Forte de São Pedro / Fortim de São Pedro
| IPA.00028519 |
Portugal, Portalegre, Elvas, Assunção, Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso |
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Forte destacado construído no início do séc. 19, por ordem do Duque de Wellington, seguindo as características dos fortes das denominadas Linhas de Defesa de Lisboa e que, juntamente com os Fortins de São Mamede, da Piedade e de São Francisco, seus contemporâneos, reforçou o campo entrincheirado de Elvas, ficando o perímetro fortificado com cerca de 10km. Implanta-se num outeiro, que constituía um padastro ao Forte de Santa Luzia e à cidade, apresentando planta poligonal, de pequenas dimensões, composta por reduto, fosso e esplanada. O reduto tem três faces desiguais, de traçado adaptado ao terreno e orientadas para travar a aproximação do inimigo e bater uma das frentes do Forte de Santa Luzia e da cidade, para onde se vira a gola, com os paramentos da escarpa exterior em ressalto e remates em parapeito liso, na gola, ou com canhoeiras, nas faces, tendo hoje menos uma do que as nove iniciais. A meio da gola tem o acesso ao interior, onde ainda conserva dois traveses, dispostos na frente mais exposta ao ataque da artilharia, estruturas do corpo da guarda, de planta retangular, com alojamento para o comandante, para os seus homens e um armazém, e um paiol à prova, com armazém e sala de receção. Ao contrário do marcado em planta oitocentista, os paramentos interiores não são percorridas por banqueta. O reduto é circundado por fosso, com contraescarpa em alvenaria rebocada, a partir da crista da qual se desenvolvia a esplanada, exceto na frente poente, devido ao grande declive de terreno e à existência de afloramento rochoso, que impedia a progressão do inimigo. |
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Número IPA Antigo: PT041207030190 |
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Edifício e estrutura Edifício Militar Forte
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Descrição
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Planta poligonal composta por reduto de três faces desiguais, com gola virada sensivelmente a norte, circundado por fosso e esplanada, exceto na frente poente. O reduto apresenta paramentos de alvenaria com a escarpa exterior em ressalto e remates em parapeito liso, na gola, e com canhoeiras, nas três faces, num total de oito. O acesso processa-se a meio da gola por vão interrompendo o paramento, sendo precedido por ponte de alvenaria, construída sobre o fosso. É circundado por fosso, com contraescarpa igualmente em alvenaria mista, desenvolvendo-se a partir da crista da mesma, rebocada, a esplanada. O fosso e a esplanada são interrompidos na frente poente, onde existe acentuado declive rochoso. INTERIOR com paramento em alvenaria aparente, sem vestígios da antiga banqueta que o circundava. Na frente sul conserva dois grandes traveses, colocados perpendicularmente ao reparo e separados do paramento, rebocados e caiados de branco e de topo arredondado. À esquerda do vão de acesso, erguem-se estruturas da antiga casa da guarda, de planta retangular sem cobertura e fachadas de um piso, rebocadas e caiadas, com vãos virados a sul, de verga reta e dois, mais largos, de arco abatido. À direita, isolado no terrapleno, ergue-se o paiol, de planta retangular, composto por armazém e sala de receção, esta volumetricamente mais baixa. Volumes escalonados, com coberturas em telhado de perfil curvo, no armazém revestido a placas cerâmicas. Apresenta fachadas com ligeiro talude, rebocadas e caiadas de branco, tendo na lateral poente da sala de receção porta de verga abatida, atualmente entaipada. |
Acessos
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Assunção, Rua Colégio Britânico; Rua Francisco Mendes. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,871813, long.: -7.165341 |
Protecção
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Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 30 762, DG, 1.ª série, n.º 225 de 26 setembro 1940 (muralhas e obras anexas) / MN - Monumento Nacional / ZEP, Aviso n.º 1517/2013, DR, 2.ª série, n.º 242 de 13 dezembro 2013 / Património Mundial - UNESCO, 2012 |
