Palácio Pombal / Palácio dos Carvalhos

IPA.00003163
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Arquitectura residencial, barroca e pombalina. Excelente conjunto de tectos em estuque de composição ornamental e figurativa, representando alegorias e cenas mitológicas. Oratório com paredes integralmente revestidas de estuque. Interessante conjunto de silhares de azulejo de composição ornamental e figurativa.
Número IPA Antigo: PT031106280172
 
Registo visualizado 5823 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  

Descrição

De origem, o edifício apresenta planta em L, cujo ângulo corresponde à esquina entre a rua do Século e a rua da Academia das Ciências. Actualmente o Palácio reduz-se ao corpo principal, virado a S., de planta rectangular e cobertura em telhado a 3 águas. A fachada principal, acompanha discretamente a linha curva da via pública e é constituída por três pisos: rés-do-chão, 1º andar (andar nobre) marcado por fiada de janelas de sacada com gradeamento em varas de ferro, 2º andar com janelas de peitoril e águas-furtadas recuadas. No corpo central destacam-se dois portões nobres. Por cima das janelas de sacada que se sobrepõem aos portões, foram colocadas as armas dos Carvalho e Melo (estrelas de oito pontas dentro de quatro crescentes) encimadas pela coroa de marquês. A fachada posterior, voltada para o jardim, reproduz a organização linear da frontaria, ritmada pelas fiadas de janelas de peitoril. Nesta fachada destaca-se um piso térreo (não existente na frontaria) que corresponde à adaptação à morfologia do terreno. O acesso ao andar nobre faz-se por ampla escadaria de pedra, com dois patamares. Destaque para quatro peças escultóricas, de mármore, representando Vénus, Hercules, e, nos ângulos do patamar superior, duas pedras de armas com as armas dos Carvalhos, em vulto, sobrepujadas pela coroa de marquês e sustentadas por um leão. É notável o tecto da escadaria, com belíssima decoração de estuque de composição figurativa, representando uma alegoria da Morte e do Amor. A nível do andar nobre, o espaço interior do edifício é constituído por uma sequência de salas e salões, interligados entre si, sendo o salão nobre virado para o jardim e não para a via pública. Nas várias salas destacam-se os tectos com decoração de estuque, de composição ornamental e figurativa ilustrando temas da mitologia e os silhares de azulejo de composição figurativa, em monocromia azul e branco ou policromos, representando episódios da mitologia, paisagens com cenas campestres e marítimas, motivos de inspiração militar e heráldica (troféus de armas). Ainda no andar nobre, pequeno oratório de planta quadrada, com claraboia e paredes integralmente revestidas de decoração em estuque, destacando-se em fundo de ornamentação rocaille, medalhões com cenas da Sagrada Família, Santo António e o menino. No altar subsiste ainda uma tela representando Nossa Senhora das Mercês, assistindo à entrada das almas no paraíso, conduzidas por São Francisco de Assis. No rés-do-chão (entrada pelo n°79), merecem menção os silhares de azulejo de composição ornamental, com motivos de albarradas, os silhares de azulejo de padrão de tipo tapete e os azulejos e figura avulsa. Também no rés-do-chão, actualmente a servir de arrecadação mas constituindo um compartimento de grande interesse, encontra-se a ampla cozinha seiscentista, de planta quadrangular e tecto abobadado, conservando ainda uma grande lareira e um fontanário em forma de nicho com carranca de leão. Uma das salas, actualmente transformada em cozinha (em estado praticamente devoluto), tem um interessante silhar de azulejo com motivos de albarradas em bicromia azul claro e azul escuro em fundo branco. Em várias salas, encontram-se vestígios de antigos silhares de azulejo seiscentista. O jardim, completamente abandonado, é centrado por um lago de repuxo e delimitado por muretes e conversadeiras forrados de azulejo de composição figurativa. Nos cantos do jardim, 4 pequenos pavilhões de planta quadrada com cobertura piramidal têm revestimento de azulejo e tecto com decoração de estuque. Encostada à parede norte, uma fonte ornamental com uma sereia cavalgando um golfinho. CHAFARIZ: Do outro lado da rua, em frente à fachada principal, o chafariz em cantaria eleva-se sobre uma escada de implantação poligonal e apresenta na parte inferior uma taça na qual a água que jorra de três mascarões em bronze é recolhida. Lateralmente delimitado por pilastras e superiormente por frontão triangular quebrado com pináculos nos acrotérios, o chafariz apresenta um painel central completamente liso. A praça centrada pelo chafariz tem planta semi-circular, alongada, correspondendo a parte circular à parede que lhe serve de limite.

