Capela da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho

IPA.00002599
Portugal, Coimbra, Montemor-o-Velho, União das freguesias de Montemor-o-Velho e Gatões
 
Igreja de Misericórdia maneirista, de grande unidade construtiva exterior e interior com recorrência ao emprego da ordem jónica, e com algumas reformas barrocas, nomeadamente no rasgamento de vãos da fachada principal, de molduras recortadas, e no lado do Evangelho da capela-mor, de molduras mais geometrizantes, na execução das mesas de altar dos retábulos colaterais e na ara de altar do retábulo-mor, na sacristia, tribuna e Sala do Despacho. É de planta retangular composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, com edifício da Casa do Despacho e sacristia adossado à fachada lateral direita. A sua fachada principal segue o esquema comum das igrejas de misericórdia, surgindo o portal enquadrado por pilastras suportando entablamento jónico interrompido por escudo nacional, e encimado por tabela formando nicho, terminado em frontão triangular, que alberga relevo com representação da Mater Omnium; lateralmente rasgam-se duas janelas de moldura recortada barroca. Junto à fachada lateral esquerda desenvolvia-se um corpo, demolido apenas na segunda metade do séc. 20, o qual permitia o acesso ao púlpito, actualmente inexistente. Edifício da Casa do Despacho de dois pisos, terminado em cornija de estuque e beiral, com fachada principal virada a S., tendo no primeiro portas de verga recta alternadas com janelas jacentes e um óculo, e no segundo janelas de sacada encimadas por friso e cornija. Interior com paramentos percorridos por silhar de azulejos maneiristas enxaquetados, com nave possuindo coro-alto, de madeira, o qual se apoia em colunas que integram entre o fuste e os plintos pias de água benta circulares. Púlpito no lado do Evangelho e no lado oposto tribuna da ordem jónica em plano elevado, comunicando com a Sala do Despacho, Os retábulos da igreja são da Escola Coimbrã e em pedra de ançã; os relevos dos retábulos colaterais têm iconografia cristológica e a colocação das figuras revela dificuldades espaciais, perspécticas e de proporção, especialmente notórias no retábulo de Cristo orando no horto, o que indica não serem da mesma mão do retábulo-mor e põe em causa a atribuição do conjunto a João de Ruão. A iconografia do retábulo-mor é predominantemente cristológica, visto possuir no topo central a representação da Mater Omnium alusivo ao orago. Comparativamente com este, o relevo da Mater Omnium da fachada principal possui um melhor lançamento e qualidade plástica das figuras, com vestes de maior dinamismo, ainda que exista a hipótese de as das do retábulo-mor terem perdido parcialmente qualidade com os vários repintes. No do retábulo-mor a cena da Natividade é conjugada com o Anúncio aos pastores no plano de fundo. O grupo escultórico na ara de altar, reflexo do culto ligado ao martírio de Cristo presente em todas as misericórdias, e que na Escola de Coimbra assume uma expressão plástica muito característica, possui em Montemor-o-Velho algumas particularidades: por um lado, a cena não representada propriamente a Deposição no túmulo, que aliás surge num retábulo colateral, mas o momento seguinte, em que o corpo de Cristo, já deitado, seria tratado com óleos perfumados pelas Santas Mulheres, São João, Nicodemos e José da Arimateia; por outro lado, as figuras foram dispersas e têm dimensões distintas, o que se poderá explicar com a remodelação que a estrutura da ara de altar nitidamente sofreu em meados ou finais do séc. 18, altura em que eventualmente se cortou as Santas Mulheres e São João abaixo dos joelhos (normalmente as figuras surgem inteiras ou em busto), deixando as figuras de Nicodemos e José da Arimateia fora da estrutura e completos. Cobertura de madeira na nave, formando caixotões, e em abóbada de berço, também em caixotões na capela-mor.
Número IPA Antigo: PT020610070004
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, tendo adossado à fachada S. edifício rectangular correspondente à Casa do Despacho e sacristia. Volumes escalonados com cobertura em telhado de duas águas na igreja, articulados com os da Casa do Despacho com telhados de quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco com cunhais de cantaria aparente. Igreja com fachada principal virada a O., terminada em empena coroada por cruz sobre acrotério de faces molduradas, e cunhais apilastrados sobrepujados por pináculos em bola, igualmente sobre acrotério. Portal de arco de volta perfeita sobre impostas salientes, enquadrado por pilastras de capitel jónico e fuste liso, suportando entablamento jónico, com a arquitrave e friso interrompido ao meio por escudo nacional envolvido por elementos fitomórficos e já sem coroa. Encima-o tabela formando nicho sensivelmente quadrangular composto por pilastras decoradas com grutescos suportando arquitrave com friso ornado de acantos, encimado por frontão triangular com a representação em relevo de Deus Pai no tímpano; o frontão tem lateralmente pináculos e no topo cruz sobre acrotério. No nicho, com arquitrave de intradorso decorado por almofadas côncavas, duas colunas em balaustres enquadram relevo com representação da Mater Omnium. De cada lado do nicho rasga-se uma janela gradeada, de moldura recortada e superiormente abatida, sobrepujada por motivo decorativo