Convento de São Francisco

IPA.00004240
Portugal, Coimbra, Coimbra, União das freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas
 
Arquitectura religiosa, maneirista. Conjunto conventual revelando o espírito franciscano, através da arquitectura austera e simples de grande funcionalidade. Segundo DIAS, 1983, a sua construção seguiu o tipo comum maneirista da cidade, na fachada do templo simples e elegante, com grandes e largas pilastras de cor diferente e fortemente contrastadas a dividirem a vasta área plana em secções. Destacam-se igualmente o claustro de linhas sóbrias e desenho interessante, composto por elementos eruditos, as arcadas ou as colunas toscanas vernaculares, o beirado triplo; o ante-refeitório, lavabo e refeitório, de pé-direito duplo, abóbadas de barrete de clérigo, com decoração parcial interior em azulejos cerâmicos de enxaquetados, característicos do período, apresentam uma monumentalidade que desafia a simplicidade do restante edifício *5. Igreja formalmente muito simples, com planimetria e volumetria monumentais, depuradas do excesso decorativo e com elementos que atestam o interesse do arquitecto pela regras da tratadística italiana: na suposta janela termal do coro-alto, na largura do corpo do dormitório, sensivelmente igual ao do átrio da igreja, com o qual comunicava através da portaria, na caixa de escadas que articulava aquele espaço com as outras duas sobrepostas e o coro-alto, na sobriedade do claustro clássico, na horizontalidade de todo o conjunto, na proposta de maneirismo de feição chã, um dos 1º conhecidos, de que constitui um ponto alto; na articulação de tendências erudita e tradicional vernacular.
Número IPA Antigo: PT020603160020
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos (Província de Portugal)

