Igreja Paroquial de Lamas de Mouro / Igreja de São João Baptista
| IPA.00003472 |
| Portugal, Viana do Castelo, Melgaço, União das freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro |
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| Igreja paroquial construída na primeira metade do séc. 14, pela Ordem do Hospital, em românico tardio, ao que parece apenas com nave, coberta de colmo, reformada no séc. 18, época em que se constrói a capela-mor, interiormente com iluminação bilateral. Apresenta fachada principal virada a poente, rasgada com portal em arco de volta perfeita e aduelas largas, executado no séc. 15 / 16, reaproveitando numa das aduelas e num dos silhares envolventes mísulas esculpidas com figuras antropomórficas e zoomórficas, relevadas, da construção inicial. Estas figuras têm sido interpretadas como representando Adão e Eva, ou, segundo José Domingues, como a Santíssima Trindade, o que parece pouco provável, visto constituírem silhares nitidamente reaproveitados na fachada em data tardia, tal como o que tem parte de uma inscrição. A fachada, que terminava em sineira, conforme denota ainda o sulco côncavo provocado pela corrente que o acionava, foi reformada no início do séc. 20, alterando-se o remate e construindo-se um campanário no lado esquerdo da mesma. As fachadas são firmadas por pilastras, coroadas por pináculos, e terminam em friso e cornija, resultante da reforma da época moderna. Destaca-se na fachada lateral esquerda a porta travessa, românica, de arco apontado e três arquivoltas, as interiores delimitadas por cabo e ornadas de motivos geométricos e vegetalistas, com tímpano liso sobre impostas. O coro-alto foi construído apenas em 1874, altura em que se deve ter acrescentado também a sacristia. O interior encontra-se atualmente despojado, devido ao desaparecimento dos retábulos em 1985, conservando o púlpito, com bacia de cantaria sobre mísula, no lado da Epístola. O arco triunfal, de volta perfeita, foi feito na reforma da época moderna. |
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| Número IPA Antigo: PT011603090037 |
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| Registo visualizado 789 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Templo Igreja paroquial
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Descrição
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| Planta composta por nave única e capela-mor retangular, tendo sacristia retangular adossada à fachada lateral direita de ambas. Volumes escalonados, com cobertura diferenciada em telhado de duas águas na igreja e de uma água na sacristia, rematadas em beirada simples. Fachadas em cantaria aparente, com cunhais apilastrados, coroados por pináculos piramidais com bola sobre plintos, e terminadas em friso e cornija. Fachada principal virada a poente, terminada em empena, com cornija, coroada por cruz latina biselada sobre acrotério. É rasgada por portal, em arco de volta perfeita, de aduelas largas, integrando no lado esquerdo de uma delas silhar com duas figuras antropomórficas relevadas, uma delas maior, junto ao qual surge um outro silhar com uma ave encimada por volutas. No alinhamento da empena e sobre o portal, existe sulco côncavo provocado pela antiga corrente que acionava o sino que a sobrepunha. À esquerda, interrompendo a empena, dispõe-se campanário, rematado por cornija, encimada por ventana, em arco abatido, albergando sino, rematado em cornija, sobreposto por uma outra ventana, mais pequena, também com cornija, coroada por pináculo. As fachadas laterais são rasgadas, na capela-mor-mor, por fresta de capialço. Na lateral esquerda existe escada de acesso ao campanário e à porta para o coro-alto, de verga reta; possui ainda porta travessa de arco apontado e três arquivoltas, a exterior sem decoração e as interiores decoradas com motivos geométricos lanceolados e flores quadrifoliadas, delimitadas por cordão, tendo o tímpano liso assente em duas consolas. Na lateral direita, a sacristia, terminada em meia empena, tem janela rasgada a sul e acesso independente a nascente, por porta de arco abatido e moldura contracurva. A fachada posterior é cega e termina em empena, coroada por cruz sobre acrotério. INTERIOR