tipo brincos. Fachada lateral esquerda de nave cega, sobrepujada por sineira, de arco de volta perfeita terminada em ângulo sobre pano de muro, e a da capela-mor rasgada por portal de verga recta e janela rectangular, alta, gradeada. Na fachada lateral direita o edifício da Casa do Despacho, de dois pisos, surge sensivelmente recuado em relação à frontaria da igreja e termina em friso e cornija de estuque encimada por beiral. A sua fachada principal vira-se a S., é rasgada no primeiro piso por três portas de verga recta, de moldura simples, intercaladas por duas janelas horizontais e um óculo circular e no segundo, sobrepostos, janelas de sacada de verga recta, encimada por friso e cornija, e com gradeamento de ferro. Na fachada posterior, a capela-mor termina em empena, cega, possuindo ressalto horizontal marcado no terço superior, e a Casa do Despacho tem no primeiro piso dois óculos circulares gradeados e no segundo janela de sacada à face, de verga superior alta, cornija e com gradeamento de ferro. INTERIOR de paramentos rebocados e pintados de branco, percorridos por silhar de azulejos enxaquetados azuis e brancos, pavimento de lajes calcárias e cobertura de madeira, de três panos formando quarenta caixotões, com o fundo pintado de verde, assente em cornija igualmente de madeira entalhada com mísulas de volutas no enfiamento das molduras dos caixotões. Coro-alto de madeira, com guarda também de madeira formada de balaústres muito finos intercalados por acrotérios, assente em duas colunas dóricas sobre plintos de faces ornadas por dois losangos sobrepostos, tendo entre a coluna e o plinto pias de águas benta circulares. De cada lado da porta surge uma figura escultórica masculina, em pedra de ançã, representando Nicodemos e José da Arimateia. No lado do Evangelho surge, a meio da nave, púlpito de base pétrea rectangular, inferiormente decorada por duas almofadas em losango, assente em duas mísulas volutadas e ornadas de acantos, com guarda de madeira em balaustrada, e acedido por porta de verga recta. No lado oposto, ampla tribuna de arquitrave com denticulado assente em colunas jónicas, de terço inferior liso, sobre plintos de faces decoradas por florões vegetalistas, e balaustrada de madeira comunica com Sala do Despacho. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras toscanas, ambos moldurados, ladeado por dois retábulos colaterais, em pedra de ançã, com vestígios de policromia, de planta recta e um eixo, com relevos representando, do lado do Evangelho, a Oração no Horto e, no lado da Epístola, a Deposição no Túmulo. Na capela-mor, rasgam-se duas portas frontais, de verga abatida, de moldura levemente recortada lateralmente e com chave saliente e frontão de lanços, a do lado do Evangelho acedendo ao exterior e a do lado oposto de acesso à sacristia; no lado do Evangelho existe ainda janela de arco de volta perfeita e chave também saliente, interrompendo a cornija sobre a qual assenta a cobertura em abódada formada por vinte e quatro caixotões ainda com vestígios de representações figurativas policromas. Sobre supedâneo acedido por dois degraus, retábulo-mor em pedra de ançã, policromado, de planta recta, três eixos e dois registos de edículas, com o intradorso decorado por almofadas ovais e quadrangulares, separados por frisos ornados de enrolamentos e querubins, e cornija, com acabamentos de madeira. Cada edícula alberga relevos delimitados por colunas, duplas no eixo central, sendo as do primeiro registo de fuste estriado e terço inferior com cartelas e as do segundo com capitel coríntio e fuste decorado por grotescos, tendo o terço inferior estriado. No eixo central surge representado a Visitação e superiormente a Mater Omnium; lateralmente, tem no lado do Evangelho, a Anunciação encimada pela Circuncisão, e no lado da Epístola a Natividade sobrepujada pela Adoração dos Reis Magos. Os eixos laterais rematam em frontão semicircular com drapeado festonado e o central, de edícula terminada em arco de volta perfeita, já não tem remate; sobre as colunas centrais, surgem anjos de vulto. Ara de altar paralelepipédica vasada, suportada por pilastras almofadadas em estípide, tendo no interior grupo escultórico representando Cristo Morto, tudo em pedra de ançã; a figura de Cristo surge deitada num leito, com a cabeça sobre almofada e mãos cruzadas sobre o baixo ventre e, por trás, as figuras de São João e as Santas Mulheres: a Virgem, Maria Madalena, Maria Cleofas e Maria Salomé. No edifício anexo, referência no primeiro piso para a sacristia, com arcaz de madeira e lavabo de espaldar delimitado por pilastras decoradas por acantos, capitel coríntio, tabela central com duas bicas carrancas e frontão triangular, com inscrição datada na cornija inferior; a sala seguinte tem silhar de azulejos enxaquetados azuis e brancos e, embutido numa das paredes, um poço; por ela se acede ao segundo piso, com salas igualmente percorridas por silhar de azulejos enxaquetado azul e branco ou de padrão. A sala do Despacho, com pavimento de tijoleira e cobertura de madeira plana, formando caixotões pintados de verde e molduras em bege, possuiu em cada um dos topos retábulos de talha dourada e policroma, de planta recta e um eixo. Uma outra sala, de pavimento sensivelmente sobrelevado, tem tecto de madeira em gamela, pintado de branco e com brasão nacional ao centro.

