Quinta do Paço de Vitorino

IPA.00003612
Portugal, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Vitorino das Donas
 
Quinta com solar de planta em Z invertido, com a fachada principal virada a amplo terreiro, onde forma U com as alas de serviço, fechado por alto muro, coroado por merlões e com portal em arco de volta perfeita, ladeado por pilastras almofadadas suportando frontão de volutas com brasão, tendo num extremo capela. Solar com fachada principal de três panos definidos por pilastras almofadadas e terminada em friso e cornija coroada por merlões, rasgando-se nos laterais portal, no primeiro piso, e duas janelas de peitoril encimadas por friso e cornija, no segundo, e no pano central arcada ao nível do andar nobre precedida por escadaria de dois braços, todas com molduras almofadadas. Na fachada lateral direita dispõem-se varanda alpendrada nos dois pisos, com colunas sustentando a arquitrave. Os anexos agrícolas são rasgados regularmente por vãos com molduras igualmente almofadadas. A capela, de planta longitudinal simples e interiormente coberta com abóbada de berço, em estuque, possui fachada principal terminada em tabela, com cunhais de pilastras almofadadas coroadas por fogaréus, rasgada por portal em arco de volta perfeita encimado por fragmentos de frontão invertido, e janela recortada com elementos fitomórficos e concheados na moldura. No interior apresenta coro-alto de madeira e retábulo-mor, de talha a branco, barroco, de planta côncava e um eixo. Jardim de características barrocas, constituído por vegetação ornamental disposta no sentido de criar ambientes agradáveis acompanhados de elementos construídos, como bancos, canteiros, alpendres, estátuas e elementos de água. As características barrocas reflectem-se nos elementos construídos que tornam notória a compartimentação e hierarquização dos espaços resultante, por um lado, da separação de funções e, por outro, do sentido estético. O exterior é fortemente relacionado com o palácio através de alamedas e avenidas. A utilização da água como elemento de ornamentação é também característica deste estilo aparecendo associada aos mais variados elementos construídos. Palácio com planimetria irregular, resultante da sua evolução cronológica, sendo a fachada lateral direita, formando um L, fechado por muros que não só a separam do terreiro fronteiro ao frontispício como do jardim, nitidamente mais antiga. A fachada principal do solar, dos anexos agrícolas, possuindo elementos comuns que os unificam, como as pilastras e as molduras almofadadas. A capela disposta junto ao muro da propriedade, virada ao exterior, tem a fachada principal com remate pouco comum, conciliando empena curva com uma tabela, decorada com elementos característicos do estilo de Nasoni, como o frontão invertido e os concheados. No seu interior, as molduras exuberantes dos portais laterais, possuem igualmente linguagem Nasoniana. O anexo agrícola disposto à direita do terreiro é mais alto, mas certamente devido a uma reforma posterior, já que os vãos superiores têm molduras simples em contraste com os do piso térreo que são almofadados; a este corpo, adossa-se ainda fonte de espaldar brasondada. O jardim é constituído por canteiros, rectangulares dispostos de forma simétrica, e dois tanques rectangulares, de rebordos trabalhados, decorados com esculturas de figuras mitológicas e dos continentes, com um sistema hidráulico muito bem organizado, enquadrados por muros, o central formando espaldar contracurvado com imagem de Nossa Senhora da Conceição entre alpendres, e por canteiros.
Número IPA Antigo: PT011607500021
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta  Casa nobre  