com paramentos em cantaria aparente, alguns siglados, pavimento em lajes de cantaria e cobertura de madeira, em falsa abóbada de berço abatido. A nave tem coro-alto de madeira com guarda em balaústres torneados, tendo no sub-coro, do lado da Epístola, pia de água benta gomada e, no lado do Evangelho, pia batismal. No lado da Epístola, surge púlpito com bacia retangular de cantaria, sobre mísula e com guardas em balaústres torneados, acedido por escadas de cantaria. Arco triunfal de volta perfeita, ladeado por mísulas com imaginária. Na capela-mor, surge, no lado do Evangelho, nicho de alfaias retangular, e, no lado oposto, um outro, mas de perfil curvo e a porta de acesso à sacristia, de verga reta. Na parede testeira, dispõem-se três mísulas com imaginária e, sobre plinto paralelepipédico, sacrário. |
Acessos
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| Lamas de Mouro, EN 202; desvio da EN 202-3 para o interior do lugar |
Protecção
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| Incluído no Parque Nacional da Peneda do Gerês |
Enquadramento
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| Urbano, isolado. Ergue-se à entrada da povoação, inserido em adro, delimitado por muro, encimado por gradeamento em ferro e com pavimento em paralelos, rodeada por casario de arquitectura recente e tradicional. Implanta-se a poucos metros da entrada do Parque Nacional da Peneda do Gerês, tendo como pano de fundo os picos orientais da Peneda. |
Descrição Complementar
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| Junto às aduelas do portal, do lado esquerdo, existe silhar reaproveitado com a inscrição: "PESO / ANTIS / INDA" *1. No pano do campanário existe silhar com a inscrição "OFERTA D' / MANOEL J. M AFO(n)SO / 190(?)". O sino maior do campanário tem as inscrições "ANO DE 1962" e "A FUNDIÇÃO DE SINOS / DE / BRAGA / SERAFIN DA SILVA JERONIMO / RUA DO CORVO, 7278 / BRAGA". No pavimento, sob o arco triunfal, existem três cavidades e duas outras no próprio arco, devendo corresponder a vestígios de um antigo gradeamento. |
Utilização Inicial
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| Religiosa: igreja paroquial |
Utilização Actual
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| Religiosa: igreja paroquial |
Propriedade
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| Privada: Igreja Católica (Diocese de Viana do Castelo - Arciprestado de Melgaço) |
Afectação
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| Sem afetação |
Época Construção
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| Séc. 14 / 15 / 16 / 18 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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| FUNDIÇÃO DE SINOS: Serafim da Silva Jerónimo (1962). |
Cronologia
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| 1258 - 1259 - a igreja de Lamas de Mouro não consta no Catálogo das igrejas do Bispado de Tui; séc. 13 / 14 - nas Inquirições Afonsinas e dionisianas não se lhe faz qualquer referência; 1307 - Lamas de Mouro ainda não deve pertencer à Ordem de São João do Hospital (DOMINGUES: 1999, p. 16); 1320 - 1321 - a igreja de Lamas não consta do Catálogo das igrejas, comendas e mosteiros que havia nos Reinos de Portugal e do Algarve; este documento foi elaborado para "… subsídio da guerra contra os mouros a décima de todas as rendas eclesiásticas de seus Reinos, excepto as Igrejas, Commendas e Benefícios pertencentes à Ordem de S. João do Hospital de Jerusalém (hoje de Malta), por os professos d'ella se empregarem continuamente em militares exercícios contra os mesmos infiéis", como poderia ser o caso de Lamas, contudo, ainda que não se taxassem as igrejas da Ordem de São João do Hospital de Jerusalém, conforme referido na bula, faz-se sempre menção delas, aludindo-se serem da dita ordem, mas tal não acontece com Lamas de Mouro (DOMINGUES: 1999, p. 15); 1327 - no "Livro do número que por mandado del Rei noso Senhor se fez das çidades e vilas e loguares d'Antre Doiro e Minho e moradores delas e termos e asi que partem, por carta del Rei nosso Senhor. O quoall fez Álvaro Vaz escripvam de sua Alteza na dicta comarca e correiçom", Lamas de Mouro é uma das 25 freguesias que empresta