Convento de Santo António

IPA.00002492
Portugal, Castelo Branco, Penamacor, Penamacor
 
Convento franciscano capucho, maneirista e barroco, com igreja de nave única, coro-alto, capela-mor mais baixa e estreita, com sacristia e dependências conventuais adossadas ao lado direito, uito adulterado na zona monástica, mas cuja igreja mantém parte do seu equipamento decorativo, nomeadamente as coberturas em caixotões pintados, o da nave formando elementos fitomórficos e carrancas e o da capela-mor com elementos vegetalistas, o cadeiral decorado com "chinoiserie" e marcação, no primitivo espaldar, de painéis pintados. Fachada da igreja de linhas maneiristas, sóbrias, com os dois registos demarcados por frisos, o inferior rasgado por amplo vão em arco abatido de acesso à galilé com portal axial de verga recta, e o superior com janela de peitoril ladeada por dois nichos semicirculares concheados; remate em frontão triangular. Fachadas laterais rasgadas por vãos em capialço na igreja e por vãos rectilíneos com janelas de guilhotina na zona conventual. Interior com coberturas em falsas abóbadas de berço em caixotões e púlpito no lado da Epístola. Arco triunfal de volta perfeita ladeado por dois retábulos colaterais de talha dourada maneirista. Destaca-se o púlpito, integralmente de talha dourada, assente em enorme mísula com anjinho e baldaquino bastante elevado, e os retábulos de talha dourada profusamente decorados, nomeadamente os colaterais com colunas adornados por decoração de acantos e carrancas. Na capela-mor, enorme retábulo de talha dourada, de um eixo e planta do corpo cônvaca, do estilo nacional. Sacristia com arcaz e pequeno retábulo. Claustro quadrado de dois andares, o superior menos amplo, com tramos demarcados por colunas da ordem toscana, formando arcos de volta perfeita, correspondendo a vãos rectilíneos no segundo piso.
Número IPA Antigo: PT020507100006
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos Capuchos (Província da Soledade)

