Palácio da Quinta da Bacalhoa em Vila Fresca de Azeitão

IPA.00004085
Portugal, Setúbal, Setúbal, União das freguesias de Azeitão (São Lourenço e São Simão)
 
Palácio renascentista. Subsistem abóbadas de perfil gótico, integradas no corpo NO. (RASTEIRO, 1898); espírito renascentista na concepção do conjunto palácio-jardim, na regularidade da planta e na composição dos alçados rasgados por loggias, com medalhões com bustos esculpidos. Exemplar único de quinta de recreio quinhentista. construção singular pela coerência entre o palácio e o espaço exterior, constituindo um todo no qual se conjugam princípios estéticos de expressão mudejar e renascentista. O Palácio, a mata, os jardins e pomar formam um espaço coerente animado pelas casas de fresco, o tanque, os revestimentos de azulejo. Espólio azulejar incontornável para o conhecimento da azulejaria do 3ºquartel do séc. 16.
Número IPA Antigo: PT031512060005
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palácio  

Descrição

Palácio - planta composta, 2 rectângulos unidos em "L", a que se adossam, nas extremidades e no ângulo, 3 cubelos de planta circular; os volumes articulados dos 2 corpos prismáticos com coberturas diferenciadas em telhados de 4 águas, os cubelos cobertos por cúpulas gomadas. Corpos de 2 andares, cubelos de 3; fachadas nobres delimitadas pelos cubelos adossados às arestas: a que deita para o pátio (corpo NE.) centrada por escada de acesso ao 2º piso, em 2 lanços opostos, sobre arco redondo rasgado no 1º, com janelas de sacada encimadas por nichos, no 2º piso; as paredes da escada são revestidas de azulejo hispano-árabe. A fachada que deita para o pomar e vinhas (corpo NO.) rasgada assimetricamente por arcadas toscanas sobrepostas, com medalhões e bustos nas enjuntas, (de 3 arcos sobre pilares, no 1º piso, de 6 arcos sobre colunas cilíndricas, no 2º), por frestas no 1º e janelas de sacada com nichos sobrepostos no 2º. As fachadas opostas deitam para um jardim com buxo recortado: uma galeria de 6 arcos toscanos sobre colunas rasga simetricamente o 2º piso do corpo NE., ladeada por janelas de sacada; frestas e janelas de sacada rasgam o corpo NO. Casa de fresco - planta composta por 3 torreões quadrados unidos por 2 galerias rectangulares; telhados piramidais sobre os torreões, de 2 águas sobre as galerias; estas abrem para o tanque por arcadas toscanas sobre colunas; 2 janelas de sacada nos torreões laterais, um portal rusticado no central. A Quinta possui uma vasta colecção de azulejos: painéis de composição figurativa, polícromos, representando a personificação de rios na galeria SO. do palácio; painel figurando "Susana e os Velhos" a par de outros na torre central da casa do tanque, e painel representando "O rapto de Europa" no espaldar de um banco do jardim. No terrapleno superior, entre o Palácio e a casa de fresco e entre esta e a casa da Índia, são ainda visíveis nichos, bancos e alegretes revestidos de azulejo. *2. Sobre as portas de comunicação interna da casa de fresco nichos vazios com legendas alusivas às virtudes.

Acessos

EN 10 de Setúbal para Vila Fresca de Azeitão

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DG, 1.ª série, n.º 174 de 29 julho 1949

Enquadramento

Rural, isolado, implantação harmónica. Insere-se no extremo E. da Quinta do mesmo nome, (v. PT03151206025) dentro de uma cerca de planta quadrangular, intercalada por cubelos cilíndricos com cúpula gomada e rasgada por 3 portões; o principal abre-se a S., em portal rusticado, encimado pelo brasão dos Albuquerque, para um pátio quadrado para o qual deita a fachada NE. do palácio e uma galeria fronteira de 13 arcadas toscanas sobre colunas. O terreno intramuros, com c. de 4 ha, mostra 2 terraplenos: um superior na metade S., em que está implantado o Palácio, o tanque e a casa de fresco (encostada à cerca, a S.) o jardim, o pomar e uma vinha, um inferior na metade N., com outra vinha, separado do superior por 2 pavilhões quadrados (Casa da Índia e das Pombas) junto à cerca e um cubelo cilíndrico a meio do muro de suporte.

