Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Anços

IPA.00002631
Portugal, Coimbra, Soure, Vila Nova de Anços
 
Igreja de Misericórdia maneirista, de planta retangular composta de nave única e capela-mor, tendo adossado sacristia e Casa do Despacho e torre. Fachada principal em empena, de cornija, e rasgada por um eixo de vãos formado por portal de verga recta e janela, encimado por brasão. Fachada lateral esquerda rasgada por janelas e porta travessa, também de verga recta, e fresta na capela-mor. Casa do Despacho adossada à fachada lateral direita, para onde se vira a sua principal fachada, de construção maneirista, formada por dois pisos, rasgados regularmente em três eixos, tendo no central porta de verga recta e nos laterais janelas jacentes encimadas por janelas de sacada, abrindo-se para o interior da nave da igreja através de tribuna, de vão rectangular arquitravado sustentado por colunelos. No interior, de tecto de madeira na nave e falsa abóbada de berço na capela-mor, possui coro-alto de madeira, púlpito rectangular com guarda de madeira no lado do Evangelho, fronteiro à tribuna, e retábulo-mor maneirista, de tipo nicho, seguindo a tipologia de Vignola. Ainda que seguindo a planimetria mais comum das igrejas de Misericórdia do distrito, de planta longitudinal composta por nave e capela-mor, integra-se na variante de volume exteriormente indiferenciado, constituindo, no entanto, a única que possui a sacristia adossada em eixo. Apesar das várias reformas que sofreu, desde finais do séc. 18, que levaram ao entaipamento de frestas e de uma porta travessa na capela-mor, conserva na fachada principal um silhar com inscrição alusiva à data de construção e gárgulas maneiristas. O portal axial possui duplo friso e cornija, mas os superiores, decorados, devem ter sido introduzidos aquanto da abertura da janela, talvez no final do séc. 18, inícios do 19, data provável também da colocação da actual pedra de armas. A torre sineira, integra-se na estrutura da Casa do Despacho e, apesar do seu volume robusto, deve ter sido construída depois do séc. 17, já que nessa altura , normalmente, as Misericórdias eregiam apenas sineiras. O púlpito, sobre mísula volutada, é acedido por escada de madeira e a tribuna, no lado da Epístola, seguindo o esquema mais comum no distrito, possui inscrita a data de execução. Ao contrário da tendência geral no distrito, a Misericórdia de Vila Nova de Anços possui actualmente apenas o retábulo-mor que, apesar da estrutura geral maneirista, apresenta algumas reformas barrocas, provavelmente de finais do séc. 18; é o caso do ático, reformulado na zona central, onde a tabela foi substituída por nicho, nas colunas definidoras de eixos e na colocação do sacrário; a pintura dos nichos com decoração seiscentista, parece ter sido avivada posteriormente. A mesa de altar, com frontal pintado em finais do séc. 19 / 20, alberga a imagem do Cristo Morto, reflexo do culto ligado ao martírio de Cristo presente em todas as misericórdias. A igreja possuía ainda outras estruturas de cantaria maneirista, conforme documentam os colunelos e outros elementos existentes na sacristia.
Número IPA Antigo: PT020615110005
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal composta de nave única e capela-mor, tendo adossado à fachada posterior a sacristia, formando exteriormente um único volume indiferenciado, e à lateral direita, no alinhamento desta, anexo, e sensivelmente recuada em relação à frontaria, a casa do Despacho e a torre sineira, quadrada, existindo entre os volumes pátio ajardinado, vedado por muro alto. Volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhados de três águas na igreja, quatro na casa do Despacho e duas no anexo. Fachadas rebocadas e pintadas, com zona superior em betão e terminadas em beirais duplos na casa do Despacho e triplos na igreja. Fachada principal virada a O., com cunhais em cantaria encimados por gárgulas de canhão, caneladas, e terminada em empena, com cornija de estuque, levemente truncada no topo onde é encimada por plinto com cruz metálica; no cunhal esquerdo, junto ao pavimento, o silhar possui a inscrição "IHS MA 1636". É rasgada por portal de verga recta, moldurada, encimado por duplo friso e cornija, o superior decorado por motivos fitomórficos e querubins e a cornija assenta em duas fiadas de denticulado, sobrepujado por janela de verga