Igreja de Santo António

IPA.00024833
Portugal, Évora, Vila Viçosa, Nossa Senhora da Conceição e São Bartolomeu
 
Arquitectura religiosa, renascentista, barroca. Igreja de planta rectangular, de nave única e cabeceira composta por capela-mor de planta rectangular. Fachada principal rematada por frontão de empenas curvos rasgado ao centro por sineira; é rasgada por vãos dispostos simetricamente, sendo o eixo central definido, no primeiro piso por portal simples, enquadrado por duas janelas de peitoril, encimado por janelão ladeado por dois óculos circulares; à esquerda, porta simples de acesso directo ao sistema de corredores intercalados por lanços de escadas, desenvolvidos paralelamente ao corpo da nave e da capela-mor; sobre esta porta ergue-se torre cilíndrica, coberta por cupulim, com porta de acesso ao telhado e à sineira. No interior coberturas em falsa abóbada de estuque, em cruzaria de ogivas e de berço, totalmente decoradas com pinturas murais quinhentistas de brutescos onde predominam as laçarias, enrolamentos de acanto, mascarões, anjos músicos com parte inferior dos corpos metamorfoseada em folhagem, querubins, anjos portadores segurando símbolos da paixão em poses torsas ou em contraposto, quimeras, aves, e outros motivos maneiristas de marcado gosto clássico italianizante; atribuídas ao pintor vimaranense Giraldo del Prado, as pinturas apresentam analogias com o programa patente no Palácio dos Condes de Basto em Évora (v. PT040705210037) no qual trabalhou Francisco de Campos juntamente com outros colaboradores um dos quais presumivelmente Giraldo del Prado (SERRÂO, 1978). As paredes da nave são totalmente revestidas por azulejo de tapete, envolvendo painéis de temática hagiográfica; no lado do Evangelho integra-se púlpito de cantaria de mármore; as paredes da capela-mor são igualmente revestidas por azulejo de tapete e decoradas com pintura mural sobre temática hagiográfica do séc. 18 Apresenta uma tipologia e opções decorativas que a aproximam da Igreja do antigo Hospital da Misericórdia de Vila Viçosa (v. PT040714050019) edificada praticamente em simultâneo.
Número IPA Antigo: PT040714050028
 
