Casa das Morgadas

IPA.00002488
Portugal, Castelo Branco, Covilhã, União das freguesias de Covilhã e Canhoso
 
Palacete de fundação antiga, mas muito alterado no séc. 19/20 tendo recebido a forma que tem actualmente, de dois pisos, com ampla água furtada, rematada por friso, cornija e platibanda em ferro forjado, com as fachadas rasgadas por vãos em arco abatido e molduras recortadas, destacando-se o eixo central, com o portal encimado por moldura com lacrimais e por bífida, sublinhada por arco de volta perfeita, formando, entre ambas, um óculo circular, com soluções semelhantes às que Korrodi utilizou na fachada principal do Edifício do Banco de Portugal, não sendo de descorar a hipótese do arquitecto ter trabalhado na reconstrução deste edifício. É de planta rectangular simples, evoluindo em vários pisos, aproveitando o declive do terreno, de construção quinhentista e seiscentista, mas com bastantes alterações nas obras levadas a cabo pelo proprietário no séc. 19, que lhe deu um cunho revivalista. Possui dois pisos principais, com mansarda virada para a fachada principal, divididos por friso e circunscritos por cunhais apilastrados colossais, rematando em friso, cornija e platibanda metálica. As fachadas são rasgadas por vãos em arco abatido, com molduras recortadas, destacando-se o eixo central, com uma bífora, encimada por moldura em arco de volta perfeita e óculo circular. Mantém, no interior, uma estrutura típica do período, com um pequeno vestíbulo, escadas de madeira no lado direito, de acesso aos pisos superiores e uma porta de madeira com almofadados ovalados e vidraças, de acesso a um corredor que distribui as dependências do primeiro piso; mantém pavimentos em soalho, coberturas de madeira e os lambris e rodapés da época. Possui, no primeiro piso, uma sala com tecto de caixotões pintados com uma alegoria aos continentes, com influência das gravuras de Jean Baudoin e Adriaen Collaert segundo Maerten de Vos, mostrando figuras femininas que formam os continentes e paisagens alusivas aos mesmos, seguindo relatos de viagens, disponíveis na época da pintura, datada do início do séc. 18, revelando o poder da família encomendante e afirmar a valência dos valores católicos contra-reformistas, em época de vigilância contra os protestantes, rigidez de costumes e repressão da minoria cristã-nova (SERRÃO, 2009). Mantém a capela setecentista, com vestígios do púlpito e cobertura em falsa abóbada de berço, com quadraturas e a representação religiosa da Virgem e Santa Clara. A entrada, pela porta travessa, possui remate em frontão interrompido por pináculo de pinha, onde se inscreve a data de reconstrução deste espaço de culto, que, actualmente, apenas liga ao edifício principal por uma porta no primeiro piso, mas que teria possuído uma tribuna no piso superior.
Número IPA Antigo: PT020503170008
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta rectangular regular, composta pelo edifício residencial e com capela adossada ao lado esquerdo, possuindo um edifício anexo de planta trapezoidal, de volumes escalonados e articulados e disposição horizontalista das massas, com coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas, com ampla mansarda de duas águas na casa, rematada em empena e rasgada por três janelas em arco abatido, a duas águas na capela e a três no edifício anexo. CASA de quatro pisos, dois abaixo do solo, constituindo caves, adaptando-se ao desnível do terreno, e dois superiores, divididos por friso de cantaria, com fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento de cantaria de granito, cunhais com pilastras colossais e rematadas em friso, cornija, beirada e platibanda vazada em ferro forjado pintado de verde, formando padrões repetidos de enrolamentos; são rasgadas por janelas em arco abatido com molduras recortadas e rematadas em pequeno friso, tudo em cantaria, protegidas por caixilharias de alumínio lacado a branco, com vidros simples e portadas interiores de madeira, também pintadas de branco. Fachada principal, virada a N., dividida em três panos por pilastras colossais, criando uma forte simetria, rasgada, no primeiro pano por portal de moldura dupla, sublinhada superiormente por uma terceira moldura que termina em pingentes, encimado por bífora de varandim, em arcos de volta perfeita, com molduras almofadadas e envolvida por arco com o mesmo perfil, surgindo, ao