rebocada (paramentos de parastáticas); cantaria (molduras de vãos, cornijas, remates e coroamentos); cantaria aparelhada (contrafortes, pilastras de torre); telha (cobertura). Interior: alvenaria rebocada (paramentos); cantaria aparelhada argamassada (arcos e pilares); cantaria (molduras de vão) ; alvenaria rebocada (coberturas); cantaria, madeira e ladrilho (pavimentos).

Bibliografia

ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; ANDRADE, António Correia da Fonseca, História Manlianense, 1715; BORGES, Nelson Correia, Coimbra e Região, Lisboa, 1987; CONCEIÇÃO, Augusto dos Santos, Terras de Montemor-o-Velho, Coimbra, 1944; CORREIA, Vergilio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Coimbra, Lisboa, 1952; DIAS, Pedro, História da Arte em Portugal - O Gótico, vol. 4, Lisboa, 1986; IDEM e REBELO, Fernando, Coimbra e Região, Coimbra, 1978; LEAL, Pinho, Portugal Antigo Moderno, vol. V, Lisboa, 1875; LIMA, Baptista de Terras Portuguesas, vol. III e IV, Póvoa do Varzim, 1935; MADAHIL, A. G. Rocha, Livro da Vida dos Bispos; MATOS, João Cunha, Montemor-o-Velho, sua História e Arte, Coimbra, 1977; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/327717 [consultado em 23 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Observações

*1 "SANTA MARIA D'ALCAÇOVA / ES.MARTINHO / DECRETO DE 30 DE JULHO DE 1874 / REFORMADA EM 1880"; *2 " TEMPLUM LAURENCI HOC NOSCANT ATQUE LUCIE / SERVAT RELIQU(I)AS AMBORUM NAM DOMUS ISTA / CENSU CVM STUDIO TELLI FVLEET LOCVS ISTE / VT SEMPER ILLI TRIBUATVR PROPERA TEMPLI / IN ERA + C LX VIII I (O) H (A) N (E)S PR(ES) B(I) TER SCRIPSIT"; *3 Existem referências (CONCEIÇÃO, 1944) a dois túmulos quinhentistas inscritos, existentes no altar de Santa Luísa um, o outro na Capela-mor; é provável que os mesmos se encontrem sob o actual pavimento; o arco de cantaria da construção anexa a N. pertenceria à primitiva igreja (CONCEIÇÃO, 1944) ou à capela dos Pinas (ANDRADE, 1715). Do recheio destaca-se: azulejos quinhentistas tipo mudéjar provenientes do Castelo; no Baptistério imagens quinhentistas de São Sebastião e de Nossa Senhora com o Menino, provenientes da capela de Santo António, e um Cristo na coluna; pia baptismal de taça redonda, em pedra; imagem quinhentista de Santo António no 5º vão lateral N. da nave; na sacristia díptico de madeira da 1ª metade do séc. 16, figurando São Cosme e São Damião, bastante repintado, proveniente da capela de Santo António; pintura de autor italiano, oitocentista, no altar lateral S. proveniente do Mosteiro do Lorvão e alusiva ao Sagrado Coração de Jesus.

Autor e Data

Rosário Gordalina 1993

Actualização

 
 
 
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