Aqueduto do Convento de Cristo

IPA.00003364
Portugal, Santarém, Tomar, Carregueiros
 
Aqueduto construído no final de Quinhentos e início da centúria seguinte, de abastecimento a edifício religioso, com uma extensão de cerca de 6Km, correndo entre canais subterrâneos e à superfície, recorrendo a arcaria sobre depressões, simples e dupla, em arcos plenos e apontados, num total de c. de 180 arcos. Reúne a água de quatro nascentes distantes e veio resolver um problema premente do convento, a falta de água, que até aí tinha sido resolvido pela construção de várias cisternas, feito segundo projeto de Filipe Terzi, a quem sucede Pedro Fernandes de Torres. Corre entre numa extensão de 6 Km., a montante e a jusante duas mães de água rematadas por cúpulas e abobadadas que no interior resguardam bacias de depuração da água.
Número IPA Antigo: PT031418040008
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Estrutura  Hidráulica de condução  Aqueduto    

Descrição

Estrutura de transporte de água com 6,223 Km de comprimento linear, de canalização em pedra, coberta a laje, correndo em grande parte ao nível do terreno, c. 400 m assentes em arcaria, de dimensão e altura variável. É alimentado por quatro nascentes subterrâneas, sendo a água transportada por caleiras de pedra calcária em meia cana, por ação da gravidade. A nascente do Cano e a da Pipa, ambas resultantes da retenção de águas pluviais. A nascente do Cano ou do Pote é marcada por poço de visita e acesso à casa da nascente, com mãe de água de planta circular, com estrutura em alvenaria de tijolo maciço e cobertura em cúpula. A água sai por uma galeria soterrada até à caixa de decantação que interliga esta à água proveniente da nascente da Pipa. Esta tem mãe de água, com alvenaria de pedra rebocada e cobertura em abóbada de berço. Ambas as nascentes correm por galeria, num troço superficial e que passa a aéreo até à nascente do Cú-Alagado, natural, implantada no exterior, marcada por um cubo com uma porta de acesso ao interior, com cobertura em cúpula. A galeria que sai desta, corre à superfície, tendo dois troços aéreos e um soterrado com galeria para manutenção, levando a água até à nascente da Porta-de-Ferro ou dos Frades, marcada por um edifício parcialmente embutido no terreno, com cobertura a duas águas, tendo a fachada principal rasgada por portal e duas janelas. Nesta nascente, a água é depositada num tanque de decantação de planta trapezoidal, e segue pelo canal de adução até ao convento, pontuado por poços de visita às galerias, havendo, em cada uma, de planta quadrangular e coberturas em cúpula, tanques de decantação no centro das estruturas. No percurso, surgem dois tanques de rega. Os troços aéreos de vale da Felpinheira, compõe-se de doze arcos de volta perfeita, com cerca de 15 metros na parte mais alta. Sobre o vale dos Pegões 58 arcos de volta inteira, que, na zona de maior declive, assentam em 16 arcos quebrados, apoiados em pilares, com a altura máxima de cerca de 220 metros. Seguem-se 34 arcos de volta perfeita, que atravessam um vale pouco profundo, e correndo paralelas ao muro da cerca 2 arcaturas com 18 e 13 arcos; finalmente a cortina de 21 arcos também de volta perfeita, rematados pela cruz de Cristo, os últimos adossados à fachada sul do Convento de Cristo. A água entra no edifício na denominada Cadeira d'El Rei, que distribui a água para a rega da cerca, para o lagar de azeite e para o sistema hidráulico do convento.

Acessos

Tomar, pela estrada que contorna o convento pelos lados norte e ocidental. Seguindo a E.N. de acesso a Pegões, com saída para a estrada dos Brasões *1. WGS84 (graus decimais): lat.: 39,608511; long.: -8,440788

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria n.º 328/79, DR, 1.ª série, n.º 155 de 07 julho 1979 (Troço dos Pegões)

Enquadramento

Rural. Depois de atravessar o vale da Felpinheira e o Vale dos Pegões, corre paralelo ao muro da cerca do Convento, encostando-se finalmente à sua fachada sul. No muro exterior da cerca, do lado ocidental, encontra-se uma moldura do que terá sido uma porta, sobre a qual se lê a seguinte inscrição: "O extenso aqueduto e altíssima mole que há pouco, rasteira, se ergueu por favores de reis, cortando os montes, transpondo fundos vales, não obstante à força de trabalho e dinheiro, em longo percurso aqui conduzida ou antes conduziram os dois Filipes: o que não fizeram os braços de tantos reis. 1614".