os seus vizinhos para uma contagem global de 724 moradores e de 520 mancebos solteiros, entre os 18 e os 30 anos, no concelho de Valadares (DOMINGUES: 1999, p. 16); 1335, 21 abril - confirmação do pároco Estêvão Eanes de Ceivães, apresentado pelo prior da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, em Portugal, após a renúncia de Estêvão Martins, confirmando a existência de um templo em Lamas de Mouro, parecendo ser a mais antiga referência escrita a Lamas de Mouro (DOMINGUES: 1999, p. 15); a construção da igreja fora promovida pela Ordem dos Hospitalários; séc. 14, meados - desde esta época, Lamas de Mouro é freguesia autónoma, 1444 - a região entre os rios Lima e Minho deixa de pertencer ao bispado de Tui e é anexa à nova diocese de Ceuta, pelo papa Eugénio IV; 1512, 20 setembro - por permuta realizada entre o arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, e o bispo de Ceuta, D. Henrique de Coimbra, o território de entre Minho e Lima passa a pertencer à diocese de Braga que, em troca, cede a administração de Olivença, Campo Maior e Ouguela (DOMINGUES: 1999, p. 60); 1533, janeiro - Edme de Salieu, o D. Abade da Ordem de Cister recusa fazer o caminho da montanha, que transpondo a Portela do Lagarto descia em direção à Senhora da Peneda, sempre paralelo às margens do rio da Peneda, quando se dirigia do mosteiro de Ermelo em visita ao de Fiães, preferindo dar a volta por Arcos, Monção e Melgaço; nas palavras da "Peregrinatio Hispanica", da autoria do secretário que o acompanhava, Claude Bronseval, Edme de Salieu dizia "montes honrrendissimos, patriamque frigidissimam et desertissimam" (DOMINGUES: 1999, p.46); 1545 - 1549 - na avaliação dos benefícios da Comarca de Valença do Minho feita no tempo de D. Manuel de Sousa, pelo vigário da comarca Rui Fagundes, a igreja de São João de Lamas de Mouro é avaliada em 10$000, sendo a mais pequena da terra de Valadares e da Terra da vila de Melgaço; 1551 - no Censual de D. Frei Baltazar Limpo, São João de Lamas de Mouro já aparece na terra de Melgaço, da colação do arcebispado de Braga, devendo o pároco pagar à Ordem dos Hospitalários dinheiro do assento da igreja por se implantar em território que lhe pertencia (DOMINGUES: 1999, p. 60); 1565, 15 janeiro - o abade Afonso de Pias é notificado para estar presente na feitura do tombo, na colocação dos marcos e demarcação da comenda de Santa Maria de Castro Laboreiro, a realizar no dia seguinte, o qual diz não ter nenhum embargo à feitura do tombo, "porquanto já estava marcado e balizado o dito limite entre Crasto e Lamas de Mouro" (DOMINGUES: 1999, p. 60); 1640 - aquando da Guerra da Restauração, o exército português acampa junto à saída de Lamas para Castro, perto de Alcobaça, para conter invasões do inimigo, vindas da Galiza, e para o exército português penetrar em território da Galiza e fazer razias; 1658, 22 maio - data do tombo da igreja de São João de Lamas de Mouro, feito pelo licenciado João Vaz de Sousa, juiz do tombo da comenda de Távora, de que é comendador frei Lopo Pereira de Lima, e pelo escrivão Bernardo Pereira da Rocha *2; 1668, 18 agosto - o visitador, reverendo Bento da Rocha Araújo, ordena que os fregueses, no "termo de hum mês mandem retelhar a igreja e cobrilla de telha toda, pela pouca decência de estar parte della de colmaço, e mandem pinzelar de cal o telhado della, em defença do temporal, o que farão no dito termo sob penna de mil reis" (DOMINGUES: 1999, p. 66); a cobertura da igreja é nesta data de colmo; 1671 - apesar da multa aplicada, ainda não se tinha feito a cobertura de telha (VAZ: 2000, p. 9); 1681, 07 novembro - volta-se a repetir a ordem de retelhar a igreja ao pároco João da Cunha e Miranda; séc. 17, segunda metade - os capítulos da visitação encarregam os moradores da freguesia de fazerem obras na capela-mor; séc. 18, início - segundo o Pe. António Carvalho da Costa, a abadia de Lamas de Mouro rende 40$000; o mesmo ouvira dizer que a abadia pertencera algum tempo aos cavaleiros do Templo, mas com a sua extinção passara para a Ordem de Malta (tomo I, fl. 255), constituindo uma tradição pouco provável, até porque em Portugal, os bens daquela ordem transitaram para a Coroa e depois para a Ordem de