Torre da Murta / Torre do Langalhão

IPA.00003373
Portugal, Santarém, Ferreira do Zêzere, União das freguesias de Areias e Pias
 
Atalaia construída na época Medieval, mas possuindo as paredes destruídas já em 1159, aquando da doação do território à Ordem do Templo, conforme referido pelo Mestre D. Gualdim Pais, tendo posteriormente sido reconstruída pelos Templários e depois ampliada com outras dependências. Construída em local estratégico, junto à via que ia de Tomar para Cabaços, desconhece-se a primitiva estrutura da atalaia. Contudo, atualmente apresenta vestígios de um edifício mais complexo, composto por amplo corpo retangular com um outro adossado, subsistindo parte de duas fachadas, dispostas perpendicularmente, de paramentos aprumados bastante possantes, rasgados por seteiras e com marcação de três pisos interiores. A ampliação deve ter ocorrido após a perda da sua importância estratégica, sendo a torre utilizada como celeiro da ampla quinta onde se insere no início do séc. 15.
Número IPA Antigo: PT031411020005
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Atalaia    

Descrição

Planta retangular irregular composta por dois corpos, sem cobertura. No terreno possui os alicerces de corpo retangular, de que subsiste parcialmente uma fachada, virada a sul, a que se adossa a norte outra estrutura, de que subsiste também parcialmente a fachada virada a nascente. Ambas as fachadas são aprumadas, com os paramentos bastante possantes, tendo orifícios dispostos regularmente para encaixe das vigas de sustentação dos pisos interiores, que seriam três, e sendo rasgados por duas seteiras retilíneas.

Acessos

Areias, perto do lugar do Pereiro, EM. 526; EN. 110. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,749767, long.: -8,379481

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 32 973, DG, 1.ª série, n.º 175 de 18 agosto 1943 *1

Enquadramento

Rural, isolado. Insere-se na Quinta do Tojal, sobre um pequeno morro, próximo da EN 110, completamente envolvido e oculto por vegetação, não possuindo caminho de acesso.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: atalaia