Registo visualizado 116 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja  

Descrição

Planta rectangular, de massa simples, com cobertura em telhados de uma e duas águas desnivelados, sendo o da nave ligeiramente mais elevado que o do coro, formando pequeno terraço murado, possuindo bancos de alvenaria na parede da sineira. Fachada principal caiada de branco, com faixa pintada de ocre, conjugando cantaria de mármore aparente nas molduras dos vãos rectos. Apresenta dois pisos e é rematada por friso e cornija suportando sineira ladeada por aletas. Ao nível do segundo piso, à esquerda, torre cilíndrica com cobertura em cúpula, igualmente caiada, rasgada por pequena fresta. No primeiro piso, definindo eixo central, portal rematado por friso e cornija caiada, possuindo porta de madeira almofadada e pintada de vermelho escuro, ladeado por duas janelas de peitoril molduradas terminadas por friso e cornija de cantaria, fechadas com vidro e possuindo grades de ferro pintadas de vermelho escuro. Ao lado da janela da esquerda portal simples, de verga recta, com porta de madeira pintada do mesmo tom de vermelho, existindo à esquerda, junto ao chão, pequeno orifício para escoamento de águas pluviais. No segundo piso, sobre o portal, janela de verga recta e moldura simples, integrando caixilharia de guilhotina, ladeada por dois óculos circulares, fechados com vidro. A janela é envolvida por composição arquitectónica composta por pilares de capitel simples e fuste almofadado, assentes em plintos apoiados em cornija, suportando friso e cornija interrompidos por cartela que se sobrepõe ao remate da fachada. A cartela recortada e ladeada por aletas integra brasão com as armas de Portugal, rematado por coroa. A sineira, terminada por frontão circular, coroado por catavento de ferro, e ladeada por aletas, é rasgada por vão de volta perfeita e possui sino de bronze. INTERIOR: nave única, com paredes revestidas a azulejo de tapete policromo, formando padrão, decorado com motivos geométricos, integrando painéis com representação de episódios da vida do santo patrono, em azul e branco, guarnecidos com barra de uma fiada de azulejo e friso. A cobertura em falsa abóbada de estuque, em cruzaria de ogivas, apoiada em seis trompas, na nave, e quatro na capela-mor nervuradas e assentes em mísulas, é ritmada por diversas chaves igualmente de estuque pintado, sendo, na nave, as centrais recortadas e as secundárias circulares e, na capela-mor apenas circulares. Pavimento em lajes de cantaria mármore. A parede fundeira, dividida em dois pisos, no subcoro, é revestida por azulejo de tapete policromo, formado padrão, idêntico ao da nave e rasgada por portal simples, protegido por guarda-vento de madeira e vidro, ladeado por duas janelas, de verga recta, rasgadas em capialço, dotadas de caixa de esmolas e porta de madeira, com postigo; no coro-alto, a parede, é rebocada e pintada de branco e rasgada por janelão de verga recta, rasgado em capialço, com portas de madeira, pintadas de vermelho escuro, enquadrado por dois óculos, igualmente rasgados em capialço. No subcoro, do lado do Evangelho, pia baptismal composta por taça circular de cantaria de mármore branco apoiada em coluna de fuste irregular, em cantaria de mármore azul, assente em plinto almofadado. No pavimento existem quatro epígrafes. O coro-alto é suportado por arcaria composta por três arcos, de cantaria, sendo o central maior e em asa de cesto e os laterais de volta perfeita, apoiados em quatro colunas toscanas e entablamento, decorado, nos extremos, com cartelas elípticas em mármore cinza, sobrepondo-se platibanda seguida por guarda composta por colunas jónicas de fuste invertido e estriado, ritmadas por acrotérios volutados. Ao coro-alto acede-se através de porta de verga recta, rasgada na parede do lado do Evangelho, apresentando moldura de cantaria caiada de branco; o pavimento é cerâmico. As paredes laterais são integralmente revestidas a azulejo de tapete, igual ao da nave, rematado por barra, delimitada por friso acompanhando a configuração em arco de volta perfeita desenvolvida pela marcação dos tramos. O tapete integra, em cada uma das paredes, painel com representação de duas cenas da vida de Santo António, do lado do Evangelho a "Aparição da Virgem e o Anjo afugentando o Demónio" e, do lado da Epístola, "Santo António concedendo a revelação oratória". A cobertura é igualmente, em falsa abóbada de estuque, em cruzaria de ogivas, com chave recortada, ao centro, decorada com motivos vegetalistas e bocete central. Os panos da cuzaria de ogivas apresentam pintura de brutescos com seres fantásticos, e, nos arcos formeiros, motivos geométricos. Na nave, do lado do Evangelho, rasga-se vão recto envolvido por moldura em cantaria de mármore, boleada superiormente e, plana, além de recortada inferiormente, rematado por friso e cornija, possuindo porta de madeira pintada de vermelho escuro, integrando púlpito de cantaria de mármore branco, de planta circular, de base estriada, possuindo balaustrada composta por balaústres de cantaria e pavimento cerâmico. Sobre o púlpito painel de azulejo com representação de episódio da vida de Santo António - "Milagre do burro adorando a Eucaristia" - confrontando com outro, na parede do lado da Epístola, onde surge a representação da "Ressurreição do mancebo como prova da inocência do pai ao Santo". No pavimento existem sete epígrafes. A capela-mor, de planta rectangular, sobrelevada, é antecedida por arco triunfal, de volta perfeita, em cantaria aparente, rasgado em parede integralmente revestida por azulejo de tapete policromo, formando padrão idêntico ao da nave, e apresenta cobertura abobadada nervurada, ritmada por chaves circulares destacando-se ao centro a chave de colchete. Nas nervuras decoração policroma segundo composições de motivos geométricos, e nos panos da abóbada representação de anjos possuindo atributos do Calvário. O arco é suportado por pilares facetados, conservando vestígios de pintura mural, com bases assentes em plintos caiados, por sua vez apoiados num degrau, e terminados por cornija igualmente caiada. No arco triunfal, ao centro, surge brasão pintado com as armas de Portugal e no seu intradorso surge pintada a data de 1727. O qual é encimado por cartela rectangular, onde surge representado Santo António com o Menino, em pintura mural. A capela-mor possui paredes revestidas a azulejo de tapete policromo, formando padrão, guarnecido por friso, integrando dois pequenos registos hagiográficos, inseridos em cartelas de influência flamenga, com representação de Santo António, do lado do Evangelho, e de São Francisco recebendo os Estigmas, do lado da Epístola, e pintura mural com representação de cenas da vida de Santo António figurando, na parede do lado do Evangelho, o Milagre de Santo António dando a fala ao menino recém-nascido e, na parede do lado da Epístola, o Milagre de Santo António aos Peixes; no pavimento sete epígrafes. Na parede do lado do Evangelho abrem-se porta e tribuna, com grade de ferro, ambas de verga recta, com moldura de cantaria de mármore, sendo a da porta de meia-cana. No lado da Epístola, fresta rasgada em capialço, inserida numa moldura de cantaria de mármore, actualmente entaipada. A porta acede às recentes instalações sanitárias, onde persiste um pequeno lavatório, em cantaria de mármore, integrado em parede revestida a azulejo branco de produção actual, e um arco abatido igualmente revestido; e, a corredores abobadados, intercalados por lanços de escadas, caiados a branco, que medeiam o acesso a outros espaços e de onde se observam, na parede do corpo da nave, duas frestas entaipadas. Situando-se à esquerda, os corredores de acesso ao púlpito, ao coro-alto, à torre cilíndrica e ao portal secundário; e, à direita, os corredores de acesso à antecâmara da tribuna da capela-mor, iluminada por janela de verga recta, e à tribuna do retábulo-mor. No interior da torre cilíndrica, escada helicoidal, composta por degraus de cantaria de xisto aparente no cobertor e, caiado a vermelho no espelho. Ostenta parede rasgada por fresta quadrada e por fresta rectangular, para escoamento de águas pluviais acumuladas no telhado do coro-alto. Na capela-mor retábulo em talha dourada, de planta côncava e um eixo, possuindo trono e tribuna. A tribuna apresenta as paredes e, a cobertura, em abóbada de berço, decoradas com pintura mural, segundo uma composição de carácter vegetalista, que, nas paredes é ritmada por um friso decorado com motivos geométricos e, que, na abóbada envolve cartela recortada, onde surge a representação de uma bíblia, sobre a qual se dispõem uma cruz e um ramo.