Descrição Complementar

AZULEJO: espólio único, da 2ª metade do séc. 16, constituido por azulejo de padrão, azulejo hispano-árabe (já com motivos ornamentais renascentistas), painéis de azulejo de composição figurativa ilustrando cenas bíblicas, mitológicas ou alegóricas. LOGGIA que dá para o jardim: 5 painéis de composição figurativa; temática: personificação de rios; policromia: azul, amarelo, verde, manganés; 7 x 13 azulejos; painel 1: Douro; painel 2: Mondego; painel 3: Nilo; painel 4: Eufrates; painel: Danúbio. PÁTIO de acesso à Casa do Lago (dito Casa do Tanque): bancos e muretes revestidos de azulejo de composição ornamental de gosto maneirista e inspiração flamenga: grotescos, "ferroneries", cartelas, carrancas, faunos, motivos vegetalistas. CASA DO LAGO: paredes das 3 torres e das 2 galerias totalmente revestidas de azulejo de padrão; 3 painéis de composição figurativa: painel 1: Rapto de Hipodémia; painel 2: Susana surpreendida pelos velhos; painel 3: rio Tejo; policromia: azul, amarelo, verde, manganês. Todas as salas da Casa do Lago (torres e galeria) têm rodapé de azulejo (1 fiada) de composição ornamental: grutescos, pássaros, macac os, esfinges, enrolamentos vegetalistas; sob os nichos que se encontram por cima das portas de acesso aos compartimentos, azulejos com a inscrição alusiva à figura que se encontrava no nicho: Justiça; Prudência; Temperança; Fortaleza. JARDIM: Canteiro de flores com revestimento de azulejo de composição ornamental e figurativa: policromia: amarelo, verde, azul, manganês; espaldar do canteiro: temática: Rapto de Europa; 5 x 17 azulejos; paredes do canteiro: motivos ornamentais: carrancas, volutas, elementos vegetalistas; MURETES e CONVERSADEIRAS: azulejo hispano-árabe.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Francisco de Matos, pintor de azulejos *3; Diogo Torralva (atrib.)

Cronologia

Séc. 15, finais - Séc. 16, inícios - construção do palácio e cerca por D. Brites, filha do infante D. João, mestre de Santiago, mulher do infante D. Fernando, mãe de D. Manuel, influenciada por artistas italianos e integrando construções mais antigas, ainda de cunho gótico (RASTEIRO, 1898); 1528 - 1554 - alterações significativas italianizantes introduzidas após a compra por Brás de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque (MARKL, 1986); 1565 - data painel de azulejos "Susana e os Velhos"; 1609 - casamento da detentora do morgado, D. Maria de Mendonça e Albuquerque, com D. Jerónimo Manuel, por alcunha "o Bacalhau", ao qual se liga a designação "Bacalhoa"; 1631 - a descrição mais antiga da quinta refere " casas (...) com varandas de todas as partes e casas e muitas salas, camaras, recamaras, postas de parte do norte e do levante, ficando a quinta e pomar com seus jardins da parte sul e poente. Tem mais estas casas cubellos nos três cantos que se fazem para fora contra o norte (...) e na entrada que está em um pateo muito grande e com seus portais, cerrado de muro, em que se correram e podem correr touros, está uma escada toda de pedraria com uma volta, toda com seus balaústres de mármore, que forma a entrada da primeira sala. Tem mais duas varandas com seus arcos de jaspe e columnas do mesmo, uma parte para a banda poente e outra para o norte com as suas grades de ferro até ao meio, com seus azulejos até meio das paredes. Há um pateo defronte das ditas casas cercado de muro com dois meios cubellos, com duas portas por que se entra e sae à estrada publica. Na parte nascente tem uma varanda de columnas de jaspe que serve entre as casas terreas e gasalhadas de creados e tem um chafariz de agua e uma parede de banda norte. Possui também jardim e um pomar...."; 1730, a partir de - sob a admnistração de D. Francisca de Noronha; 1767 - D. José esteve aqui instalado com a Corte e ministros; 1888 - visitada por D. Carlos e D. Amélia; 1903 - compra do palácio por D. Carlos à família Mesquitela, descendente dos Albuquerques; 1910, 16 junho - decreto classifica apenas o palácio da Bacalhoa; 1924 - palácio e quinta muito arruinados (tinha desaparecido a galeria virada a SO.) (PROENÇA, 1924); 1929 - 1937- Orlena Scoville, americana, compra a quinta e faz importantes obras de restauro a cargo do arquitecto Norte Júnior e do engenheiro hidráulico Santos Simões; 1996, 06 março - decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56, altera a designação para palácio e quinta da Bacalhoa; 13 maio - declaração de retificação n.º 10-E/96, DR, I série-B, n.º 127, retifica o distrito indicado no diploma de classificação anterior; 13 novembro - Portaria n.º 255/96, DR, 1.ª série, n.º 263, amplia a Zona Especial de Proteção à quinta; 1997 - Thomas Scoville, neto de Orlena Scoville e proprietário do Palácio e quinta põe o conjunto à venda; 2000 - o palácio e quinta são comprados por Joe Berardo, através da Sociedade Anónima Matiz S.A. São realizadas várias obras, nomeadamente no jardim, suscitando grande polémica.

