Igreja Paroquial de Avantos / Igreja de Santo André

IPA.00002690
Portugal, Bragança, Mirandela, União das freguesias de Avantos e Romeu
 
Arquitectura religiosa, barroca. Igreja paroquial de planta longitudinal composta por nave com coro-alto, capela-mor e sacristia adossada ao lado esquerdo. Fachada principal em empena encurvada, truncada por sineira dupla, rasgada por portal de verga recta circunscrito por pilastras e remate em frontão curvo, e por dois óculos circulares. Fachadas circunscritas por cunhais apilastrados e remates em cornija, sendo a lateral direita rasgadas por porta travessa de verga recta e duas janelas em capialço. Interior com coberturas em falsas abóbadas de berço abatido, em caixotões pintados, semelhantes aos da Igreja de Santa Eufémia de Lavandeira (v. PT010403070011), em Carrazeda de Ansiães. Pia baptismal no lado do Evangelho, sob o coro-alto e púlpito no mesmo lado. Capela lateral dedicada às Almas, de talha do estilo nacional. Retábulos colaterais de talha dourada e policromada joanina, que se prolonga sobre o arco triunfal. Retábulo-mor de talha dourada e policromada rococó, de três eixos, com enorme tribuna com trono e mísulas laterais. Igreja profundamente remodelada no período barroco, mas com fundação quinhentista, como se depreende dos vestígios manuelinos sobre o pórtico axial, nomeadamente o cogulho, que remataria um primitivo arco canopial e os dois óculos laterais, seguindo, embora de forma mais simplificada, o esquema da fachada da Igreja Matriz de Freixo de Espada-à-Cinta (v. PT010404020001). O pórtico apresenta arquitrave datada, encimada por frontão semicircular. Possui nas coberturas da nave e capela-mor caixotões de madeira com riquíssima representação de santos do hagiólogo católico, seguindo os da nave uma disposição heirárquica bem definida, dispondo, junto ao arco triunfal, os Apóstolos, Fundadores de Ordens Religiosas, Santos Mártires e Santas Mártires; nas ilhargas da capela-mor e na cimalha das da nave, sob a cornija surgem telas pintadas. Embutidos nas paredes da nave, dois confessionários confrontantes. O púlpito ostenta decoração rococó, tendo a particularidade de possuir um anjo tocheiro assente na guarda da escada de acesso. Dois arcos de volta perfeita rasgam-se nas paredes da nave, decorados com pinturas murais, revelando que se trataria de dois altares seiscentistas, desactivados na altura em que se criaram os retábulos colaterais, que os ocultam parcialmente, estes de talha dourada que se prolonga sobre o arco triunfal, também entalhado no seu intradorso. Sobre este, um nicho com imaginária, ladeado por dois anjos de vulto. Retábulo-mor do período rococó, realizado após a concepção da cobertura da nave, cujos primeiros caixotões estão encobertos pela talha dourada.
Número IPA Antigo: PT010407050014
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta por nave e capela-mor, com sacristia adossada à fachada lateral esquerda. Volumes articulados de disposição horizontalista das massas, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e de três na sacristia. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, excepto a principal, que é em cantaria granítica aparente, com pilastras toscanas nos cunhais, coroadas por pináculos fusiformes sobre plintos paralelepipédicos lisos, e terminadas em cornija sobreposta por beirada simples. Fachada principal virada a O., terminada em empena curva, sublinhada por cornija, truncada por dupla sineira, com vãos em arco de volta perfeita, sobre pilares, albergando sinos, rematada em cornija recta sobreposta por cruz latina sobre peanha volutada e pináculos sobre plintos paralelepipédicos. É rasgada por portal de verga recta, ladeado por pilastras toscanas, sustentando arquitrave inscrita, friso com fenda de arejamento e frontão semicircular. Sobre o portal surge uma peanha de gomos que sustenta uma cruz latina de pé alongado e com resplendor, enquadrado por dois óculos circulares, moldurados. No cunhal existe silhar com antigo relógio de sol, muito delido. Fachada lateral esquerda com nave cega e a sacristia com janela rectilínea, moldurada e gradeada virada a O.; na fachada lateral direita, rasga-se na, nave, porta travessa de verga recta, de moldura simples, e janela de capialço, e, na capela-mor, uma outra semelhante; junto ao cunhal SO. existe superiormente modilhão. Fachada posterior cega, a da capela-mor terminada em empena, coroada por cruz latina de hastes trilobadas e resplendor, sobre pequena peanha. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco e faixa pintada de amarelo, cobertura em falsa abóbada de berço abatido, de madeira, integralmente preenchido com 75 caixotões pintados e enquadrados por talha decorada com florões, assente sobre cornija, surgindo, abaixo desta, mais 24 painéis; pavimento irregular em lajes de granito. Coro-alto de madeira, com balaustrada torneada, cujo acesso se processa pelo lado da Epístola, através de escada em cimento, forrada de madeira no segundo lanço, este protegido por guarda. Junto ao primeiro lanço, pia de água benta gomeada. No lado oposto, pia baptismal granítica, alteada por um degrau quadrangular, protegido por grades de ferro. No lado do Evangelho, púlpito quadrangular com bacia de cantaria, sustentado por mísula decorada por folhas e volutas estilizadas e guarda em talha policromada e dourada, num trabalho que se prolonga pela balaustrada da escada de acesso, cuja pilastra inicial é coroada por anjo tocheiro. Retábulo em talha dourada e policromada, dedicado às Almas e confrontantes arco de volta perfeita, moldurado, com pinturas murais nos painéis fundeiros. Ambos os arcos estão parcialmente encobertos pelos retábulos colaterais, em talha dourada e policromada, dedicados a Nossa Senhora do Rosário e Calvário, cujo entalhe se prolonga pelo arco triunfal, cujo intradorso se encontra igualmente entalhado, encimado por nicho em arco pleno com imaginária e ladeado por dois anjos. Capela-mor alteada por dois degraus, com pavimento lajeado e cobertura semelhante à da nave, com 28 caixotões. As paredes estão forradas com painéis de madeira, pintados com temática hagiográfica, seis no lado do Evangelho e sete no lado da Epístola, ambos sobre lambrim de pintura mural, com motivos geométricos. No lado do Evangelho, porta de verga recta, de acesso à sacristia. Retábulo-mor de talha dourada e policromada, de planta recta e três eixos, divididos por colunas de fuste liso, pontuado por concheados, e capitéis coríntios, assentes sobre plintos altos; no central, tribuna semicircular, coberta por semicúpula, com trono e baldaquino, surgindo, nos laterais, duas mísulas. Na base da tribuna, sacrário, assente em altar em forma de urna. Remate em frontão interrompido com anjos e espaldar recortado com o escudo português. Sacristia com pavimento lajeado e tecto de madeira, com lavabo de cantaria esculpida, embebido no muro E..