Descrição

Quinta de planta rectangular cercada por muro alto, rasgado a N. por um portão encimado por pedra de armas, transposto o qual surge terreiro com o solar ao fundo e tendo lateralmente construções simples destinadas a arrecadações, celeiros, cavalariças e pessoal de serviço, adossando-se na sua extremidade E. a capela. Uma alameda de carvalhos de grande porte, antecede o muro a N., terminado em friso e cornija coroado por merlões chanfrados, tendo ao centro portal, em arco de volta perfeita, de aduelas em cunha, ladeado por pilastras almofadadas, sobrepostas por fogaréus, terminado em friso, cornija e frontão de volutas interrompido por brasão. SOLAR: planta composta em Z invertido, de volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas e de uma na arcada. Fachadas rebocadas e pintadas, de dois pisos. Fachada principal terminada em friso, decorado por V relevado, e cornija coroada por merlões chanfrados, de três panos definidos por pilastras de fuste almofadado e vãos moldurados igualmente a cantaria almofadada; os panos laterais são rasgados no primeiro piso por portal, de verga recta no esquerdo e em arco de volta perfeita no direito, e no segundo piso por duas janelas de peitoril encimadas por friso e cornija; o pano central, sensivelmente recuado e rasgado por arcada de cinco arcos de volta perfeita sobre pilares almofadados, é precedido por escadaria de dois braços, com os primeiros degraus, em leque, comuns, com guarda em balaustrada, tendo o arranque volutado coroado por bola, e vencido o primeiro lance, pilar almofadado igualmente coroado por bola. Uma porta no corpo lateral direito dá acesso à fachada lateral direita, onde forma L, com pátio aberto, de alpendre em arcada avançada nos dois pisos, de colunas toscanas sustentando arquitrave, as do segundo piso assente na guarda de cantaria que a protege, e sendo acedido por escada. A ala virada ao jardim, é rasgada de modo irregular por vãos rectilíneos de molduras simples, apresentando sensivelmente a meio escada de tiro de ligação ao jardim e propriedade. O terreiro é fechado por duas alas de serviço, de planta rectangular e volume simples, com coberturas em telhado de duas águas. A ala esquerda, apresenta fachada de um piso, rasgada por portais de verga recta com molduras almofadadas. A ala esquerda, possui dois pisos, separados por friso, sendo rasgada no primeiro por portais de verga recta de moldura almofadada, e algumas janelas rectangulares de moldura simples, tal como são as que se rasgam no segundo piso; a este corpo, adossa-se fonte de espaldar, definido por pilastras toscanas, sobrepujadas de urnas, e terminado em friso e cornija, sobreposta por brasão encimado por cruz; ao centro do espaldar, abre-se pequeno nicho em arco de volta perfeita e, frontalmente, dispõe-se tanque rectangular. A CAPELA, adossada ao muro de acesso ao terreiro, tem planta longitudinal simples, com cobertura em telhado de duas águas. Fachadas rebocadas com pilastras almofadadas nos cunhais, coroadas por fogaréus sobre plintos. A fachada principal termina em falso frontão de lances, composto por empena, de friso e cornija, convexa, encimada por tabela decorada com acantos relevados, coroada por cornija com cruz sobre acrotério. É rasgado por portal em arco de volta perfeita, com intradorso decorado por elementos fitomórficos, encimado por fragmentos de frontão invertido, sobreposto por concha, e por janela recortada, com moldura igualmente ornada de elementos fitomórficos e superiormente terminada em concheados. De cada lado da fachada, adossam-se panos, ritmados por frisos de cantaria horizontal, terminados em sineiras, de arco em volta perfeita e terminada em empena com acantos. Interior rebocado e pintado de branco, com pavimento de cantaria e cobertura em abóbada de berço, de estuque, sobre friso decorado com elementos relevados e cornija. Coro-alto de madeira, com guarda em quadrícula, acedido por portal de verga recta encimado por cornija no lado do Evangelho; no sub-coro abre-se, no mesmo lado, portal de verga recta, entaipado, de moldura recortada e decoração relevada. Junto ao supedâneo, no mesmo lado, abre-se um outro portal de jambas côncavas e verga recortada, decorada com concheados. Sobre o supedâneo, surge o retábulo-mor, em talha a branco, de planta côncava e um eixo, definido por quatro colunas torsas, sobre plintos paralelepipédicos decorados com acantos, tendo no intercolúnio mísulas para imaginária, as quais se prolongam pelo ático em arquivoltas; ao centro, abre-se tribuna, em arco de volta perfeita, de moldura exterior decorada de acantos, tendo no interior pequeno trono; banco decorado por apainelados formando almofadas com florões centrais, integrando ao centro sacrário tipo templete, com colunas laterais suportando remate em frontão de lances. Entre a capela e a casa agrícola adossada, existe portão de acesso à quinta. A S. da casa encontra-se o JARDIM, de planta rectangular, murado com duas aberturas nas extremidades a N. que estabelecem a ligação com as áreas agrícolas da quinta. O jardim é composto por 18 canteiros rectangulares dispostos de forma simétrica, antigamente delineados por buxo, mas actualmente apenas marcados por blocos de granito. O seu eixo de simetria é marcado por grandes camélias, tendo ao centro uma pequena rotunda, delimitada por bancos e uma fonte de tanque circular. As camélias escondem os dois tanques que se encontram a S. do jardim. Estes tanques, situados num patamar superior, são delimitados pelos muros laterais de feitura mais tosca e bordejados por alegrete; o de fundo, de maior cuidado, forma espaldar contracurvado, com pilastras almofadadas coroadas por pináculos sobre plintos formando três panos, o central rasgado por nicho em arco de volta perfeita com a imagem em pedra de Nossa Senhora da Conceição, e terminado em brasão entre aletas. Nos ângulos dos muros, dispõem-se dois alpendres rectangulares, telhados, apoiados em colunelos sobre plintos paralelepipédicos. Os muros que rodeiam os alpendres possuem indícios de terem possuído painéis de azulejos. Os tanques, rectangulares, têm os rebordos trabalhados de forma arredondada. No tanque superior surgem esculturas mitológicas: Nepturno e Diana, enquadrando elemento zoomórfico, no rebordo, Baco sobre plinto paralelepipédico no centro do tanque, a figura da preguiça também no rebordo, etc. O primeiro tanque tem nos seus limites duas estátuas que representam os continentes Africa e América *1. O sistema hidráulico que alimenta todo jardim encontra-se junto a estes tanques, apresentando-se superficialmente sob forma de caleiras abertas em granito. A caleira, a E. do tanque, atravessa o muro e rega o lado E. do jardim, ao passo que a caleira a O. vai em direcção ao tanque de lavar (limite O. do jardim). A água chega ao jardim através de um canal em pedra que atravessa todo o campo agrícola da quinta e depois se deposita num pequeno tanque atrás do nicho da Nossa Senhora da Conceição. O jardim encontra-se todo ele rodeado por campos agrícolas, actualmente abandonados.