recta, com pequena cornija e caixilharia de duas folhas e bandeira, e brasão nacional, de escudo tipo francês encimada por restos da antiga coroa real. O corpo adossado a S., correspondente à Casa do Despacho, é de dois registos separados por friso e rasgado no segundo por duas janelas de peitoril quadrangulares, com moldura, inferiormente mais larga; no ângulo SO. integra-se a torre sineira, com mais dois registos, sendo o terceiro rasgado por janela igual às anteriores e no quarto, separado por cornija, abre-se, em cada uma das faces, sineira estreita, de arco de volta perfeita, moldurada; remate em coruchéu tronco-piramidal, coroado por catavento de ferro, e com pináculos de alvenaria sobre plintos nos cunhais. Fachada lateral N. rasgada por duas janelas e porta central de verga recta na nave, uma fresta na zona da capela-mor, num nível mais baixo, e uma outra na sacristia. Na fachada posterior abre-se pequena janela e no cunhal SE. possui gárgula igual às da fachada principal; o anexo, que se prolonga para S., é mais baixo, com cobertura disposta perpendicularmente à da nave é rasgada por portão deverga recta a E. e é cego a S.. Fachada S. com Casa do Despacho de dois pisos, tendo no primeiro porta de verga recta ladeado por duas frestas rectangulares jacentes, com capialço, encimadas, já no segundo piso, por janelas de sacada, actualmente com guarda em falsos balaústres de madeira à face, encimadas por cornija recta; o pano de muro entre a Casa do Despacho e o anexo, tem porta de verga recta simples de acesso ao pátio ajardinado. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com pavimento em lajes de cantaria e cobertura de madeira, formando masseira com tirantes de ferro, na nave, e falsa abóbada de berço na capela-mor. Nave com coro-alto de madeira envernizada, com guarda em balaustrada de madeira, tendo no sub-coro guarda-vento também de madeira e pia de água benta circular de bordo saliente. No lado do Evangelho dispõe-se púlpito rectangular sobre mísula volutada, com guarda em balaústres de madeira, acedido por escada também de madeira; frontalmente, abre-se no lado da Epístola, tribuna de ligação à Sala do Despacho, de vão rectangular, sustentado por cinco colunelos toscanos, assentes em altos plintos quadrangulares e encimados por ábacos quadrangulares bastante salientes; possui guarda em balaústres de madeira assente em cornija e friso de cantaria, este inscrito com a data de 1641. Teia de madeira, com balaústres do mesmo tipo, separa a zona do presbitério. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras toscanas. Na capela-mor, sobre fino supedâneo, retábulo-mor de talha dourada e policromada a branco e azul, de planta recta e três eixos delimitados por colunas torsas, com espira dourada, de capitéis coríntios, e assentes em plintos paralelepipédicos, os dos extremos decorados por florão de talha dourada, e com orelhas de acantos; em cada um dos eixos abrem-se nichos, o central de volta perfeita sobre falsas pilastras, ambos ornados de elementos fitomórficos e com florão nos seguintes, e os laterais de arco assentes em mísulas volutadas; todos os nichos têm o fundo dourado pintado com flores e albergam imaginária, os dos eixos laterais sobre mísulas com acantos; ático formado por entablamento encimado por nicho central, de arco em volta perfeita sobre falsas pilastras, de duas arquivoltas decoradas com diferentes motivos vegetalistas, albergando imagem no interior, igualmente pintado a dourado com flores; é enquadrado por duas aletas com acantos. Sacrário em forma de templete, terminadndo em cornija curva, com a porta ornada por cruz e parras enroladas, em dourado. Altar paralelepipédico, com frontal de madeira, tripartido, pintado com albarradas e tendo nos sebastos e sanefa decoração de acantos. Sacristia com pavimento em tijoleira cerâmica, arcaz de madeira simples e lavabo de espaldar rectangular, com duas bicas carrancas, encimado por reservatório, terminado em cornija recta e com bacia rectangular de bordo arredondado. Atravessando o pátio aberto, com buchos e outros arbustos, acede-se por escada ao segundo piso do edifício da Casa do Despacho. A sala do Despacho tem pavimento de madeira e tecto também de madeira envernizada, em gamela; no topo possui porta de verga recta de ligação à torre e ao coro-alto e lateralmente um pequeno oratório, em talha policroma.

