Igreja de São João Baptista

IPA.00035487
Portugal, Ilha Terceira (Açores), Angra do Heroísmo, Angra (Sé)
 
Igreja construída séc. 17, no interior da fortificação, por determinação de D. Filipe II de Castela, em estilo maneirista e aplicando as normas do Concílio de Trento. Apresenta planta retangular composta por três naves, separadas por arcos, de volta perfeita, sobre pilares, e cabeceira tripla escalonada, interiormente com iluminação axial e bilateral e coberturas de madeira nas naves e abóbada na capela-mor, tendo adossado em eixo a sacristia. Fachada principal harmónica, de três panos, os laterais correspondentes às torres sineiras, atarracadas e cobertas por cúpula facetada, e o central rematado em frontão interrompido, organizado em dois registos interrompidos e seccionados e em três eixos de vãos. O central é formado por portal de verga reta, tabela retangular com brasão, óculo circular, fechado por relógio, e nicho, ladeados por pilares de capitéis vegetalistas, consolas e pilares sobrepostos; os eixos laterais são compostos por janelas retilíneas e tabela de acantos relevados, entre pilastras sobrepostas da ordem jónica e coríntia e consolas. As torres sineiras têm o segundo registo rasgado por duas ventanas. A organização da fachada e o facto das torres sineiras surgirem integradas nas naves laterais, apresenta semelhanças com as fachadas da Catedral de Angra (v. IPA.00008159), a de Portalegre (v. IPA.00003772), da Igreja Paroquial de Fronteira (v. IPA.00003722), da Igreja da Graça, de Setúbal (v. IPA.00002149) e com a Igreja de Santa Catarina dos Livreiros, em Lisboa. As fachadas laterais rematam em friso e cornija sobreposta por pano de muro recuado, com cornija, ritmado por caleiras e gárgulas, e são rasgadas por porta travessa de verga reta encimada por friso e cornija suportando pináculos, e duas janelas de capialço, devendo a central ser posterior, dada a diferente modinatura. A fachada posterior tem a sacristia terminada em frontão e dividida em dois registos, com amplos janelões. No interior, de maior austeridade, até devido ao incêndio que sofreu no séc. 18, tem a nave central percorrida por duplo friso e cornija, o inferior mais avançado, rasgando-se no espaço intermédio vão jacente e óculo, à semelhança do esquema da Sé de Angra, coro-alto de madeira, batistério no interior da torre da Epístola, e, no topo da nave, dois púlpitos laterais confrontantes, com bacia retangular e guarda em balaustrada. As naves laterais têm bíforaS na parede fundeira e na testeira capelas colaterais à face que deveriam aceder aos absidíolos, entretanto fechados. O arco triunfal é de volta perfeita, sobreposto por brasão de Portugal, e capela-mor é coberta por abóbada de berço, decorada com losangos relevados. A cripta, em cantaria, possui as paredes reforçadas por arcos sobre pilares e cobertura em abóbada de berço.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja  

