Aeródromo das Flores / Aeroporto da Ilha das Flores

IPA.00036398
Portugal, Ilha das Flores (Açores), Santa Cruz das Flores, Santa Cruz das Flores
 
Aeroporto construído na década de 60 do séc. 20, com financiamento do governo francês, constituindo uma das várias infraestruturas consideradas necessárias ao bom funcionamento da Base Francesa instalada na ilha das Flores, aberto ao tráfego civil em 1972, e que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da ilha. Na sequência da assinatura do Acordo Luso-Francês, em abril de 1964, durante a Guerra Fria, Portugal concedeu à França uma série de facilidades nas ilhas dos Açores, nomeadamente na das Flores para instalação de equipamentos essenciais ao cumprimento do seu programa de desenvolvimento tecnológico de mísseis. De facto, a instalação de uma Estação de Telemedida determinou a construção e o melhoramento de uma série de infraestruturas, e apesar de, inicialmente, não ter sido previsto um aeródromo nas Flores, por se pensar que o aeroporto de Santa Maria seria suficiente, a verdade é que acabou por se considerar indispensável ao transporte de pessoas e materiais, já que a ligação marítima era irregular, morosa e muitas vezes perigosa. Após a insistência de Portugal para que a solução adotada permitisse a sua posterior abertura à aviação civil, a construção do aeródromo decorreu entre junho de 1967 e 1968, pela Direção Geral da Aeronáutica Civil, abrindo ao tráfego aéreo militar francês por volta de janeiro de 1969. Em 1970 possuía uma plataforma de estacionamento provisória, mas ainda não tinha torre de comando, sendo essa funcionalidade garantida por um edifício preexistente. A abertura ao tráfego civil ocorreria em outubro de 1972, tendo implicado a construção de outras estruturas, nomeadamente de uma aerogare. Esta foi posteriormente ampliada, sobretudo entre 2004 e 2006, para responder ao aumento do número de passageiros e às novas exigências modernas. Atualmente apresenta planta irregular, com corpos articulados e coberturas em telhados de duas águas. As fachadas desenvolvem-se em dois pisos, rematadas em platibanda plena, tendo no corpo avançado para norte, construído entre 2004 e 2006, o segundo piso desenvolvido sobre pilares, com parque de estacionamento automóvel inferior, existindo escada de ligação entre ambos. A fachada principal, virada a nascente possui, à esquerda, vãos jacentes muito largos e estreitos, e, à direita, amplos vãos retilíneos, cobertos por pala. Em frente, dispõe-se corpo mais baixo, com estrutura em ferro envidraçada. A pista foi construída inicialmente com 950 m de comprimento, sendo sucessivamente ampliada para 1020 m, em 1969, para 1050 durante o ano seguinte, atingindo os 1400 m atuais por volta de 1992, com 18/36 de LDA (comprimento declarado como disponível e adequado para a corrida de aterragem de um avião). Dispõe-se no sentido noroeste - sudeste, com raquetes de viragem em ambas as extremidades, ligada a uma placa de estacionamento, colocada a sul da aerogare. A sudeste desta e junto à placa de estacionamento, eleva-se a torre de comando, de construção recente.
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Transportes  Aeroporto    

Descrição

Acessos

Santa Cruz das Flores, Rua da Esperança, 9970-320 Santa Cruz das Flores. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,459101; long.: - 31,131105

Protecção

Enquadramento

Urbano, isolado. Implanta-se na zona nordeste da ilha, na Fajã de Santa Cruz, a poente da vila com ambos os topos da pista próximo da costa. Em frente à aerogare ergue-se o edifício do Tribunal Judicial de Santa Cruz das Flores (v. IPA.00015937) e a nordeste da mesma, desenvolve-se parque de estacionamento, com alguns canteiros ajardinados. A pista é envolvida por espaços arrelvados.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Transportes: aeroporto

Utilização Actual

Transportes: aeroporto

Propriedade

Pública

Afectação

Época Construção

Séc. 20 / 21

Arquitecto / Construtor / Autor

FIRMAS: Archer de Carvalho (1967); ARQUIANGRA - Fiscalizações, Planeamento e Coordenação de Segurança em Obras do Setor Público e Privado (2004-2006, 2008); NRV, Consultores de Engenharia, S.A. (2018); Tecnovia Açores (2017).