Descrição

Planta longitudinal irregular, no sentido S. - N. composta; volumes do conjunto conventual articulados a partir da igreja e dormitório com o claustro. A S. a igreja, a N. o claustro, ligados pelo dormitório compreendendo ainda sala do capítulo, zona do refeitório, cozinha e espaços de apoio, e oficinas. Exterior / interior não coincidentes. Massas horizontalizantes, cobertura diferenciada em telhado de 2 águas na igreja, e 3 e 4 nos restantes sectores. Fachada principal a E., sobre embasamento alto; igreja a S., articula-se a N. com volumetria do dormitório, este organizado em três secções sobrepostas, com janelas rectangulares; janelas rasgadas a grande altura centram a fachada. O claustro adossado a O. desenvolve-se entre as sacadas médias e o cunhal N. do dormitório; antiga portaria conventual situava-se entre o dormitório e a igreja.Igreja: planta longitudinal, E. - O. Volumetria com coberturas em telhado de 2 águas. Fachada principal organizada em cinco panos de parede e três registos; panos divididos por pilastras; registos divididos por cornijas arquitravadas; no primeiro abrem-se 5 arcos de volta redonda, o central de maiores dimensões encimado por janelas cegas quadrangulares; registo superior rasgado por 5 janelas, 3 centrais de maiores dimensões, todas com avental; brasão franciscano na área central da fachada; duas aletas fazem transição para coroamento da fachada, um frontão triangular com nicho simples de volta redonda contendo imagem de Nossa Senhora da Conceição; ladeiam-no 2 esculturas sobre plintos, São Francisco, à esquerda, e Santo António, à direita. Frontaria demarcada por 2 cunhais maciços, apilastrados, coroados por coruchéus simulando pequenos torreões. Atrás ergue-se sineira, com 2 ventanas, respectivamente para sino e sineta. Fachada lateral S. com dois registos separados por faixa plana e lisa e reentrância no superior; no inferior abre-se porta em volta redonda; acima rasga-se janela rectangular; existe pilastra à altura do 1.º registo, onde encosta a capela da Ordem Terceira; dá-lhe seguimento no registo superior uma pilastra mais pequena; parede livre para lá da capela da Ordem Terceira e das casas de habitação, adossadas até à altura do primeiro registo. Fachada lateral N. com saliência; 3 janelas rectangulares rasgam-se na parede das galerias; a uma cota inferior e próxima à capela-mor, rasga-se outra janela e abaixo porta com verga curva; capela-mor mais estreita e baixa que a igreja com 2 janelões. Interior *2: átrio, nave, capela-mor e colaterais; 3 portas separam o átrio da nave *3; nave única com 3 capelas de cada lado intercomunicantes, sobrepujadas por galerias com janelas, transepto inscrito e capela-mor de dois tramos à mesma altura e largura da nave. Coberturas em abóbada de berço na nave e capela-mor; a do cruzeiro é simples e baixa; coro-alto iluminado por 3 janelas da fachada que o primeiro arco mestre da abóbada transforma em clássica janela termal. Azulejos de padrão na parte S. do cruzeiro e numa capela do mesmo lado, polícromos. Dormitório: planta longitudinal, rectangular, ocupa um corpo; frontaria E. organizada em três registos sobrepostos, separados o 2.º e 3º por faixa plana e lisa; janelas primitivas rectangulares, as contemporâneas da ocupação industrial abertas em verga curva. Interior muito alterado iluminado por janelas arquitravadas; corredor do primeiro piso com cobertura em abóbada de berço; na extremidade anexa à igreja, antiga portaria conventual, com duas divisões sobrepostas, a última em ligação com o coro-alto; caixa de escadas subsistente ligava estas dependências; a meio do corredor do 1.º piso, escadaria recta de dois tramos sob entrada em arco redondo dá acesso ao claustro; do lado da portaria antes das escadas, corredor de acesso a compartimento quadrado de pé-direito duplo, com antecâmera abobadada, antiga sala do capítulo. Claustro: fachadas de 3 panos e 2 registos sobrepostos; panos divididos por pilares, planos encimados por pirâmides; entre os pilares, no piso inferior, desenvolvem-se arcadas em asa de cesto; no andar superior galeria fechada com janelas rectangulares nos panos extremos e janelas quadradas envolvidas por colunatas toscanas arquitravadas nos panos centrais, beirado triplo; compõem o quadrilátero claustral, na ala O., de S. para N., um espaço talvez dispensa, cozinha, sala de ante-refeitório e refeitório; nas alas S. e N. espaços difíceis de identificar, talvez oficinas e outros. Coberturas em galerias, abóbada rebaixada de arestas; ante-refeitório com abóbada de barrete de clérigo com nervuras nos ângulos; refeitório, sala abobadada com 5 tramos, sendo os extremos em meio barrete de clérigo com nervuras semelhantes às anteriores; as salas são de pé-direito duplo e azulejos de enxaquetados em azul e branco, formando silhares. A O. entre o claustro e a igreja apenas terreno livre. Fachada N. do convento reflecte a inclinação do terreno; no registo inferior da extremidade do dormitório, existe porta de acesso ao corredor; acima da porta, em cada registo abrem-se 2 janelas rectangulares; seguem-se, em direcção à ala claustral, vãos mais pequenos; a meio da ala do claustro, um portão de abertura recente dá acesso ao seu interior. A fachada O. do convento corresponde à ala O. do claustro; é de acesso praticamente impossível; dobrando a esquina, a cornija que percorre o edifício abaixo do beiral, desaparece, ao fim de metro e meio, dando origem a beirado triplo, que se prolonga até ao extremo da ala.

Acessos

Rossio de Santa Clara; encontro da Calçada de Santa Isabel, Estrada da Guarda Inglesa e Avenida João das Regras.