Dados Técnicos

Estruturas autoportantes e mistas.

Materiais

Cantaria e alvenaria de pedra, telha cerâmica, azulejo, madeira, vidro.

Bibliografia

RASTEIRO, Joaquim, Quinta e Palácio da Bacalhoa em Azeitão, Lisboa, 1895,1898; PROENÇA, Raul, Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, 1924; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. 3, Lisboa, s.d; AZEVEDO, Carlos de, Solares portugueses, Lisboa, 1969; ALMEIDA, António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; MARKL, Dagoberto, O Renascimento in História da Arte em Portugal, Vol. 6, Lisboa, 1986. BINNEY, Marcus, Casas Nobres de Portugal, Lisboa, 1987; STOOP, Anne, Demeures portugaises dans les environs de Lisbonne, Histoire et Décor, Lisboa, Weber Civilização, s.d.; SIMÕES, J.M. dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séc. 15 e 16, Lisboa, 2ªed. 1990; CORREIA, Ana Paula Rebelo, Contribuição para o estudo das Fontes de Inspiração dos azulejos figurativos da Quinta da Bacalhoa, in AZULEJO, nº 2, Lisboa, 1992; CALADO, Margarida, Azeitão, Lisboa, Ed. Presença, 1993; STOOP, Anne, A arte de viver em Portugal, Lisboa, Ed. Civilização, 1994; DIAS, Pedro, Arquitectura Mudéjar Portuguesa: Tentativa de sistematização, Mare Liberum, nº 8, Dezembro de 1994; CARAPINHA, Aurora, Para que serve o IPPAR?, in Jornal Público, 14.7.2001; CALADO, Luís Ferreira, PEREIRA, Paulo, LEITE, Joaquim Passos, O IPPAR serve para muita coisa, in Jornal Público, 20.7.2001; RIBEIRO, Fernanda, Obras da Bacalhoa levam a queixa-crime por danos qualificados ao património, in Jornal Público, 25.7.2001; Quinta da Bacalhoa, in Jornal Público (Destaque), 27.7.2001 (inclui depoimentos dos arquitectos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles, João Gomes da Silva, Leonor Cheis);

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN / DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID; Arquivo Pessoal de Ilídio Alves de Araújo (IAA); DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN / DSARH / DRMLisboa / DSID

Intervenção Realizada

Proprietário: 2000 - No jardim, substituição do laranjal que se desenvolvia no segundo patamar por plantação extensiva de vinha; 2002 - construção de uma nova vedação.

Observações

*1 - Estes outrora possuiam estátuas e eram revestidos por azulejos; os muros eram coroados por pirâmides e esferas armilares e decorados com medalhões cerâmicos com bustos, tipo "della Robbia" (RASTEIRO, 1898); *3 - Em 1924 ainda era visível a assinatura de Francisco de Matos no painel "Susana e os Velhos" (RASTEIRO, 1898). Em 1992 existiam, arrumados em caixotes na dita Casa das Flores, vários azulejos provenientes dos frisos que faziam a ligação tecto-paredes da Casa do Lago. São azulejos de composição figurativa, representando brincadeiras infantis, paisagens, cenas com macacos, cenas marítimas com sereias e monstros marinhos. Quase todos os azulejos estavam partidos excepto alguns conjuntos colocados pela Sra Scoville em "quadros" com moldura de madeira e fundo de cimento.

Autor e Data

Isabel Mendonça 1992 / Paula Correia 2001

Actualização

Cecília Matias 2002
 
 
 
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