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Época medieval

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Época medieval - construção da torre; 1159 - D. Afonso Henriques doa à Ordem do Templo a terra e castelo de Ceres, delimitado "(...) pelo Rio Zêzere aonde se chama Porto de Caíns e daí vai pelo meio da estrada até ao Mosteiro da Murta, dali pelo Ribeiro da Murta como desce à Freixineta, e dali vem ao Porto de Tomar que é na estrada de Coimbra que vai para Santarém; e daí pelo meio da estrada como vai pelas alturas da Beselga, e daí lomba de contra Santarém, como verte água na Beselga, e como desce ao Tomar, e daí desce ao Zêzere, e daí ao Porto de Caíns"; este território é pois limítrofe ao do da Torre de Murta; quando D. Gualdim Pais passa pelo castelo de Ceres, então totalmente derrubado, o único lugar fortificado que encontra é o castelo "do Ladrão Gaião", ou a Torre de Murta, implantado a cerca de uma légua de distância, e cujas paredes estão também destruídas; 1190 - D. Sancho I doa a herdade de Vale de Orjais a Pedro Ferreiro, besteiro do rei, como recompensa pela bravura contra os mouros na defesa de Montemor-o-Novo, e sua esposa, Maria Vasques; 1206 - parte desta herdade é adquirida por Pedro Alvo, pretor de Tomar, aí fundando a povoação de Águas Belas; 1222, setembro - tendo alargado consideravelmente o seu território, Pedro Ferreiro dá carta de foral aos povoadores da sua herdade de Vila Ferreira; 1285 - esta vila é unida a um reguengo do termo de Abrantes, sendo elevada a concelho de Vila de Rei por foral de D. Dinis; 1306, 06 agosto - devido à demanda entre D. Dinis e a Ordem do Templo por causa da posse dos terrenos marginais do Tejo, no termo de Santarém, onde chamavam a lezíria dos freires, faz-se uma composição amigável em que os freires cedem todos os seus pretensos direitos à lezíria em causa, assim como o direito de portagem de Coimbra e o padroado da igreja de São Tiago de Trancoso, e D. Dinis doa aos Templários o padroado da igreja de Alvaiázere, o senhorio da Vila de Rei e o senhorio e padroado da igreja da Vila de Ferreira; 16 agosto - André Peres, porteiro de el-rei, entrega a vila de Ferreira, "en ribba Ozezar" ao alcaide de Tomar, Fr. Rodrigo Eanes, e este entrega-a ao representante dos Templários, D. Fr. Lourenço Martins; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários, sendo a povoação de Areias, em território da qual se ergue a torre, elevada a sede da comenda de Pias; 1326, 19 agosto - segundo a ordenação de D. João Lourenço, mestre da Ordem de Cristo, o seu comendador é cavaleiro de Cristo e fica com todo o rendimento do lugar das Pias; 1345, 29 junho - D. Beatriz, esposa de D. Afonso IV, faz um escambo com a Ordem de Cristo, em que esta lhe cede tudo o que possui em Sintra e seu termo, e a rainha dá em troca os lugares de Ega e Torre de Murta, que para a Ordem "sam muy compridoiros e necessários"; durante anos não se paga pensão nem tributo algum à Ordem de Cristo; séc. 15, início - a torre do Langanhão serve de celeiro; 1416, cerca - frei Afonso, vigário de Tomar, visita a torre de Murta como representante da Ordem de Cristo; Martim Annes, de Formigães, traz arrendada esta terra, mas o seu arrendamento fora feito por Rodrigo Eanes, da Corte da Ordem, e sua mulher, depois casada com Nuno Álvares, por 22 moios de pão terçado; Fr. Afonso chama-o a capítulo, declarando que do arrendamento do ano corrente só haviam sido pagos seis quarteiros de cevada, estando o resto fechado na torre, da qual havia duas chaves, uma em poder de Nuno Álvares e outra em poder do rendeiro Martim Eanes; Fr. Afonso requer a entrega da chave da torre que Martim Eanes possuía; a propriedade da torre de Murta volta assim para a Ordem de Cristo; por essa altura é governador e administrador da Ordem o Infante D. Henrique, que faz o emprazamento da propriedade a Martim Correia, seu guarda-mor, por 31 coroas de ouro ou 120 reais a coroa, ou seja, por 3:720 reais anuais; 1450, 25 março - o Infante D. Henrique doa a Martim Correia o prazo da Torre de Murta, que havia sido sequestrado a João Rodrigues Ferro e Afonso Gonçalves, de Tavarede, devido às "maldades e treições"; Martim Correia, casado com D. Leonor da Silva, filha de Fernão Martins do Carvalhal, alcaide-mor de Tavira, passa assim a ser o primeiro Senhor da Torre de Murta; 1452, 20 maio - devido aos grandes serviços prestados, o rei doa a Martim Correia uma tença de 8:000 reais brancos, até que "lhe encaminharmos algum castello que por nós tenha, com suas rendas"; tendo porém exercido os lugares de guarda-mor do Infante D. Henrique e do seu conselho, não recebe as moradias e tenças devidas, que chegaram a 73:463 reais brancos aquando da morte do Infante; 1461, 25 março - D. Afonso V, testamenteiro de D. Henrique, dá-lhe como pagamento uma casa com seu assentamento e vinha em Tomar; 1463 - data da morte de Martim Correia na conquista de Tanger, tornando-se o seu filho, Henrique Correia da Silva, o segundo senhor da Torre de Murta; talvez após a morte de Martim Correia, a sua esposa D. Leonor, manda fazer uma habitação no sítio do Tojal, de onde melhor poderia dominar a sua vasta propriedade, dando origem à imponente Quinta do Tojal; 1504 - data do Tombo da casa, elaborado por D. Pedro Álvares, compreendendo sete casas e entre essas uma estrebaria, uma câmara térrea com uma chaminé, outra forrada de madeira de castanho, de onde se subia por uma escada de pau para uma camara sobradada, também com uma chaminé, que não saia para fora do telhado, e uma janela de assentos com suas portas para poente, e ainda uma casa sobradada servindo de celeiro; séc. 16 - a torre já está velha, descoberta e desbaratada, tendo tido três sobrados, mas então nenhum deles tem porta, exceto uma dependência a que subiam por escada de mão, com um pedaço derrubado do lado do levante; junto da torre existem umas paredes, outrora casa, e entende-se uma grande vinha que levava de cavadura 40 homens, vinha de 68 varas de comprimento, 70 braças ao levante, e pela testada do poente 38; 1550 - estão quase derrubadas as casas mandadas fazer para o feitor Diogo Afonso na quinta da Torre de Murta; sucede Henrique Correia da Silva o seu filho Ambrósio Correia da Silva, 3º senhor da Torre de Murta, que casaria com D. Joana de Castro; Ambrósio Correia manda fazer mais três casas na quinta; sucede-lhes seu filho, Henrique Correia da Silva, o primogénito, e Luís da Silva; 1750, 24 janeiro - D. Joana Maurício Correia da Silva, viúva de Tristão Nunes Infante de Sequeira e de José António de Azevedo, com quem fora casada em segundas núpcias, e estando então recolhida no Convento de Santa Iria, faz a nomeação do prazo em Simão Infante; Simão Infante obriga-se a dar-lhe, enquanto fosse viúva, 200$000 para seus alimentos pagos em 3 quartéis, pelo Natal, Páscoa e São João, a mandar fazer todos os anos um ofício por alma de seu pai na igreja das Areias, a dar a seu irmão Luís Infante 6$000 por mês e a seu irmão Henrique José uma moeda de ouro por mês; estes legados só deviam ser cumpridos por sua morte; 1759, 27 fevereiro - Martinho Correia da Silva requer carta de vedoria para a medição e demarcação do prazo da Torre de Murta; Martinho dizia-se a terceira vida no prazo porque nele o tinha nomeado sua irmã D. Joana Maurício Correia da Silva; 1762, 29 outubro - procede-se à medição do prazo; 1761 - corre uma questão entre Simão Infante Correia da Silva e Luís Infante Correia da Silva; 1768 - é denunciado no juízo dos feitos como vago e devoluto o prazo da Torre da Murta, pertencente à Mesa mestral; 1769 - D. Luísa Rosa de Sousa e Melo queixa-se ao rei que, como viúva de Pedro Correia da Silva, tinha um filho menor que deveria suceder ao morgado, porém Simão Infante, tendo-o dado falsamente como vago, se acha da posse dele; 1772 - o capitão Manuel Pinheiro Barbudo, depositário dos sequestros, queixa-se de Luís Infante por o não deixar tomar posse dos frutos da quinta e prazo da Torre da Murta, sequestrados por uma resolução do Desembargador do Paço; 1774, 25 maio - renovado o emprazamento em 3 vidas da quinta da Torre de Murta a Simão Infante Sequeira Correia da Silva de Carvalho, morador em Lisboa; este é filho da 8ª senhora da Torre de Murta, D. Joana Maurício Correia da Silva e de Tristão Nunes Infante de Sequeira, a qual, por morte do marido e por ser doente faz nomeação do prazo no filho com a obrigação deste lhe dar anualmente 200$000, 1 moio de trigo e 12 alqueires de azeite; Simão Infante tivera de invocar o emprazamento do tempo de D. Manuel feito a Henrique Correia e a sua mulher D. Joana de Sousa, sendo o foro de 14$000 pagos no dia de São João Batista; posteriormente, Simão Infante fica tão arruinado que paga anualmente 310$000 de juros ao Marquês da Fronteira; 1775 - Luís Infante vive tão miseravelmente que o corregedor de Tomar informa que ele chegava a vender os vestidos do seu próprio uso para se alimentar; 04 novembro (?) - provisão de D. José para ser tombado o prazo da Torre de Murta; 1778 - Simão Infante, 9º senhor da Torre da Murta, arrenda o seu prazo ao capitão Francisco Afonso de Lima, por quatro anos, por 815$000 anuais; sucede no prazo Nuno Tristão Infante Sequeira Correia da Silva de Carvalho, 10º senhor de Torre de Murta; 1798 - este requer permissão para se fazer um mercado todas as 4ªs feiras no campo da ermida de São Miguel da sua quinta da Torre da Murta; sucede-lhe no prazo da Torre de Murta Simão Infante de Sequeira Correia da Silva de Carvalho, 11º senhor da Torre da Murta e pai de João Carlos Infante, 12º e último morgado e Visconde da Torre da Murta, cujo prazo vende a Joaquim Ribeiro; 1940, 26 setembro - publicação de Decreto nº 30 762, no DG, 1.ª série, n.º 225, determinando a classificação do edifício como Imóvel de Interesse Público; 01 novembro - publicação do Decreto nº 30 838, DG, 1.ª série, n.º 254, suspendendo o decreto n.º 30 762, de 26 de setembro do mesmo ano, relativamente à classificação de imóveis de propriedade particular.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de calcário.

