Casa da Ponte

IPA.00003502
Portugal, Viana do Castelo, Arcos de Valdevez, União das freguesias de Arcos de Valdevez (São Paio) e Giela
 
Casa nobre barroca, construída no último quartel do séc. 18 e ampliada no séc. 19, com planta em L, irregular, e fachadas evoluindo em dois pisos. As fachadas viradas à rua apresentam os pisos separados por friso, cunhais apilastrados, rasgadas regularmente por vãos de arco abatido, sobrepostos e com molduras rematadas em cornija, e terminadas em friso e cornija. A fachada principal possui três panos definidos por pilastras, o central alteado ao centro, formando falso frontão para albergar o brasão de família, e rasgado por portal e janela de sacada entre janelas de peitoril, e os laterais por duas janelas de peitoril, as do térreo gradeadas, correspondendo algumas à adaptação de antigas portas, e as do andar nobre formando falsos brincos retos. A fachada lateral direita é mais assimétrica, devido às obras de ampliação e alteamento parcial no séc. 19, possuindo o piso térreo com vãos de verga reta num ritmo irregular e os superiores em arco abatido tendo, ao nível do andar nobre, duas janelas de sacada comum entre duas de peitoril, esquema que se reproduziu em parte no terceiro piso, acrescentado. Esta ala prolonga-se para norte, onde se localiza a cozinha, com ampla chaminé. No interior, o vestíbulo, disposto ao centro, tem escada de acesso ao andar nobre descentrada, com guarda em balaustrada de cantaria e o segundo lanço iluminado por claraboia. No andar nobre, o espaço estrutura-se pelo corredor em L, e as divisões apresentam essencialmente decoração oitocentista, com as paredes forradas a papel e tetos de madeira ou de estuque. Destacam-se os três salões virados à fachada principal, intercomunicantes, e a capela, no topo do corredor a oeste, com retábulo de talha dourada rococó, de corpo reto e um eixo, enquadrado por estrutura de talha policroma oitocentista
Número IPA Antigo: PT011601410013
 
Registo visualizado 315 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta em L

Descrição

Planta em L irregular, composta por vários corpos, de volumes escalonados e coberturas diferenciadas em telhados de três e quatro águas, rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por faixa em cimento encarapinhado, pintada de cinzento, com dois ou três pisos separados por friso, de cunhais apilastrados e remates em friso e cornija. Fachada principal virada a sul, de três panos, definidos por pilastras, o central rematado por cornija alteada ao centro, de perfil contracurvo, albergando brasão de família, e rasgado por três eixos de vãos, de arco abatido e molduras terminadas em cornija, correspondendo no central a porta e janela de sacada, com guarda em ferro decorada com motivos geométricos e vegetalistas, e nos laterais a janelas de peitoril, as do piso térreo gradeadas e as do segundo com molduras formando brincos retos, todas com caixilharia de guilhotina. Nos panos laterais rasgam-se dois eixos de janelas de peitoril, iguais às do pano central, uma do pano esquerdo correspondendo à adaptação de uma porta. Fachada lateral direita de dois corpos, o da esquerda de dois pisos, rasgado no térreo por janela de peitoril retilínea, moldurada e gradeada, e porta de verga reta, larga, e o segundo por duas janelas de peitoril, de arco abatido, moldura terminada em cornija e formando brincos retos e com caixilharia de guilhotina. O corpo direito apresenta três pisos, rasgados por quatro eixos de vãos, os do primeiro retilíneos e correspondendo a portal e duas janelas jacentes, e os do segundo e terceiro, semelhantes, a duas janelas de sacada comum, com guarda em ferro, e a duas janelas de peitoril, de verga abatida, com molduras rematadas em cornija, formando brincos retos e com caixilharia de guilhotina. Ao nível do terceiro piso abre-se, virado a sul, janela de peitoril retilínea, sem molduras e com caixilharia de guilhotina. INTERIOR com vestíbulo central, flanqueado por várias dependências, possuindo frontalmente, disposta à esquerda, escada de cantaria de acesso ao andar nobre, de dois lanços, com guarda em balaustrada de cantaria, sendo o segundo lanço iluminado por claraboia aberta ao centro de teto estucado. O segundo piso possui treze divisões, com corredor em L, destacando-se os três salões intercomunicantes e acedidos também pelo corredor virados a sul. O salão principal, denominado de salão azul, possui as paredes forradas a papel, azul, com largo friso de flores nos ângulos e no remate, de tons rosa, e teto de masseira; as portas são pintadas com friso dourado. O salão lateral virado a nascente, denominada sala do piano, tem soalho de castanho, ornado de motivos geométricos, e teto de madeira, em falsa abóbada de arestas. O salão disposto a poente, a sala de visitas, tem ao centro brasão pintado, coberto por um outro teto plano, de estuque, decorado ao centro e nos ângulos com motivos florais, em forma de coração; as paredes são forradas a papel e as portas são pintadas com friso dourado. Junto a esta sala, mas no topo do corredor, virado a poente, existe dependência aproveitada como oratório, com retábulo de talha dourada, dedicado a Nossa Senhora das Dores. Contíguo ao salão do piano, virado a nascente, existe um quarto com teto de masseira, pintado de verde, paredes forradas a papel com motivos florais e com cama de estilo D. Maria e cómoda de estilo D. José. Segue-se uma divisão, primitivamente aberta e onde existia escada para o terceiro piso, que atualmente serve de copa. Segue-se a sala de jantar, com teto de madeira, paredes forradas a papel ornado de motivos florais na zona superior e geométricos, na inferior. Neste piso fica ainda a cozinha, com ampla chaminé. Este piso comunica com o superior por uma escada de madeira, disposta a meio do corredor, virada para poente, com guarda em balaustrada.