Cronologia

1963, abril - a França solicita formalmente a Portugal a concessão de facilidades em ilhas dos Açores para instalação de equipamentos e infraestruturas com vista à monitorização dos ensaios dos mísseis balísticos que estava a desenvolver (FÉLIX: 2012, p. 47), com o intuito de, mantendo a colaboração com os restantes países da NATO na Guerra Fria, garantir potencial de combate e uma força nuclear capaz de afirmar a sua independência em matéria de defesa; na ilha das Flores, a França, entre outras facilidades, pretendia a instalação de uma estação de telemetria, então designada de telemedida, e de um radar; 1964, 07 abril - assinatura do Acordo Luso-Francês pelo qual Portugal concede à França determinadas facilidades nas ilhas dos Açores e são definidas as contrapartidas das mesmas, bem como a comparticipação portuguesa; 1965, 31 maio - numa reunião em Lisboa é dado conhecimento que o ministro das Forças Armadas Francesas, após sobrevoar as ilhas dos Açores, manifestou interesse na construção de um aeródromo na Ilha das Flores uma vez que, para efeito de transportes de pessoas e materiais, a ligação marítima se mostrava de utilização irregular, imprevisível, morosa e até perigosa; verão - uma equipa da Direção Geral da Aeronáutica Civil (DGAC) desloca-se à Ilha das Flores para estudar soluções para a construção de um aeródromo; 29 outubro - a Direção Geral da Aeronáutica Civil apresenta numa reunião em Lisboa estimativas para duas soluções de aeródromo na ilha das Flores, uma com pista com 800 m e outra com 1200 metros; 31 dezembro - segundo o Relatório de Gestão Financeira de 1964 a 1967, da Comissão Luso-Francesa, no final do ano haviam sido gastos com a rubrica do aeródromo 76.491$90, em despesas administrativas conjeturalmente associadas aos estudos em curso; 1966 - 1967 - a discussão sobre a solução a adotar na construção do aeródromo foi recorrente nas reuniões bilaterais, pois enquanto a França pretendia uma solução minimalista apenas de acordo com as suas necessidades, Portugal pretendia uma solução que permitisse, mais tarde, a abertura da infraestrutura à aviação civil; 1967, 21 abril - acorda-se em reunião, realizada em Lisboa, a solução para a construção do aeródromo na Ilha das Flores de uma pista com 950 metros, dos quais 915 metros revestidos em dupla camada de asfalto, raquetes em ambas as extremidades, zona de estacionamento não revestida (numa primeira fase), bermas estabilizadas de 5 metros de largura, com um custo total estimado em 25.000.000$00 (9.810.000$00 em expropriações, 12.500.000$00 na construção, 1.561.700$00 em despesas administrativas e 1.128.300$00 para imprevistos); 29 maio - as autoridades francesas dão o seu acordo à construção do aeródromo em Santa Cruz segundo a solução definida em Lisboa; junho - início da construção do aeródromo na Fajã de Santa Cruz, obra a cargo da DGAC, com o intuito de ser executada para, mais tarde, ser aberta ao tráfego civil; os terrenos foram pagos a 30$00 o m2 e as habitações a demolir a 1.500$00 o m2; os trabalhos da primeira fase da obra foram adjudicados à empresa Archer de Carvalho pelo montante global de 12.304.250$00; 17 julho - 21 julho - no âmbito das reuniões da Comissão Luso-Francesa, a delegação portuguesa informa que, devido a problemas com o realojamento de afetados pela construção da pista, alguns terrenos só estariam disponíveis em outubro; nas mesmas reuniões, a delegação francesa comunica a disposição de dar ao empreiteiro da obra do aeródromo uma bonificação de 600.000$00 se concluísse 600 metros de terraplenagens até 1 de janeiro de 1968, e outros 600.000$00 se fizesse a pavimentação dos 600 metros de pista até 1 de maio de 1968, permitindo a utilização da pista por aeronaves militares; a mesma delegação também comunica que a infraestrutura aeronáutica deveria estar concluída na totalidade, imperiosamente em 31 de dezembro de 1968, sob pena de perder o seu interesse; para fazer face aos problemas de realojamento, uma vez que as indemnizações pela demolição de habitações se mostraram insuficientes para a aquisição de terreno e construção de novas habitações, houve uma comparticipação extraordinária, nacional, de 900.000$00; 31 dezembro - segundo o Relatório de Gestão Financeira de 1964 a 1967, da Comissão Luso-Francesa, durante o ano foram gastos 14.482.139$50, principalmente em indemnizações de expropriações (7.933.068$00) e pagamentos ao empreiteiro (6.019.245$80); 1968, 15 outubro - apesar da pista do aeródromo ainda não estar concluída e ter apenas 600 metros pavimentados, é utilizada pela primeira vez, por um avião C-47 da Força Aérea Portuguesa, procedente da Base Aérea n.