Cristo; 1734, 19 julho - sendo pároco encomendado o abade Constantino Dias, faz-se outro assento da igreja, que mantinha as mesmas medidas, percebendo-se que ainda não foram feitas as obras ordenadas na capela-mor (DOMINGUES: 1999, p. 62); 1755, 01 novembro - não padece ruína no terramoto; 1758, 22 maio - segundo o abade Constantino Dias nas Memórias Paroquiais, a freguesia pertence à comarca de Valença, arcebispado de Braga e ao termo de Valadares; tem 18 vizinhos, 45 pessoas de sacramento, 5 menores, mais 13 de sacramento; a paróquia está no meio da freguesia e a igreja, com orago de São João Batista, tem três altares, o principal, dedicado a São João Batista, outro a Nossa Senhora dos Remédios e o terceiro a São Gonçalo; o pároco é abade, apresentado por Bulas Apostólicas de Roma, tendo de renda 70$000; tem privilégio da Ordem de Malta, a quem a freguesia paga de foro 35$000; 1785 - à data da feitura do tombo da igreja já existe a capela-mor, mas o seu retábulo-mor e os altares colaterais, de madeira de castanho, estavam feitos de novo e ainda por pintar; ainda não havia sacristia, existindo um armário na capela-mor para os párocos se paramentarem *3 (DOMINGUES, 1999, p. 62, ou VAZ: 2000, p. 75); 1785 - elaboração do "Tombo dos limites e mais coisas pertencentes à Igreja de São João Baptista de Lamas de Mouro", a requerimento do abade da freguesia, António da Cunha Álvares, dizendo-se que tem sacrário, mas "não se acha colocado o santíssimo sacramento nem nunca o esteve por ser a freguesia pequena, razão por que não há nela confraria do Senhor nem de outro algum devoto santo ou almas" (VAZ: 2000, p. 75); séc. 18, finais - o rendimento dos dízimos da igreja é avaliado em 150$000; 1855, 24 outubro - extinção do concelho de Valadares, a que pertencia a freguesia de Lamas de Mouro; 1856, 06 novembro - decreto transfere para o concelho de Melgaço a freguesia de Lamas de Mouro, Fiães e Paderne; 1874 - data provável da feitura do coro-alto (DOMINGUES: 1999, p. 66), conforme data inscrita na verga do portal de acesso, sendo provavelmente da mesma data a construção da sacristia; séc. 20, início - até esta época, a fachada principal da igreja remata por "hum campanário de pedra com hum só sino piqueno pelo qual se puxa por uma cadeia de ferro"; 1905 (?) - construção do campanário, por beneficência de um conterrâneo, conforme a inscrição na face principal; 1905 - data do sino mais pequeno; 1962 - feitura do sino maior, na fundição de sinos Serafim da Silva Jerónimo, em Braga; 1985 - a madeira dos retábulos colaterais é queimada aquando das obras de beneficiação então realizadas; 2013 - extinção da freguesia de Lamas de Mouro que, devido à reorganização administrativa, é integrada conjuntamente com a de Castro Laboreiro na União de Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro. |
Dados Técnicos
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| Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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| Estrutura em cantaria de granito aparente; pináculos, cruzes, campanário, pavimento e bacia do púlpito em cantaria de granito; portas de madeira pintada; coro-alto, guarda do púlpito e teto em madeira; vidro simples nas janelas; cobertura de telha. |
Bibliografia
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| ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - História da Arte em Portugal. O Românico. Lisboa: edições Alfa, 1986, vol. 3; ALVES, Lourenço - Arquitectura Religiosa do Alto Minho. Viana do Castelo: Ofilito, 1987; CAPELA, José Viriato - As freguesias do distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758. Braga: Casa Museu de Monção; Universidade do Minho, 2005; DOMINGUES, José - O Couto de S. João de Lamas de Mouro: Suplemento Histórico. Porto: Humbertipo, 1999; LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1874, vol. 4; RODRIGUES, Jorge - «A escultura românica». In História da Arte Portuguesa. Lisboa: 1995, vol. 1; VAZ, A. Luís, VAZ, Carlos Nuno - Melgaço 2000. Roteiro. Braga: "A Voz de Melgaço", 2000. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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| DGPC: DGEMN:DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