Acessos

Avantos, Rua da Igreja, Rua de São Sebastião

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986

Enquadramento

Rural, isolado, em plano elevado, no centro da povoação, próximo de duas casas senhoriais, uma delas a residência do comendador. As restantes habitações são de um e dois pisos, relativamente bem cuidadas. É rodeado por um adro, mais amplo nas zonas laterais, murado com pedra aparelhada rusticada e com acesso nas fachadas principal e posterior, por meio de escadaria de granito em silharia, com portão gradeado no topo, cujos pés-direitos apilastrados são decorados com volutas e rematados por pináculos. Algumas árvores de porte médio pontuam o adro.

Descrição Complementar

No lintel do portal principal, a inscrição: "1756 / ARS BENE VIVENDI ET MORIENDI EST VNA VIATOR / SI VIS AETERNE VIVERE DISCE MORI". Pintura do tecto da nave, com caixotões, a representar: São João Evangelista, São Simão, São Filipe, São Matias, Santo André, São Pedro, Santiago Maior, Santiago Menor, São Bartolomeu, São Tomé, São Damião, São Vicente, São Barnabé, São Pantaleão, São Venâncio, São Cosme, Santo Estêvão, Aram, São Paulo, Santo Agapito, São Bento, Santo Ovídio, Moisés, São João de Malta, São Vicente Ferrer, Jesus Cristo, São João da Cruz, Santo Antão, Santa Águeda, Santa Petronilha, Santa Eulália, Santa Bibiena, Santa Clara, Santa Cistina, Santa Eugénia, Santa Eufémia, Santa Doroteia, São Mamede, São Patrício, São Luís, Santa Escolástica, São Tibúrcio, Santa Helena, Santa Feliciana, Santa Mónica, Santa Genoveva, São Bernardino, São João Baptista, São Pedro de Alcântara, Beato Filipe, São Joaquim, Santa Ana, São Martinho, Santa Maria Madalena, São Diogo, São José, São Manuel; um deles ostenta a data "1794". Nas paredes da capela-mor tem, no lado do Evangelho, São Gregório Magno, Santa Teresa, Nossa Senhora do Carmo, Santo Ambrósio, São Basílio e Santa Catarina; no lado da Epístola, São Jerónimo, Mater Dolorosa, Santo Agostinho, Santa Apolónia, São João, São Domingos e São Francisco. Nos caixotões da cobertura, São Roque, "Anunciação", "Casamento da Virgem", "Encontro na Porta Dourada", Santo Isidro e a legenda "1773. Damião Vallsoleri"; "Visitação", "Adoração dos Pastores", "Apresentação de Jesus no Templo", Santa Bárbara, "Fuga para o Egipto", "Adoração dos Reis Magos", Pomba do Espírito Santo, Santo André, "Caminho do Calvário", "Crucificação", Santa Luzia, "Cristo no Horto", "Flagelação", Senhor da Cana Verde, São Lourenço, "Cristo e a Boa Samaritana", "Pesca Milagrosa", "Transfiguração", São Lázaro, "Jesus entre os Doutores", "Baptismo de Cristo" e "Tentação de Cristo". Na nave, dois arcos decorados com vestígios de pinturas murais, representando a "Assunção da Virgem" no lado do Evangelho e "Ressurreição de Cristo", no lado da Epístola; os arcos ostentam decoração de acantos nos extra e intradorsos. Retábulo das Almas de planta recta e um eixo circunscrito por colunas torsas com pâmpanos e pilastras, que evoluem em arquivoltas unidas no sentido do raio, formando o ático. O painel central divide-se em dois registos, o primeiro com Almas a arderem, o intermédio com São Miguel a lutar contra o demónio e, superiormente, a Corte celestial, a presidir ao