Acessos

Rua do Século, n.º 65 a 85 *1; Rua da Academia das Ciências

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 45/93, DR, 1.ª série-B, n.º 280 de 30 novembro 1993 *2 / ZEP, Portaria n.º 398/2010, DR, 2.º série, n.º 112 de 11 junho 2010 *3 / Incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres (v. IPA.00006811), na Zona Especial de Proteção do Bairro Alto e Imóveis na área envolvente e na do Liceu de Passos Manuel (v. IPA.00006461)

Enquadramento

Urbano. Ocupa praticamente um quarteirão, fazendo esquina entre a rua do Século e a rua da Academia das Ciências. Na origem, um passadiço e um aqueduto ligavam o edifício a uma zona rústica que ocupava o quarteirão que se segue à actual Rua da Academia das Ciências. A fachada principal, a S. segue o alinhamento da via pública. Do outro lado da rua, frente ao corpo principal do edifício, abre-se o "Largo do chafariz", que fazia parte do espaço inerente ao edifício (uma passagem subterrânea liga o jardim do palácio ao chafariz).

Descrição Complementar

AZULEJO: em todas as salas do andar nobre, que correspondem à frontaria (viradas para a via pública), há silhares de azulejo de composição figurativa e ornamental. PISO 1 (andar nobre): SALA 1: 3 painéis de composição figurativa formando silhares; temática: episódios da mitologia; barra: motivos arquitectónicos, consolas, volutas, conchas, motivo ornamental de gradinha; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; 9 azulejos de altura; estes painéis estão incompletos e com vários azulejos desemparelhados. Foram colocados neste local posteriormente, sendo provenientes de uma das salas do palácio. SALA 1A: 3 painéis de composição ornamental formando silhares; temática: albarradas; bicromia: azul claro (composição central) e azul escuro (guarnição) em fundo branco. C. 1750. SALA 2: Azulejos de composição figurativa formando silhares; temática: paisagens campestres e fluviais; monocromia e policromia: composição central em monocromia manganês em fundo branco, guarnição em policromia (predominância dos verdes): Painel 1: em duas cartelas formadas por ornatos rococó, separadas por jarra de flores, destacam-se 2 vistas de cidades com ancoradouro; Painel 2: Em duas cartelas formadas por ornatos rococó, separadas por jarra de flores, destacam-se 2 vistas de cidades com edifícios em ruínas e ancoradouro. Painel 3: Em duas cartelas formadas por elementos rococó, vistas de cidades, barcos à vela, edifícios em ruínas. Interessante guarnição rococó, ornatos concheados, folhagem, asa de morcego. 9 azulejos de altura. SALA 3: Silhar de azulejo de padrão, 2 x 2 azulejos; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; 10 azulejos de altura. SALA 4: Silhar de azulejos de padrão adulterado por variados azulejos desemparelhados provenientes de paineis de composição figurativa: reconhecem-se fragmentos de cenas galantes, episódios da mitologia, albarradas. Monocromia: azul de cobalto em fundo branco; 10 azulejos de altura. SALA 7: Silhar de composição ornamental; temática: troféus de armas; bicromia: azul e amarelo em fundo branco; rodapé: 1 fiada de azulejos esponjados em manganês (esta fiada foi pintada com tinta a óleo para imitar rodapé de madeira); 9 azulejos de altura. Sala 13: painéis de composição ornamental formando silhares; temática: albarradas: cesto de flores ladeado por figuras infantis (apenas numa parede, as outras são revestidas com azulejos desemparelhados); 9 azulejos de altura; 1º quartel séc. 18. SALA 11: Silhares de composição ornamental; bicromia: inserindo-se nos ornatos desenhados a azul destacam-se pequenos animais domésticos pintados em manganês; (conjunto muito interessante pela componente decorativa) ; rococó. Capela com uma imagem pintada de Nossa Senhora das Mercês

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Educativa: escola superior

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: Engil, Sociedade de Construção Civil, S.A. (2002-2003). ENGENHEIRO: João Aplleton (2002). ESTUCADOR: João Grossi (atr.). PINTOR: André Gonçalves (séc. 18). PINTOR de AZULEJO: Fábrica do Rato (atr.). RESTAURADORES: A. Ludgero Castro, Lda. (2003); Conceição de Almada Gil Borja e Menezes (2003); Junqueira 220 (1997); Mural da História (2003).