Enquadramento
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Urbano, isolado. Ergue-se sobre um pequeno outeiro, adaptado ao declive do terreno, a sul da praça de Elvas, a cerca de 600m do baluarte de Olivença e da porta do mesmo nome, e a cerca de 500m a poente do Forte de Santa Luzia (v. IPA.00003244). No interior do reduto existem algumas árvores de pequeno porte e ao través mais a poente adossa-se muro de alvenaria, mais baixo, até ao paramento. Atualmente o forte é enquadrado por zona residencial, o bairro de São Pedro, desenvolvendo-se no enfiamento do vão de acesso, via estruturante e pequena rotunda. A 25m para nascente do forte, ergue-se posto de alta tensão. |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Militar: forte |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Época Construção
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Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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EMPREITEIROS: António Serra (1967, 1980-1982, 1984-1985). |
Cronologia
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Séc. 16, início - construção da Igreja de São Pedro de Fora num outeiro onde os judeus teriam o seu cemitério; 1641, cerca - após obtenção de licença do bispo da cidade D. Manuel da Cunha, procede-se à demolição da Igreja de São Pedro de Fora, então denominado Outeiro de São João, cortar o arvoredo em volta e aplanar o local, para a construção de um pequeno reduto designado de São Pedro; 1663 - "Obra do outeiro de S. Pedro", representando um forte pré-existente no outeiro de São Pedro, constante no Livro de João Nunes Tinoco; séc. 18, 2.ª metade - planta do "fortim" de São Pedro, que não é seguido, tendo a legenda "Das Obras de fortificações com que se podem ocupar os Outeiros de Sam Mamede e Fortim de S: Pedro (DSE: SIDCarta, 1694-1A-13-17); 1797 - segundo a correspondência entre o governador da Praça de Elvas, o tenente general Francisco Xavier de Noronha, e o marechal general Duque de Lafões, D. João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva, "não tendo o Forte de S.ta Luzia esplanada nem obras q[ue] prometão duração na Rezistencia, se julgou essencialmente preciso fazer-se hum Reduto em huma pequena altura chamada de S. Mamede (...). Justamente se imaginou outro Reduto no Fortim chamado de S. Pedro"; quando os fortes já tinham "(...) as canhoneiras construhidas, e o fosso, e mais Obra no maior adiantamento", o marechal general do exército português, D. João Carlos de Bragança (1719-1806), 2.º Duque de Lafões, manda parar as obras, para grande desagrado do governador da praça, o tenente general Francisco Xavier de Noronha; 1811, 18 junho - despacho de Wellington sugerindo a Beresford a construção do fortim de São Pedro: "segundo, o terreno por onde passa o caminho que vem de Vila Boim não é visto de Santa Luzia ou da Praça; e parecenos que um reduto sobre a rocha, do lado direito de Santa Luzia, dominaria aquele terreno e ajudaria na defesa de Santa Luzia e da praça, dos quais receberia alguma proteção por flanqueamento. Um bom reduto paliçado deveria ser construído naquele terreno"; neste mesmo ano procede-se à construção do atual forte de São Pedro, tal como os de Mamede (v. IPA.00035778), da Piedade (v. IPA.00035779) e São Francisco (v. IPA.00035780), pelos ingleses e por ordem do Duque de Wellington, quando comanda o exército anglo-luso da fronteira do Alentejo, o General Rowland Hill *1, e é governador da praça, o general Francisco Leite, tentando assim colmatar uma deficiência do campo entrincheirado sentida na batalha das Linhas de Elvas; 1815 - o Fortim de São Pedro é descrito como tendo planta poligonal, com nove canhoeiras, dois travesses, fosso, em quase todo no perímetro, esplanada incompleta na frente do fosso, paiol à prova com corredor de ressalva e um corpo da guarda com alojamento para o comandante, outro para dois homens e armazém; 1823 - segundo informação de Joaquim Jozé de Almeida e Freitas, tenente coronel Real Corpo de Engenheiros, "Estes reductos são p.te destacados da Fortificação desta Praça muito interessantes a boa defensa; por q[ue] estando elles