Banhos Islâmicos de Loulé / Hammam de Al-Ulyã / Casa das Bicas

IPA.00036182
Portugal, Faro, Loulé, Loulé (São Clemente)
 
Balneário público construídos no séc. 12, na época islâmica almóada, com as estruturas em excelente estado de conservação, o que lhe confere um carácter único a nível nacional e excecional em termos peninsulares, dentro da sua tipologia construtiva. Implantava-se adossado à muralha e a uma das suas torres, constituindo um "facto quase inédito em época islâmica" (LUZIA: 2008, p. 90), já que os banhos públicos normalmente se localizavam junto das mesquitas, como acontece em Lisboa, ou junto das portas da cidade, de modo a servir a população residente e os viajantes. Apresenta planta trapezoidal, tendencialmente retangular, composta por três naves, de dimensões semelhantes, possuindo num dos topos pequeno compartimento de apoio à sala principal, tipologicamente semelhantes aos balneários espanhóis, possivelmente com cobertura inicial em abóbadas de berço, com luminárias para entrada de luz. A sala quente conserva sob o pavimento o hipocausto e no interior das paredes chaminés para a exaustão dos fumos. A entrada do edifício ainda não foi identificada, encontrando-se possivelmente na zona ainda não escavada. No mesmo edifício sobrepõem-se arcos apontados de capitéis decorados, de construção medieval, revelando a sua adaptação a outros fins.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Saúde  Higiene pública  Balneário público  

Descrição

Edifício com planta ligeiramente trapezoidal, composta de três naves, orientadas no sentido nascente - poente e de dimensões semelhantes. Fachadas de um piso, rebocadas e caiadas de branco, terminadas em beirada simples. A atual fachada principal surge virada a nascente, rasgada por duas portas, uma de verga reta, de moldura simples, e outra em arco em asa de cesto, sem moldura. Na lateral direita, parcialmente com soco de cantaria, abre-se porta de verga reta, também sem moldura, e pequena janela. No INTERIOR as naves apresentam planta trapezoidal, tendencialmente retangular, correspondendo à sala dos banhos quentes, sala tépida e sala fria, possuindo nas extremidades de cada uma delas, do lado poente, um pequeno compartimento de apoio à sala principal. É visível parte da sala quente, que normalmente era a que se ficava mais afastada da entrada, de modo a conservar o calor, e grande parte da sala temperada, com pavimentos suspensos sobre o hipocausto, ou o sistema de calefação, com as condutas de circulação de ar quente, produzido por uma fornalha. As paredes da sala quente integram no interior chaminés para permitir a exaustão dos fumos. A sala fria, que por norma ficava mais próxima da entrada, tem apenas uma pequena parte exposta, estando o resto do compartimento ainda por escavar. Possui ainda três arcos apontados, de tijolo, sustentados por capitéis decorados, ainda que mutilados, com colunas e bases de calcário, inseridos numa parede interior.

Acessos

São Clemente, Largo D. Pedro I; Rua Garcia da Horta; Rua das Bicas Velhas. WGS84 (graus decimais) lat.: 37,139235, long.: -8, 02390737

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 17/2023, DR, 1.ª série, n.º 136 de 14 julho 2023 / Incluído na Zona Especial de Proteção do Castelo de Loulé (v. IPA.00001283)

Enquadramento

Urbano, adossado, disposto de gaveto no Núcleo urbano da cidade de Loulé (v. IPA.00011230). Implanta-se em pleno centro histórico, adaptado ao declive do terreno, com o limite sudoeste do edifício assente sobre aproximadamente 50m da cerca urbana da cidade, possuindo no seu interior vestígios consideráveis de uma torre albarrã. Nas imediações, localiza-se a alcaidaria do castelo e junto à atual fachada posterior a Fonte das Bicas Velhas (v. IPA.00021353). a fachada atual do edifício vira-se para pequena praça trapezoidal.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Saúde: balneário público

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 12 (conjetural)

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Vítor Mestre (séc. 21).

