Aqueduto de Ponta Delgada / Muro das Nove Janelas e seus afluentes
| IPA.00035417 |
| Portugal, Ilha de São Miguel (Açores), Ponta Delgada, Santo António |
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| Aqueduto construído na segunda metade do séc. 19, sob promoção da Câmara Municipal de Ponta Delgada, para abastecimento de água à cidade,a partir da Lagoa do Canário e Lagoas Empadadas, localizadas na serra, substituindo uma outra estrutura mais antiga. É composto por troços subterrâneos e à superfície, estes com arcaria de volta perfeita sobre impostos ou pilares e impostas, mas com características diferentes: o troço do Muro das Nove Janelas, o que mais se destaca e o mais alto, é mais largo na base do que no topo, tem duas ordens de arcos abertos em ritmo desencontrado, tendo um décimo arco isolado no "fundo da grota"; o troço dos Vinte e Um Arcos, com esse número de arcos, sobre pilares e impostas, reforçados, de ambos os lados, por contrafortes de esbarro; e o troço do Muro do Carvão com arcos de volta perfeita e abatidos intercalados, a ritmo irregular, por vãos mais pequenos. No topo do aqueduto corre caleira, em meia cana, com cobertura em meia cana ou plana, em laje. Da responsabilidade do engenheiro hidrográfico e Tenente-Coronel José Theresio Michelotti, o aqueduto apresenta uma conceção, envergadura e qualidade construtiva, que a individualiza no contexto da produção arquitetónica açoriana e em particular micaelense, com soluções bastante inovadoras para a época. |
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| Registo visualizado 627 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Estrutura Hidráulica de condução Aqueduto
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Descrição
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| Aqueduto de vários quilómetros, composto por troços subterrâneos e à superfície, construído em alvenaria e cantaria de basalto negro, característico da ilha de São Miguel, de aparelho isódomo em redor dos arcos. Ao longo do seu percurso, a água é transportada por ação da gravidade numa caleira ou conduta em pedra, também esta em pedra de basalto escura, desde a lagoa do Canário, atravessando a mata dos herdeiros de "Caetano de Andrade Albuquerque de Bettencourt [1844-1900] " até uma arquinha, no limite desta mata, e junto ao caminho da Lomba do Outeiro, que depois descarregava a água no muro das nove janelas. Quando atravessa vales mais profundos, como o da grota do Lucena, o vale da pastagem a norte do Caminho da Cumeeira e o vale sito a Oeste do Caminho do Goyanes (Capelas), apresenta troços à superfície com arcaria. A caleira ou conduta é constituída por blocos, com formato de meia cana, com a maioria dos seus topos rebocados com argamassa fina (gesso, cimento e cal). A caleira é protegida por paredes de alvenaria argamassada e com cobertura em meia cana ou plana, em laje de pedra basáltica e, na falta destas, foram sendo substituídas por lajes de betão. O troço principal designa-se por MURO DAS NOVE JANELAS, nasce junto à Lagoa do Canário e na zona mais profunda a estrutura apresenta a maior altitude, tendo, desde o fundo da grota até ao cimo da caleira 14,40 metros de altura. É composto por nove arcos, de volta perfeita, sobre impostas que se prolongam para o intradorso, abrindo-se quatro num registo inferior e cinco num registo superior, nos intervalos dos inferiores. Além destes nove arcos, existe ainda um outro arco, na base, também de volta perfeita sobre impostas, denominado por "portão da grota", que serve para a passagem da água do vale ou grota. Na proximidade, desenvolve-se o troço denominado de MURO DOS VINTE E UM ARCOS, que possui vinte e um arcos, de volta perfeita, sobre pilares, com diferentes alturas, dependendo da inclinação do terreno, reforçados, de ambos os lados, por contrafortes de esbarro. Em algumas zonas, possui dois níveis de arcos sobrepostos. Juntos, estes dois troços têm a extensão de cerca de 250m. O terceiro troço à superfície designa-se por MURO DO CARVÃO, com cerca de 150 m de extensão e, na zona mais alta, com 7,20 metros de altura, é rasgado por seis arcos, quatro de volta perfeita e dois abatidos, sobre pilares, os quais têm tamanho e altura diferentes, conforme o declive do terreno. Além destes, o troço ostenta ainda sete vãos ou "janelas", mais estreitos e baixos, dispostos em ritmo irregular entre os arcos. Nos extremos do muro existem duas câmaras repartidoras de caudal, conhecidas como "arquinhas". Nas imediações dos vários troços do aqueduto, existem respiradouros de levadas, de planta quadrangular, com paredes rebocadas e pintadas de branco e cobertura plana. Mais próximo do Muro do Carvão, ergue-se caixa de visita, de planta circular e corpo cónico, inferiormente com esbarro facetado, e cobertura cónica, coroada por pináculo adelgaçado. Na zona do esbarro, abrem-se vários vãos retilíneos, a ritmo regular, com pequena zona de arejamento no topo e para escoamento das águas inferiormente; possui ainda porta de verga reta. O corpo apresenta dois anéis relevados e, no alinhamento da porta, possui inscrição já incompleta. A estrutura é circundada por tanque circular, interrompido em frente da porta. |