Descrição Complementar

Na casa da água a jusante da Ribeira do Choupal, a INSCRIÇÃO: "O INVICTISSIMO E MUI CATOLICO REI D. FILIPE I DO NOME, DE PIA MEMORIA, COM REAL LIBERALIDADE, MANDOU FAZER ESTE AQUEDUCTO NO ANO DE 1593 / COM A MESMA, O AUGUSTISSIMO E CRISTIANISSIMO REI D. FILIPE SEU FILHO SEGUNDO DE NOME A FEz ACABAR 1613" (ROSA, IV, 119).

Utilização Inicial

Hidráulica: aqueduto

Utilização Actual

Hidráulica: aqueduto

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afetação (todo o troço da nascente até à entrada na cerca do Convento de Cristo)

Época Construção

Séc. 16 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Filipe Terzi (atr., 1584-1597), Pedro Fernandes de Torres (1597-1619). CARPINTEIRO: Pêro Marinho (1601). EMPREITEIROS: Raul Marques da Graça (1939-1943); STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas S.A (2017). FORNECEDORES: Fernão Jorge (1597); Simão Fernandes (1597).

Cronologia

1584, 22 janeiro - Filippo Terzi é nomeado mestre das obras do convento e terá traçado o projeto do aqueduto (ANTUNES, 149); 1593 - decide-se a construção do aqueduto (ANTUNES, 149); 1595 - escritura de compra das fontes e dos terrenos para a implantação do aqueduto; início da construção; 1595 - 1600 - aquisição de materiais de construção e de um pinhal para fornecer a madeira para a construção; estão envolvidos no fornecimento de caras de canalização, lajes e silhares o mestre Salvador Jorge; Pêro Antunes, mestre canteiro, realiza obras das arcas das fontes, nascentes e edifícios (ANTUNES, 149); 1597 - falecimento de Filippo Terzi, sendo a obra entregue a Pero Fernandes de Torres (ANTUNES, 149); 15 fevereiro - encomenda de cal a Fernão Jorge e Simão Fernandes (ANTUNES, 149);23 fevereiro - em reunião, é decidido a forma como o aqueduto atravessaria a Ribeira de Carregueiros, com a presença dos mestres Pedro Antunes, Simão Gomes, Pedro Gonçalves, Mateus Fernandes e Antão Gonçalo (ROSA, IV, 36); 11 setembro - alvará de Filipe I para que todos os mestres trabalhassem na obra das fontes (ROSA, IV, 36); 1598, 14 novembro - o monarca manda que se avaliem as terras a expropriar e que se paguem pelo preço justo (ROSA, IV, 38); 1600 - execução das casas de água (ANTUNES, 151); 1601 - acabamento da casa de água a jusante da Ribeira do Choupal, com colocação de ferragens e envernizamento da porta por Pêro Marinho (ANTUNES, 151); 1602, 08 agosto - alvará de Filipe II ordena que todos os mestres disponíveis fossem para as obras das fontes (ROSA, IV, 42); 1613 - a obra está terminada até à casa de água a jusante da Ribeira do Choupal (ANTUNES, 151); 1614 - o aqueduto chega à cerca, terminando num tanque de rega, a denominada Cadeira D'El Rei; 1617 - prolongamento até ao convento e ao lavabo dos dormitórios; 1619 - conclusão da obra; construção da fonte do claustro principal, conforme desenho de Pero Fernandes de Torres (ANTUNES, 149); 1634 - obras diversas no aqueduto do Convento; 1752 - exploração de novas nascentes a montante e ligação ao aqueduto construído (ROSA, V, 206); 1842, 18 agosto - a rainha concede à população de Tomar dois terços da água dos Pegões, com a obrigação da Câmara a encanar e para o chafariz que se propunha construir, sendo a restante vendida com a cerca do extinto Convento (ROSA, I, 29); 1843, 23 maio - António Bernardo da Costa Cabral pede à Câmara que cumpra a sua obrigação de arranjar o aqueduto, escudando-se a Câmara com o