Fábrica Barros

IPA.00036393
Portugal, Lisboa, Lisboa, Parque das Nações
 
 
Registo visualizado 16 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício        

Descrição

Fábrica de Fiação e Tecelagem construída no fim da década de 40 do séc.20 na zona ribeirinha oriental da cidade, testemunhando a segunda fase da sua industrialização. A dimensão das fachadas associada ao ritmo das fenestrações, retira peso à volumetria significativa do conjunto conferindo-lhe uma unidade formal de elegante simplicidade e notável inserção e conformação na malha envolvente. Os dois edifícios principais na fachada principal, de planta retangular em eixo longitudinal, desenvolvem-se em dois pisos encimados por platibanda conformada por dois frisos salientes e rematados por cobertura em quatro águas sobre platibanda plena (o remate e cobertura não se aplica a toda a fachada à esquerda). A fachada principal, virada à Av. Infante D. Henrique desenvolve-se em dois corpos distintos e participa na valorização dada a esta artéria que na mesma altura é alvo de renovação, tendo adquirido então o seu atual nome. O projeto de Cottinelli Telmo ainda se refere à Estrada Marginal Oriental, nomenclatura até esta altura da via ribeirinha entre a Praça do Comércio e Moscavide. Entre os dois edifícios um grande vão de entrada coberto com laje curva em betão com cerca de 8 metros de largura. A laje e a cunha do edifício entre as avenidas são os únicos elementos curvos a interromper a linearidade do desenho arquitetónico, percutindo aqui a presença do primeiro modernismo, na linguagem de Cottinelli como na de outros autores deste período e em tipologias variadas de construções. O edifício da esquerda, com um comprimento menor destinava-se à área social dos funcionários (cerca de 150), cozinha, refeitório e armazéns. Uma porta no edifício da direita destinado às funções administrativas, direção, escritórios, armazéns e casa do guarda (no 2ºpiso) que mantém a forma original de lintel e ombreiras salientes e pequena escadaria de acesso, logo a seguir à grande entrada sob a pala curva. O desenho de ambos é idêntico sendo a sua fachada corrida a janelas sequenciadas, ao nível dos dois pisos. Ao nível do primeiro piso dois frisos retilíneos, idênticos ao friso na platibanda plena, conformam o alinhamento das janelas e prolongam-se contornando o edifício e continuando na fachada lateral. O edifício da direita é composto por duas fachadas distintas, a primeira com cobertura em telha a quatro águas, idêntica ao edifício à esquerda, a segunda, com o remate do friso sobre os nembos e vãos que continua e contorna o chanfro curvo e mantêm-se como elemento em toda a fachada lateral virada a norte. Nesta segunda parte da fachada à direita as janelas no primeiro piso são maiores evidenciado já, como na fachada lateral, a localização das zonas de trabalho fabril, conquanto na primeira zona de fachada as janelas mais pequenas ao nível do mesmo piso, em ambos os edifícios com cobertura em telha, evidenciam espaços administrativos e de escritório. Ainda na fachada principal registamos a adaptação do edifício ao declive da via com o alteamento do soco na direção