Grupo Escolar do Areeiro / Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclo de Luís de Camões

IPA.00035584
Portugal, Lisboa, Lisboa, Areeiro
 
Escola primária, projetada e construída na década de 1950 por Fernando Silva, no âmbito da segunda fase do plano dos Centenários, programa de construção em larga escala levado a cabo pelo Estado Novo a partir de 1941, em sucessivas fases, com o objetivo de constituir uma rede escolar de abrangência nacional. Nesta segunda fase do plano dos Centenários em Lisboa processa-se uma decisiva viragem para uma arquitetura moderna. Sem resquícios de monumentalidade ou regionalismo, as novas propostas arquitetónicas revelam uma visão humanizada e funcional do edifício, adequando-o ao universo infantil e aos critérios modernos de orientação solar. O projeto é considerado de uma forma global, abrangendo todos os detalhes do interior e exterior da escola, num renovado interesse por técnicas e materiais caracteristicamente portugueses, como o azulejo ou a calçada mosaico, com um reportório atualizado e adaptado ao imaginário infantil. Interiormente, o seu programa funcional segue as orientações iniciais do plano dos Centenários. A unidade de construção continua a ser a sala de aula, com uma capacidade máxima de 40 crianças (medindo 8 x 6 metros, com 3,5 metros de pé-direito, servidas por grandes janelas). Desenvolvem-se em número par, constituindo dois blocos idênticos, um destinado a alunas e outro a alunos. A separação é conseguida, neste caso, pela definição de um eixo de simetria, duas entradas paralelas, efetuadas a partir das estruturas alpendradas em forma de "T" invertido, separadas por vedação arborizada. O grupo escolar é desenvolvido a partir de dois dois edifícios geminados, onde, para além das duas alas de salas de aula, se encontram os espaços de utilização comum, instalações para o corpo docente, secretaria, biblioteca, instalações sanitárias, cozinha/copa e refeitórios. A fachada principal, que contempla as salas de aula e recreios está orientada para sul/sudeste, estando os refeitórios e espaços de circulação orientados para norte/noroeste.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Educativo  Escola  Escola primária  Tipo plano dos Centenários

Descrição

Planta poligonal, composta, conseguida pela articulação de um corpo principal, ligeiramente circular, em meia-lua, de dois e três pisos, e de duas pequenas estruturas em "T" invertido, de um só piso, que o antecedem. Todo o imóvel é hoje precedido por um pequeno bloco retangular de construção mais recente. As coberturas são maioritariamente em telhado de duas águas, sendo a do corpo mais recente (portaria), plana. As fachadas são rebocadas e pintadas de amarelo, rasgadas em toda a sua extensão por múltiplas janelas retilíneas, e percorridas por soco de pedra. O acesso ao imóvel é feito pela Avenida Padre Manuel da Nóbrega, na cota mais alta do terreno. A fachada principal, virada a sudeste, de dois pisos, o convexo da meia-lua, corresponde aos corpos letivos, apresenta uma fachada contínua rasgada em toda a sua amplitude por janelas retilíneas, que marcam um ritmo só interrompido pelas paredes envidraçadas que, ao nível do piso térreo, centralizam a composição, contendo as portas de acesso ao interior de cada uma das secções (feminina e masculina). As portas são antecedidas por duas estruturas alpendradas sobre pilotis, em forma de "T" invertido, separadas por cerca e sebe, mostrando tratar-se de um edifício geminado. As fachadas esquerda e direita apresentam paredes cegas. A fachada noroeste, o côncavo da meia-lua, de dois e três pisos, apresenta três panos de fachada. Um central, com três pisos, rasgado por portas de acesso ao exterior no piso térreo, encimadas por janelas retilíneas. Este pano faz ângulo com outros dois, de dois pisos, que correspondem às traseiras dos corpos letivos, assinaladas pelas pequenas janelas retilíneas junto ao teto dos pisos superiores que mostram tratar-se de espaços de circulação. INTERIOR: a escola encontra-se estruturada a partir de um eixo de simetria que permite a separação entre duas secções, a feminina e a masculina, em módulos geminados, perfeitamente autónomos. O acesso ao interior é feito através das entradas que centralizam a fachada principal, precedidas pelas estruturas alpendradas (recreios cobertos, com cerca de 160 m2 cada), pelas quais se acede, em cada secção, a um amplo átrio, de onde partem os espaços de circulação, corredor do rés-do-chão, escadaria e corredor do primeiro andar (ambos os corredores com iluminação unilateral feita a partir de janelas colocadas ao nível do teto na fachada a noroeste), que dão acesso a oito salas de aula semelhantes entre si (com 8 x 6 metros e 3,50 metros de pé-direito), também de iluminação unilateral, a sudeste. O corpo principal comporta ainda a existência de gabinete para docentes, biblioteca escolar e instalações sanitárias e cantinas, conseguidas a partir da criação de um piso de cave na fachada nascente, tirando partido do declive natural do terreno. O recreio descoberto encontra-se hoje servido por um campo de jogos. Todo o recinto é vedado por cerca de arame.