centro, óculo circular; o varandim tem guarda em ferro fundido, pintado de verde, formando elementos vegetalistas na zona inferior. Cada um dos panos laterais possui duas janelas de peitoril em cada piso, as do superior com pano de peito resguardado por grade de ferro fundido, formando elementos vegetalistas, assentes em pequenas mísulas. Fachada lateral esquerda, virada a E., parcialmente adossada à capela, sendo visíveis os vãos do segundo piso, com duas janelas de peitoril, semelhantes às descritas anteriormente. Fachada lateral direita, virada a O., marcada, no piso inferior por revestimento a cantaria, possuindo vestígios de dois vãos rectilíneos, actualmente entaipados, surgindo, no intermédio duas janelas de peitoril e, no superior, duas janelas com pano de peito em ferro fundido e assente em mísulas, como as da fachada oposta. Fachada posterior marcada pelo EDIFÍCIO ANEXO, de quatro pisos, com um terraço no piso inferior, possuindo, no imediato uma janela alpendrada, sustentada por colunas toscanas em granito, tendo vãos rectilíneos nos pisos superiores. INTERIOR composto por pequeno vestíbulo, com paredes rebocadas e pintadas de branco, revestidas a lambril de madeira, tendo pavimento em soalho e tecto de estuque pintado de branco, formando pequenos frisos rectilíneos e centrado por cartela ovalada com moldura saliente e contendo palmetas. Fronteira, porta em arco abatido, com aro de madeira, vidraças brancas e verdes, formando almofadados ovalados na zona superior e com bandeira envidraçada a verde e branco, de acesso a corredor que liga às dependências deste piso e às inferiores. No lado direito, escadas de madeira, com guarda torneada, do mesmo material, pintada de amarelo, ligando a um corredor e várias dependências, com paredes rebocadas e pintadas de branco, com altos rodapés de madeira e pavimentos em soalho, tectos planos de madeira e portas de verga recta em madeira, encimadas por bandeira com vidro simples. Através da porta do vestíbulo acedemos à denominada Sala dos Continentes, formando um quadrado irregular, com janela conversadeira, possuindo um pé direito de 2,80m., tendo tecto de madeira de pinho e carvalho em doze caixotões pintados a óleo, com molduras simples de madeira, representando figurações urbanas e campestres, aludindo, de forma alegórica, os Continentes, tendo, ao centro, a representação de quatro figuras femininas, figurando a África e a Europa sobre a Ásia e a América, estando envolvidos, de cima para baixo e segundo os ponteiros do relógio pelos painéis das Duas Cidades, Cidade Imaginária, Igreja, Castelo, Moinho, Papagaio, Caravelas e Animais (SERRÃO, 2009). A partir do vestíbulo, no lado esquerdo, surge porta, que liga a uma antecâmara e à CAPELA, dedicada a Santo Agostinho, de planta rectangular com eixo longitudinal interno, com fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento de cantaria, com cunhais apilastrados e remates em friso, cornija e beirada simples. Fachada principal virada a N., com acesso por porta travessa, de verga recta e moldura almofadada e recortada, com pingentes laterais e rematada por friso e frontão triangular interrompido, possuindo o tímpano recortado e interrompido por pináculo em pinha, possuindo, sobre pequena flor, uma cartela com a inscrição "1741"; no lado esquerdo, janela rectilínea, em capialço, ilumina a zona do altar-mor. Fachada lateral esquerda parcialmente adossada, sendo visível o remate em empena, estando a fachada lateral direita adossada à casa. Fachada posterior com duas janelas rectilíneas em capialço, uma que ilumina a zona do altar-mor e outra a antiga sacristia, situada na zona posterior da capela. INTERIOR de espaço único, com pavimento em soalho e cobertura em falsa abóbada de madeira pintada com quadraturas, formando um falso friso, sobre o qual surgem animais exóticos, "putti", florões, festões e, nas ilhargas, em cartelas ovaladas, envolvidas por acantos, a representação de uma Virgem com o Menino e uma Santa Clara. No lado da Epístola, os vestígios do antigo púlpito, quadrangular, com bacia de cantaria, assente em consola, e com acesso por quatro degraus no lado esquerdo; junto a estes, nicho de alfaias semicircular. Possui dois degraus de cantaria, criando um supedâneo para o altar e retábulo-mor, já desaparecidos. Na parede testeira, porta de verga recta, de acesso à sacristia *1.