Cronologia

Séc. 17, início - o primeiro proprietário do palácio é Sebastião de Carvalho, 3º senhor do morgado de Sernancelhe, avô do futuro Marquês de Pombal, que o terá reconstruído ou edificado de raíz, adquirindo vários terrenos na Rua Formosa; 1603 - aquisição de casas e terrenos a Guiomar de Araújo; 1611 - aquisição de umas casas a Bartolomeu de Cabedo de Vasconcelos, nobre arruinado; 1614, Outubro - aquisição de casas a Bento de Carvalho; Dezembro - aquisição de duas terras a Cristóvão de Matos e Joana Barbosa, sua mulher; 1626, Dezembro - aquisição de um núcleo construído a Bento Henriques de OIliveira e a sua mulher, Catarina Pereira; 1629, 04 Fevereiro - testamento de Sebastião de Carvalho e da mulher, D. Maria de Braga, ordenando a instituição de um morgado; 1631, Novembro - aquisição a Bento Henriques de mais umas casas; 1639 - abertura do testamento de Sebastião Carvalho; 1652 - Sebastião de Carvalho adquire umas hortas junto ao edifício, no sítio denominado Cardal, vinculadas mais tarde, por Paulo de Carvalho de Ataíde; 1663 - o testamento de Paulo de Carvalho anexa ao morgado do Palácio a Igreja das Mercês; feitura de obras nas casas; provável execução da capela, truncando o grande salão; pintura do tecto; 1699 - no palácio nasce Sebastião José de Carvalho e Melo; séc. 18 - pintura da imagem para o oratório por André Gonçalves; 1746 - aquisição de casas nobres que haviam sido de Bento Henriques, passando a integrar o morgado da Rua Formosa; mpliação do palácio, que se ligava por um arco, o Arco do Marquês, à zona das hortas, que se prolongavam até à Academia das Ciências; tem aqueduto de abastecimento de água; 1716 / 1720 - aqui funciona a Academia dos Ilustrados, por iniciativa de Manuel de Carvalho de Ataíde; 1746 - Paulo de Carvalho e Mendonça adquire casas nobres, onde vivera Bento Henriques, integrando-as no Morgado; 1755, 01 Novembro - "as casas nobres da Rua Formosa", conforme era designado à época o Palácio Pombal, sofrem danos causados pelo terramoto, mudando-se a família para a Ajuda; arranjo das mesmas; construção de um passadiço a ligar o palácio à horta ajardinada; 1759 - Sebastião José é elevado a Conde; 1760 - cedência de alguns terrenos para a obra das Águas Livres; 1760 - 1772 - arranjo urbanístico da zona envolvente, por Carlos Mardel, pelo que foram adquiridos vários terrenos; 1770, cerca - o Marquês de Pombal, 1º conde de Oeiras, procede a profunda remodelação e redecoração do edifício, bem como à sua ampliação, com colocação de azulejos, feitos, provavelmente na Fábrica do Rato, estuques, atribuídos a João Grossi, estatuária e construção do jardim; construção da capela, truncando um espaço contíguo ao salão; séc. 18, final - parte do edifício é arrendado, contando-se entre os inquilinos a firma inglesa Pury, Mellish e Devisme, habitando no local um dos sócios, David Pury; séc. 19 - divisão do salão anexo à capela; feitura de uma nova cobertura no oratório; 1802 - a zona principal do palácio foi arrendada a Jâcome Ratton, que executa várias obras decorativas no palácio, nomeadamente com a introdução de novos estuques; 1810 - Ratton é preso no palácio, sendo deportado, ficando a habitá-lo o seu filho, Diogo; 1859 - após a morte do 5º Marquês Pombal, Manuel José Carvalho Melo Daun Albuquerque e Lorena, a propriedade é fraccionada por diversos herdeiros; segunda metade do séc. 19 / 2ª década do séc. 20 - no palácio funcionaram, sucessivamente, a Legação da Alemanha, a Embaixada de Espanha e a Confederação Geral do Trabalho; 1927 - arrendamento do palácio à Casa da Madeira; 1964 - era proprietário Manuel Sebastião de Carvalho e Lorena; 1968 - aquisição de parte do edifício pela Câmara Municipal de Lisboa; 2002, Dezembro - início dos trabalhos de consolidação da estrutura do imóvel, conforme projecto de João Appleton, sendo o empreiteiro das obras a Engil; 1981, 05 março - proposta de classificação pela Câmara Muniicpal de Lisboa; 1985, 15 março - Despacho de homologação da classificação do edifício pelo Ministro da Cultura; 2005, 29 setembro - proposta de fixação de Zona Especial de Proteção pela DRCLVTejo; 2006 - roubo de azulejos do interior do imóvel; 2009 - Despacho de homologação da Zona Especial de Proteção pela Ministra da Cultura; 2011, 20 maio - Declaração de retificação ao teor do diploma de fixação de Zona Especial de Proteção, n.º 874/2011, DR, 2.ª Série, n.º 98; 27 novembro - a Portaria n.º 1276/2009, DR, 2.ª série, n.º 231 altera a localização do decreto de classificação de Rua do Século 65 a 85 e Rua da Academia das Ciências para Rua do Século, 65 a 103, e Rua da Academia das Ciências, 1 a 5.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, cantaria de calcário, reboco pintado, ferro forjado, mármore, azulejos, estuque pintado, madeira.