Acessos

Avenida Padre Manuel da Nóbrega, n.º 15 WGS84 (Graus Decimais) lat.: 38,744465, long.: -9,135364

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano. Ocupa um lote irregular na zona imediatamente a sul da estação de caminhos-de-ferro de Roma-Areeiro e da Célula 8 do Bairro de Alvalade (v. IPA.00030728), na pendente inclinada formada pelos logradouros da Praça Afrânio Peixoto (a noroeste), numa cota mais baixa, da Avenida de Madrid (a sul), numa cota superior, com acesso a partir da Avenida Padre Manuel da Nóbrega, a nascente, para onde se encontra orientada a sua entrada principal.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Educativa: escola primária

Utilização Actual

Educativa: escola básica e secundária

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Ministério da Educação e Ciência

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Fernando Silva (1954 - 1956); ENGENHEIRO: Nuno Leitão Abrantes (1954 - 1956); ARQUITETO PAISAGISTA: Gonçalo Ribeiro Teles (1955); CERAMISTA: Júlio Santos (1956); ESCULTOR: Maurício Meirelles Penha (1956)

Cronologia

1940, 17 dezembro - é promulgada a Lei n.º 1985, lei do Orçamento Geral do Estado para 1941, que, no seu artigo 7.º, prevê a execução de um plano geral da rede escolar, que denomina como sendo dos "Centenários" (muito embora as comemorações oficiais do Duplo Centenário da Fundação e da Restauração de Portugal, tivessem encerrado oficialmente a 3 de dezembro desse mesmo ano); 1941, 29 julho - é publicado um Despacho do presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), datado de 15 desse mês, no qual são indicados os principais critérios de definição do plano (a necessária separação de sexos, a fixação do número de crianças por sala, do número máximo de salas por edifício, da área de influência pedagógica e da distância máxima a percorrer por uma criança para frequentar a escola) e se aconselha o retomar dos projetos-tipo regionais criados entre 1935 - 1938 *1, agora revistos à luz dos critérios atrás enunciados; o mesmo documento indica a comissão a trabalhar no desenvolvimento da rede escolar e a forma de financiamento do programa, que deveria assentar numa repartição equitativa de esforços entre o poder local e central; 1941, 5 setembro - é nomeada, por Portaria do Ministério da Educação Nacional, a comissão a trabalhar no desenvolvimento da rede escolar, composta pelo diretor-geral do Ensino Primário, Manuel Cristiano de Sousa, que a preside, e, como vogais, o diretor-geral da Assistência, Vítor Manuel Paixão, e o engenheiro chefe da Repartição de Obras Públicas da DGEMN, Fernando Galvão Jácome de Castro; 1941, 6 outubro - procurando dar seguimento ao projeto do ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco (1899 - 1943), de construção de 200 edifícios escolares, o então diretor-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais envia ordens de serviço para as quatro Direções Regionais de Edifícios, solicitando a cada uma proposta para a localização de um grupo de 50 escolas; estas propostas, elaboradas sob a forma de mapa, seriam examinadas e alteradas pela Comissão de Revisão da Rede Escolar, e fixavam o número de edifícios e de salas a construir em cada freguesia; 1943, 5 abril - é publicado o mapa definitivo indicando o número de salas de aula a construir por distrito, concelho e freguesia (DG, 2.ª série); paralelamente, as repartições técnicas da DGEMN procedem ao estudo de um questionário enviado às câmaras municipais com o objetivo de avaliar as condições locais para o lançamento dos programas anuais de construção; 1944 - inicia-se, assim, a Fase I do Plano dos Centenários, contemplando apenas os concelhos cujas câmaras tenham respondido ao inquérito (cerca de um terço); a primeira fase compreende a construção de 561 edifícios com 1.250 salas de aula; no mesmo ano, a autarquia lisboeta lança um programa de construção de edifícios destinados a escolas primárias, a construir no âmbito do plano dos Centenários; em Lisboa, tendo em conta a forte pressão populacional, optou-se pela edificação de grupos escolares, com 16 salas de aula, com instalações separadas para cada sexo, para uma frequência máxima de 640 alunos; a sua edificação acontece sobretudo nas novas zonas de expansão urbana, ao abrigo desta primeira fase são construídas cinco grupos escolares, Alto de Santo Amaro (v. IPA.00035363), Rua Actor Vale (v. IPA.00035582), antiga Praça do Ultramar, atual Sampaio Garrido (v. IPA.00035583), e das células 1 e 2 do Bairro de Alvalade, respetivamente, Santo António (v. IPA.00035378) e Coruchéus (v. IPA.00035255); 1948 - tem lugar, em Lisboa, o I Congresso Nacional de Arquitetura, organizado pelo Sindicato Nacional dos Arquitetos e, muito embora tenha o patrocínio estatal, as comunicações apresentadas ao encontro mostram uma clara demarcação da arquitetura do regime e uma reivindicação das ideias da Carta de Atenas, nomeadamente na criação de uma arquitetura mais depurada e funcional; 1953 - ocorre, em Lisboa, o Congresso da UIA - União Internacional dos Arquitetos, o que constitui uma verdadeira lufada de cosmopolitismo no panorama português, trazendo a debate o que de novo se faz na Europa e na América, e permitindo aos novos arquitetos portugueses manifestarem o seu repudio por uma arquitetura monumental e historicista, e uma nova filiação numa arquitetura mais racional e funcional, produzida à escala humana; neste mesmo ano inicia-se a segunda fase das obras do plano dos Centenários, para a qual o MOP concede um subsídio de 85.000$00 por sala de aula (a ser re-embolsado em 50% em vinte anuidades pelas autarquias) com a contrapartida de as obras se iniciarem dentro de um ano; 1953, 30 julho - a Câmara Municipal de Lisboa celebra contrato com o arquiteto Fernando Silva (1914 - 1983) para a execução do projeto do Grupo Escolar do Areeiro, que seria entregue em agosto desse mesmo ano; 1954 - 1956 - construção do grupo escolar, com 16 salas de aula; 1955 - projeto para arborização e ajardinamento do grupo escolar da autoria do arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles (1922 - ); 1956, 20 julho - contrato para a execução de lambris de azulejo decorativos para os refeitórios com o pintor Júlio Santos (1906 - 1969); 1956, 2 agosto - é celebrado contrato com o escultor Maurício Meirelles Penha (1913 - 1996) para a execução de um motivo decorativo para o grupo escolar; 1956 - a ecola, pronta a inaugurar, recebe a visita do ministro da Educação Nacional, Francisco de Paula Leite Pinto (1902 - 2000) e do vice-presidente da autarquia lisboeta, Luís Pastor de Macedo (1901 - 1970); 1958 - 1959 - o grupo escolar, inaugurado como escola primária, passa a receber uma secção do sobrelotado Liceu Camões (v. IPA.00007763); 1960, 9 agosto - recebe obras de conservação por Serafim Enes de Azevedo; 1972, 28 novembro - o Decreto-Lei n.º 482/72, do Ministério da Educação Nacional, revoga o regime de separação de sexos, determinando que, a partir do ano letivo de 1973 - 1974, seja adotada a coeducação nos ensinos primário, preparatório e secundário, como forma de promover uma sã convivência entre rapazes e raparigas; a norma só se generaliza após a revolução de Abril de 1974; 1972 - adota a designação de Escola Preparatória Luís de Camões, autonomizando-se do liceu homónimo; 2004 - 2005 - integra o Agrupamento de Escolas Luís de Camões, de que é escola sede de agupamento, juntamente com a escola Básica do 1.º Ciclo O Leão de Arroios (v. IPA.00035379).

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Estrutura em betão armado e alvenaria de tijolo, rebocada e pintada; socos, revestimentos, degraus e pavimentos em cantaria calcária; caixilharias em metal; painéis de mosaico decorativo.

Bibliografia

BEJA, Filomena; SERRA, Júlia; MACHÁS, Estella; SALDANHA, Isabel - Muitos Anos de Escolas. Edifícios para o Ensino Infantil e Primário anos 40-anos 70 1941. Lisboa: DGEE, 1985, vol. 2; FÉTEIRA, João Pedro Frazão Silva - O Plano dos Centenários as Escolas Primárias (1941-1956). Lisboa: s. n., 2013, dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; “As novas escolas primárias da cidade”. Revista Municipal. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, jun. - set. 1955, A. 16, n.º 66, pp. 63 - 66.; MARQUES, Inês Maria Andrade - Arte e Habitação em Lisboa 1945-1961: Cruzamentos entre Desenho Urbano, Arquitetura e Arte Pública. Barcelona: a.n., 2012, dissertação de doutoramento apresentada à Universitat de Barcelona.

Documentação Gráfica

CML: Arquivo Municipal de Lisboa

Documentação Fotográfica

CML: Arquivo Municipal de Lisboa

Documentação Administrativa

CML: Arquivo Municipal de Lisboa

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Paula Tereno 2015

Actualização

 
 
 
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