Cerca urbana de Ponte de Lima e Torres de São Paulo e da Cadeia

IPA.00003566
Portugal, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Arca e Ponte de Lima
 
Cerca urbana construída no séc. 14, por ordem do rei, de que subsiste apenas um troço da muralha, integrada na malha urbana e com adarve circulável, e duas torres, de planta quadrangular e com algumas modificações manuelinas. Constituía uma das vilas fortificadas de Portugal que incluia uma ponte no seu sistema defensivo.
Número IPA Antigo: PT011607350007
 
Registo visualizado 1065 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Cerca urbana    

Descrição

Junto à R. do Postigo, ergue-se a torre de S. Paulo, de planta quadrada, coberta por terraço e coroada por merlões; gárgulas de canhão em cada uma das faces. Na face virada ao rio tem painel de azulejos alusivo à Reconquista com datas de 1140 - 1940 e na da R. do Postigo inscrição gótica ("Aqui chegou o rio pelo risco"). No interior tem os buracos de apoio ao travejamento que a dividia em andares. Desta torre parte troço de muralha, com adarve entre os prédios que de um e do outro lado se lhe adossaram. É interrompido pela R. Cardeal Saraiva, para logo continuar, depois de um pequeno recanto, ainda um pouco além da torre da cadeia e da Porta Nova. Esta torre, também quadrada, tem 3 registos, é coroada por merlões piramidais e tem cobertura de telha em 4 águas. Tem virada ao rio porta de arco quebrado e 2 janelas gradeadas sobrepostas; na outra face, 2 janelas tendo sobre a verga da do 1º piso escudo de Portugal e esfera armilar. Acesso por escada de pedra na face interna. Porta Nova de arco quebrado encimada por adarve descontado na espessura da muralha, que sobre ela é coroada por merlões piramidais. Os outros troços de muralha conservam apenas algumas fiadas de altura, como a que está integrada e à vista na oficina de automóveis na R. Cândido da Cruz, ou só mesmo uma parte da sua estrutura da base, como o troço no jardim da casa particular na R. José D'Abreu Coutinho. As suas pedras foram, contudo, reaproveitadas, entre outras coisas, na construção de muros como é bem visivel desde a zona alta do Bairro da Pereiras até ao Lg. de São João, onde se procurou seguir o antigo traçado das muralhas. Ainda que bastante alterada, existe ainda o frontespício de alcáçar, actualmente enquadrado por 2 torres quadrangulares, com janelas do corpo central envolvidas por motivos decorativos e coroado por merlões piramidais. A ele se liga pano de muralha e parte de um cubelo, de planta quadrada.

Acessos

Ponte de Lima, Passeio 25 de Abril; Rua do Postigo (entrada para a Torre de São Paulo pelo nº 15 - 17); Rua Cardeal Saraiva; Rua da Porta Nova (entrada para a Torre da cadeia). WGS84 (graus decimais) lat.: 41,768048; long.: -8,584524

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 34 452, DG, 1.ª série, n.º 59 de 20 março 1945 *1

Enquadramento

Urbano, flanqueado, implantação harmónica. As torres e troços da muralha erguem-se na zona baixa da vila, virada para o rio e tendo adossados dos dois lados várias construções. Nas imediações dos Paços do Marquês, afixado ao que resta de um pano de muralha ou, eventualmente, de uma torre que ali existisse, surge um Memorial aos militares de Ponte de Lima mortos na guerra em África (1961-1974).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: cerca urbana