Acessos

Rua Alexandre Herculano, n.º 48-50; Travessa de Santo Agostinho. WGS84: 40º16'48.52''N., 7º30'22.66''O.

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Decreto n.º 28/82, DR n.º 47 de 26 fevereiro 1982

Enquadramento

Urbano, incluído no Centro Histórico da Covilhã (v. PT020503170019), com a fachada lateral esquerda adossada a edifícios residenciais, situados à mesma cota, implantado no gaveto de duas vias relativamente estreitas, pavimentadas a calçada de paralelepípedos de granito, ambas em terreno desnivelado, e abrindo directamente para as mesmas. No enfiamento deste quarteirão, encontra-se uma casa novecentista com interesse patrimonial (v. PT020503170215), estando nas imediações da Igreja de Santa Maria Maior (v. PT020503170037) e de palácio seiscentista com arcada contínua no piso térreo, a antiga Casa dos Magistrados (v. PT020503170020).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Política e administrativa: sede de organização político-partidária

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Joaquim Bonifácio da Costa (1984). MARCENEIRO: Manuel Antunes da Rosa (1642). PINTORES: José Botelho de Albuquerque (atr., 1741); Manuel Pereira de Brito e respectiva oficina (séc. 18). RESTAURADORES de PINTURA: Arte&Restauo (2001-2002).

Cronologia

Séc. 16 - provável construção de um edifício primitivo; séc. 17 - reconstrução do solar, denotando a prosperidade da vila, pela família abastada Cardoso Tavares, com entrada para a Travessa de Santo Agostinho, que manteria até às obras do séc. 20, onde se destacavam duas janelas geminadas; 1642 - execução do tecto da Sala dos Continentes por Manuel Antunes da Rosa, em madeira de pinho; séc. 18 - o edifício pertencia a um comerciante abastado Manuel Cardoso, que protegia o pintor Manuel Pereira de Brito, o qual terá pintado o tecto da Sala dos Continentes; 1741 - feitura de obras na capela e pintura da respectiva cobertura interna, atribuível a José Botelho de Albuquerque (SERRÃO, 2003); 1840-1841 - o edifício estava na posse da família Tavares, as Morgadas; sem descendentes deixaram a casa e fortuna a uma filha adoptiva, chamada Maria do Resgate Raposo, casada com José Maria Baptista; séc. 19, finais / séc. 20, 1º quartel - provável remodelação do edifício pelos descendentes dos anteriores, o qual apresentava arcadas internas, uma janela geminada e entrada alpendrada; 1984 - aquisição do edifício a António Antunes dos Reis pelo Partido Comunista Português, que leva a cabo obras de adaptação às novas funções, mantendo os elementos que caracterizavam o imóvel, conforme projecto do arquitecto Joaquim Bonifácio da Costa; 2001-2002 - estudo integrado das pinturas, solicitado pelo IPPAR e pelo Presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, no âmbito de um protocolo de colaboração visando o estudo histórico-artístico do património da Covilhã.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito, rebocada e pintada; embasamento, modinaturas, pilastras, colunas, cornijas, frisos, degraus da capela, frontão, púlpito, nicho de alfaias em cantaria de granito; pavimentos, tectos, caixotões, molduras, aros, portas, lambris e escadas de madeira; janelas e bandeiras com vidro simples ou pintado; janelas com pano de feito em ferro fundido; platibanda em ferro forjado; cobertura em telha de marselha e de canudo.

Bibliografia

SILVA, José Aires da, História da Covilhã, Covilhã, s.l., 1996; Notícias sobre os tectos barrocos do Solar das Morgadas na Covilhã, sede do PCP, in Avante, 28 Dezembro 2001; Covilhã percursos de uma história secular, Paços de Ferreira, Néstia Editora, 2003; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003; SERRÃO, Vítor, MENDES, Maria do Carmo e SILVA, Ricardo J. Nunes da, "As pinturas do Salão dos Continentes na Casa das Morgadas e a arte na Covilhã no início do século XVIII", in Monumentos, n.º 29, Lisboa, Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, 2009, pp. 76-87; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71486 [consultado em 14 outubro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; IGESPAR; UL: FLL (Instituto de História da Arte)

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA, DGEMN/DSID; IGESPAR; UL: FLL (Instituto de História da Arte)

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; IGESPAR; UL: FLL (Instituto de História da Arte)

Intervenção Realizada

Partido Comunista Português: 1984 / 1994 - diversos trabalhos de conservação e remodelação; ampliação do edifício anexo segundo projecto do arquitecto Joaquim Bonifácio da Costa; substituição das lajes em granito do pavimento da varanda alpendrada e da cobertura em madeira por estrutura de betão; colocação de forro em madeira de pinho sob a cobertura interna da capela; 2001 / 2002 - restauro da pintura da Sala dos Continentes, pela firma Arte&Restauro, através dos técnicos Conceição Viana e António Salvador.

Observações

*1 - capela tinha imagem de Santo Agostinho e um Crucificado de marfim.

Autor e Data

Margarida Conceição 1994 / Paula Figueiredo 2009

Actualização

 
 
 
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