julgamento; altar em forma de urna, decorado com acantos e concheados. Retábulos colaterais são idênticos, de planta recta e um eixo, constituído por nicho de volta perfeita, ladeado por pilastras e colunas torsas com espira fitomórfica, estas assentes em consolas com anjos; nos nichos, as imagens dos oragos, sob as quais surgem sacrários, o do Evangelho ladeado por anjos e com sanefa de lambrequins e o oposto com decoração recortada. Remate em cornija, frontão interrompido com anjos e coroa, com emblemas, o do Evangelho com o monograma "AM"; altar em forma de urna ostentando vários concheados e acantos. A talha prolonga-se sobre o arco triunfal, com profusa decoração de acantos e volutas.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Bragança - Miranda)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 (conjectural) / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Damião Vallsoleri.

Cronologia

Séc. 16 - provável construção do imóvel; séc. 17 - execução do retábulo das Almas; 1756 - reforma do imóvel, nomeadamente na reestruturação da fachada; 1758, 4 Abril - segundo o padre Domingos Rodrigues nas Memórias Paroquiais, a freguesia era do bispado de Miranda do Douro, comarca de Torre de Moncorvo, termo da vila de Mirandela e anexa à reitoria de Santa Eugénia de Ala, sendo donatário do termo o Marquês de Távora; tinha 40 vizinhos e 140 pessoas; a igreja tinha dois altares colaterais, um dedicado ao Santo Cristo e o outro a Nossa Senhora; tinha duas naves e não tinha capela-mor, porque a que tinha se havia arruinado e pertencia à comenda mandá-la fazer, enquanto o povo havia feito de novo o corpo da igreja; tinha uma Irmandade das Almas; o pároco era cura apresentado pelo reitor; a comenda tinha 8$000, 2 almudes de vinho e 52 alqueires de pão; 1770 / 1771 - realização de obras na igreja, cuja cobertura deveria ficar em escama de peixe; 1773 - Damião Vallisoleti conclui a pintura da cobertura interior; provável execução do retábulo-mor e púlpito; 1794 - execução da pintura da cobertura da nave; 1979 - proposta de classificação pelo IPPC; 1983 - Comissão Fabriqueira escreve à DGEMN a pedir ajuda financeira para a substituição dos sinos da igreja, muito danificados; 1990, Dezembro - o relatório sobre a pintura mural, do Instituto José de Figueiredo, denuncia um mau estado geral e inúmeras infiltrações, sendo necessário o seu restauro com o levantamento de cal, limpeza, fixação, reconstituição da pintura decorativa e, eventualmente, reconversão do branco de chumbo; 1997 - pedido de autorização da Junta de Freguesia para proceder a obras.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Granito na estrutura, rebocado, excepto na fachada principal, nas molduras, sineiras, cunhais, pináculos e cornijas, pavimento, pia baptismal e de água benta, mísula do púlpito, escadas; xisto e granito nos muros de vedação; saibro nos pavimentos; madeira nas portas, bancos da igreja, coro-alto e escadas de acesso, coberturas e vigamentos, imaginária, retábulos, guarda do púlpito, confessionários e arcaz; telas pintadas; metal nas escadas exteriores, grades do baptistério, portões exteriores, tirantes e caixilharias; telha de aba e canudo; vidro simples nas janelas.

