Jazida de icnofósseis da Pedra da Mua / Trilhos de dinossáurios na Pedra da Mua

IPA.00030888
Portugal, Setúbal, Sesimbra, Sesimbra (Castelo)
 
Sítio paleontológico. Jazida fóssil de pegadas de dinossáurio, ícnitos do Jurássico. Num dos painéis de azulejos do interior da Ermida da Memória está representada a Virgem, com o Menino Jesus nos braços, sobre uma mula e o rasto desta na laje. Estes elementos da lenda indiciam a sua relação com os trilhos visíveis na arriba que até ao século 20 não eram relacionados com os animais que os produziram.
Número IPA Antigo: PT031511010103
 
Registo visualizado 1331 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Sítio  Sítio paleontológico  Jazida fóssil      

Descrição

No concelho de Sesimbra existe um conjunto importante de ocorrências paleontológicas do qual fazem parte as jazidas icnofósseis da Pedra da Mua, dos Lagosteiros (v. PT031511010104) e da Pedreira do Avelino (v. PT031511010105). A jazida da Pedra da Mua terá cerca de 145 milhões de anos e é um local que revela inúmeros aspectos da paleobiologia dos saurópodes *3 do Jurássico *4 superior: apresenta impressões de membros anteriores e posteriores muito bem conservadas. Encontram-se identificadas 38 pistas de saurópodes (dinossáurios quadrúpedes herbívoros) e 2 de terópodes *5 (dinossáurios bípedes carnívoros), num total de cerca de 700 pegadas. Em duas da pistas foram identificados rastos de animais que coxeavam, uma vez que o comprimento do passo é alternadamente curto e longo. As pistas paralelas de saurópodes que apresenta são consideradas a primeira evidência de comportamento gregário entre saurópodes reconhecida na Europa, bem como o melhor exemplo deste comportamento entre animais juvenis. Através do estudo desta jazida percebe-se que os indivíduos se deslocavam em grupo, constituindo manadas. O facto de existirem pistas paralelas e espaçadas de modo mais ou menos regular, com o mesmo sentido de progressão, constituídas por pegadas de dimensões idênticas e onde se estimam valores de velocidade semelhantes, evidencia a passagem de um conjunto de animais de igual porte que se deslocava em manada. Na camada 3 há sete pistas paralelas de pequenos saurópodes que testemunham a passagem de uma manada de herbívoros que se moviam para sudeste. São constituídas por pegadas deixadas pelos membros posteriores com 38 a 46 cm, indiciam animais de pequenas dimensões ou juvenis, com cerca de 1,5 a 1,8 m do solo à anca, que se deslocavam num mesmo sentido. Atrás deste grupo passaram três grandes saurópodes, há evidências de que um destes pisou as pegadas dos mais pequenos, com pegadas com 70 a 73 cm de comprimento, evidenciando animais mais corpulentos. Os três indivíduos de maiores dimensões, com cerca de 2,8 m do solo à anca, também se deslocavam sensivelmente no mesmo sentido, constituindo, provavelmente, um outro grupo. A camada 5, aparentemente conhecida desde o século 13, conserva vestígios da passagem de cinco saurópodes. São constituídas por impressões nítidas, profundas, com as margens verticais, algumas das quais com rebordos volumosos resultantes do afastamento do sedimento do centro da marca para a sua periferia, devido à pressão exercida pelas patas no solo. Nas duas pistas de terópodes identificam-se pegadas de dinossáurios carnívoros bípedes; marcas com três dedos (tridáctilas *6) que normalmente nas extremidades são pontiagudas devido às impressões das garras.

Acessos

Seguindo pela auto-estrada do sul A2, vira-se para a EN 378. Na zona de Santana acede-se à EN 379 em direcção ao Santuário da Senhora do Cabo (v. PT031511010003). O acesso é feito apenas através de equipamento de escalada. WGS84 (graus decimais) lat.: 38.421752°, long.: -9.217139°

Protecção

MNat - Monumento Natural, Decreto nº 20/97, DR, 1.ª série-B, n.º 105 de 07 maio 1997 / Incluído no Parque Natural da Arrábida (v. PT031511010102)

Enquadramento

Rural, na orla marítima, em escarpas agrestes, quase verticais. Na encosta ocidental do Cabo Espichel, em zona bastante elevada em relação ao nível do mar, à cota 125. Os trilhos identificados encontram-se na escarpa que limita a sul a Praia dos Lagosteiros. Esta escarpa encontra-se na lateral direita do promontório onde se localiza o Santuário da Senhora do Cabo. A zona é observável através de escalada com os meios apropriados, pela quase verticalidade da rocha ou através de observação com meios mecânicos na escarpa norte da Praia dos Lagosteiros.

Descrição Complementar

A paleoicnologia, ciência que estuda as pegadas de dinossáurio, permite compreender o modo de deslocação, a velocidade e algumas características da anatomia dos animais. Através do estudo de esqueletos fossilizados descobertos em vários locais, é possível obter as dimensões totais do animal que produziu a pegada: o comprimento da perna, será cerca de quatro vezes o comprimento da pegada do pé.