Acessos

Avenida José de Nápoles

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 37 728, DG, 1ª série, n.º 4 de 05 janeiro 1950

Enquadramento

Urbano, isolado. Ergue-se na proximidade da margem direita do rio Mondego, na base do monte sobre o qual se ergue o castelo (v. PT020610070002), tendo como fundo os extensos campos de arrozais. Implanta-se num plano inferior à estrada que passa frente à fachada principal e à lateral esquerda, sendo essas vedades por gradeamento de ferro, intercalado por plintos de cantaria, e muro rebocado; junto à fachada lateral, erguem-se palmeiras. Junto à fachada posterior e lateral direita, amplo espaço ajardinado vedado por muro baixo de tijolo, com quadras relvadas, canteiros igualmente murados, coreto e padrão comemorativo, com coluna sobre plinto datado numa das faces de 1628 e na posterior 1640.

Descrição Complementar

As figuras de Nicodemos e José de Arimateia têm vestes amplas, capa com botões à frente, diferentes entre as duas figuras, cinto decorado por pedras ovais e quadrangulares, manto nos ombros, mãos com os respectivos objectos que portavam amputadas, rostos inclinados para baixo, ambos com barba, o do lado do Evangelho, bipartida e portando na cabeça turbante. Retábulos colaterais de planta recta e um eixo delimitado por colunas coríntias, mas com o terço inferior estriado de modo diferente, suportanto entablamento com friso decorado por enrolamentos e anjos, e rematados por tabela com aletas de enrolamentos ocupada com cartela, terminada por cornija curva com concha. Ao centro, nicho de arco de volta perfeita com querubins e escudo na chave, sobre pilastras decoradas por grotescos e albergando relevo. No do lado do Evangelho representa-se Cristo orando no horto, ao centro da composição, ajoelhado, de mãos postas e olhando para cima, onde surge sobre as árvores um anjo segurando cálice, enquanto que à esquerda os Apóstolos Pedro, João e Tiago se encontram a dormir. No retábulo do lado da Epístola representa-se a Deposição no túmulo, com Cristo a ser deitado, rodeado pelas figuras de Nicodemos e José da Arimateia, um deles segurando a coroa de espinhos e o outro ageitando-o no leito, São João, e as Santas Mulheres: Virgem, Maria Cleofas e Maria Salomé e Maria Madalena, ajoelhada e de cabeça descoberta. Banco do retábulo com mísulas laterais, querubins e cartela e altar em forma de urna ornada de rosetões. Cruz e palmas; as ilhargas são igualmente decoradas com grutescos. O retábulo-mor tem representado no eixo central a Visitação, tendo do lado direito, frente a uma construção, Santa Isabel e Zacarias recebendo Maria, sendo a cena enquadrada por três anjos, um deles esvoaçando sobre a Virgem e outro junto dela, segurando bordão; superiormente, figura a Mater Omnium, com a Virgem de mãos entreabertas sobre anjo, e dois outros segurando o manto azul aberto sobre conjunto de figuras nobres e religiosas, que, ajoelhadas, olham para cima. No eixo do lado do Evangelho representa-se, no primeiro registo, a Anunciação, com a Virgem sob dossel, portando manto, ajoelhada frente a um atril, lendo um livro, e o anjo, de pé, à esquerda, segurando filactera, encimado por pomba; entre as figuras surge vaso com açucenas; superiormente a Circuncisão, com uma cena interior, em que o Menino surge sobre uma mesa central, tendo do lado direito São José e outras figuras masculinas e do lado oposto um sacerdote e uma outra figura. No eixo do lado da Epístola representa-se no primeiro registo a Natividade, em que o Menino surge ao centro deitado numa cesta coberta de um pano, entre São José, ajoelhado e de mãos cruzadas no peito, um anjo e uma vaca, do lado esquerdo, e a Virgem, também ajoelhada e de mãos postas e um burro, do lado direito; num plano mais recuado surge um anjo esvoaçando segurando filactera com a inscrição "GLORIA" fazendo o anúncio aos pastores, que sob uma árvore cuidam das ovelhas; no segundo registo representa-se a Adoração dos Reis Magos, em que estes surgem ajoelhados ou de pé perante o Menino, sentado no colo da Virgem, e junto a São José, encimados por estrela. O retábulo colocado frontalmente na Sala do Despacho possui planta recta e um eixo delimitado por pilastras marmoreadas e capitéis coríntios suportando entablamento e remate em frontão de lances; no centro, nicho com arco de volta perfeita decorado de acantos, tendo no interior a inscrição "Egreja e tribuna reformada em 1872 e 1873 sendo de novo benzida em 24 de Julho de 1873. O Pintor António Maria de Nazareth". INSCRIÇÕES: Uma das sepulturas da nave tem a seguinte inscrição: "ESTA SEPVLTVRA IE DE BEL/CHIOR DA COSTA E DE S/EVS ERDEIROS E NELA IAS / HXXSVA FAPORNO MEANT / ONIA FALECEO NO ANO DE / 1578".

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ESCULTOR: João de Ruão. PINTOR: António Maria de Nazaré.

