Mosteiro de Nossa Senhora da Soledade / Convento das Trinas de Mocambo / Instituto Hidrográfico da Marinha

IPA.00003151
Portugal, Lisboa, Lisboa, Estrela
 
Mosteiro trinitário feminino, de linhas sóbrias, fachadas de acentuada horizontalidade, rasgadas por fileiras de janelas rectangulares simples. Decoração apenas nos portais. Interiores ricos em azulejos do séc. 18.
Número IPA Antigo: PT031106370057
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos - Trinas

Descrição

Planta irregular, composta por 3 corpos adossados, a diferentes cotas. Coberturas diferenciadas em telhado de 2 e 3 águas. O gaveto formado pelas fachada E. e S., é em forma de ângulo agudo. Fachadas simples de acentuada horizontalidade com vários pisos (2, 3 e 4 ), dependendo do declive da rua. A E., acompanhando o declive é rasgada, ao nível do piso térreo, por 2 portais emoldurados a cantaria encimados por frontão triangular interrompido. O tipo de fenestração é idêntico em todas as fachadas: janelas de peito simples de vão rectangular, emolduradas a cantaria. Algumas das janelas são de pequena dimensão. O portal do lado superior da rua, é coroado por um baixo-relevo, o outro, tem os pés-direitos e entablamento decorados por motivos em forma de pirâmide, sendo coroado por uma inscrição. A entrada principal faz-se pelo pórtico que tem a inscrição. O átrio é todo revestido a silhares de azulejos azul e branco. Este átrio dá acesso a um claustro com painéis de azulejo também azul e branco, um grande nicho com escultura, um poço e ao centro um pequeno lago. Na actual biblioteca, antiga cozinha-refeitório, as paredes e abóbadas, são revestidos a azulejo de fundo branco com os motivos em azul de faiança suave, com motivos geométricos, flores e frutos. Ainda nesta antiga cozinha se conserva uma grande chaminé com azulejos do mesmo tipo e 2 lavabos inseridos numa espécie de nicho. Uma escadaria de madeira que bifurca em 2 lances, com paredes também revestidas com lambris de azulejos, semelhantes aos do átrio, dão acesso ao antigo coro-alto com o mesmo tipo de decoração das escadarias.

Acessos

Rua das Trinas, nº 49; Rua Garcia de Horta, n.º 2 - 6. WGS84: 38º42'31.20''N., 9º09'27.25''O. (2010)

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 32 973, DG, 1.ª série, n.º 175 de 18 agosto 1943 / ZEP, Portaria nº 512/98, DR n.º 183 de 10 agosto 1998 *1

Enquadramento

Urbano. Isolado. Edifício de gaveto, que acompanha o declive da Rua das Trinas e ocupa praticamente todo o quarteirão. Implantação harmónica.

Descrição Complementar

O portal que se abre no lado esquerdo, antiga entrada conventual, tem a seguinte inscrição. "GLORIA / TIBI / TRINITAS / INAETERNUM". O outro portal, antiga entrada da igreja, é coroado com a imagem de Nossa Senhora da Piedade. No interior e na possível antiga sacristia, hoje uma oficina, existe uma inscrição incisa em cantaria e embebida na parede: "ANTONIODEFREITAS / ESTABELECEO / NESTA IGREIAHVMAMISSA Q VOTIDIAN / NAPELLASVA ALMA E DESEVS PAIS E PARENTES / NOANNO DE 1766". "ANTONIODEFREITAS ESTABELECEO NES / TAIGREIA HUMAMISSA QVOTEDIANNA / PELLAS ALMAS DAS PESSOAS-COMQVEM / TEVENEGOCIO ERECEBEO BENEFICI / OS EPELLAS ALMAS DO FOGO DOPV / RGATORIO NOANNO DE 1766".

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Política e administrativa: instituto

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: João Ângelo Rodrigues Paciência (1987-1988); Mateus do Couto Sobrinho (atr., 1657). ESCULTOR: António Ferreira (séc. 18). MESTRES DE OBRAS: Caetano Jerónimo (1745); Jorge de Abreu (1745); Manuel António Feio (1745); Manuel Francisco de Sousa (1745). PINTOR: Lourenço da Cunha (séc. 18).