norte, hoje alterada com a introdução de túnel subterrâneo rodoviário. Nos planos de Cottinelli e em fotografia de obras a decorrer no arruamento logo após a instalação do edifício, é visível um muro baixo, entretanto desaparecido, a contornar toda a fábrica, muro que vem pelo arruamento da Avenida. Infante D.Henrique alinhado pelas construções vizinhas à época. O muro, secionado em alturas que acompanham as quebras de nível do declive, é rematado em balaustrada com pequenas aberturas de secção quadrangular. Esta solução introduz visualmente uma terceira linha horizontal imprimindo ritmo ao desenho de todas as fachadas. A fachada norte mantém as características formais que encontramos na fachada principal mas foi dividido ao nível do primeiro piso em quatro corpos separados que correspondem à divisão em quatro naves do espaço interior da fábrica. Naves que se desenvolvem perpendicularmente a esta fachada. Estes quatro blocos da fábrica são cobertos em telhado de betão em serra ou sheds. 22 dentes de serra na nave fundeira que ocupa todo o comprimento do lote, 14 dentes nas duas naves intermédias e 3 na nave mais próxima da fachada principal, sendo esta mais curta deixando o espaço livre a outro tipo de funções, hoje ocupado por edifícios acrescentados mais tarde, provavelmente da autoria do arquiteto Manuel Tainha, em 1981, espaço onde se localiza uma chaminé em alvenaria de tijolo com cerca de 20 metros. O processo de preparação, fiação e tecelagem da lã necessita de luz para controlo de todos os passos em espaços muito amplos, pelo que a abertura dos vãos no teto bem como em todas as fachadas exteriores é uma necessidade a que o plano arquitetónico dá resposta. A entrada principal para o complexo dá acesso a um grande pátio interior onde se faria a carga, descarga e mobilização das matérias e produtos. À esquerda, no lado sul, um edifício retangular em eixo longitudinal com três corpos ocupa toda a profundidade do lote até à última das naves da fábrica, a mais comprida. Adossada a ela na parte anterior existe um edifício que repete na fachada a métrica das fachadas exteriores e com cobertura igualmente a quatro águas. Entre a entrada e o pátio é visível a ruína de uma estrutura. As zonas ribeirinhas a ocidente e oriente da cidade haviam passado pela instalação de unidades fabris no primeiro momento da industrialização. No segundo momento, que corresponde à edificação da Fábrica Barros, a zona oriental vê reforçada esta componente com a desativação do eixo Belém-Pedrouços, convertido em espaço de aparato e representação, fruto dos investimentos na celebração dos Centenários e realização da Exposição do Mundo Português. Assiste-se então a um processo de urbanização fabril nesta zona extrema da cidade, Olivais, assente em dois eixos estruturantes, a Av. Marechal Gomes da Costa e a Av. Infante D. Henrique [FOLGADO 1999]. A Fábrica Barros entre outras edificações nas décadas de 40 e 50 é parte e testemunho desse momento de planificação e ordenamento. Movimento que se repetirá 50 anos depois no mesmo local, no chamado terceiro momento da Revolução Industrial, com a realização da Exposição Mundial de Lisboa, em 1998.