Cronologia

Séc. 12 - época provável da construção do balneário público, na fase final da ocupação islâmica do Algarve; 1266 - após a conquista do Algarve, D. Afonso III concede foral a Loulé, nele especificando que reserva para si e para os seus sucessores os edifícios públicos, nomeadamente os açougues, fangas e banhos, e todo o direito do padroado das igrejas construídas e a construir em Loulé e seu termo; séc. 14 - 15 - época até à qual os banhos públicos são utilizados, sendo depois reconvertidos ou desativados e enterrados, e o espaço aproveitado para novas construções (PIRES / LUZIA: 2014, p. 39); séc. 15 - 16 - época provável da construção da calçada ou do assentamento das bases dos arcos existentes no interior; 1985 - Martins e Matos revelam que no interior do edifício existem três arcos apontados sustentados por colunas com capitéis decorados, entaipados numa parede interior de uma das divisões; 2006 - descoberta das estruturas dos banhos públicos, durante a abertura de valas para a instalação de uma caixa de recolha de águas pluviais, no âmbito das obras no centro histórico de Loulé; posteriormente, a Câmara estabelece um protocolo de cooperação com o Campo Arqueológico de Mértola, tendo em vista a continuação das escavações e a elaboração de um projeto de valorização e musealização do complexo balnear islâmico; 2021, 09 novembro - publicação da abertura do procedimento de classificação dos Banhos Islâmicos de Loulé, em Anúncio n.º 252/2021, DR, 2.ª série, n.º 217; 2023, 30 maio - atribuição do prémio "Projeto de Museografia" e do prémio "Salvaguarda, Conservação e Restauro em Património Cultural", atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia, à recuperação dos banhos islâmicos e casa senhorial dos Barretos, com projeto da autoria do arquiteto Vítor Mestre.

Dados Técnicos

Materiais

Estrutura de alvenaria calcária; colunas com base e capitéis em cantaria calcária; pavimento cerâmico e em cantaria.

Bibliografia

LEMOS, Pedro - «Musealização dos Banhos Islâmicos de Loulé começa até ao final do ano». In Sul Informação. 30 julho 2019; «Loulé quer acabar musealização de Banhos Islâmicos em 2 anos e meio». In Mundo Português. 16 julho 2019; LUZIA, Isabel - «A Investigação Arqueológica na cidade de Loulé durante o Ano de 2007». In Al-ulyã. Revista do Arquivo Municipal de Loulé. Loulé: Câmara Municipal de Loulé, 2008, n.º 12, pp. 87-95; LUZIA, Isabel - «Primeira campanha de escavações da "Casa das Bicas" - Loulé». In Xelb. Silves: Câmara Municipal de Silves; Museu Municipal de Arqueologia de Silves, n.º 8, pp. 263-274; LUZIA, Isabel - «2003-2006: Breve notícia sobre a investigação arqueológica em Loulé». In Al-ulyã. Revista do Arquivo Municipal de Loulé. Loulé: Câmara Municipal de Loulé, 2006, n.º 11, pp. 233-242; PIRES, Alexandra, LUZIA, Isabel - «A escavação arqueológica da Casa das Bicas e o edifício hammam de Loulé». In Al-ulyã. Revista do Arquivo Municipal e Loulé. Loulé: Câmara Municipal de Loulé, 2014, n.º 14, pp. 33-40.

Documentação Gráfica

CMLoulé

Documentação Fotográfica

DGPC: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Séc. 13 - 15 - o edifício sofre várias reparações enquanto é utilizado como banhos públicos, tendo-se procedido à substituição do pavimento de pedra por ladrilhos cerâmicos e ao reboco das paredes, uma vez que se verifica a sobreposição de diferentes argamassas (PIRES / LUZIA: 2014: p. 38); CMLoulé: 2006 - início das escavações arqueológicas na denominada Casa das Bicas, pela Equipa Técnica dos Serviços de Arqueologia da Divisão de Cultura e História de Loulé; a primeira etapa consistiu na remoção de algumas paredes interiores do edifício que subdividiam as dependências e na picagem de todas as paredes internas; tal permitiu revelar que os arcos existentes no interior tinham os capitéis vandalizados numa das suas faces, mas mantinham intactos a parte que permanecia no interior da parede; as bases das colunas assentavam sobre um pavimento empedrado; durante as escavações são descobertos mais de mil ganchos de cabelo, fragmentos de vidro dos frascos de essência, dentes de javali e cerâmica; 2015 - retomam-se as escavações arqueológicas, em colaboração com o campo arqueológico de Mértola; 2019, 12 julho - publicação em Diário da República de concurso público para a empreitada de musealização das estruturas arqueológicas dos banhos islâmicos, bem como do paço quatrocentista e da muralha, tornando visível a torre existente do lado das Bicas Velhas, investimento na ordem de 1,3 milhões de euros; prevê-se a conclusão das obras para 2021; o projeto de valorização e musealização do complexo balnear islâmico, que está em curso, é da autoria do arquiteto Vítor Mestre

Observações

EM ESTUDO

Autor e Data

Paula Noé 2019

Actualização

 
 
 
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