Descrição

Planta retangular composta por três naves, integrando torres sineiras quadrangulares, capela-mor, tendo adossado, em eixo desta, a sacristia retangular e, às naves laterais, dois corpos quadrangulares. Volumes articulados, com coberturas em telhados de duas águas nas naves, capela-mor e sacristia, e de três nos corpos adossados, rematadas em beirada simples. As fachadas são rebocadas e pintadas de branco, com soco de cantaria, têm pilastras toscanas nos cunhais e rematam em friso e cornija. A fachada principal, virada a norte, tem três panos, os laterais semelhantes, correspondendo às torres sineiras, cobertas por cúpula facetada de cantaria, coroada por pináculos, que também surgem sobre os cunhais; as torres têm dois registos, separados por duplo friso e cornija, o inferior rasgado por janela de capialço e uma outra retilínea, e o superior, com soco, é rasgado, em cada uma das faces, por dupla sineira, em arco de volta perfeita sobre pilares, apenas uma albergando sino. O pano central remata em frontão interrompido por cornija contracurva, coroada por cruz latina, metálica, sobre acrotério, e apresenta dois registos, separados por friso e cornija, também eles interrompidos ao centro e seccionados a meio, por friso e cornija. Os vãos dispõem-se em três eixos, o central formado pelo portal de verga reta, com moldura ladeada por dois pilares de capitéis vegetalistas, sobre altos plintos paralelepipédicos, sustentando múltiplos frisos e cornijas; tabela retangular, definida por consolas decoradas e cornija formando aletas laterais, contendo brasão com as armas de Portugal, inserido em moldura de acantos; relógio circular; e nicho, em arco de volta perfeita, assente em pilastras, interiormente desnudo, ladeado por moldura, percorrida por sulcos, e quarteirões sobrepostos por pilastras coríntias sobre plintos, que sustentam entablamento. Os eixos laterais, desenvolvidos a partir do seccionamento do registo inferior, são compostos por janelas retilíneas com molduras ladeadas por pilastras jónicas; duas outras janelas retilíneas, com moldura ladeada por pilastras coríntias sustentando frisos e cornijas; e tabela de cantaria, definida por consolas suportando cornija, contendo almofada de acantos relevados; no alinhamento das tabelas desenvolvem-se frisos verticais até ao remate da fachada, tendo a meio losango. Nas fachadas laterais, as torres sineiras são definidas por pilastras e têm igual número de registos, tendo no primeiro da lateral esquerda porta de verga reta e janela de capialço. A nave é rasgada por portas travessas, de verga reta, encimada por friso e cornija, sobre a qual surgem dois pináculos embebidos enquadrando janela retilínea, abrindo-se lateralmente duas outras de capialço; sobre o remate, de duplo friso e cornija, eleva-se pano de muro, ligeiramente recuado, com gárgulas; nos corpos laterais abre-se portal de verga reta e na capela-mor pequena janela retilínea; a cornija da capela-mor integra gárgulas quadrangulares. A sacristia apresenta dois registos, marcados por friso e cornija e possui, na lateral esquerda, dois portais de verga reta. A fachada posterior das naves termina em empena e é rasgada por quatro vãos jacentes, e a da sacristia, em frontão triangular e com dois registos, dois amplos janelões retilíneos; nos corpos laterais abre-se portal em arco abatido sobre pilastras INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco e rodapé de cantaria, pavimento em soalho de madeira ou cantaria e cobertura das naves plana, em madeira, ligeiramente diferenciada, assente em cornija, e a da capela-mor em abóbada de berço. As naves, cada uma com três tramos, separam-se por três arcos de volta perfeita, assentes em pilares quadrangulares, tendo a meio frisos verticais que se prolongam até ao remate, em friso e cornija que circunda a nave central; esta é encimada por um outro friso e cornija, menos avançado, rasgando-se no espaço intermédio uma janela jacente, na parede testeira, e na fundeira, onde a cornija inferior tem perfil recortado e é interrompida formando aletas, um óculo, atualmente tapado pelo relógio. Coro-alto de madeira, com guarda em balaústres torneados, assente em seis pilares, acedido de ambos os lados por porta de verga reta, rasgadas nas torres sineiras, que avançam pelas naves laterais, atualmente apenas pela torre do lado do Evangelho. No sub-coro, do lado da Epístola, o batistério ocupa o interior da torre, sendo acedido por arco de volta perfeita, sobre pilares, e tendo interiormente cobertura em abóbada de aresta sobre mísulas. No último pilar da nave central dispõe-se, de cada lado, púlpito com bacia de cantaria, sobre mísula, com guarda em balaustrada e acedido por escada de cantaria colocada nas naves laterais. As naves laterais possuem na parede fundeira uma bífora retilínea, rasgada ao nível das sineiras, que permite iluminar o seu interior. As portas travessas são enquadradas por dois pilares, coroados por pináculos tipo pera, o da Epístola ladeado por pia de água benta hemisférica e gomeada. Na parede testeira, abre-se capela colateral, com arco de volta perfeita sobre pilastras. Arco triunfal, de volta perfeita, sobre pilastras toscanas, com brasão policromo das armas de Portugal no fecho, e possuindo no prolongamento das pilastras frisos verticais até ao friso e cornija inferior. A capela-mor é profunda e sobrelevada com um degrau, possuindo lateralmente porta de verga reta, a do lado da Epístola sem moldura, janela de capialço e pequeno vão retilíneo. A parede testeira é enquadrada por arco de volta perfeita, saliente e em alvenaria de pedra, assente nos pés direitos, possuindo ao centro porta de verga reta de acesso à sacristia, encimada por imagem do Crucificado. Cobertura em abóbada de berço assente em friso e cornija, decorada com fiadas relevadas de losangos, em cantaria. Sacristia com pavimento em cantaria e cobertura em falsa abóbada de berço; num dos lados possui lavabo em mármore, com espaldar retangular, disposto na vertical, rematado em cornija contracurva, tendo inferiormente bica carranca, vertendo para bacia circular. Sob a capela-mor desenvolve-se a cripta, com acesso a partir da sacristia, por escada de dois lanços; apresenta pavimento de cantaria e cobertura em abóbada de berço abatido, assente em cornija, sob a qual existem pilares de reforço sustentando três arcos de volta perfeita. A parede fundeira tem arco de volta perfeita sobre pilares integrando pequeno nicho. Ladeando a capela-mor e no topo das naves laterais, existem espaços correspondentes às torres sineiras, cobertos por abóbadas de berço abatido.

