Castelo de Vilar Maior

IPA.00002963
Portugal, Guarda, Sabugal, União das freguesias de Aldeia da Ribeira, Vilar Maior e Badamalos
 
Castelo medieval de traçado oval irregular com torre de menagem de planta quadrada, tendo três registos, seteiras rectas, porta em arco quebrado ao nível do segundo registo com acesso pelo adarve. Torre de menagem adossada no exterior, indica ter sido construída posteriormente às muralhas. No exterior do lado O. observa-se o arranque da muralha correspondente à cintura muralhada exterior. Foi em Vilar Maior que D. João (filho de D. Pedro e D. Inês de Castro), pouco depois de assassinar a sua esposa, D. Maria Teles, veio procurar refúgio. Acabou por fugir para Castela, e mais tarde lutou contra os portugueses em Trancoso e em Elvas, ao lado dos espanhóis.
Número IPA Antigo: PT020911400015
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Do perímetro urbano muralhado, apenas subsiste o arranque de um arco. Cidadela com traçado oval irregular, com torre de menagem quase adossada no exterior e ausência de merlões nas muralhas, providas de cinco lanços duplos de escadas de acesso ao adarve. No exterior do lado O., observa-se o arranque da muralha correspondente à cintura muralhada exterior. Possui duas portas, a SE. em arco quebrado, coberta com abóbada de berço quebrado, conservando gonzos de cantaria e a NO. em arco quebrado no extradorso e em arco pleno no interior, coberta com abóbada de berço quebrado e conserva gonzos de cantaria. Cisterna de planta circular e sem cobertura no interior do recinto, com cerca de 35 m.. Torre de menagem de planta quadrada, adossada pelo exterior *1 no lado SE., com cerca de 35 m. de altura, sem cobertura, mas com a marcação de três registos. Fachada N. com uma seteira recta em cada registo, tendo, na E., seteira recta encimada por escudo com armas reais enquadrado por moldura rectangular saliente, no primeiro, surgindo, no segundo, seteira recta com moldura de meia-cana e, no superior, seteira recta. Fachada S. com seteira recta no terceiro registo e a O. encontra-se, no primeiro registo, quase adossado à muralha, e no segundo possui porta em arco quebrado. Apresenta siglas templárias em quase todas as pedras *2. O interior encontra-se completamente destruído, não sendo visível a estrutura dos pisos, subsistindo parte de um lanço de escadas a N. e a E. e as mísulas de apoio dos pavimentos. As seteiras apresentam perfil em arco de volta perfeita. Vestígios da terceira cintura de muralhas perto das escadas que acedem à antiga Câmara, na R. da Costa e na R. do Castelo e no interior do actual Museu de Vilar Maior. Restos da terceira muralha, visíveis nas escadas para a Antiga Casa da Câmara (v. PT020911400253).

Acessos

Rua do Castelo; EN. 233 - 3; 24 Km a N. do Sabugal; NO. da EM 567

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 2/96, DR, 1ª série-B, nº 56 de 6 março 1996

Enquadramento

Urbano, no limite do aglomerado, situado num cabeço planáltico sobranceiro à povoação e dominando vale do Rio Cesarão, protegido a E. pelos penhascos deste curso de água e, a O., pela encosta íngreme. Da cidade da Guarda avista-se claramente o Castelo. Relativa proximidade do cemitério e das ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Castelo (v. PT020911400017); no lugar de Correia podem-se observar sepulturas antropomórficas. Protegida, a E., pelos pelos penhascos da Ribeira do Cesarão e, a O., pela encosta íngreme.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: 1(CEPM nº 394) - Inscrição comemorativa da conclusão da muralha ou de um troço da muralha do perímetro urbano. Gravada na ombreira da Porta da rua do Arco. Tipo de letra: inicial capitular carolino-gótica. Leitura: ERA DE M[C]CC XVIIJ(= ano de 1280).