Acessos
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| Santo António; Caminho do Outeiro da Lomba e Caminho da Cumeeira (Muro das Nove Janelas) (WGS84 (graus decimais) lat.: 37,833900; long.: -25,751621); Caminho da Cumeeira (Muro dos Vinte e Um Arcos) (WGS84 (graus decimais) lat.: 37,832666; long.: -25,751853); Capelas; Estrada Regional n.º 2 de Capelas e Caminho do Goyanes (Muro do Carvão) (WGS84 (graus decimais) lat.: 37,826755; long.: -25,742041) *1 |
Protecção
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| Inexistente |
Enquadramento
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| Rural, isolado, adaptado ao declive mais ou menos acentuado do terreno, tendo os vários troços do aqueduto à superfície parcialmente revestidos de vegetação. O Muro das Nove Janelas implanta-se quase na imediação da nascente, junto à mata da serra da Devassa, sobre a grota do Lucena, o vale mais profundo por onde corre o aqueduto, sendo parcialmente envolvido por vegetação de grande porte. Este troço prolonga-se num outro, o Muro das Vinte e uma Janelas, junto ao qual corre estrada alcatroada, sendo envolvido por campos de pastagem. O Muro do Carvão implanta-se na proximidade do Pico do mesmo nome. |
Descrição Complementar
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| As estruturas à superfície apresentam a extensão total de 248,20 metros no troço principal, desde o limite do Caminho do Outeiro da Lomba até a Estrada Regional n.º 2, ambos na freguesia de Santo António, acrescido de 150 metros do Muro do Carvão. O muro das Nove Janelas mede em altura, desde o fundo da grota do Lucena até ao cimo da caleira 14,40 metros; desde o cimo até à cota zero, 9 metros; a base do muro junto à grota mede 3 metros de largura e no cimo (caleira) a sua largura é de 1,10 metros; a base do muro (cota zero / acima da grota) mede em largura 2,25 metros. Quanto aos arcos, a base, situada na grota, mede 4,50 metros de altura por 3,20 metros de largura; os nove arcos medem 3,40 metros de altura por 1,60 metros de largura. O Muro dos Vinte e Um Arcos mede na sua base 3,60 metros de largura (quando este é reforçado por contrafortes) e no cimo, junto à calha, mede 65 centímetros de largura; os arcos medem, na sua parte mais larga (centro) 3,50 metros de largura e a sua altura varia entre os 1,95 metros e os 3,95 metros, dependendo da inclinação do terreno. O Muro do Carvão tem a altura, deste a base (cota zero) até ao cimo (caleira), também, bastante variável sendo a mais elevada, junto aos quatro arcos, de 7,20 metros; os arcos de volta perfeita e abatidos medem entre os 3,42 metros e os 4,80 metros de largura por 3,35 metros e 5,90 metros de altura, respetivamente; além destes seis arcos, o aqueduto ostenta sete "janelas" que medem 80 centímetros de largura por 2,50 metros de altura. No Muro do Carvão existe cartela oval com a inscrição "CM / 1862". A caleira ou conduta que corre no topo da estrutura é constituída por blocos de 1 côvado (66 centímetros) de comprimento, com formato de meia cana com 25 centímetros de profundidade por 30 centímetros de largura, unida de forma elementar, porém segura. |
Utilização Inicial
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| Hidráulica: aqueduto |
Utilização Actual
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| Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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| Pública: municipal |
Afectação
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| Sem afetação |
Época Construção
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| Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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| DIRETOR DA OBRA: José Caetano Dias do Canto e Medeiros (1825). ENGENHEIRO: Tenente-coronel José Theresio Micheloti (1814-1830). INSPETOR: João Manuel da Câmara Bettencourt (1814); Tomaz Soares Pereira (1817). MESTRES DA OBRA: Jacinto Pestana (1826); João de Arruda da Câmara (1814); José Maria Mendes (1814). |