Acessos

Angra (Sé), Monte Brasil; Caminho dos Carros. WGS84 (graus decimais): lat.: 38,651347; long.: -27,226572

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 32 973, DG, 1.ª série, n.º 175 de 18 agosto 1943 *1 / Incluído na Zona Central da Cidade de Angra do Heroísmo (v. IPA.00010623)

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, implantado na interior da Fortaleza de São João Batista (v. IPA.00008105), construída na encosta norte da península do Monte Brasil, que cria duas baías, a de Angra, a este, onde se desenvolve a cidade, e a baía do Fanal, a oeste. A igreja situa-se no meio da praça de armas, pavimentada com asfalto, no enfiamento da porta principal, ficando a noroeste a casa do governador e a nordeste a Capela de Santa Catarina.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 17

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: Lourenço, Simões & Reis, Ldª (1956).

Cronologia

1593 - na ampla praça de armas, junto à muralha interior da porta principal, no lado oposto ao da casa do castelo, existe capela dedicada ao Espírito Santo; 1643, abril - alvará régio de D. Filipe II de Castela determina a construção no interior da fortificação de uma ermida com invocação de São João Baptista, porque não havia "jgreja nem jrmida da inuocação do dito santo"; Tiburcio Spanochi concordara com a localização da nova capela, considerando "my bien (...) que la Iglesia se haga en el lugar mas Noble com las circunstancias que se apuntan y la capacidad conforme al presidio que alli ade estar de ordinário y algo mayor"; desconhece-se a data do início da construção da igreja de São João Baptista e a da sua conclusão; 1656, setembro - D. Afonso VI recomenda ao novo governador João Sequeira Varejão a continuação do "que tendes obrado no dito Castello e Ermida nova", concedendo 50$000 mensais e o "que Resultar das denusiasois e fazendas perdidas que pertencem a Alfandega e com tudo o mais que for possível para que as ditas obras luzão e cresão com a maior brevidade que se posa"; 1657 - autoriza-se a benção da igreja; 1658, 26 abril - bênção da igreja nova no castelo; 1659, 26 julho - rei congratula-se pelo zelo do governador nos trabalhos do "castello, e igreja nova que nelle se vai fazendo, por a velha ser velha muito indecente", e também pela "curiosidade do mestre della tem cresido a obra em grande perfeição e se continua com grande calor, trabalhando os mesmos soldados", esperando que se a terminasse em breve; 1659, verão - rei reafirma a sua satisfação pelo zelo do governador nos trabalhos do castelo e igreja nova; 1665 - a cal comprada por conta da Fazenda Real para a obra da igreja é arrematada do pedreiro João da Rocha, para com ela acudir às necessidades a gastos da fortificação; 1818, 27 setembro - pelas 14:00 da tarde deflagra incêndio na igreja; 28 setembro - vistoria à igreja, verificando-se terem sido reduzidas a cinzas o sacrário e hóstias nele guardadas; determina-se que o capelão recolha os despojos que fossem da capela-mor e decide-se a manutenção da "forma do templo, pondese hua Cruz no Altar Mor", ficando sob a responsabilidade dos seus eclesiásticos a proteção das ruínas contra outra diferente utilização; faz-se ainda um auto de inquirição para apurar a causa do incêndio; 1867, 01 dezembro - só nesta data a igreja reabre ao culto por empenho de José Silvestre Ribeiro (1807-1891); 1950, década - a igreja tem os elementos cobertos de cal e os paramentos a ocre, sendo posteriormente removida a policromia; 1965, 02 janeiro - abate cerca de 9 m2 da cobertura da nave lateral do Evangelho, ficando a parte restante da mesma nave, da central e coro sem oferecer segurança, pelo que a igreja deixa de ter culto; o sino desprende-se da respetiva barra de fixação e cai sobre a caixa do mecanismo do relógio e o bordo da sineira.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra vulcânica da região; pilastras, frisos, cornijas, gárgulas, soco, molduras dos vãos, pináculos e outros elementos em cantaria da região; cimento nas juntas; cruz em estrutura metálica; pavimento em soalho de madeira e cantaria da região; pia de água benta e lavabo da sacristia em mármore; portas e caixilharia de madeira; grades em ferro; cobertura em telha.