Cronologia

1649 - fundação de uma ermida rústica no sítio do Mocambo por Cornelio Vandali, flamengo, e pela sua mulher, Marta de Boz, onde possuíam casas; o espaço é doado pelo casal para a fundação dum mosteiro, a entregar à Ordem da Santíssima Trindade; 1657 - início das obras de construção do edifício, sendo possível sejam dirigidas por Mateus do Couto, Sobrinho; falecido Vandali, as religiosas pedem a D. Luísa de Gusmão intercessão para a fundação do mosteiro; 1660, 24 março - alvará de D. João IV, a autorizar a fundação do mosteiro; 29 outubro - bula papal a autorizar a fundação; 1661, 21 agosto - inauguração do convento, com a vinda das religiosas do Mosteiro do Calvário, sendo a capela-mor dedicada a Nossa Senhora da Piedade; 18 setembro - consagração da igreja; 1662 - doação de terrenos por D. Nuno Álvares Pereira, Duque do Cadaval; séc. 18 -recolhe ao cenóbio D. Maria Madalena de Távora, Condessa do Redondo, que nele mandou fazer casas e iniciou a reconstrução da igreja; pintura do teto da igreja por Lourenço da Cunha, desaparecido com o terramoto; a comunidade possui um presépio, executado provavelmente por António Ferreira, atualmente desmontado e disperso *1; 1708 - numa descrição do edifício, é referido que o rendimento do mosteiro cobre um quarto das necessidades anuais do mesmo, e por isso as obras têm sido parcas, estando a igreja por terminar, após a morte do Inquisidor do Conselho Geral, João da Costa Pimenta, que tinha iniciado a sua reconstrução; 1711, 31 janeiro - falecimento de D. Maria Madalena de Távora, sendo as casas desta nobre convertidas em dormitório; 1713 - conclusão das obras da igreja; 18 novembro - consagração do templo; possível feitura das Capelas do Bom Jesus e de Nossa Senhora dos Prazeres, financiadas pela Madre Úrsula dos Santos, sendo o douramento pago por José Ramos Silva, provedor da Casa da Moeda; feitura da Capela de São Ciro, pago pela Madre Catarina de São José; feitura da Capela de São João Baptista, paga pela Madre Mariana do Espírito Santo; 1745 - o edifício está inabitável e a comunidade pede um empréstimo à Coroa para a sua reconstrução; 08 março - lançamento da primeira pedra do novo mosteiro, com as obras levadas a cabo por Jorge de Abreu, Caetano Jerónimo, Manuel Francisco de Sousa e Manuel António Feio; 1748 - data provável da encomenda da tela para o retábulo-mor, a representar a "Coroação da Virgem", da autoria de André Gonçalves; as telas são encomendadas pelo patrono Salvador Franco Raínho; 1755, 01 novembro - os estragos provocados pelo terramoto obrigaram as freiras a refugiarem-se durante 10 dias na cerca e a abandonarem o edifício, indo para a casa de Francisco da Silva Lima; 1757 - regresso da comunidade ao mosteiro; 1758, 27 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco de Santos-o-Velho, Gonçalo Nobre da Silveira, é referido o mosteiro, como não tendo padroeiro; 1760 - conclusão das obras, conforme data epigrafada na porta da igreja; 1766 - António de Freitas doa ao mosteiro 4:000$000 com a obrigação de celebrar missas anuais por sufrágio; 1792, 21 julho - faz-se sepultar na Capela do Bom Jesus D. Joaquim de Mascarenhas, 4.º Conde de Coculim; 1794 - descrição da igreja por Frei Jerónimo de São José *3; 1823 - inventário do convento; 1833 - segundo Luís Gonzaga Pereira, tem quadros a óleo, talha, a Irmandade dos Escravos do Santíssimo e a imagem do Menino Jesus dos Atribulados; 1834 - extinção das Ordens Religiosas; 1859 - no mosteiro ainda vivem algumas monjas, sendo, no entanto, levado a cabo o inventário dos bens, sendo recenseadas 341 propriedades espalhadas pelo país; 1864, 06 outubro - o Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, perante a existência de apenas quatro freiras, manda suprimir o mosteiro; 19 outubro - um funcionário recebe ordens para confiscar todos os bens; 1864, 06 outubro - extinção do mosteiro, apesar das monjas se manterem no local e existe uma forte luta pela posse do edifício, entre o Estado, o Patriarcado e a Casa do Cadaval, cujo antecessor doara terras às Trinas; 1878, 14 janeiro - morte da última monja e inventário dos bens; a venda do edifício é inviabilizada por se achar ocupado pelas Irmãs da Caridade, que mandam fazer, no teto da igreja a representação das armas franciscanas em estuque, que substitui a pintura original, financiada por Salvador Franco Raínho; 1910, 05 outubro - na sequência da instauração da República, as Irmãs da Caridade são intimadas a abandonar o edifício; 1912 - instala-se no local o Tribunal dos Conspiradores, que destrói parte do dormitório; instalação de um hospital para doentes com tifo; 26 fevereiro - instala-se em parte do edifício o Posto Antropométrico Central, futuro Arquivo de Identificação; março - o Tribunal dos Conspiradores é dissolvido e abandona o edifício; 09 maio - instalação no local da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos; 25 junho - o escultor Júlio Vaz aluga alguns espaços para instalação do seu atelier; 23 novembro - o Museu Nacional de Arte Antiga solicita a remoção de várias peças para as suas instalações; dezembro - instalação no local da Escola Elementar de Comércio Ferreira Borges, a Escola Preparatória Rodrigues Sampaio, o Arquivo da Direção-Geral das Obras Públicas e Minas e uma arrecadação para a Direção-Geral das Obras Públicas do Distrito de Lisboa; 1913, 23 agosto - Museu Nacional de Arte Antiga elabora nova lista de bens a transportar para os seus acervos; 1917, 12 fevereiro - em plena I Guerra Mundial, o piso superior é ocupado pelo 1.ª Grupo de Companhias de Saúde; 1922 - o Exército retira do edifício; 1928 - as 20 telas do coro baixo são removidas para Tomar, entregues à União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, para o Seminário das Missões; 1931 - 1951 - à revelia da DGEMN ocorrem obras profundas para adaptação a arquivo geral das secretarias de estado, pelos Serviços de Construção e Conservação, dirigidas por Manuel dos Santos Estevens, que não seriam terminadas, ficando várias áreas em ruína; 1934 - cedência da igreja, coro baixo, sacristias e casa do sacristão ao Museu Nacional de Arte Antiga para instalação do Museu de Escultura Comparada; 1940 - estas dependências são devolvidas, pelo facto do Museu de Escultura nunca ter avançado; 1946 - duas telas do antigo coro baixo voltam ao Mosteiro; 1947 - abandona o local o Arquivo de Identificação; 1959 - envio das duas telas do coro baixo para o Palácio de Mafra; 1961 - instala-se no edifício o Instituto Hidrográfico; 1980, 20 março - Despacho do Secretário de Estado da Cultura que aprova o estabelecimento da Zona Especial de Proteção; 1987 - 1988 - ampliação do edifício pelo arquiteto João Ângelo Rodrigues Paciência.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Alvenaria, cantaria, madeira, vidro, azulejo e telhas.

