Quinta de São Cristóvão / Residência Inglesa / Casa da Quinta dos Mellos / Vila Maria

IPA.00003144
Portugal, Lisboa, Lisboa, Lumiar
 
Arquitectura residencial, setecentista. Quinta de recreio, de planta rectangular irregular, composta por amplo jardim e casa, numa das extremidades, de planta em U, contendo capela numa das alas, com planta característica das casas senhorias dos séculos 17 / 18, evoluindo em dois pisos e de grande volumetria. A fachada principal é sóbria, revelando influências maneiristas, com vãos rectilíneos, rasgados regularmente, compondo portal amplo, rematado por friso e cornija, com pináculos, que forma a sacada da janela que o sobrepuja. Possui janelas de peitoril no piso inferior e de sacada no superior. Fachadas com cunhais apilastrados, toscanos, da ordem colossal, com os dois pisos divididos por friso de cantaria, rematada em friso e cornija. Fachada posterior mais exuberante, com molduras recortadas e gosto pelas caixilharias de guilhotina, revelando um gosto setecentista, do período final. O portal da fachada acede directamente a pátio, que permite o acesso aos vários níveis do imóvel. Possui jardim simples, marcado por bancos com espaldares azulejados e caramanchão, também revestido a azulejo, com cenas de caça e de paisagem, com molduras neo-rococó, de produção novecentista, revelando um gosto revivalista. No INTERIOR destacam-se as janelas que mantêm as conversadeiras, bem como alguns tectos estucados e em caixotão.
Número IPA Antigo: PT031106180394
 
Registo visualizado 369 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Residencial unifamiliar  Quinta  Palacete  