Acessos

São Paio, EN. 102, Largo de São João de Deus, nº 72 a 84 (Largo do Cantinho). WGS84 (graus decimais): lat.: 41,843782; long.: -8,416682

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978

Enquadramento

Urbano, adossado, disposto de gaveto, no núcleo urbano desenvolvido na margem esquerda do rio Vez. Ergue-se adaptado ao declive do terreno, com a fachada principal virada à estrada, sem elemento separador, no enfiamento e nas imediações do tabuleiro da Ponte da Vila (v. IPA.00008924), junto à qual fica o Cruzeiro do Senhor dos Milagres (v. IPA.00000433). Junto à fachada posterior, ergue-se a primitiva Casa da Ponte, atualmente denominada de Casa do Rio.

Descrição Complementar

O brasão de família da fachada principal possui escudo esquartelado, tendo no I as armas de Araújo, em aspa carregado de cinco besantes postos em aspa ou santor, na pedra de armas com a aspa carregada de uma diferença no canto superior direito e de cinco arruelas postas em santor e carregadas de um besante cada; no II as armas de Amorim, com cinco cabeças de mouros, fotadas e ensanguentadas, timbre meio mouro sem braços e fotado, no brasão meio homem com braços, barrete comprido e casaca abotoada; no III as armas de Azevedo, de São João de Rei, esquartelado, tendo no 1º e no 4º uma águia estendida, e no 2º e 3º cinco estrelas de seis pontas e bordadura, carregada de oito haspas; e no IV quartel as armas dos Coutinho, com cinco estrelas de cinco raios postas em santor, mas que no brasão da fachada são de dez raios, alternadamente cinco maiores com cinco mais pequenas, postas em santor. Por diferença tem uma brica carregada de um trifólio e por timbre as armas de Araújo. O retábulo-mor do oratório é de talha dourada, de corpo reto e um eixo, definido por duas pilastras exteriores, decoradas de acantos, sobre plintos paralelepipédicos, encimadas por quarteirões, e duas colunas torsas, coroadas por pináculos, sustentando o remate em cornija reta. Ao centro abre-se nicho, de perfil curvo, interiormente pintado com resplendor no topo, albergando pequena maquineta envidraçada e imagem do Crucificado. Na zona dos seguintes possui cartelas circulares. Ladeiam esta estrutura uma outra, em talha pintada a bege e dourado, com duas pilastras almofadadas, sobrepostas por duas mísulas com imaginária, e com capitéis coríntios. Sobrepuja-os sanefa de talha com espaldar curvo ao centro, com colchete e motivo vegetalista, encimada por palma vazada e com lambrequim, de onde pendem cortinas. Altar tipo urna, em talha pintada a bege e dourado, com frontal decorado por motivos vegetalistas.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Comercial e turística: casa de turismo de habitação