Bibliografia

CANAS, José Fernando - Conservação e Restauro. A intervenção da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. In Monumentos. Lisboa: DGEMN, n.º 5, pp. 50-53; CORREIA, José Eduardo Horta - «A Arquitectura - maneirismo e «estilo chão»». In História da Arte em Portugal. Lisboa: publicações Alfa, 1986, pp. 92-134; SOUSA, Nestor de - «Programa de Arquitectura Militar Quinhentista em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo. Italianos, Italianização e Intervenções até ao século XVIII. A ermida de S. João Baptista na fortaleza do Monte Brasil». In Arquipélago - História. Ponta Delgada: 2002, 2.ª série, vol. VI, pp. 53-224; SOUSA, Nestor de - «S. João Baptista de Angra do Heroísmo. Um programa italiano de fortaleza filipina e a sua ermida da Restauração». In Monumentos. Lisboa: DGEMN, n.º 5, pp. 28-35.

Documentação Gráfica

SIPA: DGEMN: DSID, DGEMN:DRMLisboa

Documentação Fotográfica

SIPA

Documentação Administrativa

SIPA: PT DGEMN:DSARH-010/030-0012

Intervenção Realizada

DGEMN: 1930, década - substituição do pavimento original da igreja por um de betonilha; 1956 - limpeza e substituição de cantaria lisa da fachada principal; reparação de rebocos, com remoção dos rebocos que cobriam as cantarias, esboço e caiação; reparação de portas e janelas e sua pintura; as obras são adjudicadas ao empreiteiro Lourenço, Simões & Reis, Ldª, por 50.000$00; 1965 - obras de reconstrução parcial das coberturas e reconstituição do teto da nave, que não existia mas que era idêntico ao da Sé de Angra; 1966 - obras na cobertura da igreja, adjudicadas a Lourenço, Simões & Reis, Ldª: levantamento e apeamento de toda a estrutura existente, construção de cintas de betão armado sobre as paredes da nave central com incorporação de esticadores de ferro, frechal de betão armado, feitura de estrutura em pré-esforçado, revestimento de telha romana e beirado de telha à portuguesa; 1967 - consolidação do sino; 1970, década - execução de forro do coro; demolição do anexo adossado à capela-mor na fachada lateral esquerda; 1995 - demolição de parede no sub-coro a fim de libertar o arco de acesso ao batistério; substituição dos blocos de cantaria em falta; colocação de tetos de madeira, do tipo tradicional de saia e camisa nas naves, que estarem sem forro; demolição de uma parede de acesso ao batistério, valorizando o interior da torre sineira (com abóbada); demolição de alguns panos de parede que entaipavam os vãos da sacristia, guarnecido com grades; reabertura do vão correspondente ao antigo acesso à cripta; limpeza da pedra da cripta e instalação elétrica na mesma; aplicação de lajedo serrado de traquito no pavimento da igreja; caiação das paredes interiores e exteriores com várias demãos.

Observações

*1 - A Igreja de São João Batista foi classificada conjuntamente com o Forte de São João Batista.

Autor e Data

Paula Noé 2015

Actualização

 
 
 
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