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal do Sabugal, auto de cedência de 28 Julho 1941 (tel.: 271751040)

Época Construção

Séc. 13 / 14 (conjectural) / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Época Neolítica, do Bronze Final e Romana - achados avulsos *3; provável existência de castro pré-romano; 60 a. C. - conquista romana do possível castro lusitano ali existente, seguido da sua reconstrução e fortificação *4; 1139 - reconquista pelos leoneses e reconstrução do castelo quando tomado aos mouros; passou a pertencer à Ordem de São João do Pereiro; 1227 - documento em latim faz referência, pela primeira vez, a Vilar Maior, topónimo que parece estar relacionado com a pequena dimensão do povoado inicial; de facto, a denominação "vilar" aparece como diminuitivo de vila, o que parece significar que, inicialmente, a ocupação deste local não passaria por mais de uma ou duas famílias; 1230 - reconquistado de novo pelos leonenses aos portugueses; 1232, 6 Agosto - provável concessão de carta de povoamento por D. Afonso IX de Leão, cujo efeito foi anulado por D. Fernando II que reintegrou Vilar Maior no concelho do Sabugal; provável reedificação do castelo por D. Afonso IX de Leão; séc. 12 - 13, o local tinha razoàveis condições de defesa naturais, mas com o aparecimento das armas de fogo a defesa do castelo ficou em causa; séc. 13, 2ª metade - concessão de carta de povoamento por D. Afonso X de Leão; 1280 - Conforme testemunha uma inscrição a muralha do perímetro urbano, ou apenas o troço que terminava na rua do Arco, estava concluida, tendo sido mandada construir por D. Afonso X de Castela; 1296 - conquista por D. Dinis, sendo seu senhor o Leonês D. Sancho Peres de Ledesma; 1296, 27 Novembro - concessão de carta de foral; reconstrução do castelo ou apenas da torre de menagem, por D. Dinis com ajuda da Ordem do Templo; 1297, 12 Setembro - integração no território português na sequência do Tratado de Alcanices; 1367 - 1383 - prováveis intervenções no castelo por iniciativa de D. Fernando; 1398 - prováveis intervenções no castelo por iniciativa de D. João I; 1440 - foi criado o couto de Vilar Maior, recebendo a povoação 1000 homiziados que. desta forma, obtinham perdão; 1496 - na Inquirição, é referida a existência de 234 habitantes; 1510, 1 Janeiro - renovação do foral e intervenções no castelo por D. Manuel I; desenhado por Duarte d'Armas, observando-se que a cidadela possuia dupla cintura muralhada *5; 1516, 16 Maio - os juízes de Vilar MAior e Ciudad Rodrigo procederam ao reconhecimento da fronteira, demarcando-a; 1527 - surge no Cadastro do Reino, como tendo 60 fogos, num total de 422 habitantes; séc. 17 - o castelo não tinha importância como sistema defensivo *6, razão pela qual não sofreu adaptações ao sistema abaluartado, ao contrário do que aconteceu com o vizinho castelo de Almeida e Penamacôr; 1653, 27 Janeiro - era Conde de Vilar Maior D. Fernando Teles de Menezes Silva, depois Marquês de Penalva e Alegrete; foi Comenda da Ordem de Malta; 1755 - não sofreu com o terramoto; 1758 - referência nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo cura Francisco Antunes, ao Paço, sendo alcaide-mor Joaquim José Nobre de Miranda; encontrava-se rodeada de muros "em redondo, porem de tam pouca defensa por se acharem arruinados" (JORGE, p. 39); tem 3 atalaias, também arruinadas, de telha e madeiras e um castelo muralhado, com poço de água e muitas casas em ruína; a torre tinha dois pisos e encontrava-se também em péssimo estado de conservação; séc. 19 - durante as invasões francesas também esta povoação foi invadida e pilhada; 1834 / 1853 - a povoação sofre as consequências das lutas entre os liberais e miguelistas; 1855, 24 Outubro - extinção do estatuto concelhio, passando para o concelho de Sabugal; 1864 - tinha 160 fogos e 679 habitantes; 1890 - tinha 199 fogos e 742 habitantes; 1940 - tinha 267 fogos e 745 habitantes.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Granito, cantaria; aparelho isódomo, revestimento inexistente