Cronologia

Séc. 16 - Existiam em Montemor-o-Velho as Confrarias de Nossa Senhora de Campos, Santa Maria Madalena e de São Pedro, com respectivos hospitais; 1546 - provável instituição da Irmandade da Misericórdia em Montemor-o-Velho; 10 e 11 Dezembro - data de dois alvarás de D. João III "auendo respeyto A se na uilla de Montemor o Uelho ora nouamente se ordenar e fazer A confrarya da Misericordia", reconhecendo-se assim a existência da confraria; determina-se que ela passe a usufruir do Compromisso e privilégios da Misericórdia de Lisboa, bem como a que os mamposteiros da Misericórdia de Cambra não pedissem mais as suas esmolas na vila e termo de Montemor, como até aí o haviam feito, passando essas esmolas a ser pedidas e recolhidas pelos mamposteiros da Misericórdia da vila; essas esmolas, pedidas todos os domingos e dias santos deviam ser arrecadadas e apresentadas ao tesoureiro da Misericórdia na 5ª feira Santa e no 3º domingo da Quaresma; a Misericórdia fixa como limite máximo o número de 120 Irmãos; séc. 16 - construção da capela; 1547 - D. João III dá o título de duque de Aveiro a D. João de Lencastre, Marquês de Torres Novas, filho de D. Jorge, Duque de Coimbra; 1550 - por morte deste último, cujo título havia sido dado numa só vida, sucede-lhe na posse das terras que constituiam o ducado de Coimbra, o filho D. João, Duque de Aveiro, passando a vila de Montemor a fazer parte do ducado de Aveiro; 1557 - 1558 - era Provedor Diogo de Andrade, fidalgo da Casa Real; 1557 - data provável do baixo relevo da Mater Omnium da fachada principal, segundo Nelson Correia Borges, atribuido a João de Ruão; 1568, 2 Janeiro - Cardeal D. Henrique, enquanto regente, envia provisões ao provedor do Hospital Real de Coimbra e ao Dr. Jorge Bulhão, Comissário Régio perante as Confrarias da vila de Montemor, para que aquelas fossem fundidas numa só, com o seu hospital, a qual ficava apenas com o rendimento suficiente para fazer face às despesas com os doentes e seus encargos, anexando-se os "sobejos" ao Hospital Real de Coimbra; a escolha recaiu na Confraria de Nossa Senhora do Campo; os administradores das Confrarias, com o apoio do Duque de Aveiro e do povo, reagiram violentamente, resolvendo-se a questão apenas em 1583, a 2 Maio, quando o rei decide retirar do processo o Dr. Jorge Bulhão, nomeando para o seu lugar o Dr. Jorge Seco; 1588, 1 Junho - D. Filipe I determina que o corregedor da Comarca de Coimbra entrasse em Montemor-o-Velho com "vara alçada", acompanhado dos seus oficiais, a fim de dar posse ao Hospital de Coimbra de todos os bens, rendas e propriedades que por sobejos lhes foram anexos; a Confraria e Hospital de Nossa Senhora do Campo e a da Misericórdia assumiram assim o papel assistencial na vila; 1612, 23 Maio - a Misericórdia recebe de D. Filipe II a autorização para usar o "Regimento", privilégios e liberdades da Misericórdia de Lisboa, nas "cousas que se puderem applicar a caza da Misericordia da dita villa", dado que o seu Compromisso estava "muito gastado e roto", mal se podendo ler em algumas partes; 1618 - novo Compromisso da Misericórdia de Lisboa dado por D. Filipe II, o qual também deverá ter sido adoptado em Montemor; a Misericórdia tinha então três capelães; 1618 - 1620 - a Misericórdia vivia quase exclusivamente de esmolas, provindas dos peditórios dos mamposteiros, enterramentos com as tumbas da Irmandade, Casa das Carnes de Lisboa, venda de pão, azeite e linho, peditórios pelas almas do purgatório, condenações de injúrias, caixas de esmola na igreja, venda de carnes