Descrição

Quinta de planta rectangular irregular, adaptando-se aos arruamentos envolventes, totalmente murado, composto por casa no extremo da propriedade, de planta em U, com jardim na face posterior. O muro é bastante alto, rebocado e pintado de amarelo, alteado em algumas zonas, criando cornijas de perfis contracurvos, de influência borromínica; é rasgado por janelas rectilíneas com molduras recortadas, que, interiormente, possuem conversadeiras. A CASA apresenta volumetria paralelepipédica, com cobertura homogénea em telhados de duas, três e quatro águas, encimados por quatro chaminés. As fachadas exteriores são rebocadas e pintadas de amarelo, flanqueadas por cunhais apilastrados, da ordem colossal toscana, com os dois pisos divididos por friso de cantaria, rematadas por friso, cornija e beirada simples, rasgadas por vãos rectilíneos, exibindo molduras de cantaria e protegidos por caixilharias de madeira, pintadas de branco e verde, com vidros simples. Fachada principal, virada a NE., rasgada por portal de verga recta, com molduras múltiplas e rematado por friso convexo e cornija, encimada por dois pináculos piramidais embebidos no muro, protegido por porta de duas folhas de madeira de castanho, almofadadas e com vários pregos metálicos. O remate serve de sacada à janela do segundo piso, protegido por guardas metálicas e rematado por espaldar recortado, rematado por cornija e contendo um registo ovalado, com azulejo monocromo, azul sobre fundo branco, figurativo com a representação hagiográfica de São Cristóvão com o Menino; é uma composição verticalizante de 3x4 azulejos, surgindo, em primeiro plano, o santo, de pé, tendo o rosto com barba, a cabeça ligeiramente de perfil e olha para a esquerda para o Menino que segura ao colo. Veste hábito de pastor e segura na mão direita uma vara larga de madeira e, na esquerda, o Menino que está assente sobre os seus ombros. O Menino está vestido, tem auréola (que caracteriza a sua santidade e inspiração divina), a cabeça ligeiramente inclinada para a direita, tendo o braço direito erguido em gesto de benção e, no braço esquerdo, segura o globo; em segundo plano, montes e vegetação. No primeiro piso, surgem, ainda, seis janelas de peitoril e, no superior, seis de sacada, com bacia de cantaria e guarda semelhante à da janela que existe sobre o portal. Fachada lateral esquerda, virada a SE., de dois panos formando ângulo, o do lado esquerdo mais baixo, rasgado por três janelas de peitoril no piso inferior e duas no superior. O pano do lado direito, com os pisos divididos por friso de cantaria, têm janela de peitoril no piso inferior e duas no superior. A fachada prolonga-se, para o lado esquerdo, por muro simples. Fachada lateral direita, virada a NO., com os dois pisos divididos por friso de cantaria, o inferior com duas janelas de peitoril, protegidas por gradeamento vazado, em ferro pintado de verde, encimadas por duas janelas de varandim, com guarda metálica, que centram óculo ovalado. A fachada prolonga-se por muro, que envolve a propriedade. Fachada posterior virada a SO., formando o U, tendo, no topo da ala esquerda, ao nível do segundo piso, janela de sacada, com bacia em cantaria, assente em duas mísulas, com vão rectilíneo, de moldura recortada; no topo oposto, porta, encimada por janela de peitoril. A ala fundeira apresenta azulejos estampilhados de padrão policromo (azul e ocre), formando silhar, recortado superiormente, com módulo de 2x2 decorado com motivos geométricos, florais e vegetalistas estilizados sobre fundo branco. Centro de rotação constituído por florão azul e ocre envolto por tarjas curvas azuis e ocres que se unem com enrolamentos nas pontas formando um segundo centro de rotação; a unir os dois centros, enrolamentos vegetalistas de aguadas azuis. É rasgado por amplo arco em asa de cesto, assente em impostas e com pedra de fecho saliente, que liga directamente o exterior ao pátio; possui, ainda, uma janela de peitoril e um óculo ovalado. No segundo piso, duas janelas de peitoril, ambas com caixilharias de guilhotina e flanqueadas por mísulas de cantaria. No lado esquerdo, escadas de acesso ao segundo piso, com guarda plena de cantaria, dando acesso a portal em arco abatido e moldura recortada, protegido por alpendre sustentado por duas colunas toscanas, com tecto plano, rebocado e pintado de branco; sob as escadas, porta de verga recta de acesso ao piso inferior, através de pequeno corredor com cobertura em falsa abóbada de berço, rebocada e pintada de branco. A ala NO. possui porta de arco de volta perfeita, ligeiramente recortado, assente em pilastras toscanas e plintos paralelepipédicos, com fecho saliente e remate em cornija, correspondendo à porta da antiga capela Encontra-se encimado por registo de azulejo recortado, figurativo com a representação hagiográfica numa paisagem de Santo António com o Menino, em monocromia, azul sobre fundo branco, de composição verticalizante de 3x4+1/2 azulejos; em primeiro plano, Santo António em pé, tem o rosto imberbe, a cabeça de perfil com tonsura e auréola (que caracteriza a sua santidade e inspiração divina) e olha para o Menino. Veste hábito franciscano com capuz e cíngulo de três nós (numa alusão à Santíssima Trindade), sandálias e rosário (símbolo da sua devoção). Segura nas duas mãos o Menino, envolto por uma túnica, o qual tem auréola; a cabeça de perfil, olha para Santo António e segura com a mão direita o capuz do santo; em segundo plano montes e vegetação; insere-se em moldura policroma (azul, roxo, verde e ocre), constituída por elementos arquitectónicos sobre os quais assentam albarradas floridas sendo o conjunto rematado por elementos vegetalistas e concheados. No piso superior, duas janelas de peitoril, com caixilharias de guilhotina, flanqueadas por mísulas de cantaria. A ala oposta possui duas portas, uma em arco abatido e fecho saliente, sendo a outra rectilínea, encimadas por duas janelas de peitoril, a do lado esquerdo flanqueada por mísulas e a do lado direito protegida por portada de madeira pintada de verde. O U é fechado por murete capeado a cantaria, que separa o pátio, com pavimento em calçada, de um pequeno corredor pavimentado a calçada à portuguesa, com elementos geométricos, flanqueado por um muro recortado, que o separa do jardim, e onde se rasgam bancos, com os espaldares revestidos a azulejo figurativo, em monocromia, azul sobre fundo branco, rodeado por molduras simétricas e policromas (azul, manganês, ocres, castanho e verdes), que se desenvolve em largos enrolamentos de concheados sobre os quais se adossam folhagens e tarjas curvilíneas, com a representação de cenas campestres e de paisagens; nos topos, surgem floreiras. No INTERIOR destacam-se as salas do piso superior, com conversadeiras junto às janelas, pavimentos em madeira e tectos estucados alguns trabalhados e em caixotão. Das antigas dependências e equipamentos anexos que compunham a parte urbana, existe um antigo celeiro transformado em anfiteatro e, ao lado da secretaria, uma casa de arrumos. O JARDIM apresenta duas zonas distintas: a primeira a partir do corredor com bancos azulejados, situados junto à casa, constituída por um caramanchão com latada e vigamento de madeira suportada por colunas em cantaria cilíndricas, com pavimento em terracota, com os muros revestidos por painéis de azulejos policromos, com a representação falsas arcadas, que enquadram cartelas com molduras simétricas de elementos concheados e vegetalistas com cenas de caça e de pilastras com reserva oval, ao centro, entrelaçada por fita e encimada por concheado com desenho de troféus e de instrumentos de caça e, em cima, carranca envolta por elementos concheados e vegetalistas; inferiormente, rodapé esponjado com florões intercalados por rectângulos com florões e enrolamentos vegetalistas. Ao centro, fonte do tipo centralizado, octogonal, com plinto central, totalmente revestida a azulejo policromos em todo o seu perímetro, rodeada por canteiros com as mesmas características. Os azulejos são estampilhados e policromos (azul, verde e laranja) com módulo de padrão 2x2, decorado com motivos geométricos, florais e vegetalistas estilizados sobre fundo branco. Centro de rotação constituído por florão com núcleo de quatro flores, alternadas por pétalas azuis dispostas nas diagonais que unem a folhagens verdes e que encerram segundo centro de rotação constituído por elemento azul circular envolto por moldura laranja. A limitar painel friso de elementos vegetalistas verdes e laranja e rodapé de esponjado laranja. A segunda zona é constituída por relvado, onde se enquadra uma fonte circular em cantaria, onde surge a bica decorada por três golfinhos de caudas enroladas; nas imediações, um poço cilíndrico.