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 612/2020, DR, 2.ª série, n.º 203/2020 de 19 outubro 2020 / Incluído na Zona Especial de Protecção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova (v. PT020603160003 )

Enquadramento

Urbano, adossado, implantado no sopé da colina de Santa Clara frente ao Centro Histórico da cidade, na margem esquerda do Mondego, a salvo das cheias, disfruta extensas vistas panorâmicas sobre a cidade, em harmonia com o meio envolvente constituído pelo casario baixo de habitação e o conjunto conventual de Santa Clara-a-Nova (v. PT02060316003 ). Adossado a S. à Capela de Nossa Senhora da Conceição forma volumetria escalonada, vista de E. Na encosta, atrás da ala N. do convento, encontra-se pequena ermida envolta pela vegetação que deixa apenas visualizar parte da mesma *1. Na proximidade implantam-se o Mosteiro de Santa Clara -a Velha (v. PT020603160002 ), o Portugal dos Pequenitos e a Quinta das Lágrimas (v. PT02060316034 ).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: edifício multiusos *4 / Religiosa: igreja

Propriedade

Pública: municipal / Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Carrilho da Graça (1998); Francisco Fernandes (provável autor, conimbricense). CARPINTEIRO: Mestre André (1537). MESTRE DE OBRAS / PEDREIRO: Isidro Manuel (provável director da construção).

Cronologia

Cerca de 1217 - primeiros franciscanos chegam a Coimbra, instalando-se em Santo António dos Olivais, na ermida de Santo Antão; 1247 - 1248 - início da construção do primeiro convento de São Francisco, junto à ponte, do lado de Santa Clara; 1269 - corriam ainda as obras, a expensas de D. Constança Sanches, filha natural de D. Sancho I; 1362, 20 fevereiro - sagrada a igreja por D. Vasco, arcebispo toletano; 1537, 17 - 24 novembro - o carpinteiro Mestre André, do Porto, compromete-se a fazer o coro do convento; 1602, 2 de maio - lançada a primeira pedra do convento, pelo bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco, na falda do monte da Senhora da Esperança, afastado das águas do Mondego; 1602, 28 de Outubro - concedido alvará aos eremitas, prorrogado por outros, para pedir esmola para a construção do convento ; 1609, 29 novembro - frades passam para o novo convento; 1694, 14 abril - contrato com João de Azevedo para a feitura do retábulo-mor, por 110$000; séc.19 - após extinção das ordens religiosas convento e cerca arrematados por particular; 1854 - igreja foi sede da nova freguesia de Santa Clara durante 30 anos; 1875 - igreja desafectada vendendo-se retábulos e mobiliário; José Vitorino Botelho de Miranda instala em parte do edifício conventual, fábrica de massas alimentícias; 1888 - começa a laborar a Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, que ocupa o convento mais de um século e deixa marcas da aplicação do vapor à indústria têxtil, a chaminé, e o descaracteriza; séc.20 - cenário de peças de teatro e sala de exposições; 1995 - adquirido pela Câmara Municipal de Coimbra, por 30 000 contos para centro de congressos com espaço polivalente para 1 500 pessoas, salas de exposições, estacionamento em cave, possui boa acessibilidade próximo do nó da auto - estrada de Taveiro. Pensa-se devolver a igreja à Diocese de acordo com deliberação de 1993; 1998 - encontra-se a decorrer o concurso , entre os arquitectos seleccionados Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça, Fernando Távora e Reichen & Robert, Architectes / Mário Bento, para o projecto de recuperação e ampliação do convento, construindo-se o auditório a N. da igreja, um jardim formal no terreno a N. e um espaço público fronteiro entre aquele e a rua. Inclui ainda a construção da variante à Av. João das Regras / Pedestrianização do eixo da Ponte de Santa Clara - Convento, estacionamento / silo automóvel e remate do parque desportivo; 2016, 06 abril - abertura do espaço ao público, após obras de remodelação, conforme projeto de Carrilho da Graça; 2017, 31 agosto - publicação do Anúncio de abertura do procedimento de classificação do edifício, em Anúncio n.º 152/2017, DR, 2.ª série, n.º 168/2017; 2019, 01 julho - publicação do Projeto de decisão relativo à classificação da igreja como Monumento de Interesse Público, em Anúncio n.º 119/2019, DR, 2.ª série, n.º 123/2019.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes; estrutura mista

Materiais

Alvenaria de pedra e tijolo rebocada e caiada (estrutura); pedra (cantarias); telha (cobertura exterior); alvenaria e pedra (tectos); azulejo cerâmico, madeira, ferro e vidro.