e couros de animais mortos pelas inundações ou de touros mortos durante os festejos de Nossa Senhora da Vitória e alguns legados; 1626 - carta da Misericórdia a D. Filipe III, expondo a sua debilitada situação económica e solicitando ajuda; 3 Agosto - rei determina que os oficiais da Câmara lhe deêm anualmente três arrobas de cera e dois alqueires de azeite; 1643, Janeiro - dada a falta de renda e os grandes gastos com os presos, pobres doentes e caminhantes, a Mesa envia petição a D. João IV solicitando que das rendas da Confraria e Hospital de Nossa Senhora de Campo fossem aplicadas anualmente 20$000 rs à Misericórdia; 1644, 1 Março - concedida à Misericórdia uma propina anual de 10$000 rs a pagar pelo Hospital; 1662 - devido às muitas queixas pelo grande número dos mamposteiros da Misericórdia, a Mesa e o Senado da Câmara acordaram em fixar para sempre o número daqueles em 52 mais 3 carreteiros para arrecadação do pão; séc. 17 - provável construção da Casa do Despacho, tribuna dos mesários, púlpito, colocação de silhar de azulejos enxaquetados azuis e branco na nave, capela-mor e edifício anexo; séc. 17, finais - séc. 18, inícios - alteração do quadro económico da Misericórdia, tendo recebido 14 doações "encapeladas" entre 1680 e 1726; 1708 - a Misericórdia tinha 69 mamposteiros que deixavam anualmente nos cofres uma esmola fixa em dinheiro de c. 1$200 rs; 1712 - o Padre Carvalho da Costa refere a Misericórdia com "bom Hospital"; 1716 - a Misericórdia trazia emprestados 2.032$000 rs de próprio, distribuídos por 53 escrituras de juro a 5%, que lhe rendiam anualmente c. 101$610 rs de juros; 1717, 6 Junho - decide-se em Mesa alterar no Compromisso o dia de eleição da Confraria de 2 de Julho, o dia da Visitação, para o domingo seguinte àquele dia, de modo a que os Irmãos que o desejassem, pudessem ir assistir à festa de Nossa Senhora da Tocha; 1719 - 1720 / 1725 - 1726 / 1726 - 1727 / 1727 - 1728 - foi Provedor durante estes anos Manuel Chichorro Pinheiro, procedendo a obras de restauro na igreja; no Livro de Receitas e Despesas, ao lado do registo das ofertas feitas por este Provedor, surge na margem comentário depreciativo feito por um Mesário não identificado, que a imagem de Santo António, colocado no altar de Nossa Senhora da Piedade, seria feita de "gesso que custaria seis vintens"; a via sacra da igreja eram "humas cruzinhas de ripas de pinho que custariam trinta reis"; o volante branco que cobria o Santo Cristo e o Santíssimo Coração de Jesus "custaria tres tostoens", e o restauro, guarnição e pintura da imagem do Senhor do Horto e todo o retábulo do mesmo altar, "foy tão boa (...) que foi precizo tornar-se a pintar"; 1725, Outubro - interdição da Igreja, depois do solicitador Manuel de Oliveira Trancoso e o sacristão António Rodrigues Calhalhão ali se terem envolvido violentamente; 16 Outubro - desenviolação da Igreja pelo prior do Salvador, Pe. André de Góis; 1728 - foi fixado o número de capelães em 8; 1739, 5 Julho - determina-se que, à semelhança do que se fazia na Misericórdia de Coimbra, as filhas solteiras dos Irmãos vivos e defuntos, com mais de 12 anos, e com "bom procedimento", puderiam ser enterradas com a tumba da Irmandade gratuitamente; 1740 - o número de mamposteiros e receita proveniente das suas esmolas começaram a decrescer; 1748, Outubro - organização de preces por 9 dias na Misericórdia com procissão e sermão de penitência de noite para fazer face ao flagelo de doenças e mortes frequentes na vila; 1754 - a Mesa determina que o Procurador passava a ser Advogado