Bibliografia

ALMADA, Carmen Olazabal e FIGUEIRA, Luís Tovar, Palácio Pombal Rua do Século - Lisboa, in Monumentos, n.º 8, Lisboa, DGEMN, 1998, pp. 126-129; ALMEIDA, D. Fernando de, (coord. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa - Tomo II, Lisboa, 1975; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. 5, Lisboa, 1939; ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. 8, Lisboa, 1950; CARITA, Hélder, Bairro Alto. Tipologias e Modos Arquitectónicos, Lisboa, 1990; GALVÃO-TELLES, João Bernardo, Da Rua Formosa à Rua do Alecrim: um passeio pelas residências lisboetas dos marqueses de Pombal (1699-1999), Olisipo, S.2, nº 10, Outubro 1999, pp. 54-65; MACHADO, José Alberto Gomes, André Gonçalves - pintura do Barroco português, Lisboa, Editorial Estampa, 1995; MIRANDA, António e JANEIRO, Helena Pinto, O Palácio Pombal e o morgado da Rua Formosa: a propósito de uma campanha de obras, in Monumentos, n.º 21, Setembro 2004, pp. 256-263; MOITA, Irisalva, O Palácio dos Carvalhos à Rua Formosa, in Revista Municipal, Ano XXX, Nº 118-119, 4º trimestre 1968; Monumentos, n.º 5, Lisboa, DGEMN, 1996.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Pº Nº 32.494; IPPAR Pº Nº 81/3 (31); DGEMN: DRML

Intervenção Realizada

1929 - obras de manutenção geral; 1946 - pintura do interior do palácio; 1949 - obras de manutenção geral; 1965 - obras de manutenção, substituição da conduta da chaminé do fogão de sala; 1990 - obras para instalação do Clube de Imprensa; 1992 / 1993 - obras no piso térreo para a instalação da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas; 1996 - recuperação do tecto do salão nobre; 1997 - recuperação das paredes, vãos e pavimentos do Salão Nobre; ratamento do fasquiado; consolidação dos estuques e colagem dos elementos desagregados; preenchimento das fissuras; execução de moldes para novas peças que não existiam; os trabalhos estiveram a cargo da Junqueira 220; CML: 2002 / 2003 - consolidação da fachada posterior, que ameaçava desmoronar-se e restauro das coberturas; tratamento dos estuques da capela e tecto da escadaria pela A. Ludgero Castro, Lda.; escoramento de estuques e pinturas pela Mural da História; consolidação dos estuques da entrada por Conceição de Almada Gil Borja e Menezes.

Observações

*1 - o edifício n.º 89 - 103 da Rua do Século, tornejando para a Rua da Academia das Ciências, n.º 1 - 5, actualmente uma propriedade separada, fazia parte do conjunto designado Palácio Pombal. *2 - no decreto de classificação acresce á designação... com decoração de estuques, azulejos, motivos escultóricos e o largo e chafariz fronteiro. *3 - Zona Especial de Proteção Conjunta do Bairro Alto e Imóveis Classificados na sua Área Envolvente.

Autor e Data

Teresa Vale e Carlos Gomes 1994 / Paula Correia 2001

Actualização

 
 
 
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