bem reparados e bem fortificados hão de demorar tempo considerável os sitiantes dist.es do Forte de S. Luzia, e da Praça; port.o he de m.ta urg.ia a comcervação destes reductos, como Obras permanentes (...)"; a sua guarnição de infantaria é então de 257 soldados; 1852 - segundo o relatório de José Manços de Faria, coronel graduado do Estado Maior de Engenharia, "os quatro reductos (...) destacados da Praça formão a sua primeira linha de defensa (...)"; 1875 - segundo o relatório do governador da Praça, o general Francisco Xavier Lopes, os fortes destacados da praça estão "completamente abandonados"; para a sua defesa o forte de São Pedro precisa de 2 morteiros, 4 obuses e 4 peças estriadas; 1911, 25 maio - Decreto do Ministério da Guerra, art. 315,2. define a Praça de Elvas e suas dependentes, tal como o forte de São Pedro, como fortificação de 2.ª classe; 1933 - o forte tem caminho de servidão e uma faixa circundante da obra, com 40 m de largo; não possui marcos delimitadores do Ministério da Guerra; 1934 - o seu valor patrimonial é de 6.600$00; 1936, 01 outubro - início do arrendamento do forte, a João Lapa Lopes, por 123$00 anuais e pelo prazo de três anos; 1937, 01 maio - início do arrendamento das pastagens do fosso e esplanada do forte, por 212$00 anuais e pelo prazo de três anos, a João Lapa Lopes; 1938, 02 dezembro - auto de entrega do forte ao Ministério das Finanças, confrontando por todos os lados com particulares; 1941 - Câmara solicita ao Ministério das Finanças a cessão do antigo prédio militar, constituído por "uma obra avançada a poente da Praça de Elvas e a cerca de 250 metros do Forte de Santa Luzia", para ali construir a nova abegoaria Municipal; 1942 - Ministério das Finanças pede parecer à DGEMN da cessão a título precário do Fortim de São Pedro. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria mista aparente ou rebocada e caiada, na casa da guarda, paiol e traveses; cobertura do paiol rebocada e caiada ou revestida a placas cerâmicas. |
Bibliografia
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AA.VV - Fortificações de Elvas. Proposta para a sua inscrição na lista do Património Mundial. Elvas (Portugal): texto policopiado, 2008; BUCHO, Domingos - Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações. Lisboa: Edições Colibri; Câmara Municipal de Elvas, 2013; JESUÍNO, Rui - Elvas - Histórias do Património. s.l.: Rui Jesuíno; Booksfactory, 2016; MORGADO, Amílcar F. - Elvas - Praça de Guerra (Arquitectura Militar). Caderno Cultural n.º 7, s.l.: Câmara Municipal de Elvas, 1993. |
Documentação Gráfica
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DGPC: DGEMN:DREMSul/DM; Obra do outeiro de São Pedro - Livro de São João Nunes Tinoco, 1663; Direção de Infraestruturas do Exército: GEAEM, SIDCarta, Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 44/Elvas - Reduto de São Pedro; Câmara Municipal de Elvas |
Documentação Fotográfica
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DGPC: SIPA |
Documentação Administrativa
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DGPC: DGEMN:DSID (DGEMN:DSID-001/012-1747, DGEMN:DSID-001/012-1749, DGEMN:DSARH-010/087-0046, DGEMN:DSID-001/012-01695); Arquivo Histórico Militar: 3.ª Divisão, 9.ª Secção, Cx. n.º 67 (1797) (Administração Militar, correspondência entre o governador da Praça de Elvas - Tenente General Francisco Xavier de Noronha - e o Marechal General Duque de Laffoens, Dom João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascaranhas da Silva; Carta do Governador da Praça de Elvas, Tenente General D. Francisco Xavier de Noronha, para o Marechal General Junto à Real Pessoa), Cx. 76, NA8 (1823) (Informação do Forte de Santa Luzia, e Reductos destacados, Joaquim Jozé de Almeida e Freitas, T.e C.el do N.al R.al Corpo de Engenheiros), Cx. 72, n.º 3 (1852) (Relatório das Obras que se julgam precisas levar desde já a efeito na Praça de Elvas e Forte da Graça. Para constetuir as suas Fortificações n'um perfeito estado de defensa. José Manços de Faria, Cor.el Grad.º do Est.º M.or de Eng.riª), Cx. 73, n.º 11 (1875) (Relatório sobre a defesa da Praça de Elvas feito pelo seu atual governador, o General da Brigada Francisco Xavier Lopes); Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 44/Elvas - Reduto de São Pedro |