Bibliografia

BORGES, Nelson Correia, Coimbra e Região, Lisboa, 1987; BRANDÃO, Domingos de Pinho - Obra de talha dourada, ensamblagem e pintura na cidade e na Diocese do Porto - Documentação. Porto: Diocese do Porto, 1984, vol. I; DIAS, Pedro, Coimbra. Arte e História, Porto, 1983; GONÇALVES, A. Nogueira, Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, 1947; Jornal de Notícias, Porto, 16.07.1995, p.27; MENDES, J. Amado, Para a história da indústria em Santa Clara, Munda, N.º 2, Novembro de 1981; PIMENTEL, António, As empresas artísticas do bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco, Mundo da Arte, N.ºs 8-9, Julho/Agosto de 1982.

Documentação Gráfica

CMC: APOT *6

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA; Associação de Reitores dos Santuários de Portugal / Paulinas

Documentação Administrativa

CMC: APOT

Intervenção Realizada

2013 - Encontra-se prevista a requalificação do espaço público compreendido entre a Ponte de Santa Clara e o Rossio de Santa Clara, incluindo a execução de duas rotundas, de modo a estabelecer os dois sentidos de trânsito na Avenida da Guarda Inglesa, para acesso ao parque de estacionamento periférico do Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de S. Francisco; Obras de conservação e adaptação do edifício a Centro de Congressos de Coimbra.

Observações

*1 Supomos ser a Ermida que Nogueira Gonçalves refere no Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Coimbra, onde transcreve o letreiro que encontrou sobre a entrada, dentro de um triângulo: O. A. / S.I. BT / . 1624, julgando tratar-se de oratório a São João Baptista; *2 Por não ter sido facultado acesso ao interior da igreja, a descrição do seu interior baseia-se em bibliografia consultada e leitura das plantas. O coro-alto por ter acesso pelo interior do convento, foi possível visitar; *3 Na verga da porta central lê-se: ESTAS OBRAS. SE. FIZERÃO. CÕ. ESMOLAS. DOS . FIEIS. XPAÕS; Na da porta esquerda: EM 2 DA MAIO DE 1602 SE LANÇOU A 1ªPEDRA NESTE EDIFÍCIO; na da direita: EM 29 DE NOVEMBRO DE 1609 SE PASSARAM OS RELIGIOSOS PARA ESTE CONVENTO (leitura de GONÇALVES, 1947; transformámos em maiúsculas as 2 últimas frases do autor); *4 - encontra-se em obras de adaptação a Centro de Congressos de coimbra; *5 - Ao contrário do usual nos edifícios monásticos, não foram construídas a sacristia e sala do capítulo entre a igreja e o claustro; deveriam ocupar a faixa ocidental do terreno livre. A sala do capítulo funcionou na ala do dormitório, em sala de planta quadrada e pé direito duplo, com acesso pelo corredor do piso inferior e antecedida por câmara abobadada, próxima do acesso ao piso térreo do claustro; foi-nos impossível localizar a sacristia; *6 - Câmara Municipal de Coimbra - Assessoria de Planeamento e Ordenamento do Território - existem plantas do existente, que podem adquirir-se através de requerimento, a efectuar na Secção de Reprografia; *7 - Existe na CM projecto de recuperação do convento para Centro de Congressos e tratamento da área ribeirinha envolvente, publicado no Diário da República, III Série de 80.02..1996, e no Jornal Oficial das Comunidades em 09.02.1996. A Diocese tem projecto de recuperação da igreja para paroquial de Santa Clara, função que já teve e que agora se realiza na capela vizinha de Nossa Senhora da Conceição.

Autor e Data

Francisco Jesus 1997

Actualização

Filomena Bandeira 2002 / mikos (Contribuinte externo) 2013
 
 
 
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