Cronologia
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| Séc. 16 - surge a necessidade de garantir o abastecimento de água às populações de Ponta Delgada; 1521 - até esta data, os moradores de Ponta Delgada servem-se de água de poços, salubre, feitos junto à costa; 22 julho - por alvará de D. Manuel (1495-1521), os moradores de Ponta Delgada são fintados para despesas dos aquedutos; 1521 - 1557 - no reinado de D. João III determina-se a construção de um sistema de transporte de água proveniente da serra à cidade de Ponta Delgada; provavelmente, os primeiros aquedutos são construídos em madeira, muitas vezes designados de "água de pau"; séc. 16, meados - pedido da Câmara Municipal de Ponta Delgada para conservação do cano de água; 1551, 15 maio - alvará régio determina a conservação do aqueduto e impõe punições para quem o danifique; séc. 17 - 18 - por questões de saúde e até de manutenção, os aquedutos com caleiras de madeiras e/ou argila, são substituídos por outros em pedra basáltica elementar; 1781 - 1791 - é arrematada a vigia das águas do Canário, por Manoel Cordeiro dos Arrifes, Manoel Cordeiro Pavão, Manoel Janeiro Pavão dos Arrifes e António Rodrigues de Ponta Delgada, pelas quantias de 10$000 e 32$000, respetivamente; séc. 19, início - surgem nas vereações da Câmara de Ponta Delgada, algumas queixas por falta de água; 1803, 30 março - habitantes dos Mosteiros queixam-se à vereação da falta de água, vendo-se obrigados a beber água salobra de um poço; 1813, 29 maio - religiosas de São João Evangelista queixam-se à vereação da falta de água; 1814, 02 abril - a vereação determina o encanamento de água para a cidade, sendo nomeado inspetor dos obreiros João Manuel da Câmara Bettencourt; 27 agosto - dirige-se um ofício ao tenente-coronel engenheiro José Theresio Michelotti sobre a questão da água, sendo nomeado Tomaz Soares para lhe fazer aposentadoria, durante as obras, junto à Água Nova e do Canário; 10 setembro - apresentação do plano de encanamento das águas, pelo tenente-coronel engenheiro José Theresio Michelotti; na mesma vereação são nomeados para execução da obra João de Arruda da Câmara e para inspetor e assistente da obra Tomaz Soares Pereira; 24 setembro - arrematação pelo mestre José Maria Mendes de 400 côvados de cano e suas tapadas, por 39$900, e de 100 côvados de cantaria, por 38$900; ainda nesta vereação, determina-se o início das obras de construção do Aqueduto das Novas Janelas, pagando-se, a diária de $400, ao tenente-coronel engenheiro José Theresio Michelotti para direção da construção e melhoramento do encanamento velho; 29 outubro carta dirigida ao Juiz de Fora pelo Capitão General dando conta da aprovação do Acórdão para construção do aqueduto; 1815, 08 novembro - acorda-se, em razão da grande despesa com os aquedutos, que as tabernas paguem o imposto sobre o vinho de 2$000 por ano, as lojas de fazendas 4$000 e os adelos 2$000; 1817, 12 fevereiro - acordo entre o coronel Nicolau Maria Raposo do Amaral e a Câmara Municipal de Ponta Delgada, para empréstimo de dinheiro, para que esta fizesse encanar a água do Canários e a Água Nova da Roseira, assentando-se os cantos de pedra que estavam feitos e remediando-se as mais faltas com canos de barro; 20 dezembro - acorda-se encanar a água, até onde chegassem os canos de pedra; 1824, 16 fevereiro - o procurador do concelho requer que se pusesse em arrematação 1000 canos de pedra, que não tivessem mais de 1 côvado de comprimento, deliberando a câmara conforme o requerido; 05 abril - arrematam-se os cunhais para a represa das águas e os canos; 13 novembro e 07 dezembro - exige-se em sessão de Câmara a construção de um novo muro para sustentar o encanamento, visto o muro construído em 1817 estar muito arruinado; 18 dezembro - delibera-se a vistoria para examinar o Muro das Nove Janelas, por se recear que caísse até abril do ano seguinte e a cidade ficasse sem água, visto a Água Nova ser insuficiente para sustentar a cidade; 1825, 09 fevereiro - devida a despesas extraordinárias (2:000$000 expostos), acorda-se resumir a despesa com o encanamento das águas para 40$000 semanais; 30 abril - manda-se pagar a despesa feita na vigia dos moçames, pertença da obra do encanamento; 02 julho - consagrada por unanimidade tratar-se do melhor aproveitamento das águas das lagoas do Canário, Carvão e da Água Nova, decide-se altear o Muro das Nove Janelas, indicando que uma comissão estudasse o assunto e desse o seu voto à câmara; 24 setembro - acorda-se mandar fixar editais, declarando que o diretor da obra das águas