Igreja Paroquial de Mangualde / Igreja de São Julião

IPA.00004232
Portugal, Viseu, Mangualde, União das freguesias de Mangualde, Mesquitela e Cunha Alta
 
Igreja paroquial românico-gótica, maneirista, barroca, neogótica. Elementos românico-góticos patentes na série de onze cachorros fitomórficos, zoomórficos e geométricos, no portal lateral em arco quebrado, nos dois vãos entaipados, em arco pleno, na fachada N., blocos com siglas de canteiros na fachada S.. Torre campanário com frontão semi-circular, portais das capelas laterais com pintura marmoreada, ladeados de pilastras e encimados por frontões interrompido e de aletas, Sacristia, Casa da Fábrica e Capela de Jesus, de estrutura maneirista. Retábulos de talha barroca na capela-mor, da primeira fase do Estilo Nacional, com as espirais das colunas pseudo-salomónicas a prolongarem-se nas arquivoltas unidas no sentido do raio e predominância da folha de acanto. Altares laterais de estilo Joanino com colunas salomónicas decoradas com grinaldas, sanefas e plumas. Frontaria revivalista neogótica com vãos em arco quebrado. Azulejos polícromos de produção sevilhana, no século 16, junto ao altar-mor.
Número IPA Antigo: PT021806100009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal, de dois rectângulos justapostos. De massa horizontalista, composta pelos volumes da nave única, capela-mor, campanário a S., Sacristia, Casa da Fábrica e Capela de Jesus adossados a N.. Cobertura homogénea de telhado a duas águas, prolongado sobre dois corpos da fachada N., e independente a uma água sobre a Sacristia. Fachada principal voltada a O., sem embasamento, rasgada por portal de arco quebrado. Remate em empena com cruz no topo. Adossado a S., com pilastra, campanário com cruzeiro encostado, encimado por dois vãos sineiros em arco pleno rematados em frontão semi-circular. Fachada S. com pequeno corpo paralelepipédico do campanário, coberto por terraço com platibanda, com escada e pequena porta rectangular a E., de acesso ao coro. Pano de parede da nave com porta rectangular à esquerda, sobre o terraço. Ao centro portal de arco quebrado de moldura chanfrada, denominada Porta do Sol; um pouco acima série de onze cachorros decorados com motivos vegetalistas, zoomórficos e geométricos; remate em cornija; pano da capela-mor com uma janela de moldura rectangular, ladeada de duas frestas e rematado por cornija. Fachada E. cega, com remate em empena. Fachada N. tem, no pano da capela-mor, uma fresta. No corpo saliente da Sacristia, uma porta e uma janela de molduras rectangulares a E.. O volume correspondente à Capela de Jesus com duas frestas e o corpo da Casa da Fábrica com uma porta e uma janela de molduras rectangulares. Pano da nave rasgado por uma janela de moldura rectangular. Remates em cornija. INTERIOR iluminada por uma janela a O. e outra a N., pavimentada de lajes graníticas e coberta por um tecto de madeira com travejamento e asnas à vista. A O., coro-alto de madeira apoiado em duas colunas de pedra sobre pias na parede N.. Vão em arco de volta perfeita, correspondente ao baptistério, gradeado. Púlpito quadrangular de madeira sobre base pétrea. Vão em arco de volta perfeita, de acesso à Capela de Jesus, com portal pétreo de pintura marmoreada, ladeado de pilastras e rematado em frontão interrompido, tendo, ao centro, cartela com hóstia e monograma IHS. Na parede S., outro arco semelhante, encimado por cornija e frontão de aletas a ladear nicho vazio sob frontão angular, enquadra um vão correspondente à antiga capela da Senhora do Rosário, onde está uma imagem do Senhor dos Passos. A ladear o arco triunfal, de volta perfeita, dois altares de mesa de urna e dois retábulos de talha branca e dourada compostos por pares de colunas salomónicas decoradas com grinaldas de rosas, a enquadrar nichos com imagens de Santo António, no lado da Epístola, e Nossa Senhora com o Menino, no oposto. Ambos são encimados por baldaquinos com sanefas, volutas, cabeças de anjo e plumas. Capela-mor de pavimento mais elevado, provido de degraus, iluminada por três vãos a S. e um a N.. A parede E. é totalmente revestida por um retábulo de talha dourada de quatro colunas laterais pseudo-salomónicas que se continuam nas arquivoltas de arco pleno, unidas no sentido do raio, e enquadram camarim decorado com folhas de acanto, onde está um trono com uma imagem de São Julião. É decorado com folhas de acanto, cabeças de anjos, parras, cachos de uvas e querubins. O sacrário é decorado com colunas salomónicas ornamentadas de parras, putti, cabeças aladas, aves a debicar uvas e, na porta, um relevo polícromo da Ressurreição. A ladear o altar-mor há faixas de azulejos polícromos. Nas paredes laterais, cinco grandes tábuas de pintura, emolduradas em talha dourada, que revestem a meia altura as paredes. Falsa abóbada de berço, de madeira, apainelado com molduras e florões dourados, integrando 18 pinturas sobre tábuas, representando os Apóstolos, os Doutores da Igreja, Nossa Senhora com o Menino e São Julião, tendo, no friso central, cruzes da Ordem de Cristo. Na parede N., uma porta de acesso à Sacristia que possui tecto de masseira, um arcaz de castanho e lavabo granítico. No adro, junto à fachada S., duas sepulturas monolíticas de perfil antropomórfico.