Acessos

Vitorino das Donas, EN 203. WGS84 (graus decimais) lat.: 41,735351; long.: -8,647655

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 129/77, DR, 1.ª série, n.º 226 de 29 setembro 1977 (Paço Vitorino)

Enquadramento

Rural, isolado, inserido no complexo xisto-granítico, ocupa grande área do concelho de Ponte de Lima, e de aluviões junto às margens do Lima, que delimita a propriedade a N., com solos incipientes, ligeiros, de pH baixo (ácido) e pobres em bases. Encontra-se numa situação de vale alargado e plano, pela qual não possui exposições preferenciais.

Descrição Complementar

As armas do portão de acesso ao terreiro são esquarteladas, tendo no I quartel as armas dos Abreus: de vermelho, cinco cotos de asa de águia de ouro, cortadas em sangue; no II as armas dos Coutinhos: de ouro, cinco estrelas de cinco pontas de vermelho; no III as armas dos Pereiras: de vermelho, cruz florida de prata, vazia de campo; e no IV as armas dos Limas: de ouro, com quatro palas de vermelho sobreposto logier; em campo verde, uma arma de ouro e vermelho com as cores desencontradas entre três cabeças de leão de ouro. Coroa de marquês como timbre.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Nicolau Nasoni (atr. - séc. 18). ENGENHEIRO: Manuel Pinto de Lobos (1780).