Utilização Actual

Cultural e recreativa: arquivo / Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: municipal (torre da cadeia) / Privada: misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 14 / 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1125, 04 Março - Rainha D. Teresa funda Ponte de Lima; 1359 - segundo inscrição, D. Pedro manda cercar a vila e fazer as torres, renovando assim o sistema defensivo do tempo de D. Teresa; 1370 - conclusão das obras; 1464 - D. Afonso V converte Ponte de Lima em senhorio hereditário de D. Leonel de Lima, 1º Visconde de Cerveira; 1469 - o mesmo monarca manda fazer castelo nas casas de D. Leonel de Lima; 1511 - conclusão das obras na cadeia, que D. manuel mandara fazer; 1720 / 1723 - Livro de Vereações regista a obrigação dos jurados das freguesias do termo de Ponte de Lima de limparem os muros e torres da vila antes do Corpo de Deus; 1771 - colocação de Campanário na torre da Expectação ou de São Paulo, que ainda conservava em 1895; 1787 - demolição das torres da Eira ou da Carvalheira e a da Esgrima; 1807 - demolição da torre e porta do castelo; 1815 - demolição da torre do Souto; 1818 - demolição da torre da porta de Braga; 1857 - demolição da torre dos Grilos; 1867 - demolição do postigo e o nicho que o encimava foi arrematado pelo Conselheiro João de Barros Mimoso e está na Quinta da Carvaveira; 1822, 21 agosto - documento do Major João António de Almeida Abrão refere que as torres e muralhas ainda existentes e ainda não demolidas tinham uma relação imediata com alguns edifícios particulares, visto que uma das suas paredes era a pequena muralha; outras, porém, eram completamente independentes e podiam-se demolir para empregar a pedra em objectos de utilidade pública, conforme a Câmara desejava; a muralha ao longo do rio, desde a porta de São João até à torre que servia de cadeia pública devia conservar-se, até porque defendia com muita vantagem a vila dos prejuízos que as grandes cheias do rio lhe poderiam causar, contudo, poderia-se demolir as torres até ao nível do cume da muralha, para desafrontar a vila e poder aproveitar a pedra; nos troços de muralha que tinham adossados edifícios particulares também se poderia tirar alguma pedra sem prejuízo dos mesmos, como se tinha praticado com outros edifícios; tendo os muros doze palmos de grossura, ou mais em alguns pontos, poderia tirar-se uma grande quantidade de pedra, devendo entregar-se a disposição de todos os "objectos" aos Magistrados da vila; séc. 19, finais - abertura de porta para as enxovias na torre da cadeia.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito aparente; placa de betão (torre de São Paulo); pavimento de madeira e cobertura de telha na torre da cadeia e em terraço na Torre São Paulo.

Bibliografia

ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; AURORA, Conde d', Roteiro da Ribeira Lima, Porto, 1959; FERNANDES, A. de Almeida, Ponte de Lima na Alta Idade Média, sep. do Arquivo do alto Minho, vol. 9, Viana do Castelo, 1960; s.a. Guia de Portugal, vol. 4, Lisboa, 1965; LEMOS, Miguel Roque dos Reys, Anais Municipais de Ponte de Lima, Ponte de Lima, 1977; IDEM, Apontamentos para as Memórias das Antiguidades de Ponte de Lima, s.l., 1873; REIS, António P. de Matos dos, Itenerários de Ponte de Lima, Ponte de Lima, 1973.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID; Arquivo Histórico Militar: 3ª divisão, 9ª Secção, Cx. 8 / 29

Intervenção Realizada

1952 - Obras na muralha pela Câmara Municipal e sem conhecimento da DGEMN: limpeza de um troço que foi picado para eliminar camada de caiação e ajardinamento do espaço fronteiro; 1972 - em visita então efectuada verificou-se a afixação de ferragens suportando uma lanterna, nos cunhais norte / nascente da torre de São Paulo e norte / poente da torre da cadeia; 1977 - desmoronamento do telhado, orçando a DGEMN a sua reconstrução em 300.000$00; 1978 - Reparação da cobertura na torre da cadeia; Câmara Municipal: 1992 - reparação da cobertura da torre da Cadeia; 1997 / 1998 - obras de recuperação e requalificação funcional da torre da cadeia, com total remodelação interior.