Descrição

Convento de planta rectangular, composta por igreja de planta longitudinal simples com nave, capela-mor mais baixa e estreita, sacristia adossada ao lado direito e dependências conventuais no mesmo lado, que se definem em torno do claustro quadrangular. Volumes articulados de disposição horizontal com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave e capela-mor e três e quatro águas nas dependências. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridos por embasamento de cantaria aparente com as juntas pintadas de branco, surgindo, no volume da igreja, cunhais em cantaria e remates em cornija e beiral. IGREJA com fachada principal voltada a N., limitada por pilastras em cantaria, firmadas por pináculos piramidais com bola e dois registos divididos por friso, o primeiro rasgado por amplo vão em arco abatido assente em impostas salientes que acede à galilé *1, coberta por abóbada de aresta e pavimento em lajeado de granito, rasgado por porta de verga recta, moldurada que acede à igreja e outra de acesso às dependências conventuais, ambas envolvidas por arco abatido em cantaria. No segundo registo, janela de peitoril moldurada e encimada por friso e cornija e com avental rectilíneo almofadado, ladeada por dois nichos semicirculares de volta perfeita, concheados, assentes em duas mísulas e encimado por cornija sobrepujada por volutas e cogulho. Remate em frontão triangular, interrompido por nicho, também semicircular, de volta perfeita, assente em impostas salientes, com cobertura formada por enrolamentos, sendo flanqueado por aletas volutadas e rodeado por elementos fitomórficos; no vértice, enorme cruz latina sobre plinto paralelepipédico. No lado direito, campanário de dois registos, o primeiro cego e o segundo com sineira de volta perfeita, rematada por cornija, pináculos piramidais e cruz. A fachada lateral esquerda, virada a E., é marcada, na zona da galilé, por arco de volta perfeita com impostas salientes, tendo três janelas de rampa gradeadas, duas na zona da nave e uma na capela-mor. Fachada posterior cega em empena, com cruz no vérice. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com pavimento em soalho e cobertura em falsa abóbada de berço em caixotões, apoiada em cornija com mísulas equidistantes; os caixotões são decorado com motivos vegetalistas, aves e carrancas. Coro-alto sobre a galilé com guarda de madeira em branco, de balaústres; possui o antigo cadeiral dos monges, dispostos em fiada única, decorados com "chinoiserie" e encimados por espaldar em apainelados de talha, que possuíam pinturas. Portal axial protegido por guarda-vento de madeira e, no lado da Epístola, púlpito quadrangular de talha dourada, assente em enorme mísula com anjo e guarda plena formando apainelados divididos por molduras de acantos e anjos, decorada com motivos fitomórficos; o acesso processa-se por porta de verga recta, emoldurada por talha dourada que se prolonga, suportando o baldaquino decorado, no intradorso, com enorme pomba do Espírito Santo. Arco triunfal de volta perfeita com impostas salientes ladeado por dois altares colaterais em talha dourada já sem imaginária *2. Capela-mor com piso e cobertura semelhantes aos da nave, esta com tirantes metálicos e caixotões decorados com elementos geométricos; sobre a janela, no lado do Evangelho, e da porta, no oposto, sanefa de talha policromada de vermelho. A parede testeira é ocupada por retábulo-mor de talha dourada, sobre supedâneo de três degraus; possui corpo de planta côncava, de um eixo, com tribuna central comportando trono de três degraus, tendo o fundo pintado com enorme resplendor e cobertura em caixotões, sendo a tribuna flanqueada por quatro colunas torsas decoradas com acantos, assentes em enormes mísulas, e duas pilastras com os fustes preenchidos por folhas de acanto, assentes em plintos paralelepipédicos, surgindo nos intercolúnios mísulas protegidas por baldaquinos; prolongam-se em três arquivoltas, as centrais torsas, unidas no sentido do raio, formando o ático; sob a tribuna, surge embutido o sacrário, tendo a porta decorada por cruz envolta por vide; altar em forma de urna pintado com marmoreados fingidos, tendo o frontal decorado com enrolamentos e concheados. No lado da Epístola, porta de verga recta de acesso à ante-sacristia, de onde saem escadas para o piso superior da zona conventual, e sacristia, com paredes rebocadas e pintadas de branco, cobertura em abóbada de aresta e pavimento em soalho, tendo pequeno retábulo e arcaz, encimado por espaldar com pinturas alusivas a Santo António. CONVENTO forma, na fachada N., um L, de dois pisos, tendo no primeiro da face N., duas janelas de guilhotina no lado esquerdo e porta de verga recta no oposto, sendo divididos por escadaria de acesso ao segundo piso em leque e com corrimão apoiado ao muro da fachada, tendo porta de verga recta e três janelas de guilhotina, duas no lado esquerdo e uma no direito; a face O. possui duas janelas gradeadas no primeiro piso e uma no segundo, flanqueada por mísulas cúbicas. A fachada lateral direita, virada a E., encontra-se igualmente disposta em L, sendo rasgada, no primeiro piso da face S., por uma janela de rampa gradeada de guilhotina, uma porta de duas folhas, que ladeiam duas janelas quadrangulares gradeadas, surgindo, no segundo, duas janelas de guilhotina; a face O., é rasgada, no primeiro piso por seis janelas de rampa de dimensões distintas e porta de verga recta, surgindo, no piso superior, seis janelas de guilhotina. Fachada posterior de dois pisos, com pequeno ressalto no lado direito, rasgado no inferior por porta de verga recta gradeada, encimad apor janela em capialço; a restante fachada tem duas portas de verga recta e duas janelas no primeiro piso, encimadas por cinco janelas de guilhotina. INTERIOR com várias dependências totalmente remodeladas e acedidas por longos corredores, tendo, ao centro, o claustro quadrado com três tramos e dois pisos, com pavimentos em lajeado de granito e coberturas em abóbada de aresta no primeiro e tecto de madeira em masseira no segundo; cada ala do claustro possui, no primeiro piso, três arcos assentes em quatro colunas toscanas, duas delas adossadas aos pilares dos ângulos, com os seguintes almofadados; no segundo, forma três vãos rectilíneos, com guardas plenas em granito e pequenas colunas toscanas na sequência das existentes no piso inferior sobre as quais assenta entablamento com cornija. Possui tanque central quadrado, decorado, num dos ângulos, com leão de pedra. Das alas claustrais acede-se por arcos de volta perfeita às antigas dependências conventuais.

