Convento da Madre de Deus de Monchique / Convento de Monchique

IPA.00025034
Portugal, Porto, Porto, União das freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos
 
Arquitectura civil e religiosa, quinhentista, seiscentista e setecentista. Paço dos fundadores de origem quatrocentista, adaptado a convento feminino franciscano e igreja quinhentista, de planta longitudinal, capela-mor rectangular e nave única iluminada por quatro janelas, cuja cobertura era em abóbada, em cruzaria de ogivas, de linguagem construtiva igual à utilizada no refeitório de Santa Cruz de Coimbra, também da autoria de Diogo de Castilho; coro alto e baixo, sacristia e um campanário em forma de torre com ameias. Pórtico principal manuelino de arco pleno enquadrado por pilastras e colunas, ladeado por modilhões com esculturas, e ao centro a pedra de armas dos fundadores, rematado por frontão triangular interrompido, com duas coroas de espinhos colocadas junto dos vértices do triangulo, e ao centro uma cartela elíptica assente em pequeno pedestal com as chaves de São Pedro e a coroa papal. A partir dos finais do século dezanove alguns dos espaços conventuais foram adaptados a várias áreas da actividade industrial e os restantes votados ao abandono restando apenas as paredes. Os claustros foram destruídos conservando-se, em estado razoável, o refeitório que tem funcionado como armazém. Do convento de Monchique pouco resta, todavia tendo por base as descrições de alguns autores que ainda o conheceram antes de apresentar o estado decadente em que hoje se encontra, a igreja, de pequenas dimensões, era mais um belo exemplar da arquitectura renascentista, de interior profusamente preenchido ao gosto barroco, considerada uma "raridade pelo seu primor e riqueza artística"como as Igrejas de São Francisco (v. PT011312130005) e Santa Clara (v. PT011312140004) também Franciscanas. A abóbada da capela-mor, com nove chaves, seria idêntica à que Diogo de Castilho executou para a Igreja de Santa Cruz de Coimbra.
Número IPA Antigo: PT011312080409
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  Ordem de Santa Clara - Clarissas (Província de Portugal)

Descrição

Conjunto conventual de grande dimensão, de planta composta e volumes escalonados, diferenciados, com comunicação entre si através de escadas. O conjunto, disposto em cascata ao longo da encosta, encontra-se praticamente em ruína, desprovidos alguns dos edifícios de cobertura, como a igreja*1 e o edifício principal. Os restantes apresentam telhados de duas, três e quatro águas. Igreja de planta longitudinal, constituída por nave única e capela-mor rectangular. Apresentava coro alto e baixo que comunicavam com a nave através de dois arcos sobrepostos, sacristia, e campanário localizado na torre O. situada entre a igreja e o edifício conventual. Este de planta rectangular, percorrido por arcaria de pedra, com três pisos, sendo os dois primeiros destinados a dormitórios e o inferior a refeitório com cerca de quarenta metros de comprimento, três naves formadas por duas alas de colunas inteiriças, tendo em cada ala oito, que sustentam os arcos de cantaria que apoiam a abobada. A E. do edifício conventual encontra-se outra torre destinada a "mirante de recreio para as Freiras". As duas torres, de planta rectangular, são rematadas por ameias, apresentando a situada a E. cobertura de quatro águas. Atrás dos coros da igreja ao nível da arcaria da cozinha, localizava-se o claustro principal*2. Existia ainda um segundo claustro de menores dimensões, também em arcos e colunas, mas de tijolo, com um chafariz de pedra, muito antigo ao centro. Ao lado deste claustro ficava a capela do Senhor dos Passos*3. Findas as funções religiosas, as ocupações posteriores foram todas de carácter industrial, levando ao acrescento e adaptação de vários espaços, necessárias às várias actividades industriais que sucessivamente se foram instalando, onde permanecem ainda hoje algumas delas.

Acessos

Rua de Sobre o Douro, Rua da Bandeirinha, Calçada de Monchique, Rua de Monchique

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, situado em pleno centro histórico, em encosta sobranceira à margem N. do rio Douro, disposto em cascata, o conjunto de edifícios arruinados pertencentes ao antigo convento, estende-se desde a Rua de Sobre o Douro até ao Rio. Nas proximidades situam-se os Jardins do Palácio de Cristal (v. PT011312070337), o Edifício da Alfândega Nova do Porto (v. PT011312080167) e o Bairro Ignez, parte integrante do Convento de Monchique e uma memória dos bairros operários do Porto (v. PT011312070406).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural / Devoluto

Propriedade

Pública Municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 16 / 17 /18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Diogo de Castilho (149? - 1574), João Pereira dos Santos; PEDREIROS: Domingos Luís, Manuel Vieira, João Moreira e Manuel Moreira