Intervenção Realizada
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1997 / 1998 a Câmara Municipal de Elvas candidata os Fortins de São Domingos, São Pedro e São Mamede ao programa "Life" para obras de recuperação; DGEMN: 1967 - obras de conservação pelo empreiteiro António Serra: demolição de construções abarracadas encostadas às muralhas do fortim, fornecimento e assentamento de pavimento de tijoleira prensada e execução de rebocos em panos de muralha; 1980 / 1981 - obras de reparação e consolidação, pelo empreiteiro António Serra: escavação e remoção de terras e entulhos que obstroem o fosso do fortim, construção de alvenaria hidráulica em elevação para tapamento de rombos e consolidação de panos de muralha, empregando pedra rija e argamassa de cimento e areia, reparação de panos de muralha, compreendendo arranque de arbustos e ervas e refechamento de juntas das pedras; 1982 - obras de conservação, pelo empreiteiro António Serra : construção de alvenaria hidráulica em elevação para tapamento de rombos e consolidação de panos de muralha, empregando pedra rija e argamassa de cimento e areia, reparação de panos de muralha, compreendendo o arranque de ervas em pavimentos, remoção dos entulhos do fosso e desinfestação de ervas e arbustos em vários locais dos panos de muralha; 1984 / 1985 - obras de conservação , pelo empreiteiro António Serra: construção de alvenaria hidráulica em elevação para tapamento de rombos e consolidação de muralhas, reparação de panos de muralha, compreendendo arranque de ervas e arbustos e refechamento de juntas das pedras com argamassa de cimento em vários pontos das muralhas, arranque de ervas e arbustos em pavimentos, desinfestação de ervas em vários locais de panos de muralha, empregando herbicida; 1998 - projeto de obras de recuperação do Fortim contemplando a limpeza e remoção de todas as formações herbáceas existentes nas alvenarias e fosso para posterior aplicação de herbicida e refechamento de juntas, com argamassa de cal e areia; reconstrução de "lacunas" em alvenaria de pedra nos panos de muralha, torreões e ruína da casa do guarda; reconstrução doe capeamento dos panos de muralha e fosso em alvenaria de pedra, em argamassa de cal, areia e pedra miúda; preenchimento de "lacunas" no reboco existente nos torreões, casa do guarda e muralhas; caiação; fornecimento e assentamento de placa identificadora do Fortim; fornecimento e assentamento de placas de sinalização de acesso ao local, conforme modelo da Câmara; CMELVAS: 2013, cerca - obras de valorização das fortificações abaluartadas da fronteira Elvas / Badajoz - Baluartes, com financiamento da União Europeia, FEDER. |
Observações
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*1 - Segundo o relatório do governador da Praça, o general Francisco Xavier Lopes, datado de 1875, "sabendo o Duque de Wellington que o General francez Soult se unira com Davoust e que Marmout passara o Tejo em Almaraz, convergindo todas as forças commandadas por estes generaes sobre Badajoz, levantou logo o cerco d'esta praça (1811) acolhendo-se a Elvas para se oppôr a tão grandes massas, que ameaçavam invadir novamente o nosso paiz; foi por esta ocasião fatal que aldeias, quintaes, pomares, Olivedos, casas, tudo em fim cahiu por terra e se destruiu! Até as próprias fontes foram inutilisadas, nada escapando á sanha destruidora dos engenheiros ingleses; surgindo apenas de todas estas ruinas e devastações, os fortes de S. Mamede, S. Pedro, Piedade e S. Francisco, que não serviram então, e que se acham hoje completamente abandonados". No mesmo relatório, o governador reafirma a autoria dos fortins por dizer: "A leste e oeste d'este forte [Santa Luzia], e sobre pequenas elevações de terreno, foram construídos pelos inglezes em 1811 os reductos de S. Mamede e de S. Pedro, a oeste do baluarte da Conceição, e junto ao aqueducto da Amoreira, á distancia de 700m da praça, os reductos da Piedade e de S. Francisco". |
Autor e Data
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Paula Noé 2017 |
Actualização
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