Acessos

Largo de São Sebastião, n.º 8; Azinhaga do Jogo da Bola; Estrada do Paço do Lumiar

Protecção

Incluído na classificação do Paço do Lumiar (v. IPA.00021768)

Enquadramento

Urbano, encontra-se implantado a meia-encosta, flanqueado, a SO., por Casa da Quinta de Nossa Senhora da Paz / Casa da Quinta do Caracol (v. PT031106180393). A fachada principal NE. abre para o Lg. de São Sebastião, onde se implanta a Capela de São Sebastião (v. PT031106180073), e a fachada NO. está virada para Estrada do Paço do Lumiar com Casa da Quinta de São Sebastião, (v. PT031106180795); ambas as vias são de circulação automóvel, com estreito passeio pavimentado a calçada à portuguesa. A fachada SE. confina com a Azinhaga do Jogo da Bola e Casa da Quinta do Paço / Colégio Manuel Bernardes (Infantil) (v. PT031106180860) com estreita rua, também de circulação automóvel. Insere-se no Núcleo Antigo do Paço do Lumiar, surgindo, nas proximidades, a presença de outras edificações com interesse cultural, decorativo ou arquitectónico, como o Edifício onde residiu Cesário Verde (v. PT031106180835) e o Edifício Oitocentista no Largo de São Sebastião, n.º 9 - 11 (v. PT031106180784).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: quinta

Utilização Actual

Educativa: faculdade / instituto superior

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR DE AZULEJO: Fábrica de Sacavém (1931-1932); H. Mourinho (1931).