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Pré-história

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

140-130 milhões de anos a.C. (Jurássico superior, finais) - época em que vários grupos de saurópodes transitaram por este local; séc. 13 - os trilhos são conhecidos dos pescadores da região pelo menos desde esta época; 1997, 7 Maio - classificação da jazida como Monumento Natural; 2008, 31 Janeiro - Icnitos de dinossáurios. Candidatura a Património Mundial da UNESCO, proposta de classificação organizada sob a coordenação do ICNB - Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, com o apoio científico do Museu Nacional de História Natural, de três jazidas de pegadas de dinossáurios (icnitos) do Jurássico. Duas das jazidas localizam-se no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (Pedreira do Galinha e Vale de Meios), estando a terceira inserida no Parque Natural da Arrábida (Pedra da Mua). A proposta de classificação foi feita conjuntamente com oito jazidas de Espanha; 10 Dezembro - Equipa de paleontólogos do Instituto Catalão de Paleontologia e da Universidade de Manchester, em colaboração com o Museu Nacional de História Natural inicia a digitalização das pegadas de dinossauros da Pedra da Mua (Cabo Espichel), da Pedreira do Galinha (na Serra de Aire) e de Vale de Meios (Serra dos Candeeiros) com o objectivo de conseguir imagens tridimensionais daqueles monumentos paleontológicos. Através do sistema LIDAR, Laser Imaging Detection and Ranging, será possível o estudo mais aprofundado dos aspectos da locomoção, do comportamento social e dos hábitos dos dinossauros que por ali viveram entre o Jurássico Médio e o Cretácico Superior, há 145 a 60 milhões de anos; 2009, 13 Novembro - no âmbito da Candidatura a Património Mundial, uma comitiva de peritos da UNESCO, acompanhada por vários especialistas em paleontologia, visita o Monumento Natural da Pedra da Mua, para o conhecer e avaliar. Após a visita às pegadas, realizou-se uma sessão de apresentação das jazidas que integram a candidatura na Igreja do Cabo Espichel, na qual estiveram presentes o director do Museu de História Natural, Fernando Barriga, o vice-presidente do Instituto de Conservação da Natureza, Carlos Figueiredo, a directora do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral Lisboa e Oeste, Sofia Castelbranco Silveira e Galopim de Carvalho, antigo director do Museu Nacional de História Natural, e um dos mais conceituados especialistas portugueses em geologia e paleontologia, que colaborou na classificação da Pedra da Mua.

Dados Técnicos

As marcas visíveis actualmente foram impressas em sedimentos depositados em lagunas ou charcas salobras e pouco profundas na faixa litoral jurássica e cretácica. Após a sua deposição e soterramento por sedimentos mais jovens, as camadas inicialmente depositadas em estratos horizontais, sofreram processos de litificação que as transformaram nos calcários e margas actuais. A actividade tectónica associada ao levantamento da cadeia da Arrábida, dobrou e fracturou estes estratos, expondo-os à erosão.

Materiais

Calcário

Bibliografia

SANTOS, Vanda Faria; LOCKLEY, Martin G.; MEYER, Christian A., Trackway evidence for a herd of juvenile sauropods from the late jurassic of Portugal. Revista GAIA, nº 10, Dezembro 1994, pp 27-35 ; , em 2011-3-1; em 2011-3-1; http://whc.unesco.org/en/tentativelists/5255/, em 2011-3-1; , em 2011-3-1; , em 2011-3-1.

Documentação Gráfica

CMS; ICNB; MNHN

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA; CMS; ICNB; MNHN

Documentação Administrativa

CMS; ICNB; MNHN

Intervenção Realizada

Observações

EM ESTUDO. *1 - Icnofóssil ou ícnito deriva do grego "iknos" que significa "traço" ou "vestígio". Refere-se a fósseis de vestígios de actividade biológica de organismos que existiram no passado, poderão ser pegadas, pistas de deslocação, ovos ou marcas de dentadas; *2 - Um dos trilhos de dinossáurio foi interpretado como o rasto deixado por uma mula gigante que teria transportado Nossa Senhora desde o mar até ao topo da arriba, surgindo assim, a lenda da Nossa Senhora da Pedra da Mua ou Mula e que terá dado origem ao culto religioso no local; *3 - Os saurópodes são dinossáurios pertencentes à subordem Sauropoda. Eram herbívoros de cabeça pequena e pescoço e cauda compridos; *4 - O Jurássico foi um período geológico no qual dominaram os dinossáurios e em que o desenvolvimento da vegetação era abundante. Durou cerca de 54 milhões de anos, sensivelmente entre 208 a 144 milhões de anos atrás; *5 - Os terópodes são dinossáurios pertencentes à subordem Theropoda. São essencialmente carnívoros e omnívoros e deslocavam-se apenas sobre duas patas (bípedes); *6 - As pegadas tridáctilas são marcas de patas que apresentam três dedos.

Autor e Data

Teresa Ferreira 2011

Actualização

 
 
 
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