Acessos

Rua Gago Coutinho, Travessa da Misericórdia e Travessa do Mau Ladrão

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Urbano, isolado, formando pequeno quarteirão, delimitado por vias públicas e ruelas, adaptado ao pendor suave do terreno. A fachada principal vira-se para a principal via que atravessa a povoação, ficando sobranceira à mesma; possui pequeno adro frontal, acedido por cinco degraus e com o pavimento em calçada à portuguesa com a data de 1897. A zona da Casa do Despacho fica ao nível da estrada e tem fronteiro calçada à portuguesa com canteiros plantados com pequenos arbustos.

Descrição Complementar

No canto da sacristia, amontoam-se colunelos de fuste canelado e outros elementos de cantaria da antiga estrutura maneirista.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Coimbra)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1481, 24 Julho - carta de D. Afonso V dando ao conde de Tentúgal, D. Álvaro, Vila Nova de Anços e as vilas e lugares de Tentúgal, Póvoa, Pereira, Buarcos, Rabaçal e Anobre, com todas as rendas, reguengos e jurisdições, e os padroados das suas igrejas de São Miguel e Madalena de Montemor-o-Velho, além da vila de Alvaiázere que já tinha; 1633 - segundo as "Informações Paroquiais da Diocese de Coimbra", de 1721, neste ano D. João IV deu alvará concedendo licença para instituir a confraria e Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia em Vila Nova de Anços, anexando-a ao hospital e albergaria que já existia na vila, conforme este pedia *1; o alvará determinava que a Irmandade tivesse cem irmãos, todos de uma condição, e que se governassem pelo Compromisso da Misericórdia de Montemor-o-Velho; segundo o Prior Bernardo Serrão de Carvalho, que assina a informação relativa a Vila Nova de Anços, o hospital da vila teve origens numas casas e logradouros que Gildro Pires deixou, em data desconhecida, para recolhimento dos pobres, aplicando a sua fazenda e um rebanho de vacas que tinha para esta despesa; como contrapartida, pedia uma missa cantada anualmente; a Misericórdia passou a reger-se pelo Compromisso de Lisboa de 13 de Maio de 1618 e a Mesa era eleita anualmente por toda a Irmandade, existindo 43 associados; 1636 - data da inscrição no cunhal esquerdo da igreja; 1641 - data gravada no friso sob a tribuna; 1708, 28 Setembro - Auto de Medição da Casa da Misericórdia, realizado pelo juiz de fora de Soure; este refere que o retábulo-mor tinha "frisos dourados e serafins esculpidos", no alto a representação de Santa Isabel, possuía ainda as imagens de Nossa Senhora do Ó, a do Padre Eterno e a da Virgem com o Menino, do séc. 16; nos colaterais tinha a figura de São Pedro e São Paulo em pedra acompanhados de São Geraldo e São Brás; 1721 - nas "Informações Paroquiais da Diocese de Coimbra" refere-se que existe na vila casa da Misericórdia e "hospital ou recolhimento para os pobres passageiros"; anualmente, no dia de Todos os Santos havia uma missa cantada com responso pela alma do benfeitor Gildro Pires, da sua esposa e seu criado João Amado; séc. 18, finais / séc. 19 - abertura da janela na fachada principal da igreja e provável colocação do friso e cornija sobre o portal; 1836 - extinção do concelho de Vila Nova de Anços; 1869 - no livro de "Registo das Irmandades e Confrarias existente no Distrito" refere-se que a Misericórdia tinha 29 irmãos; 1883 - segundo Costa Goodolphim, foi instituída uma Irmandade da Santa Isabel, subordinada ao mesmo Compromisso da Misericórdia; 1884 - restauro da igreja conforme responde o Provedor José Augusto de Sousa Oliveira num questionário avulso, datado de 16 de Julho de 1890; 2 Agosto - alvará aprovando o novo Compromisso da Misericórdia, que deixa de se reger pelo de Lisboa; 1897 - data na calçada à portuguesa do adro frontal à igreja; 1898 - Costa Goodolphim diz que a Misericórdia não tem hospital nem albergaria, mas que prestava apoio aos pobres com o seu limitado capital, em grande parte obsorvido com o culto a que é obrigada; tinha então de receita 26$000, de capital nominal 900$000 e de capital mutuado 118$000; na quarta feira Santa faz a tradicional procissão dos fogaréus; séc. 19, finais / 20, inícios - dadas as diminutas receitas da Misericórdia, a sua assistência social consistia em dar esmolas e medicamentos a pobres e conservar a capela; provável entaipamento de frestas no lado do Evangelho e de uma porta na capela-mor do lado da Epístola e da abertura da janela da fachada principal, bem como colocação do brasão; 1913, 31 Julho - data do Compromisso reformado pelo qual se passava a reger a Misericórdia; 1975, 15 Julho - despacho desactivando a Misericórdia de Vila Nova de Anços, revertendo a capela para a Fábrica da Igreja Paroquial local; 1994 - data no chão, junto da porta travessa do Evangelho.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; remate das fachadas em betão; elementos estruturais, molduras dos vãos, base do púlpito, tribuna, arco triunfal, gárgulas e pia de água benta em cantaria calcária; pavimentos em lajes de cantaria, tijoleira na sacristia e madeira na Sala do Despacho; coro-alto, guardas e teias, tecto da nave e Sala do Despacho em madeira envernizada; portas e caixilharia de madeira e vidros simples; grades de ferro; cobertura e beirais de telha e em chapa num pequeno telheiro.