Bibliografia

BAIÃO, António - «A Vila e o Concelho de Ferreira do Zezere». In O Archeologo Português. Lisboa: Imprensa Nacional, 1912, vol. XVII; BAIÃO, António - A Vila Concelho de Ferreira do Zêzere. Apontamentos para a sua história documentada. Lisboa: Imprensa Nacional de Lisboa, 1918; CÂNCIO, Francisco - Ribatejo Histórico e Monumental. S.l.: s.n.,1938, vol. 3; MARTINS, A. - Ruínas da Torre do Langalhão (http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74706), [consultado em 01 junho 2016]; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Santarém. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1949, vol. 3; TORREJAIS, Ana - «Torre da Murta no Pereiro, Areias». In ZEZEREPEDIA. (http://www.zezerepedia.com/pagina-inicial/wiki/torre-da-murta-areias), [consultado em 01 junho 2016]; «Unidade Pastoral de Ferreira do Zêzere. Resenha Histórica do Concelho». (http://hist-upfzz.blogspot.pt/), [consultado em 01 junho 2016]; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74706 [consultado em 21 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

*1 - DOF: Ruínas da Torre do Langalhão. Inicialmente havia sido classificada como Ruínas da Torre da Murta. É também conhecida por Torre de D. Guião, Torre Ladrão Guião. *2 - A Torre de Murta, do Langalhão, ou do ladrão Gaião, conforme denominada por Carvalho da Costa, tem associada várias lendas. Segundo António Baião, Gaião havia sido alcaide de Santarém, sendo homem poderoso, pouco aceito no povo e severo nas matérias de justiça. Segundo a lenda seria um gigante que espreitava os caminhantes com intenção criminosa a partir da torre, até que um dia apareceu um homem de pequenina estatura, tão pequena que, quando o gigante se ia a baixar para apanhar a bolsa ou outra coisa que o viajante trazia, este deu-lhe uma facada no ventre. O gigante ao cair, no entanto, esmagou o anão.

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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