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 17 - época provável da construção de uma primeira Casa da Ponte, atualmente denominada Casa do Rio; séc. 18, último quartel - construção da atual Casa da Ponte por ordem do Dr. Agostinho António de Araújo; 1800, 27 fevereiro - carta de brasão de armas de nobreza e fidalguia passada a Luís António de Araújo e Amorim de Azevedo Coutinho, juiz de fora de Azurara da Beira, filho do Dr. Agostinho António de Araújo e D. Joana Maria de Azevedo Coutinho; 1801, 08 abril - escritura de aforamento entre D. Joana Maria de Azevedo Coutinho e a Câmara Municipal; D. Joana fizera petição para que, para completar a re-edificação que estava a fazer das suas casas, necessita alargar a frente da mesma na parte superior do outro lado esquerdo em linha oblíqua que na maior largura, chegaria de 4 a 6 palmos; pedira também para abolir e tapar um beco ou viela que entestava por um dos lados das casas e tendo princípio entre duas propriedades da suplicante corria pelos fundos de algumas outras alheias e terminava num muro alto sobranceiro ao rio da vila que servia de reforço à ponte; séc. 19, inícios - conclusão da atual Casa da Ponte pela esposa e viúva do Dr. Agostinho António de Araújo, D. Joana Maria de Azevedo Sá Coutinho e seu filho Luís António; 1800 - 1803 - possível colocação do brasão de família na fachada principal da casa; séc. 19,1º quartel - até esta data a primitiva Casa da Ponte e a atual estão separadas, existindo entre elas um caminho público; 1822, 16 abril - data da morte do Dr. Luís António, deixando os filhos menores aos cuidados de seus irmãos; entre outros bens, deixa as Casas da Ponte junto ao rio da vila de Arcos; 1832, 03 outubro - data da morte prematura do filho primogénito do Dr. Luís António, António Cézar de Araújo Azevedo Coutinho Amorim Cardoso Mendonça, passando a Casa da Ponte e bens anexos ao seu irmão Luís Maria Cardoso de Araújo e Amorim; 1845 - Inquérito Paroquial refere que Luís Maria Cardoso Araújo e Azevedo, Senhor da Casa da Ponte, tem um oratório na dita casa, muito decente, bem ornado e com paramentos, onde se diz missa na forma do Breve Pontifício; séc. 19, 2ª metade - Luís Maria Cardoso de Araújo e Azevedo, Senhor da casa, acrescenta o terceiro piso à fachada lateral e procede a modificações interiores; 1861, 27 janeiro - data da morte de Luís Maria, sucedendo-lhe na posse dos bens a viúva, D. Mariana Joaquina Brito Soares; 1889 - data do testamento de D. Mariana Joaquina Brito Soares, deixando os bens às suas filhas solteiras, D. Maria Ana de Araújo Brito Soares e D. Maria Margarida da Purificação de Araújo Cardoso Brito Soares; 1907, 16 março - data da morte de D. Maria da Purificação, que fora herdeira por morte das irmãs, deixando os bens, nomeadamente a Casa da Ponte, à afilhada D. Maria Angelina Aguiã Brito Lima; 1909 - morte do Dr. Alberto Carlos de Brito Lima; 1939, 02 dezembro - data da morte de D. Angelina, deixando a casa a sua filha, D, Maria da Purificação de Araújo e Brito Lima da Rocha Aguiã; 1940, 01 abril - casamento de Maria da Purificação com o Dr. António Alberto Magalhães Queiroz no oratório da Casa da Ponte; 1959, 24 julho - o Dr. António Alberto de Magalhães Queirós pede licença à Câmara para soalhar e forrar os corredores da casa; séc. 20, 2ª metade - destruição parcial da sacada e guarda da janela central, por um veículo pesado; 1986 - grade cheia do rio atinge a altura de 1,40m de água no vestíbulo da casa.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria ou alvenaria de granito; pilastras frisos, cornijas, molduras dos vãos, brasão, guarda da escada do vestíbulo e outros elementos em cantaria de granito; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; algerozes metálicos; pavimento em soalho e cantaria; tetos de madeira e de estuque; paredes revestidas a papel; retábulo de talha policroma e dourada; cobertura de telha.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - Alto Minho. Lisboa: 1987; GOMES, José Cândido - Terras de Valdevês. Arcos: 1899; S.A. - "Arcos de Valdevez. Tradição Arquitectónica de Raízes bem Profundas". In Primeiro de Janeiro. Porto: 16 setembro 1980; SILVA, Armando Barreiros Malheiro da, DAMÁSIO, Luís Pimenta de Castro, SILVA, Guilherme Rego da - Casas Armoriadas do Concelho dos Arcos de Valdevez. Arcos de Valdevez: Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, 1982, 2 vol..

Documentação Gráfica

Proprietário

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, meados - realização de várias modificações interiores; transformação em copa da divisão aberta do segundo piso, onde existia escada para o terceiro piso, a qual é transferida para o meio do corredor; 1955 - execução da chaminé; 1959 - feitura de novo soalho e forro dos corredores.

Observações

Autor e Data

Paula Noé 2015

Actualização

 
 
 
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