Cronologia

Séc. 15 - D. João I doa os terrenos onde se encontrava a antiga judiaria do Porto a Gil Vaz da Cunha, cavaleiro do Reino, como reconhecimento dos muitos e valiosos serviços que lhe tinha prestado; 1443, 16 Marco - Ferrão Coutinho casado com D. Maria da Cunha, neta de Gil Vaz da Cunha, decidiu construir para sua residência, nesse lugar, uma imponente casa a que os portuenses se opuseram invocando o privilégio concedido à cidade, por D. João I, que não permitia que Nobres morassem ou permanecessem dentro dos seus muros ou na sua vizinhança mais de três dias; seguiram-se vários pedidos também recusados tendo-se arrastado esta contenda durante quatro anos; 1447, 14 Abril - Fernão Coutinho que tinha grande influência junto do rei conseguiu que D. Afonso V obtivesse junto dos homens do concelho do Porto, autorização para permanência da família na casa, 45 dias por ano, divididos em 3 períodos de 15 dias cada; com a morte de Fernão Coutinho, a casa passou para a posse de seu filho Pedro da Cunha Coutinho, que intercedeu junto do Rei, para que os 45 dias repartidos em três períodos fossem convertidos num só período; 1503 - D. Manuel I autoriza Pedro Coutinho a viver na cidade, através de carta enviada à Câmara do Porto; 1533, 18 Julho - é pedida autorização ao papa para a fundação de um convento feminino*4 no lugar de Monchique; antes de chegar a autorização papal, é assinado contrato com Diogo de Castilho para construção da igreja*5 e são iniciadas as obras necessárias para transformar a casa nobre dos Coutinho de Monchique em residência conventual; 1534, 24 Junho - segundo o contrato, a obra teria de estar concluída; 1535, 12 Novembro - foi dada a autorização para a fundação do convento através de Bula do Papa Paulo III, tendo já falecido nesta data Pêro da Cunha Coutinho; 1538 - instalaram-se as monjas no convento de Monchique; 1660, 6 Outubro - foi celebrado contrato entre Luísa da Madre de Deus abadessa do convento e Domingos Luís, para a execução da obra do muro da cerca do convento pelo lado do rio; 1699, 24 Setembro - assinatura de contrato com o mestre Manuel Vieira para transformação da capela-mor*6; morte de Manuel Vieira; 1700, 18 Março - foi assinado novo contrato com Manuel Moreira e João Moreira*7 para as obras da capela-mor; séc. 18, primeira metade - revestimento interior com talha dourada; 1834 - extinção do convento e realojamento das religiosas no convento de São Bento de Ave-maria, situado onde hoje se encontra a Estação de São Bento; 1839, 21 Agosto - informação de João Baptista Ribeiro, em resposta a um pedido solicitado pelo 1º Conde das Antas relativamente à possibilidade de vender ou conservar, o património artístico do convento de Monchique, informando que a igreja devia ser preservada "como um primoroso monumento de arte"; 1863 - foi encontrada uma lápide em granito considerada dos finais do século catorze, com uma inscrição hebraica que pertencia à antiga Judiaria que existia no espaço mais tarde ocupado pelo Convento; 1870 - requerimento da Confraria de S. Pedro de Miragaia a solicitar ao rei D. Luís a talha que restava na igreja do convento de Monchique para a igreja de Miragaia; 1872 - o convento é vendido em hasta pública; 1875 - William Hawke instala em parte do convento uma fábrica de fundição; 1879 - foi instalada uma fábrica de cerâmica de construção, de Pinto de Magalhães & C.ª; 1884 - é instalada uma fábrica de mobílias da firma Pinto Couto & Cª; 1887 - segundo Pinho Leal nesta data a igreja servia de serralharia; 1889 - a empresa industrial de Monchique adquire aos condes de Burnay, uma parte do convento onde instala uma fábrica de serraria, carpintaria e pregaria; 1908 - D. Ignez Martins Guimarães, capitalista portuense, compra grande parte dos edifícios do convento; é instalada em parte do convento uma fábrica ligada à produção de cortiça de Clemente Menéres, Ldª que se mantém até hoje; 1928 - é instalada também uma fábrica de massas; 2001 - escavações arqueológicas dirigidas por Armado Coelho Ferreira da Silva, na antiga refinaria situada em espaço do convento; 2009 - foi realizado um projecto para a recuperação do Convento de Monchique prevê a construção de uma unidade hoteleira, integrada naquela zona nobre da cidade, com estatuto de Património Mundial. O projecto é da autoria do arquitecto José Paulo dos Santos.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes exteriores em alvenaria de pedra e granito aparente e rebocadas; caixilharias e portas de madeira; janelas com vidro; pavimentos em lajedo de granito e madeira nos pisos intermédios; grades e varandas de ferro.

Bibliografia

LEAL, Augusto S. D' Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Dicionário Geográfico, Estatístico, Chorográfico, Heráldico Archeológico, Histórico, Biográphico e Etymológico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal, vol. 5, Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1875, p.298-300; SILVA, Fernando J. Moreira da, O Convento de Monchique, Boletim da Associação dos Amigos do Porto, 3ª série, nº 12, Porto, 1994, pp.109-120; REIS, Henrique Duarte e Sousa, Apontamentos para a verdadeira História Antiga e Moderna na Cidade do Porto, Porto: Biblioteca Pública Municipal, 1984; RAMOS, Luís A. de Oliveira (dir.), História do Porto, Porto, 1994; FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime, Elementos para a história do Convento da Madre de Deus de Monchique, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Ciências e Técnicas do Património, Vol. I, Porto, 2002, pp. 129-149; http://www.viva-porto.pt/conteudos/edicoes/pdfs/setembro-2009/convento.pdf, 26 outubro 2012.