Acessos

Avenida Infante D. Henrique n.º 331 a 331B, Avenida de Pádua n.º 7 a 7B, 1800-218 Lisboa, WGS84 (graus decimais) lat.: 38.762331, long. -9.104904

Protecção

Enquadramento

Urbano, na zona oriental da cidade, integrado num quarteirão de planta trapezoidal, formando gaveto, delimitado a poente pela Avenida Infante D. Henrique, para onde se vira a fachada principal e a norte pela Avenida de Pádua, definindo fachada lateral direita. Implanta-se adaptado ao declive do terreno

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Industrial >> Fábrica

Utilização Actual

Propriedade

Privada: pessoa coletiva

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: José Ângelo Cottinelli Telmo (1947) e António Veloso Camelo (1949-1952), ENGENHEIRO: João Barata Gagliardini Graça (1947)

Cronologia

1947-1952 - elaboração e aprovação do projeto de Cottinelli Telmo; 1949 - 1952 após a morte de Cottinelli Telmo, o arquiteto Veloso Camelo procede à elaboração de um novo projeto e mantém o projeto inicial referindo na memória descritiva procurar "respeitar tanto quanto possível a sua ideia"; 1958 - construção do edifício Fábrica Barros; 1981 - existência de dois projetos de Manuel Tainha (1922-2012) para construção de um edifício e ampliação de um outro na Fábrica Barros; 1996, 30 dezembro - protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa, o Parque Expo98 e a Fábrica Barros; 2005 - elaboração de Plano de Pormenor a integrar o Plano Diretor Municipal designado Projeto Urbano Parque Oriente com anteprojeto de arquitetura para a conversão do complexo em unidade de habitação, espaço público, espaço verde e equipamento municipal (biblioteca) demolindo todas as construções existentes mas reconstruindo parcialmente a fachada virada à Av. de Pádua para manter a memória industrial do local; 2008 - aprovação em Diário da República do Plano de Pormenor simplificado, a área da intervenção é classificada como tipo de solo também como área de reconversão urbanística de usos mistos, anteriormente classificada exclusivamente como área consolidada industrial; 2017 - compra da Fábrica Barros pela empresa francesa Union de Partenaires pour l'Investissement (UPI), promotora imobiliária, a Manuel Moreira de Barros; 2018 - discussão pública sobre projeto apresentado pela promotora imobiliária; 2019, janeiro - aprovação pela Câmara Municipal do projeto apresentado; 2022, 29 março - alteração do plano de pormenor Projeto Urbano Parque Oriente, a área de intervenção do plano passa a ser classificada como solo urbano, integrando a categoria de uso do solo Espaços Centrais e Habitacionais e a subcategoria Espaços Centrais e Habitacionais a consolidar.

Dados Técnicos

Materiais

Betão, vidro, pedra, telha.

Bibliografia

FOLGADO, Deolinda, CUSTÓDIO, Jorge - Caminho do Oriente - Guia do Património Industrial. Lisboa: Livros Horizonte, 1999; FOLGADO, Deolinda - 1933-1968 - A Nova Ordem Industrial do Estado Novo - Da Fábrica ao Território de Lisboa. Lisboa, Livros Horizonte, 2012; FOLGADO, Deolinda - Fábrica Barros. Docomomo Ibérico: junho 2002, (https://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/itinerarios/arquitetura/09/) [consultado em 06.02.2023]; TOSTÕES, Ana, FOLGADO, Deolinda - A arquitetura da indústria, 1925-1965. Barcelona: Registo Docomomo Ibérico, 2005: “Projeto para antiga fábrica Barros em discussão pública”, Construir, 28 março 2018, (https://www.construir.pt/2018/03/28/projecto-antiga-fabrica-barros-discussao-publica) [consultado em 06.02.2023]; “Câmara de Lisboa discute loteamento da antiga fábrica Barros”, Sapo Notícias, 17 janeiro 2019, (https://casa.sapo.pt/noticias/camara-de-lisboa-discute-loteamento-na-antiga-fabrica-barros/?id=25990) [consultado em 06.02.2023]

Documentação Gráfica

FÁBRICA BARROS, CHELAS, LISBOA [PROJECTOS DE ARQUITECTURA] / MANUEL TAINHA, FCG. (1972-1974); FÁBRICA BARROS II, AMPLIAÇÃO, AV. INFANTE D. HENRIQUE, LISBOA [PROJECTOS DE ARQUITECTURA] / MANUEL TAINHA, MT ATELIER MANUEL TAINHA, FCG, (1981)

Documentação Fotográfica

PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/004401; PT/TT/EPJS/SF/001-001/0111/0373AE, DGLAB/ANTT

Documentação Administrativa

PT DGPC JCT TXT-00081; PT/ACMF/SETF/GSETF/SOB/001/003/002/0135: Arquivo da Secretaria Geral do Ministério das Finanças,1986; Projeto Urbano Parque Oriente, (este plano disciplina o uso, ocupação e transformação do solo na área de intervenção da Unidade Operativa 28 do Plano Diretor Municipal de Lisboa), CML, 2008, (https://www.lisboa.pt/cidade/urbanismo/planeamento-urbano/planos-de-pormenor/detalhe/projeto-urbano-parque-oriente) [visualizado em fevereiro de 23], Diário da República n.º 214, Série II de 14 de novembro de 2008 através do Aviso n.º 26397/2008, Alteração por adaptação do Plano de Pormenor - Projeto Urbano Parque Oriente, Declaração (extrato) n.º 54/2022.

Intervenção Realizada

Observações

Em Estudo

Autor e Data

Josina Almeida 20-02-2023

Actualização

 
 
 
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