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| DGPC: PT DGEMN:DSID-001/016-004-2280/14 |
Intervenção Realizada
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Observações
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| *1 - Segundo José Domingues, esta inscrição e as figuras relevadas próximas estão intimamente relacionadas, correspondendo a inscrição a um trecho de um epitáfio, "talvez do último século medievo, invocando a protecção das três pessoas da Santíssima Trindade para a alma que descansava debaixo da lápide fria, aproveitada na reconstrução: a ave representaria o Espírito Santo, a figura maior o Pai e a menor o Filho" (DOMINGUES: 1999, p. 70). Segundo o mesmo autor, a coincidência entre as letras identificáveis com a divisão tripartida corrobora a ideia apresentada, reconstituindo, pelo menos parcialmente, a inscrição do seguinte modo: "(3) PESO(as) / (s)ANTIS(ima) /(tr)INDA(de)" (DOMINGUES: 1999, p. 70). *2 - Segundo o tombo de 1658, "A igreja de São Joam, que hê matris e está dentro nos lemittes da dita freguesia de São Joam de Lamas de Mouro, com hum chão e adro ao redor aberto, que por constar ser tudo da comenda se não mediu mais que somente a igreja, a qual tem de cumprido, de nassente ao poente, doze varas de medir, e de largo, de norte ao sul, seis varas e mea, e está de todas as partes reciada com o adro sobredito tudo terra da dita comenda" (DOMINGUES: 1999, p. 61. *3 - Segundo o tombo de 1785, a igreja "hé antiga e baixa e tem a porta principal para o poente e a travessa para o nascente, tem a capela-mor com seu retábullo novo feito de madeira de castanho liso, tudo e ainda por pintar, e no meio tem sua tribunazinha com sua custódia feita da mesma madeira, no fim della e no mesmo retábulo estão dous nichos: no que fica para a parte do evangelho se acha colocada a imagem de São João Baptista feito ao moderno, com seu resplendor de prata; e no que fica para a Epístolla, está a imagem do Mártir São Sebastião, muito antiga; e no meio do altar-mor sobre o sacrário está um Santo Christo feito ao moderno, cravado em huma cruz também moderna, e ao pé da cruz a imagem de Nossa Senhora muito moderna mas piquena, feita de páo, e o Santo Christo e mais imagens também são de páo, e tudo se acha encarnado e pintado, e suposto há sacrário não se acha nelle colocado o Santíssimo Sacramento nem nunca o esteve por ser a freguesia pequena, razão porque nem nella há confraria do Senhor nem de outro algum devoto santo ou almas; tem a mesma capella-mor duas frestas pequenas por onde se comunica a luz para a mesma, as quais ficão uma defronte da outra, e tem na parede que fica para a parte do norte, um armariozinho onde se guardão galhetas ou outra coisa pequena, e nelle estão os santos óleos, e também tem para o sul numa porta, serventia para a mesma capela-mor, com declaração que o retábolo suposto hé liso; também tem suas molduras e seus capiteis e pegado ao arco cruzeiro ficão dous altares colatrais virados hum para o outro ambos feitos de novo e ainda por pintar, sem talha, mais do que com suas molduras e capiteis como o da capela-mor, o que fica para a parte do evangelho hé de Nossa Senhora, e nele está a sua Santa imagem feita ao antigo, porém pintada de novo, e o que fica para a parte da epístola hé da invocação do milagroso Santo António, cuja imagem hé perfeita e avultada, feita ao moderno, tendo tanto ella como a do menino Jesus que tem nos braços resplendores de folha, e tem a mesma imagem de Santo António na mão direita huma cruz de páo prateada, com suas pedras vermelhas e verdes na mesma cruz cravadas, do tamanho cada huma de meio tostão de prata, e tem mais duas imagens este altar, huma de São Brás e outras de São Domingos ou São Gonçalo mas muito antigas, e em cada hum dos ditos altares colaterais há também hum Santo Christo de chumbo, incarnados e modernos, com suas cruzes pintadas de prata e ouro pellas beiras; tem também seu púlpito que na parede que fica para a parte do sul fica existente digo que fica para o Sul se acha existente defronte da porta travessa, para o qual se sobe por sete degraos de pedra metidos na mesma parede, e ao pé da porta principal e da porta travessa da igreja está a