º 4 (Lages - Terceira), em voo de emergência sanitária, transportando uma equipa cirúrgica que salvou a vida à esposa de um militar francês ao serviço da Estação de Telemedida; o transporte feito em condições extremamente delicadas, mereceu rasgado elogio e agradecimento das autoridades francesas; assume a direção provisória do aeródromo o comandante do Porto de Santa Cruz das Flores, recentemente elevado a sede de Capitania; 1968, 31 dezembro - a Comissão Luso-Francesa, no Relatório de Gestão Financeira de 1968, refere que 600 metros de pista tinham o revestimento definitivo, 315 metros encontravam-se em trabalhos de terraplenagem e a raquete da extremidade norte estava terminada; o mesmo relatório indica que durante 1968 foram gastos 7.124.669$90, principalmente em indemnizações de expropriações (2.400.050$00) e pagamentos ao empreiteiro (4.437.475$50); é ainda feita a correção da estimativa inicial de custos da obra para cerca de 32.200.000$00 (10.767.440$00 em expropriações, 13.534.675$00 na construção da pista, 947.422$00 em despesas administrativas, 1.200.000$00 em prémios ao empreiteiro, 1.500.000$00 para restabelecimento da estrada nacional, 250.000$00 despesas suplementares com a pista e 4.000.000$00 para, numa fase posterior construir uma plataforma de estacionamento de 100 x 50 metros e alargar as zonas laterais da pista de 100 para 150 metros); é também referido que a abertura ao tráfego civil, para além de trabalhos elencados na nova estimativa, exigia ainda a construção de uma aerogare, a instalação de equipamentos rádio (VHF e HF), e a instalação de ajudas de aproximação (NDB); 1969, janeiro - data provável da abertura do aeródromo da ilha das Flores ao tráfego aéreo militar francês; setembro - encontrava-se em execução uma placa de estacionamento provisória; visto que se pretendia manter o estatuto civil do aeródromo e, por outro lado, se queria que fosse dirigido por um militar de maior patente que o chefe da equipa da Força Aérea francesa que o operava, um major, o aeródromo continuou na dependência do Comandante do Porto de Santa Cruz das Flores, oficial da Armada; decide-se proceder à ampliação da pista do aeródromo para 1020 metros, depois de dois acidentes com aviões militares franceses; 1970, 07 janeiro - segundo ofício do Ministério das Comunicações, a DGAC estava em condições de assumir a direção do aeródromo; o aeródromo contava apenas com a pista e uma plataforma de estacionamento provisória, não dispondo de torre de comando cuja funcionalidade era garantida provisoriamente num edifício preexistente; a participação nacional era, à data, de 800.000$00, especialmente para realojamento de expropriados; ainda não se encontrava aprovada a construção da torre de comando e aerogare; durante o ano a pista foi ampliada para os 1050 metros e construiu-se a raquete no topo sul; 12 novembro - ofício do Ministério da Defesa Nacional ao Ministério das Comunicações dá a entender que a DGAC fazia depender a receção do aeródromo da ampliação da pista para os 1200 metros, da construção da aerogare e da instalação de rádio-ajudas, para o que seriam necessários 19.500.000$00, ou seja, em condições do aeródromo ser aberto à aviação civil; 1971, 25 agosto - Decreto-lei n.º 365/71 cria o Aeródromo das Flores, construído ao abrigo do Acordo Luso-Francês, mas ainda vedado à aviação civil; 1972, 01 outubro - abertura do aeródromo ao tráfego civil, considerada como a data da inauguração do aeroporto; 1992, cerca - obras de ampliação da pista para 1400 metros; 1992, 13 maio - a RTP noticia o encerramento da Base Francesa das Flores realçando a importância que aquela teve, desde 1964, para o desenvolvimento da ilha; 2004, janeiro - início das obras de remodelação e ampliação da aerogare do Aeroporto da Ilha das Flores, pela ARQUIANGRA - Fiscalizações, Planeamento e Coordenação de Segurança em Obras do Setor Público e Privado, para a SATA Air Açores, S.A., no valor de 3.023.423,50 €; 2006, janeiro - conclusão da ampliação da aerogare; 2008 - construção do Edifício ANA - controlo de acessos, direção e operações na Aerogare das Flores, pela ARQUIANGRA - Fiscalizações, Planeamento e Coordenação de Segurança em Obras do Setor Público e Privado, para a ANA - Aeroportos de Portugal, S.A., no valor de 250.148,34€; 2013 - a ANA lança um concurso para melhoria das acessibilidades dentro do aeroporto, com instalação de elevadores, escadas rolantes e passadiços mecânicos, a executar nos cinco anos seguintes; 2017 - obras de requalificação da pista, compreendendo a pavimentação com misturas betuminosas a quente, trabalhos acessórios relativos aos sistemas de iluminação e controlo, pela empresa Tecnovia Açores, no valor total de 2.520.192,82€; 2018 - obras de melhoramento das condições de drenagem e de rebaixamento do nível freático dos terrenos envolventes da pista, pela NRV, Consultores de Engenharia, S.A., no valor de 490.000€.