facto de não ter verba disponível, pelo que pede ajuda à Repartição das Obras Públicas (ROSA, I, 36-37); 20 junho - a Câmara pede um empréstimo a Bartolomeu da Costa Cabral para fazer o arranjo dos Pegões, exigindo este garantias, juros e o privilégio de nomear o mestre que dirigiria a obra (ROSA, I, 39); 27 junho - vistoria e levantamento das necessidades de obra (ROSA, I, 40); 30 junho - os canos estão muito arruinados, calculando-se a despesa em 600$000, a que acrescentaria a obra dos canos até à Praça do Peixe (ROSA, I, 41); 11 julho - Costa Cabral aceita emprestar o valor para a obra (ROSA, I, 41); 14 julho - a Câmara aprova o contrato das águas (ROSA, I, 41); 15 novembro - estando gastos 600$000 e a obra ainda por terminar, Costa Cabral empresta mais 200$000 (ROSA, I, 51); 1844, 22 julho - o Presidente da Câmara recebera uma proposta de Bernardo Costa Cabral de ficar com os dois terços da água que cabia à Câmara, desonerando-a da dívida e doando 800$000 para a procura de outra fonte de abastecimento, o que a Câmara acede, considerando quão oneroso eram as constantes obras de manutenção do aqueduto (ROSA, I, 80); 02 dezembro - a Câmara pede à Rainha que aceite este contrato (ROSA, I, 82); 1846, 03 março - a rainha autoriza a cedência (ROSA, I, 83); 1945 - interrompidas as obras de restauro por esgotamento de verbas; 1954 - a Mãe d'Água, no troço de Pegões tinha uma grande rutura; 1955 - pedido de reparação do aqueduto para que abasteça o Convento; 1956 - correspondência entre a DGEMN e a CMT, dando conta da necessidade de restauro da caleira do aqueduto; 1968 - informação do MF - DGFP à DGEMN sobre as ruturas no fecho dos arcos superiores do aqueduto; 1972 - o aqueduto encontra-se demolido em alguns troços e em ruína noutros; 1979 - a CMT colocou a hipótese da aquisição dos terrenos dentro da Zona Especial de Proteção do Aqueduto com vista ao arranjo e enquadramento paisagístico; informação sobre movimentação de terras / terraplanagens junto da quinta da Silveira, realizadas por particulares, que punham em risco a estabilidade do aqueduto, afetando a fundação de 15 arcos do lado poente e 6 a nascente; 1980 - pedido de redução da ZEP; 2016, 24 outubro - a Câmara Municipal de Tomar aprova projeto de reabilitação e reforço estrutural de um troço do aqueduto; 2017, 02 agosto - início de obras de consolidação das estruturas do aqueduto, adjudicadas à STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas S.A.

Dados Técnicos

Sistema estrutural autónomo / Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de calcário; alvenaria argamassada, cantaria, betão; canos e caleiras em cantaria; ferro nos gradeamentos.

Bibliografia

ANTUNES, Tiago Molarinho - «O aqueduto do Convento de Cristo. Análise técnica do conjunto construído» in Monumentos. Lisboa: DGPC, 2019, n.º 37, pp. 148-161; INÁCIO, Pedro - «Portugal o País dos Aquedutos, Tomar - Aqueduto dos Pegões Altos» in Sede de Saber, CIO águas livres. N.º 162, julho 2007; JANA, Ernesto - O Convento de Cristo em Tomar e as obras durante o período filipino. Lisboa: s.n., 1991. Texto policopiado. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa; ROSA, Amorim - História de Tomar. Tomar, Gabinete de Estudos Tomarenses, 1982, vol. II; SILVA, Jorge Henrique Pais da - Páginas de História da Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1993, vol. I.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN/DRMLisboa