Letrado e que auferiria salário de 6$400 rs anuais; 1756, Agosto - a Mesa decide que, devido à protecção divina da vila aquando do terramoto de 1 Novembro de 1755, se fizesse anualmente naquele dia uma procissão com a imagem do Senhor da tribuna, da mesma forma da procissão da Quinta Feira Santa, com um sermão; 1756 - 1757 - a Mesa decide usar dinheiro das capelas que administrava para as obras na Igreja, dado não ter dinheiro de mais nenhum rendimento; séc. 18 - abertura das janelas da fachada principal e colocação do brasão nacional; 1761 - data do lavabo da sacristia; 1768 - o valor emprestado pela Misericórdia era de 3.238$271 rs (relativos a 119 escrituras a 5%), que lhe rendiam anualmente c. 161$913 rs de juros; 1773 - Mesa requer à Coroa a confirmação dos privilégios dos seus mamposteiros, porque o seu rendimento e privilégios se achavam quase extintos; 20 Junho - dado o grande número de missas anuais (c. 1627) que a Misericórdia tinha obrigação de mandar dizer pelos legados a ela deixados e serem diminutos os rendimentos para tais encargos, a Mesa solicita à Santa Sé Breve de redução e comutação das missas; 1776 - fixadas em 1182 o número de missas perpétuas da Confraria; 1796 - a Misericórdia devia às capelas e seus testadores 19.080 missas, por isso, a Mesa incumbiu o Dr. João Lourenço de Almeida e Sousa de elaborar uma nova tábua das missas da Misericórdia; 1792, 3 Agosto - carta de D. Maria I concedendo à Misericórdia a possibilidade de poder escolher um dos 10 tabeliães da vila para que perante ele pudessem correr todas as suas causas e escrituras; 1816 - concessão de Bula satisfazendo as missas até 1815 inclusive; 1819 - emprestava a juro 4.371$171 rs (correspondentes a 105 escrituras a 5%), rendendo-lhe c. 218$559 rs; 1872 / 1873 - reforma da igreja e tribuna, segundo inscrição no retábulo da Sala do Despacho, assinado pelo pintor António Maria de Nazaré, sendo então Provedor Augusto Pereira Cardote; 1873, 24 Julho - benção da igreja depois da dita reforma; 1896 - tinha de rendimento anual 690$000 rs e o seu capital nominal e mutuado era respectivamente de 13.700$000 rs e 5.000$000 rs; 28 Novembro - asssembleia geral das confrarias do Hospital de Nossa Senhora do Campo e da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho, sob presidência de Fernando Augusto Barbosa, na qualidade de presidente do Hospital e provedor da Misericórdia, aprova por unanimidade a fusão das duas instituições com a denominação de Hospital de Nossa Senhora do Campo; 1897, 17 Janeiro - decreto ministerial ratificando a fusão das Confrarias; 22 Maio - primeira reunião da recém criada confraria para aprovação dos seus estatutos; 8 Junho - alvará aprovando os estatutos da Confraria do Hospital e Misericórdia; 19 Junho - eleição da primeira Mesa da Confraria, com 9 Irmãos, que elegeram como provedor Fernando Augusto Barbosa; 1950, década - a igreja possuia ainda adosssado à fachada lateral esquerda um anexo e no interior da nave uma teia de madeira definindo presbitério; 1990 - tinha um órgão.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de alvenaria calcária, rebocada e pintada, elementos estruturais, molduras, base do púlpito, pavimentos e outros em calcário, coro-alto, teia do púlpito, cobertura da nave, sala do Despachos e salas anexas de madeira, retábulos da igreja em pedra de ançã, silhar de azulejos, pavimento da Sala do Despacho em tijoleira e retábulos da mesma em talha dourada e policroma, janelas de vidro simples, grades de madeira e cobertura exterior em telha cerâmica.