Observações

*1 - DOF: Torres de São Paulo e da Cadeia e o pequeno pano da muralha existente entre as duas torres. *2 - O sistema defensivo que D. Pedro mandou fazer durante o séc. 14 envolvendo ovalmente a vila de Ponte de Lima era constituída por 12 torres à volta da povoação e 1 outra - a torre velha - na margem direita do Lima, incluindo assim a ponte nesse mesmo sistema. Possuia ainda 4 portas e 1 postigo, a única saída por onde, de noite, a vila podia comunicar com o exterior. O alcáçar só surgiu posteriormente, tendo sido mandado construir por D. Afonso V no séc. 15. D. Manuel mandou fazer obras numa das torres e abrir uma porta junto à mesma, a qual ficaria conhecida por Porta Nova, a única ainda hoje existente. Os autores são unânimes em considerar que foi este monarca quem mandou construir, de raiz, aquela torre, no entanto, o Engº João Abreu Lima discorda completamente. De facto, uma análise atenta à Torre da Cadeia e a comparação da técnica de abertura de vãos entre o 2º e o 3º piso, permite-nos concluir que D. Manuel apenas mandou acrescentar um outro piso ao já existente (ao nível do adarve) sobre as enxovias. De toda a fortificação medieval pouco resta, pois a fúria demolidora dos novos conceitos urbanisticos do séc. 18 e 19 não perdoou. Contudo, o seu traçado é perceptível em grande parte, pela disposição da malha urbana e existem ainda espalhados alguns troços de muralha que, pouco a pouco, se procuram pôr a descoberto. A classificação devia ser também alargada a esses troços e ao alcáçar. Periodicamente, os muros e portas da fortificação eram limpos da vegetação pelas várias aldeias do termo, respectivamente escalonadas e convocadas com prazos fixos para as respectivas tarefas, sofrendo pesadas multas pecuniárias caso se demorassem ou se negassem a fazê-lo. Cada aldeia possuía o seu sector determinado. A repartição dos jurados das freguesias do termo de Ponte de Lima para limparem os muros e torres da vila, em 1720 / 1723, era a seguinte: a freguesia de São João da Ribeira limpava desde a torre da porta de Braga até à torre da Pólvora; os da freguesia de Labruja limpavam desde a torre do armazém da Pólvora até à "guruta" do Paço; os da freguesia de Barreio limpavam desde a "guruta" até junto à torre do Paço; os da freguesia de Cepões limpavam desde a torre do Paço até à outra "guruta"; os de São Pedro de Arcos limpavam desde a "guruta" até à torre de São Benedito; os da freguesia de Refóios e Santa Baía limpavam desde a torre de São Benedito até à torre da Cadeia; os da freguesia de Rendufe limpavam desde a torre da Cadeia até à torre do Postigo; os de Santa Marinha limpavam desde a torre do Postigo até à torre da ponte; os da freguesia de São Martinho de Gandara limpavam desde a torre da ponte até à casa de Simão de Crasto; os da freguesia de Beiral do Lima limpavam desde a asa de Simão de Crasto até à torre de São João; os da freguesia de Santa Cruz desde a torre de São João até à escada do muro que descia para o sal, de dentro e de fora; os da freguesia de São Tiago de Gemiera limpavam desde a escada do sal até à torre da Esgrima; os da freguesia de Fornelos, desde a torre de Esgrima até a metade do muro que ia para a torre que estava junto às casas de Vasco Marinho Pereira; os da freguesia de Cerdedelo limpavam a outra metade até à outra torre; os da freguesia de Calheiros limpavam desde a torre de Vasco Marinho Pereira até a metade do muro que ia à outra torre; os da freguesia da Brandara desde a metade do muro até à outra torre; os da freguesia de Estorãos desde a torre acima até a metade do muro que ia para a porta de Braga; os da freguesia de Sá desde a metade do muro até à torre da porta de Braga; os da freguesia de Santa Comba limpavam a torre de São Benedito; os de Moreira limpavam a torre da cadeia; os da freguesia de São Bento limpavam a torre da porta de Braga; os de Fontão a torre do Paço; os de Bertiandos a torre do Rosário; os de Labruja a torre de São João; os da freguesia de Vilar do Monte limpavam a torre de Esgrima que era acima da de São Jorge; os de Cabração a torre junto a Vasco Marinho Pereira e os da freguesia de Barreiros limpavam a torre junto à eira do caseiro de Vicente Correia de Amorim.

Autor e Data

Paula Noé 1992

Actualização

 
 
 
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