Acessos

Rua da Igreja

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 31/83, DR, 1.ª série, n.º 106 de 09 maio 1983 (Igreja) / Decreto n.º 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 dezembro 1997 (amplia a classificação ao adro e cruzes *1)

Enquadramento

Urbano. Isolada no extremo N. do aglomerado, implantada num socalco plano produzido numa encosta em declive para NO.. Pouco destacada, circundada por adro murado com árvores rodeado por arruamentos e algumas casas de habitação recentes.

Descrição Complementar

O cruzeiro que se encosta ao campanário na fachada O. possui a inscrição: AQUI HE O / PRETORIO / DE PILATOS I, que assinala a primeira estação da Via Sacra mandada fazer por Miguel Pais do Amaral e que percorria a Vila. Os blocos de pedra da fachada S., até à linha dos cachorros, possuem marcas de pedreiro. Daí até à cornija, a pedra é mais recente, revelando um alteamento, notando-se ainda várias irregularidades na colocação das pedras, acrescentos e o entaipamento de uma porta na fachada N.. Na parede exterior da capela-mor, do lado S., está uma pedra de armas com a empresa figurada de Fernão Cabral, uma prensa (reaproveitamento). Em frente à Porta do Sol, três sepulturas antropomórficos escavados na rocha, amostra da necrópole medieval, descoberta em redor da igreja.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Viseu)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 / 17 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADOR: Manuel Dias de Araújo (1750). IMAGINÁRIO: Frei Francisco (1750). PEDREIRO: António Lourenço (1844). PINTORES: António Vieira (1635). Miguel Xavier Merciera (1843).

Cronologia

1103 - Pedro Sernandes doa o Mosteiro de São Julião, fundado no séc. 11, à Sé de Coimbra e a igreja transforma-se na matriz paroquial; séc. 13 / 14 - a igreja é reconstruida; 1462 - D. Afonso V faz mercê do padroado a Fernão Cabral, confirmada aos seus descendentes em 1496, 1509, 1520 e 1529; 1517 - a igreja torna-se comenda da Ordem de Cristo; séc. 16, 2ª metade - fazem-se os arcos das capelas laterais; séc. 17 - construção do campanário e da cruz defronte; 1635 - António Vieira executa as pinturas do retábulo da capela-mor *2; 1668 - começam as obras de alteamento do corpo da igreja; 1669 - continuam as obras e Manuel Osório de Amaral manda pintar e dourar os retábulos colaterais; 1673 - a guarnição do retábulo da capela-mor está danificada; 1686 - o ouro do retábulo necessita de restauro; 1690 - obras de remodelação e nova benção da capela-mor; 1707 - o novo retábulo foi recusado e decide-se fazer outro; 1709 - contrato para execução do retábulo; o forro da igreja ameaça ruir; faz-se o tecto apainelado e revestem-se as paredes laterais da capela-mor com talha; 1723 - o novo retábulo está concluído; nas paredes laterais colocaram-se as pinturas do primeiro retábulo; 1745 - o pavimento precisa de obras; 1747 - o corpo da igreja está degradado e todo escorado; 1750 - contrato com Manuel Dias de Araújo para novo retábulo para o altar de Santo António, segundo traça de Frei Francisco, residente em São Francisco de Orgens, obra arrematada por 65$000 réis; 1751 - escritura pública para construir nova igreja, o que não é concretizado e o dinheiro aplicado na reedificação; 1758, 9 Junho - nas Memnórias Paroquiais, assinadas por José Ribeiro de Mesquita, refere que a igreja era do padroado apesar da existÊncia de "humas armas que se acham esculpidas em pedra na capella mor da mesma Igreja mostra ser antigamente do Padroado da Caza de Belmonte"; a povoação tinha 509 vizinhos e a igreja tinha sete altares, o mor, com o Santíssimo Sacramento, Santo António, Menino Jesus, Senhora do Rosário, Santos Reis, Santo Cristo e Senhora da Graça; o vigário recebia 400$000 de côngrua; 1777, 18 Janeiro - o mestre António da Costa Faro arrendou por 825$000 a terça dos rendimentos da igreja; 1838 - a fachada principal e o coro-alto desmoronam; 1841 - início da reedificação da frontaria e parte da fachada S.; 1843 - várias obras de reconstrução: madeiramento e parede N. da capela-mor, caiação de paredes, consertos nos altares, na capela do Sacramento, no tecto da Sacristia, no altar-mor, pavimentos e telhados; Miguel Xavier Merciera retoca os quadros da Sacristia; pintura do arco triunfal; 1844 - obra do coro-alto e acessos; desaparecem seis altares laterais do séc. 18; António Lourenço faz a escadaria e muro do adro; 1857 - novo forro de pinho e consertos dos telhados; 1980 - aparece uma sepultura monolítica antropomórfica, a S. da igreja; a parede N. estava abaulada e o tecto da capela-mor ameaçava ruir; 1982 - escavação de parte do adro, descobrindo-se a necrópole medieval com quarenta e quatro sepulturas, as quais foram novamente ta+adas, deixando-se a descoberta três delas; 1987 - encerramento da igreja, o que acelera o processo de degradação.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Paredes e campanário de alvenaria granítica de aparelho regular; cobertura exterior de telha; pavimentos de lajes graníticas; púlpito e arcos das capelas de cantaria granítica polícroma marmoreada; colunas e pias de água benta de cantaria granítica; coberturas interiores e coro-alto de madeira.