Bibliografia

ATAÍDE, Maia, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, 3º Tomo, Lisboa, 1988; CAEIRO, Baltazar Matos, Os Conventos de Lisboa, Lisboa, 1989; MATOS, Alfredo e PORTUGAL, Fernando - Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1974; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos Anos de 1959, 1º Volume, Lisboa, 1960; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no Ano de 1961, 1º Vol., Lisboa, 1962; PAIS, Alexandre Manuel Nobre da Silva, Presépios Portugueses Monumentais do século XVIII em Terracota [dissertação de Mestrado na Universidade Nova de Lisboa ], Lisboa, 1998; PEDREIRINHO, José Manuel - Dicionário de arquitectos activos em Portugal do Séc. I à atualidade. Porto: Edições Afrontamento, 1994; PEREIRA, Luís Gonzaga - Monumentos Sacros de Lisboa em 1833. Lisboa: Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1927; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003; SIMÕES, João Miguel - O Convento das Trinas do Mocambo, estudo histórico-artístico. Lisboa: Instituto Hidrográfico, 2004.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSARH, DGEMN/DRMLisboa, DGEMN/DSEP, DGEMN/DREL/DIE, DGEMN/DREL/DRC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH, DGEMN/DRMLisboa; DGPE; DGARQ/TT: Arquivo das Congregações, Convento das Trinas, AHMF, Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Zona Especial de Proteção Conjunta do Museu Nacional de Arte Antiga (v. PT031106370084) e edifícios classificados na zona envolvente. *2 - a Sagrada Família encontra-se no Museu de Aveiro; o Menino no Museu Nacional Machado de Castro; algumas figuras integram o acervo do Museu Arqueológico Nacional de Madrid.

Autor e Data

João Silva 1992

Actualização

 
 
 
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