Acessos

Rua Adelino Ferreira Galhardo e Largo de Santo António

Protecção

MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria 319/2020, DR, 2.ª série, n.º 62/2020 de 27 março 2020

Enquadramento

Urbano, isolado e a meia encosta, implanta-se sobranceiro a um amplo terreiro, onde funcionava a feira e se implanta a Câmara Municipal (v. PT020507100011). O desnível do terreiro é vencido por escadaria apoiada em muros de sustentação de terreno, em cantaria de granito com as juntas pintadas de branco, que formam as guardas da escadaria, pontuadas por pináculos sobre altos plintos, de cinco lanços de dois braços, tendo o primeiro lanço de escadas comuns, que acede a patamar, onde se integra um muro encimado por cruz latina assente sobre plinto volutado. Em frente à fachada principal da igreja e núcleo conventual, forma-se um adro em terra batida, que liga à via pública, no cimo da qual se implanta o Hospital de Santo António (v. PT020507100014), da qual se separa por dois altos plintos, encimados por urnas e pequeno jardim com bancos de madeira e pontuado por árvores de pequeno porte.

Descrição Complementar

Existência de vários túmulos, destacando-se os túmulos do fundador, do seu genro, Salvador Taborda Grande, de Antão Alves Ferreira, fidalgo da Casa Real e de Francisco Taborda. O arco triunfal encontra-se ladeado por dois retábulos semelhantes, de talha dourada e planta recta, de eixo único composto por mísula central, ladeado por quatro colunas sobre elevado supedâneo comum, ornado por albarradas, com os dois terços superiores espiralados e o inferior com elementos vegetalistas e carranca; sobre friso de acantos e cornija, ergue-se a tabela quadrangular com aletas volutadas e encimada por frontão interrompido com cruz no centro, a do lado do Evangelho com a representação de Santa Clara e a oposta com a Rainha Santa Isabel. Os altares são semelhantes ao mor, em forma de urna e decoração de marmoreados, enrolamentos e concheados. Na sacristia, um pequeno retábulo dedicado à Virgem, de talha polícroma, de planta recta e um eixo composto por nicho encurvado com moldura, delimitado por pilastras e orelhas, encimadas por friso e cornija contracurvados; o altar é em forma de urna, decorado com acantos em relevo; sobre o arcaz, espaldar dividido em apainelados por quarteirões, enquadrando telas da vida de Santo António: "O milagre do jumento", "Santo António pregando aos peixes", "Menino Jesus aparece a Santo António", "Santo António restituindo a vista a um cego"; "Subida do Santo aos Céus". Numa das portas do claustro surge a inscrição latina "HEN'CADIT INTERUM VERBO QUAE SUSTINET ORDEM TE QVAERIN LAPSUM SURGE DAT IPSE MANUM" ( Se alguma vez acontecer chamar-te o Senhopr, com a palavra com que sustenta o orbe, levanta-te logo da queda, ele mesmo te dará a mão ). Existência de uma cisterna, actualmente obstruída.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja / Saúde: centro de saúde