Bibliografia

DGA/TT, Memórias da Paróquia de Vilar Maior de 1758; ALMEIDA, João de, Reprodução Anotada do Livro das Fortalezas de Duarte d' Armas, Lisboa, 1943 e Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, 1945; CORREIA, Joaquim Manuel, Terras de Riba-Côa, Memórias sobre o Concelho do Sabugal, Lisboa, 1946; PEREIRA, Mário, dir., Castelos da Raia da Beira, Distrito da Guarda, Guarda, 1988; VAZ, Francisco, Alfaiates, na Órbita de Sacaparte, Lisboa, 1989; JORGE, Carlos Henrique Gonçalves, O Concelho de Vilar Maior em 1758 - Memórias Paroquiais, Leiria, 1991; VAZ, Francisco e AMBRÓSIO, António, Alfaiates, na Órbita de Sacaparte, Lisboa, 1991, vol, III; DIAS, Mário Simão, Vilar Maior - História, Monumentos e Lendas, Guarda, 1996; GOMES, Rita Costa, Castelos da Raia. Beira, vol. I, Lisboa, 1997; DIAS, Mário Simões, Memórias da Beira Côa, Coimbra, 1998; INATEL, Carta do Lazer das Aldeias Históricas, INATEL, Diário de Notícias e PPDR, Lisboa, 2000; BARROCA, Mário Jorge, Corpus Epigráfico Medieval Português, tomo 1, FCG, Lisboa, 2000, pp. 1010-1011.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

Séc. 20 - o edifício do antigo forno comunitário foi recuperado, passando a funcionar como posto de turismo e loja de artesanato.

Observações

*1- estas torres não tinham a vantagem de travar os panos de muralha entre as torres, mas em contrapartida em caso de desmoronamento não arrastavam as muralhas na sua queda. O castelo de Vilar maior é um bom exemplo de um recinto fortificado simples em que existe uma cerca muralhada arredondada, para se conseguir um auto-travamento sem torres. *2 - investigadora francesa fotografou as siglas e estuda-as há alguns anos. *3 - em 1956, foi achada, em Vilar Maior, uma espada da Idade do Bronze, surgindo, algumas gravuras anteriores, constituídas por desenhos geométricos, na Quinta da Formiga e na Fraga, bem como machados de pedra. *4 - deste período, foram encontrados tijolos, telhões e moedas, mosaicos e vestígios de calçada romana. *5 - nas gravuras de Duarte d' Armas observa-se, já, alguns vestígios de ruína, como é o caso de algumas ameias. O castelo surge-nos com dois panos de muralha, o segundo deles a envolver a torre de menagem onde se vêem algumas troneiras cruzetadas. Este segundo pano, designado por barbacã, dava profundidade à defesa e reforçava a protecção da entrada. Na zona da barbacã da porta não existem ameias, aparentemente, porque se fazia tiro através das troneiras. A torre de menagem tinha cobertura de telha, o acesso a esta fazia-se por uma escada de pedra que nascia no interior do recinto, ascendia-se assim ao nível do adarve em que trabalhava a porta de entrada. O castelo tinha a particularidade de apresentar cadafalso na torre de menagem. permitindo melhorar a protecção imediata da torre, impedindo a destruição do seu embasamento, aumentando também as possibilidades de protecção da porta. O cadafalso protegia os archeiros e criava condições para tiro vertical idêntico ao dos matacães, tornando assim a defesa mais complexa. Junto à ponte podemos verificar os restos do que poderá ter sido a muralha da vila, passando assim a três. Ainda hoja é possível encontrar reminiscências suas, nomeadamente junto das escadas que ficam perto da antiga Câmara e na R. da Costa e no interior do actual Museu de Vilar Maior, mas acabamos por constatar que grande parte dela foi destruída para construir os muros do cemitério. *6 - Brás Garcia de Mascarenhas descreve a vila: "Terá a vila 60 vizinhos, o castelo está em sitio forte por natureza, que os muros são fracos e mal descortinados e muito antigos. Dista duas léguas de Alfaiates e duas do Castelo de Albergaria e tres da vila de Espeja, que fica a um lado do pinhal que começa na nossa arraia e vai até perto de Cida Rodrigo, tem tres para quatro léguas de comprido, uma e meias de largo, é muito espesso e ninho de ladrões e animais selváticos. Fica junto dele o lugar de Nave de Haver que é nosso e uma légua adentro o de Malhada Sorda, ambos de 200 vizinhos casa um, e são termo de Vilar Maior, cuja alcaidaria mor rendia 600 mil reais ao Conde de Ficalho, Duque de Villa Hermosa, não sei por quanto a houve, sei que hoje a pedem muitos a Sua Magestade, e que até agora a não deu a nenhum (GOMES, Rita Costa, p. 115).

Autor e Data

Margarida Conceição 1992 / Filipa Avellar 2005

Actualização

 
 
 
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