Bibliografia

ALVES, Francisco Manuel, Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vols. VII e X, Bragança, 1982; CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique, OLIVEIRA, Carlos Prada de Oliveira, As Freguesias do Distrito de Bragança nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património, Braga, Barbosa Xavier, Ldª, Artes Gráficas, 2007; CORDEIRO, Olga Telo - Um milhão e meio de euros para recuperar património do Vale do Tua. Jornal Nordeste. 03 fevereiro 2015; Intervenções no património, in Monumentos, n.º 16, Lisboa, Março 2002, p. 150; Monumentos, n.º 19, Lisboa, Outubro 2003, p. 151; LOPES, Flávio [coord.], Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Bragança, Lisboa, 1993; MOURINHO, António Rodrigues, Arquitectura religiosa na antiga diocese de Miranda do Douro (Bragança), 1545-1800, Sendim, 1995; SILVA, Isabel [dir.], Avantos, in Dicionário Enciclopédico das Freguesias, 3.º vol., Matosinhos, 1997, p. 106; TAVARES, Virgílio A.B., Conheça a nossa torre, Mirandela, s.l., 1996.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; Instituto José de Figueiredo: Divisão de Pintura Mural

Intervenção Realizada

DGEMN: 1960 / 1965 - restauro do tecto em caixotões; 1979 - remodelação da instalação eléctrica da igreja; 1980 - reparação da instalação eléctrica; 1985 - recuperação da torre sineira e ligeiras reparações nos telhados; 1986 - reparação da cobertura da sacristia; limpeza de vegetação e musgos; 2001 - conservação das coberturas com substituição da telha, tratamento dos madeiramentos e aplicação de chapa ondulante de cartão asfáltico; tratamento de rufos e caleiros, incluindo aplicação de chapa de chumbo nos coroamentos das paredes de cantaria; 2002 - conservação dos paramentos com execução de rebocos com argamassa de cal e areia; pintura a cal e limpeza das cantarias e elementos decorativos em pedra; limpeza dos muros e tratamento e pintura com tinta de óleo dos portões do adro; 2003 - conservação dos vãos exteriores e interiores, com tratamento e pintura a tinta de óleo; restauro do cadeiral da capela-mor e do armário da parede da sacristia; 2004 - conservação e restauro das coberturas interiores e da sacristia (em curso); 2015 - início das obras de recuperação da igreja, no âmbito das medidas compensatórias do Aproveitamento Hidroelétrico de Foz do Tua (AHFT), numa parceria da Direção Regional de Cultura do Norte e da Agência de Desenvolvimento Regional da Vale do Tua (ADRVT), com o financiamento da EDP.

Observações

O relatório do Instituto José de Figueiredo, datado de 4 Janeiro 1991 refere a necessidade de uma intervenção na cobertura da sacristia porque esta mete água. Ou o problema apareceu de novo ou a intervenção realizada em 1986 foi deficiente.

Autor e Data

Ernesto Jana 1994 / Marisa Costa 2001

Actualização

 
 
 
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