pia baptismal, e entrando a porta principal ao lado direito está na parede da igreja outra piazinha de ágoa venta, e unicamente tem a igreja dentro em si hum só confiçionário, e por sima da porta principal há hum campanário de pedra com um só sino pequeno pelo qual se puxa por huma cadeia de ferro; não tem sacristia mas sim uma mesa na capela-mor que serve de se revestirem sobre ella os sacerdotes, e também há huma campainha de metal e huma caldeirinha de cobre muito antiga, de trazer ágoa venta; há também nesta igreja alguns paramentos que constao de trás vestimentas, huma vermelha, outra branca e verde, e outra preta de damasco de lã usadas, hum cálice de prata dourada por dentro e piqueno, com o pé de latão, huma bolça de corporais de coatro cores, e duas mesas de corporais com suas palas, tem mais hum missal, hum manual, hum ritual, hum cathecismo de Eusébio, duas cortinas de pano de linho que servem para o altar-mor, dois véos, duas alvas com seus cordões e amitos, duas galhetas de estanho, seis castiçais de estanho, huma pedra de ara, duas ambolas dos santo dos santos óleos com sua caixa, e em roda da igreja tem adro tapado em volta com parede segura e para o Norte e Sul tem serventia, cada huma dellas tem hum foço com nuns degraos de pedra para não entrarem sebados para o adro, casas da residência e passais - ITEM - Logo místico ao adro e porta principal da igreja ficão as casas de residência e terra para orta do reverendo Abbade ou passais - se meresse este nome - tudo tapado sobre si por muro alto e paredes baixas e medido tudo em volta, principiando a medição no tranqueiro do portal e servidão das casas da residência, no que fica para o norte pouco desviado do adro, cujo portal fica virado para o nascente; tem tudo em volta the topar no mesmo tranqueiro, assim como a faz, cento e vinte e sete varas e meia; dentro desta medição ficão as casas da residência e mais terra que está a orta, e outro pedaço e prado; as casas são térreas, todas colmadas excepto a cozinha que he telhada; compomsse as mesmas casas de duas sallas, huma cozinha, e místico a esta para o norte huma logea que serve de corte de sebados ou de guardar outro animal; seguesse vindo da dita corte para o sul, como dito fica, a cozinha; esta tem huma porta para sua serventia que sobe para o terreiro que também fica dentro da medição supra, onde pastão os sebados, galinhas e mais animais da casa, e de ter lenha; tem a mesma cozinha para o poente outra porta pella qual se entra para hum quartozinho e este tem para o mesmo poente huma janellazinha para dar luz ao mesmo quarto; da mesma cozinha se entra por outra parte marchando para o sul para huma salla; he esta forrada e o forro ainda está sofrível, e tem esta salla para o dito terreiro outra porta, e para o poente huma janelazinha de peitoril, e he esta salla toda soalhada de madeira de castanho também em bom uso; desta dita salla se entra por outra porta para o mesmo sul para outra salla, a qual não hé forrada mas sim solhada, e tem da mesma sorte porta para o terreiro e janella de peitoril para o poente, mas todas as referidas salas e casas que são que são as paredes della de pedra larvadas de pico groço muito antigo, tudo dentro do dito terreiro; para o sul está hum coberto colmado, todo serve para a parte do norte, debaixo do qual se guardão carros e lenhas e o mais que a chuva pode comrromper, e ahi mesmo está a serventia da orta e mais terra do passal que hé huma porta sem a ter de páo, levará tanto à terra que está a horta como a mais de semeadura alqueire e meio de centeio pouco mais ou menos; tem ágoa de rega que lhe vem da fonte da Lamela e também de regueiro de Bozele ou Chocinha; parte do nascente com a igreja ou adro, e caminho que vai da Igreja para o Seixo e lugar de Alcobaça, e do norte com o caminho que vai da Igreja para o lugar de Sima, e do poente com terra valdia e lavradia que possuem Manuel Pereira e Manuel Fernandes, do lugar da Igreja, dizima a Deus, e do sul com o caminho público que vai da Igreja para o lugar da Touça" (DOMINGUES: 1999, pp. 63-66). |
Autor e Data
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| Paula Noé 2019 |
Actualização
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