Bibliografia

COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]; GOODOLPHIM, Costa, As Misericórdias, Lisboa, 1897; CONCEIÇÃO, Augusto dos Santos, Terras de Montemor-o-Velho, Coimbra, 1944; CORREIA, Vergílio, GONÇALVES, A. Nogueira, Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Coimbra, Lisboa, 1952; MATOS, João Cunha, Montemor-o-Velho. Sua História. Sua Arte, Coimbra 1977; BORGES, Nelson Correia, João de Ruão. Escultor da Renascença Coimbrã, Coimbra, 1980; idem, Coimbra e Região, Lisboa, 1987; VALENÇA, Manuel, A Arte Organística em Portugal, vol. II, Braga, 1990; MORNA, Teresa Freitas, A Nossa Senhora da Misericórdia na Escultura da Renascença Coimbrã, in Mater Misericordiae, s.l., 1995, p. 68 - 85; SILVA, Mário José Costa da, A Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho - Espaço da Sociabilidade, Poder e Conflito (1546 - 1803), (Dissertação de Mestrado em História Moderna na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Coimbra, 1996; C.M.M.V., Montemor-o-Velho, Montemor-o-Velho, 1997; Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho 1498 - 1998. 500 Anos de Arte Sacra no Vale do Mondego, s.l., 1998; PAIVA, José Pedro [coordenação científica], Portugaliae Monumeta Misericordiarum, vol. 1, Lisboa, 2002; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74934 [consultado em 23 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho (plantas de 1889)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho

Intervenção Realizada

1956 - reconstrução da cobertura, consolidação dos retábulos, da abóbada e das paredes da capela-mor; 1957 - reparação do retábulo da Capela-mor e do lajeado da nave; 1961 - beneficiação da sacristia e do adro 1967 - reparação de portas e janelas; 1988 - obras de recuperação; 1993 / 1994 - obras de recuperação; 1995 - obras de consolidação e restauro do revestimento azulejar.

Observações

Para o acompanhamento dos defuntos até ao local de enterramento a Misericórdia tinha duas tumbas: a da Irmandade e a do Turno ou Comum. A primeira destinava-se a acompanhar gratuitamente o Irmão da Confraria que falecesse, sua mulher, ainda que ele já tivesse falecido, e ela não casasse segunda vez com um homem que não fosse Irmão, os filhos destes, com mais de 12 anos e menos de 25, enquanto estivessem sob administração e poder dos pais. O acompanhamento gratuito com a tumba da Irmandade poderia ainda ocorrer em três situações: quando falecesse um membro da nobreza da vila que estivesse em grande pobreza; quando o falecido se tivesse destacado com grande mérito em alguma actividade de interesse público, como Francisco do Sacramento, por haver ensinado bem os meninos da vila; e se no mesmo dia em que a tumba da Irmandade sair, estiver um outro defunto para enterrar, então esta tumba lhe fará o acompanhamento por esmola. Nos enterramentos, o cortejo iniciava-se na Igreja, com a reunião da Irmandade, daí seguia com a tumba até à casa do defundo, para depois se dirigir até à Igreja e se fazer o enterro. O cortejo devia obedecer a uma ordem e organização definida no Compromisso: à frente ia a Bandeira da Misericórdia levada por um Irmão nobre escolhido pelo Provedor, que não o escrivão, e dois Irmãos (um nobre e um oficial também nomeados pelo Provedor) com duas tochas, seguidos por todos os Irmãos da Misericórdia compostos por ordem em fileiras e um Irmão nobre do mês com sua vara para os reger; atrás seguiam todas as Irmandades e Confrarias por ordem de antiguidade e o Páraco; no fim, surgia o Provedor com sua vara, seguido da tumba com o defunto, levada por quatro Irmãos, e dois outros Irmãos com tochas e hum servente, vestido de azul, com a caixa de esmolas que pedia para as Obras de Misericórdia; diante da Bandeira da Irmandade vai um outro servente, também de azul, com a campainha e cruz levantada. Na tumba do Turno ou Comum eram enterradas todas as pessoas que pagassem $500 rs de esmola, não levando acompanhamento pomposo de clérigos, tochas e hábito. Gratuitamente, só eram enterradas as pessoas pobres que pedissem pelas portas. Nesta tumba eram enterradas também os serventes da Misericórdia. O cortejo era encabeçado por um servente portando uma espécie de balandrau azul, com campainha, seguido de um Irmão oficial de vara preta e de outros de túnicas negras, um deles transportando a Bandeira da Misericórdia e outros dois levando tochas; seguiase um Irmão de vara preta e um capelão da Misericórdia e a tumba transportada por seis homens vestidos de negro; um ou outro servente vestido de azul mantinha-se a certa distância, levando a caixa de esmolas e solicitando a participação de todos para as Obras de Misericórdia; por fim, entre a Bandeira de Nossa Senhora da Misericórdia e a tumba iam os clérigos, religiosos, confrarias e pobres. Segundo Costa Goodolphim, a Misericórdia de Montemor-o-Velho foi instituída em 1498.

Autor e Data

João Cravo e Horácio Bonifácio 1992 / Paula Noé 2003

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