Cronologia

Séc. 17 - provável construção da Quinta do Caracol; séc. 18 - construção do conjunto urbano da quinta a partir da antiga Quinta do Caracol, já existente em 1760; 1901 - requerimento enviado à Câmara Municipal de Lisboa por parte de Joaquim António do Carmo, então proprietário da Quinta dos Mellos, a que se juntou um projecto para obras nesse imóvel; 1907 - o mesmo proprietário voltou a solicitar autorização camarária para realizar obras de alteração e beneficiação nas suas instalações (igualmente denominadas Villa Maria), onde outrora funcionara uma albergaria e cavalariças que se encontravam em ruína; séc. 20, anos 20 / 30 - definição da actual estrutura da quinta, a cargo do então proprietário Herbert Edward Over Guilbert, cidadão inglês que era também proprietário da Fábrica da Louça de Sacavém e da Quinta de Nossa Senhora da Paz; 1931 / 1932 - campanha de obras azulejar no jardim (espaldares de bancos e muros), produzida pela Fábrica da Louça de Sacavém e desenhados por H. Mourinho; 1933 - Herbert Guilbert pediu autorização para proceder à afixação de um letreiro com o dístico "Residência Inglesa"; 1937 - Leland Herbert Gilbert era proprietário da quinta; 1959 - Alice de Pina Esteves, então proprietária, pediu autorização à Câmara Municipal de Lisboa, para poder realizar obras na sua quinta; 1969 - a mesma proprietária enviou novo requerimento à edilidade a solicitar a possibilidade de realização de obras de beneficiação geral a partir de Maio de 1970; 1980 - instalação do Instituto Português de Estudos Superiores - Gabinete Português de Estudos Humanísticos e do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais na quinta de São Cristóvão; 1991 - a Marinha ofereceu a este instituto a âncora do NRP Afonso de Albuquerque que se encontra no pátio; 1994 - a quinta foi abrangida pelo Plano Director Municipal, ref. 18.23; 1997 - classificação do Conjunto do Paço do Lumiar; 2004 - a quinta faz parte do património da Câmara Municipal de Lisboa.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, rebocada e pintada; cunhais, modinaturas, frisos, cornijas, embasamento, muros, chafariz, escadas, bacias das sacadas, guarda das escadas, colunas do alpendre em cantaria de calcário; pavimento em tijoleira, calçada portuguesa, no pátio; ladrilho cerâmico; silhares, registos, espaldares dos bancos, muros do caramanchão e canteiros revestidos a azulejo industrial; janelas com caixilharias de madeira e vidro simples; tectos em estuque simples e trabalhado; guardas com ferro fundido; coberturas exteriores em telha.

Bibliografia

RIBEIRO, Luís Paulo Faria Almeida, Quintas do Concelho de Lisboa. Inventário, Caracterização e Salvaguarda, Lisboa, Instituto Superior de Agronomia - Secção de Arquitectura Paisagista, 1992 (texto policopiado); CONSIGLIERI, Carlos e OUTROS, Pelas Freguesias de Lisboa. O Termo de Lisboa, Lisboa, 1993; AMPREIA, Dora, Espaços Abertos no Processo de Reabilitação Urbana e Integração Paisagística de Infraestruturas Viárias,relatório de trabalho de Fim de Curso da Licenciatura em Arquitectura Paisagista, Évora, 1996, (policopiado); OLLERO, Rodrigo (coord. de), Plano de Pormenor de Salvaguarda. Paço do Lumiar, Gabinete Técnico de Carnide - Luz / Paço do Lumiar, Lisboa, 1996; INÁCIO, Carlos A. Revez, Paço do Lumiar. Apontamentos de História, Lisboa, 1998; AAVV, Monografia do Lumiar, Junta de Freguesia do Lumiar, Lisboa, 2003.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; UE

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; Arquivo da D.N.D.; UE

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras (n.º 44513, Proc. n.os 30840/96 de 1969 e 21 de 7/1/1933 e Petição n.o 25777/79 de 20/11/1979)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1907 - obras de alteração e beneficiação; 1959 / 1969 - obras de conservação e beneficiação geral.

Observações

Autor e Data

Paula Simões 1998 / Sara Andrade 2004

Actualização

 
 
 
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