Dados Técnicos

Materiais

Betão.

Bibliografia

CABRAL, Pedro Vasco Enes da Silveira de Sousa - O acordo Luso-Francês de 1964: A Base Francesa das Flores (1964-1977). Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais apresentada na Universidade dos Açores. Ponta Delgada: Universidade dos Açores, abril 2011 (https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/4041/1/DissertMestradoPedroVascoEnesSousaCabral2012.pdf), [consultado em 09-02-2023]; FÉLIX, Rui Jorge Botelho - Disrupções Tecnológicas e o Poder dos Açores durante a Guerra Fria. Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais apresentada à Universidade dos Açores. Ponta Delgada: texto policopiado, 2021 (https://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/6359), [consultado em 08-02-2023]; «Aeroporto das Flores». Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Aeroporto_das_Flores), [consultado em 16-02-2023]; Arquiangra, Arquitetura e Engenharia, Ld.ª - Portfólio. Fiscalizações, Planeamento e Coordenação de Segurança em obras do Setor Público e Privado (http://www.arquiangra.pt/fiscalizacoes.pdf), [consultado em 16-02-2023]; «NRV - Aeroporto das Flores. Drenagem da envolvente» (https://www.nrv-norvia.com/pt/projetos/aeroporto-das-flores-drenagem-da-envolvente), [consultado em 16-02-2023]; «Tecnovia - Aeroporto das Flores - Reabilitação do Pavimento da Pista» (https://tecnovia.pt/portfolio-posts/aeroporto-das-flores-reabilitacao-do-pavimento-da-pista/), [consultado em 16-02-2023]; Franceses abandonam a Ilha das Flores. Vídeo RTP, 13 maio 1992 (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/franceses-abandonam-a-ilha-das-flores/), [visualizado em 09-02-2023]

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

João Almeida (Contribuinte externo) e Paula Noé 23-03-2023 (Projeto European Cold War Heritage)

Actualização

 
 
 
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