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

DGPC: PT DGEMN:DRML-0396/2 [não digitalizado], PT DGEMN:DSARH-010/264-0159

Intervenção Realizada

1934 - reparação em 350 m; 1935 - reparações na mãe de água a montante dos Pegões Altos: construção de 2 gigantes na face lateral virada a ocidente; reforço em betão armado abaixo do pavimento e em volta da cúpula; restauros das ombreiras das portas e do pavimento; construção de um muro de suporte do aqueduto em alvenaria; reconstrução do cano e respetiva cobertura na parte destruída; 1937 - obras diversas de reparação; 1939 - apeamento e reconstrução de paredes de alvenaria argamassada, consolidação geral do cano condutor de águas e reparação geral do cano subterrâneo, por Raul Marques da Graça, pelo valor de 20000$00 (TXT.01826479); 1940 - demolição de um casebre encostado ao aqueduto e beneficiação dos seus arcos, com a construção de muros de alvenaria em cortinas do aqueduto, consolidação geral de um arco grande, capeamento geral, reparação da conduta, por Raul Marques da Graça, pelo valor de 29400$00 (TXT.01826493); 1941 - construção de muros, consolidação geral de arcos grandes e construção de guardas, limpeza geral de todo o aqueduto, assentamento de portas e grades em ferro por Raul Marques da Graça, pelo valor de 20000$00 (TXT.01826501); 1942 - construção de muros de alvenaria, consolidação de arcos grandes por Raul Marques da Graça, pelo valor total de 43500$00 (TXT.01826518, TXT.01816527); 1943 - construção de muros de alvenaria, consolidação de arcos por 20000$00, por Raul Marques da Graça (TXT.01826535); 1944 - construção de muros de alvenaria, consolidação de arcos por 25000$00 (TXT.01826545); 1945 - construção de muros de alvenaria, consolidação de arcos por 20000$00 (TXT.01826555); 1946 / 1947 - reparação de coberturas em 325 m; reparação de caleira que abateu no lugar de Casal Ribeiro, limpeza da caleira entre os Pegões Altos e o lugar de Brazões, refechamento de juntas com argamassa de cimento, cobertura com lajes nas zonas aéreas e com betão armado nas partes subterrâneas; demolição e reconstrução da abóbada da penúltima mãe de água (a jusante dos Pegões Altos?) em pedra e argamassa de cimento reforçada com um anel em betão armado; reboco das paredes no interior e exterior; limpeza e cobertura de 20 m de cano junto à mãe de água; total da obra 73650$00 (TXT.01826568, TXT.01826583); - 1948 / 1949 - assentamento de 3 portas de ferro nas entradas de limpeza da caleira; demolição de paredes e caleira junto à penúltima mãe de água e sua reconstrução; limpeza de 80 m de cano, refechamento de juntas, reconstrução de paredes, cobertura com lajes de cantaria e betão armado, a norte dos Brasões; rebaixamento de 30 m de cano junto à 1ª nascente; levantamento e assentamento de 100 m de cano junto ao lugar de Peixinhos, num total de 54700$00 (TXT.01826612, TXT.01826634 e TXT.01826647); 1956 - recuperação de parte do aqueduto junto à nascente no sítio de Casal Ribeiro; recuperação da caleira na "Casa da Água" no troço de Pegões; instalação de um fontanário com torneiras de mola para abastecimento de água; expropriação e arranque de árvores, cujas raízes danificam o aqueduto; recuperação da cobertura com lajes; restauro das paredes do aqueduto; limpeza e restauro da caleira; 1962 - continuam-se as reparações nas caleiras, limpeza e cobertura, o refechamento de juntas; 1965 - informação sobre a necessidade de reconstrução em alvenaria da caleira de fundo; proposta de substituição por tubo plástico, não concretizada; 1978 - limpeza do cano pelo seminário das missões; 1980 - um desaterro junto à mãe de água a jusante dos Pegões ameaça a derrocada de vários arcos de um e outro lado da casa; o LNEC aconselha aterro feito com enrocamento e terra junto ao talude; 2017 - reforço estrutural dos suportes do aqueduto, que consiste na colocação de micro-estacas, ligadas às colunas através de lintel de coroamento e na colocação de elementos metálicos (em aço, devidamente tratado, metalizado e pintado) nos cunhais das colunas, afastados verticalmente e ligados através de tirantes horizontais.

Observações

*1 - atravessa as freguesias de Carregueiros e de São João Baptista.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2019

Actualização

 
 
 
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