Bibliografia

SILVA, Valentim da, Concelho de Mangualde ( Antigo Concelho de Azurara da Beira ), Porto, 1945; ALVES, Alexandre, A Igreja de S. Julião de Azurara, Matriz de Mangualde, Mangualde, 1990; Mangualde Restaura Igreja Matriz, in Diário de Notícias, 18 Out. 1992, p.27; Igreja Matriz de Mangualde Preserva 900 Anos de História, in Jornal de Notícias, Porto, 28 Out. 1992; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, vols. I e III, Viseu, 2001.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; DGA/TT: Dicionário Geográfico (Memórias Paroquiais, vol. 22, fl. 289)

Intervenção Realizada

1934 - restauro da igreja e douramento dos retábulos dos altares colaterais; limpeza e encarnamento das esculturas; 1982 - escavações no adro, dirigidas por Nunes Pinto da Universidade de Coimbra, põe a descoberto 44 sepulturas antropomórficas dos sécs. 12 a 17; 1983 / 1984 / 1985 - obras de conservação de exteriores e recuperação de coberturas; 1990 - apeamento do tecto da capela-mor em ruína e eminente queda; DREMC: 1991 - restauro da cobertura da capela-mor e da estrutura de madeira; substituição do telhado da capela-mor; 1992 / 1993 / 1994 / 1995 - restauro do retábulo do altar-mor, desmontagem e restauro dos painéis pintados do tecto, talha e pinturas das paredes laterais da capela-mor, numa acção da CMM, ACAB, DGEMN e paróquia local; 1992 - restauro de coberturas interior e exterior da nave e capelas anexas; 1993 / 1994 - conclusão do restauro das coberturas, picagem de rebocos interiores; desentaipamento de vãos e escavações arqueológicas na sacristia; reconstrução do degrau do arco triunfal, vidraças, caixilhos e grades nas janelas, limpeza de paredes, pintura de portas, nivelamento do pavimento; construção do novo tecto de madeira da sacristia; conclusão da Casa da Fábrica; restauro das 18 pinturas que ornam a capela-mor; 1998 - reparação das coberturas; 2000 - execução de pavimento em pedra na sacristia.

Observações

*1 - DOF...: Igreja de São Julião, matriz de Mangualde, incluindo o adro e a Via-Sacra (as 10 cruzes ainda existentes), quatro cruzes no adro da Igreja de São Julião, quatro cruzes a caminho da Misericórdia, dentro do prolongamento do adro e a nascente da referida Igreja, e as duas últimas, uma na Misericórdia e outra na Avenida de Salazar, integrada na parede norte da cerca do Palácio do Conde de Anadia, Mangualde, freguesia de Mangualde, município de Mangualde, distrito de Viseu; o decreto de 1997 deu nova redacção à designação do imóvel. *2 - destas pinturas, mantêm-se cinco nas paredes da capela-mor e uma, representando uma "Adoração dos Magos" no Seminário Menor de Fornos de Algodres.

Autor e Data

Madeira Portugal 1991 / Lina Marques 1995

Actualização

Lúcia Pessoa 2005
 
 
 
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