seria José Caetano Dias do Canto e Medeiros e, quem tivesse cal e barro mais barato para vender, devia acorrer à sua casa; 1826, 08 abril - Jacinto Pestana arremata 500 côvados de canos; 08 novembro - vereação delibera, por unanimidade, o pagamento do imposto sobre a aguardente, para prosseguimento da construção do encanamento; 1830 - reconstrução do aqueduto; 1846 - 1847 - despesa da Câmara de Ponta Delgada no valor de 2:621$705 para concessão da água do aqueduto público para fontes; 1862 - data inscrita numa placa no muro do carvão, possivelmente assinalando a conclusão da sua reconstrução; 1869 - Cândido Abranches, no Álbum Micaelense, descreve o aqueduto nos seguintes termos: " no meio das serras, na que tem o nome de Serra Devassa, por ser logradouro público, e quase junto à sua nascente, há uma série de arcos por cima dos quais passam as águas, tendo de distância em distância vigias. No começo destes há um elevado muro reconstruído em 1830, a que se dá o nome de muro das nove janelas, em razão de outras tantas aberturas em forma de pequenos arcos que tem; no meio há um grande servindo de base e dando escoamento às águas que da serra emanam; quatro outros pequenos ficam acima deste e em andar superior mais cinco nos intervalos dos quatro. Estes arcos ou janelas foram abertos para dar passagem ao vento que com fúria reina naqueles lugares, no inverno"; 1888 - aquando da construção da Adutora Velha, com o aproveitamento das abundantes nascentes localizadas na Serra de Água de Pau, o troço do aqueduto designado por Muro do Carvão é desativado. |
Dados Técnicos
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| Sistema estrutura estrutural de paredes autoportantes. |
Materiais
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| Estrutura em cantaria basáltica negra. |
Bibliografia
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| ABRANCHES, Joaquim Cândido - Album Michaelense. Ponta Delgada: Typographia de Manoel Corrèa Botelho, 1869, In http://www.google.pt/books?hl=pt-PT&lr=&id=a3QrAAAAYAAJ&oi=fnd&pg=PA3&dq=C%C3%A2ndido+Abranches&ots=KiCeGH62Xv&sig=BX0ulu6atvz5CrWhLUWaUnex2lI&redir_esc=y#v=onepage&q=C%C3%A2ndido%20Abranches&f=false http://www.google.pt/books?hl=pt-PT&lr=&id=a3QrAAAAYAAJ&oi=fnd&pg=PA3&dq=C%C3%A2ndido+Abranches&ots=KiCeGH62Xv&sig=BX0ulu6atvz5CrWhLUWaUnex2lI&redir_esc=y, [consultado em 12 novembro 2014]; ANDRADE, José - Concelho de Ponta Delgada - 500 anos de História - Cronologia de Figuras e Factos 1499-1999. Ponta Delgada: Câmara Municipal, 2004; ARCHIVO DOS AÇORES - Publicação destinada à vulgarisação dos elementos indispensáveis para todos os ramos da História Açoriana. Ponta Delgada: 1880, volume segundo In (http://archive.org/stream/archivodosaore02pont#page/10/mode/2up ), [consultado em 10 novembro 2014]; ARCHIVO DOS AÇORES, Publicação destinada à vulgarisação dos elementos indispensáveis para todos os ramos da História Açoriana, volume quarto, Ponta Delgada, 1882. In http://archive.org/stream/archivodosaore04pont#page/n5/mode/2up ; MELO, J. Pastor - Ponta Delgada - 500 Anos Concelho de Ponta Delgada. Publiçor, 1999; NEMÉSIO, Jorge Ferreira da Silva - Breve resenha histórica dos SMAS de Ponta Delgada. 2013, (http://www.smaspdl.pt/historia.php>), [consultado em 10 novembro 2014]; SILVA, Luís Pedro - Guia das Freguesias Rurais de Ponta Delgada - Santo António, Fonte da Vida. Ponta Delgada: Câmara Municipal de Ponta Delgada, 2011; SILVA, Miguel Soares da - A freguesia de Santo António nos sécs. XV e XVI. s.l.: 1995; SUPICO, Francisco Maria - Escavações. Ponta Delgada: Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1995, vol. I-III. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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| IHRU: SIPA |
Documentação Administrativa
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| Câmara Municipal de Ponta Delgada: Livro de Actas, 1814-1830, Livro de Arrematações, 1781-1827 |
Intervenção Realizada
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| PROPRIETÁRIO: 1829, 11 junho - folha de pagamento de 40$000 por consertos no Muro das Nove Janelas. |
Observações
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| *1 - A denominação do troço do aqueduto do Muro das Nove Janelas e dos Vinte e Um Arcos advém do número de arcos que compõem a sua estrutura. O troço do aqueduto, denominado Muro do Carvão integra-se já na freguesia de Capelas. |
Autor e Data
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| António Aguiar (Contribuinte externo) 2014 |
Actualização
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