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1571 - fundado para a ordem dos Frades Capuchos de São Francisco, por Gaspar Elvas de Campos, fidalgo da Casa Real e Alferes-mor de Penamacor, vindo os primeiros religiosos do Convento de Portalegre; contribuíram, ainda, para a fundação, D. Simão Meneses, da casa de Belmonte, Estêvão Tavares e a sua segunda mulher, D. Maria Mendonça, do Sabugal, os Saraivas, da Guarda, os Oliveira Moura, do Sardoal e os Fonseca de Castelo Branco, que pagavam pensão ao convento; pertencia à Província da Soledade; 1712 - existe registo que nessa data ainda funcionava; 1758 - é referido nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo vigário de São Tiago, Ascênsio de Carvalho, como tendo três altares, o mor com o Santíssimo Sacramento, tendo as imagens de São Francisco, no lado do Evangelho, e o de Santo António, no da Epístola, estando no trono a Nossa Senhora das Necessidades; o arco triunfal encontra-se flanqueado pelos colaterais dedicados ao Senhor da Agonia, no lado do Evangelho, e a São José, no oposto; nas mesmas, assinadas pelo prior de Santa Maria, Manuel de Gama Reixa, como tendo sido fundado a 3 Maio de 1571, sendo padroeiros da capela-mor Estêvão Tavares e Maria Mendonça do Sabugal, associada a morgado, que pagavam 9$000 e 18 alqueires de trigo; em 1758, esta quantia era paga por João da Fonseca de Castelo Branco; 1834, 30 Maio - inventário dos bens do convento *3, sendo definido que fosse vendido tudo o que não fosse sagrado; o convento foi avaliado em 4:000$000 e a cerca em 300$000; 1867 - passa para concessão do hospital de Penamacor até 1905, altura em que é inaugurado o novo hospital; 1946, antes de - ocupação pela GNR até aos anos 60; 1946 - o Ministro dos Assuntos Sociais entrega à Misericórdia o hospital e todos os bens incluindo o Convento e a Igreja; 1965 - na cozinha do antigo convento eram confeccionadas as refeições do hospital; 1975 - é aí instalado o Centro de Saúde de Penamacor embora, o edifício seja da Misericórdia; 1981 - Câmara Municipal e Santa Casa da Misericórdia fazem um processo de classificação; 1990 - a Segurança Social transfere o centro para novas instalações ficando a Misericórdia a ocupar a sua totalidade; 2002, 11 Março - assinatura de um protocolo entre a Santa Casa da Misericórdia, a Câmara Municipal e o IPPAR para promover obras de recuperação do imóvel; 2012, 21 dezembro - arquivamento do processo de classificação do edifício, publicado em Anúncio n.º 13789/2012, DR, 2.ª série, n.º 247; 2013, 26 novembro - publicação da abertura do procedimento de classificação do edifício em Anúncio n.º 371/2013, DR, 2.ª série, n.º 229; 2015, 05 novembro - publicação do projecto de decisão de classificação do edifício como Monumento de Interesse Público, em Anúncio n.º 256/2015, DR, 2.ª série, n.º 217.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Cantaria granítica na estrutura, rebocada, modinaturas, cruzes, pináculos, colunas do claustro, pavimentos; madeira nas portas, caixilhos, pavimentos da igreja, coberturas, retábulos, arcaz, cadeiral, coro-alto, púlpito, imaginária; ferro forjado nas grades das janelas; telha lusa nas coberturas; vidro simples nas janelas.

Bibliografia

Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1953, Lisboa, 1954; GOMES, Pinharanda, História da Diocese da Guarda, Braga, 1961; OLIVEIRA, Manuel, Guia Turístico de Portugal de A a Z, Lisboa, 1990; LANDEIRO, José Manuel, O Concelho de Penamacor na história, na tradição e na lenda, Penamacor, 1995; ROMÃOZINHO, Ana Mafalda, LEITÃO, Ana Maria, GONÇALVES, Francisco Varanda, Penamacor, Penamacor, s.d.; MARCELO, M. Lopes, Beira Baixa - A memória e o olhar, Lisboa, 1993; Memórias Paroquiais, in Revista Raia, n.º 4, Castelo Branco, Março / Abril 1998; GOMES, Alexandra Cruchinho, Convento de Santo António de Penamacor, Castelo Branco, 2001; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/155823 [consultado em 2 janeiro 2017].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMP; IGESPAR: IPPAR

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMP; IGESPAR: IPPAR

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSARH; SCM; CMP; IGESPAR: IPPAR; DGA/TT: Arquivo do Ministério das Finanças (conventos extintos, caixa 2243), Memórias Paroquiais (1758, vol. 28, n.º 127, fl. 907)

Intervenção Realizada

1950 - arranjo da entrada; 1973 - reconstrução da zona conventual; 1974 - reconstrução do claustro; 1990 - obras de conservação no Convento e Igreja; CMP: 2002 - obras no reboco e pintura das fachadas.

Observações

*1 - junto a esta entrada, existia a Capela do Senhor da Agonia, que serviu de capela mortuária de 1867 a 1905. *2 - nos retábulos surgiam as imagens da Virgem com o Menino, no lado do Evangelho e São José com o Menino no oposto. *3 - no arrolamento dos bens, consta a existência de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, de madeira pintada na tribuna da igreja, as de São Francisco e Santo António, ambas com resplendor de latão, São José com resplendor de prata num retábulo colateral e São João de Capristano, no mor; duas imagens de Nossa Senhora da Conceição, um Santo António sem um braço e São José sem dois braços, provenientes da Capela de São Francisco, no século 17; na Capela do Senhor da Agonia, um Crucificado de marfim e os Santos Mártires de Marrocos; no alpendre, as imagens de Nossa Senhora de Conceição, em barro, e Santo António; um Crucificado no altar-mor; na sacristia, aparecia um Crucificado, um Menino de roca, Menino no berço; tem um sino grande.

Autor e Data

Luís Castro 1998 / Paula Figueiredo 2003

Actualização

Margarida Alçada 2003
 
 
 
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