Cronologia

Séc.16 - referência à existência de duas propriedades distintas: a Quinta de Barco e a Quinta do Paço, separadas por um muro; 1568, 02 março - compra da Quinta do Paço por António Ramos a Vasco Anes Ferreira; posteriormente, o casamento da filha de António Ramos com filho de Manuel Abreu Pereira, a quem pertencia a Quinta do Barco, permitiu a união das duas quintas; 1580 - albergou D. António Prior de Crato; 1638 - casamento de D. Francisca de Lima Abreu com Guilherme de Kampanear, que possibilitou a unificação das duas casas, formando uma planta em "U"; 1653, 3 Fevereiro - Guilherme Kampanear e D. Francisca instituíram em morgado a sua Quinta do Barco; 1653 - construção de uma primeira capela do Paço; 1780 - reformulação completa das construções, com a unificação total das construções dispersas pela quinta, com projecto coordenado pelo Engenheiro Militar Manuel Pinto de Lobos; séc. 18 - a capela foi reformulada e construiu-se o jardim, este com o traçado atribuído por tradição a Nicolau Nasoni; 1836, 23 julho - a quinta foi saqueada e incendiada, durante as revoluções liberais, passando, desde então, a ser conhecida como a " Casa Queimada"; 1907, 07 fevereiro - decreto de D. Carlos I concedendo o título de 1º Conde de Paço Vitorino a Francisco de Abreu Lima Pereira Coutinho; 1941, 15 fevereiro - ciclone derruba a pedra de armas da cimalha do edifício; 1959 - últimas modificações verificadas na edificação.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante no solar, capela e anexos agrícolas. Sistema hidráulico por gravidade e por pressão, canalizações que se estabelecem geralmente em caleiras de granito à superfície, muito resistentes.

Materiais

Material Vegetal: Camélias (Camelia japonica spp.), Palmeiras-das-vassouras (Livistona australis). Inertes: estrutura de cantaria ou alvenaria de granito, rebocada e pintada; elementos estruturais, molduras dos vãos, pilastras, frisos e cornijas, fogaréus, plintos, pavimento da capela e tanques do jardim em cantaria de granito; betão; esculturas do jardim em granito; retábulo de talha a branco; cobertura em telha; pavimento do jardim em terra batida.

Bibliografia

CONDE D'AURORA, Roteiro da Ribeira Lima, Ponte de Lima, 1959; Guia de Portugal, vol. 4, Lisboa, 1965; AZEVEDO, Carlos de, Solares Portugueses, Lisboa, 1969; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Alto Minho, Lisboa, 1987; SILVA, António Lambert Pereira da, Nobres Casas de Portugal, vol. 1, Porto, s.d.; OLIVEIRA, E. P., Vale do Lima - Um rio dois países, Braga, 2001; BORGES DE ARAÚJO, M., LAGES CORREIA, S., LAGO DE CARVALHO, P. e LOPES RIBEIRO, P., Paço de Vitorino. Trabalho realizado no âmbito da disciplina de História da Arquitectura Portuguesa, (Universidade do Minho), Guimarães, 2005; MALHEIRO, M. F., Restauro do jardim do Paço de Vitorino. Relatório do trabalho de fim de curso de Arquitectura Paisagista, (Secção Autónoma de Arquitectura Paisagista - Instituto Superior de Agronomia), Lisboa, 2006.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID; Proprietário

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Proprietário: 2005 - limpeza do Paço e jardim.

Observações

*1 - Antigamente existiam quatro estátuas dos continentes - América, Ásia, Africa, Europa, mas duas foram roubadas.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / Paula Noé e Marta Malheiro 2006

Actualização

 
 
 
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