Bibliografia

BANDEIRA, Ana Maria (Coord.), Recenseamento dos Arquivos Locais - Câmaras Municipais e Misericórdias, Distrito de Coimbra, vol. 7, s.l., 1997; CARDOSO, João José Ferreira da Silva Santos, Santas e Casas. As Misericórdias do Baixo Mondego e as suas igrejas nos séculos XVI e XVII (dissertação de Mestrado em História da Arte do Renascimento e do Maneirismo), Coimbra (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), 1993 / 1995; GONÇALVES, Nogueira, A., CORREIA, Vergílio, Inventário Artístico de Portugal, Lisboa, 1953; GOODOLPHIM, Costa, As Misericórdias, Lisboa, 1898 (1ª edição).

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Santa Casa da Misericórdia (depositada na Paróquia; datas extremas: 1708 - 1897)

Intervenção Realizada

Fábrica da Igreja Paroquial: 1994 - obras de conservação e restauro no interior da igreja, com tratamento dos rebocos, tectos e madeiras; restauro da cobertura.

Observações

*1 - No livro de "Registo das Instituições de Beneficiência (Misericórdias) 1876", um documento de 5 de Maio de 1878, assinado pelo administrador do concelho de Soure, refere a data de 21 de Janeiro de 1633 como a data da fundação da Misericórdia de Vila Nova de Anços. Segundo o Questionário avulso da igreja a que respondeu o então Provedor José Augusto de Sousa Oliveira, em 16 de Julho de 1890, a data da fundação da Misericórdia foi 1634.

Autor e Data

Maria Bonina e Fernando Grilo 1996 / Paula Noé 2004

Actualização

 
 
 
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