Documentação Gráfica

Aquivo Distrital do Porto (ADP); Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Porto (AH-CMP)

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Não definido

Intervenção Realizada

1660 - Construção do muro de vedação da cerca do convento, do lado do rio; 1699 / 1700 - A capela-mor, quinhentista, foi profundamente alterada, passando de planta quadrada a rectangular, foram retirados os azulejos que revestiam as paredes e removido o retábulo de pedra; foi substituída a abóbada quinhentista; foram abertas oito frestas, quatro em baixo e quatro em cima do friso e quatro portais dois dos quais fingidos; séc. 20, segunda década - foi desmontada a abóbada da igreja (única no Porto do ponto de vista arquitectónico) e mais tarde utilizadas as pedras para pavimentar um armazém; 2001 - escavações arqueológicas dirigidas por Armado Coelho Ferreira da Silva, na antiga refinaria situada em espaço do convento.

Observações

*1 - Cuja cobertura era em abóbada de ogivas, polinervada, dividida em dois tramos, tendo ao centro, em cada um dos tramos as armas de Pedro da Cunha Coutinho e de D. Beatriz de Vilhena (FERREIRA-ALVES, Joaquim J., 2002, p.134). *2 - De planta perfeitamente quadrada, tinha em redor capelas inseridas nas paredes laterais. Era aberto para o centro ajardinado com arcaria gótica, sustentada por arcaria de pedra, assente sobre peitoril de granito polido, que forma as guardas do mesmo claustro, em cujo centro tem chafariz; as portas das capelas do claustro recortadas em semicírculos conjuntos, sustentados por colunas, formando duas entradas para cada um dos oratórios (FERREIRA-ALVES, Joaquim J., 2002, p.134). *3 - Esta capela apresentava uma arquitectura igual à do claustro principal *4 - Por iniciativa de Pedro da Cunha Coutinho e sua mulher D. Beatriz de Vilhena, que não tinham descendência, todos os seus bens incluindo o paço de Monchique e terras na Maia, passam para a fundação de um convento de religiosas franciscanas com a designação de "Convento da Madre de Deus de Monchique". *5 - A igreja teria setenta palmos de comprimento, desde a parede do coro até ao arco da capela-mor, e de largura trinta e oito palmos. A nave da igreja teria duas capelas de pedra, de cinco chaves cada uma colocando-se nas chaves principais as armas dos seus fundadores, Pedro da Cunha Coutinho e sua esposa D. Beatriz de Vilhena. A iluminação seria feita através de duas frestas de cada lado. A porta principal com onze palmos e meio de largo e com altura necessária. Seria feita segundo um esboço apresentado. A capela-mor teria vinte palmos quadrados e abóbada de nove chaves tudo feito de pedra. Teria também uma fresta de oito palmos de altura por três palmos de largura e um arco de dezasseis palmos de largura e vinte e quatro de altura. As paredes do mosteiro e capela seriam de três palmos e meio de grosso e as do mosteiro com quarenta palmos de altura. Todas as paredes seriam de alvenaria de pedra e cal sem guarnição. Diogo de Castilho receberia pela construção da igreja e convento quinhentos e cinco mil réis (FERREIRA-ALVES, Joaquim J., 2002, p.132-133). Desde a extinção das ordens religiosas a igreja e restantes construções foram caminhando para a degradação, chegando até nós muito pouco para além das descrições que nos ajudam a imaginar como seria nos seus tempos áureos este conjunto monumental do património histórico portuense. São várias as descrições existentes, que relatam ao pormenor o interior do templo, destacado pela sua beleza e qualidade artística da talha dourada, não havendo o mais pequeno espaço onde se notasse a falta e descuido do dourador, equiparada a uma mina de ouro sobre a terra. Além do altar-mor, onde se apoiava a tribuna também de talha dourada, possui-a a igreja mais dois altares do lado do Evangelho, um do lado da Epístola, e dois colaterais ao lado do arco cruzeiro, púlpito e pia de água benta de mármore vermelho, situada na base do púlpito. Esta talha e retábulos foram pedidos por várias igrejas, tendo a Igreja de São Mamede Infesta, recebido a maior parte, cinco dos retábulos incluindo a retábulo-mor, dois retábulos em baixo relevo e diversa talha. Outro retábulo foi destinado para o Hospital Militar de D. Pedro V, e destruído em 1918 por um incêndio antes de ser colocado no respectivo local. A restante talha foi cedida para a Igreja de São Pedro de Miragaia. *6 - Obra executada segundo o risco do arquitecto João Pereira dos Santos, uma das figuras mais importantes da arquitectura portuense entre os finais do século XVII e o primeiro quartel da centúria seguinte. *7 - A morte do mestre pedreiro Manuel Vieira levou à realização de um novo contrato celebrado entre o filho, Manuel Moreira, e sobrinho, João Moreira, do falecido.

Autor e Data

Ana Filipe 2008

Actualização

 
 
 
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