Acessos

Rua de Santo António

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados e em vias de classificação do centro histórico de Vila Viçosa (v. PT040714030042)

Enquadramento

Urbano, no centro histórico da cidade numa zona de terreno com declive ligeiramente acentuado, com as fachadas laterais adossadas a outras construções, cuja toponímia repete o nome do patrono pelo facto de ter existido um recolhimento de Claustrais devotos de Santo António, anterior à construção da Igreja. Possui pequeno terreiro, designado de Santo António, de planta quadrangular delimitada por construções diversas, apresentando pavimento calcetado. Na proximidade erguem-se o Convento de Santa Cruz (v. PT040714050015) e a casa onde nasceu o Dr. João Couto Jardim.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: Exterior: 1. Inscrição comemorativa de uma obra grafitada na parede da sineira. Leitura: 17-1960-5. 2. No bordo do sino encontra-se uma sigla, "B" cinzelada. Segundo Túlio Espanca no bordo do sino encontrava-se ainda a seguinte inscrição em latim: "1723-1724 REX IOANES V". 3. Inscrição comemorativa de uma obra(?) grafitada numa cartela localizada na empena formada pela cobertura da nave. Leitura:1880. TALHA: O retábulo-mor de planta côncava, um eixo e um registo do estilo nacional, totalmente dourado, apresenta banco dividido em caixotões decorados com volutas distribuídas simetricamente, rematado por friso, e serve de apoio a três imagens, estando ao centro São João Baptista, do lado do Evangelho, Nossa Senhora do Amparo e do lado da Epístola, São José com o Menino. O corpo é constituído por pilastras seguidas por duas colunas torsas, apoiadas em consolas, que se prolongam formando as arquivoltas do ático, ritmadas por peças de talha, possuindo a central escudo com as armas de Portugal encimado por coroa. O trono, de forma piramidal, decorado com motivos vegetalistas, é coroado por imagem de Santo António com o Menino, ostentando resplendor. No acesso à tribuna do retábulo-mor encontra-se glória em talha, de configuração semicircular, decorada com três cabeças de anjos apresentando vestígios de douramento e policromia. No coro-alto encontram-se dois nichos em talha dourada, em mau estado de conservação, decorados ao nível do frontão com cartela recortada e envolvida por motivos vegetalistas diversos e vestígios de policromia nas paredes laterais externas em composições de motivos vegetalistas estilizados.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja

Utilização Actual

Funerária: capela mortuária

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Évora)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADORES: Lopo Vaz de Almeida *1 (séc. 18); PINTORES: Giraldo de Prado (séc. 16), atr.

Cronologia

1564 c. - fundada por D. João I, V Duque de Bragança, I Duque de Barcelos; 1569 - conclusão da construção e abertura ao culto; 1580, década de - execução pinturas murais das abóbadas da nave e capela-mor por Giraldo del Prado pintor e cavaleiro do Duque D. Teodósio II (1585); séc. 16, final - imagem de Santo António; santa de roca representando Nossa Senhora do Amparo; séc. 16, final - séc. 17, início - período de produção portuguesa do tipo de azulejo de tapete aplicado na capela-mor; entre 1570 e 1610 - foi sede da matriz, uma vez que, durante este período decorreu uma importante campanha de restauro na Igreja de Nossa Senhora da Conceição (v. PT040714030007); 1603 e 1630 - colocação dos azulejos da nave e entaipamento das frestas; séc. 18 - painéis de azulejo das paredes da nave; ampliação do arco triunfal; nichos de talha dourada e policromada;1722, c. de - pinturas murais paredes da capela-mor; 1707 - retábulo da capela-mor, executado pelo juiz da confraria, Lopo Vaz de Almeida, cuja instalação implicou a aquisição de parte de quintal, ao médico Manuel Durão Mexia, pela quantia de 2$400rs, para ampliação da tribuna; 1723 / 1724 - sino; 1727 - data no arco triunfal; 1748 - instalação da confraria de Nossa Senhora do Carmo; 1755 - sede da matriz, devido ao abatimento da abóbada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição (reconstrução que se prolongou até ao séc. 19; 1864, c. de - transladação da Igreja do Convento de São Paulo (v. PT040714050029), para a Igreja de Santo António, das imagens de Nossa Senhora do Amparo e de São José com o Menino; 1880 - data esgrafitada em cartela da empena; séc. 20, década de 90 - construção das instalações sanitárias no espaço da sacristia.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Fachada caiada, conjugando cantaria de mármore aparente nas molduras dos vãos; vidro nas janelas e óculos circulares; algerozes metálicos; azulejo revestindo as paredes da nave e da capela-mor; mármore azul no pavimento e estrutura do coro-alto; estuques nas falsas abóbadas; mármore rosa no pavimento; mármore branco no púlpito; xisto nos degraus da escada helicoidal; talha dourada no altar da capela-mor; grades de ferro, no exterior pintadas; portas de madeira pintadas; pavimento cerâmico no púlpito e no coro alto; alvenaria caiada na escada helicoidal; cobertura de telha de aba e canudo.

Bibliografia

ESPANCA, Padre Joaquim da Rocha, Compêndio de Notícias de Villa Viçosa. Concelho da Província do Alentejo e Reino de Portugal, 1892; TORRINHA, Joaquim Soeiro, A Azulejaria Antiga de Vila Viçosa, Subsídios para a sua História, A Cidade de Évora, Boletim da Comissão Municipal de Turismo de Évora, nº 45-46, Évora, Janeiro-Dezembro de 1962-1963, pp. 114-137; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora, vol. IX, SNBA, 1978; DIAS, Pedro, A Arquitectura Manuelina, Porto, 1988; SERRÃO, Vítor, Mitologia e Fausto na Pintura a Fresco em Vila Viçosa ao tempo do Duque D. Teodósio II, 1568 - 1630.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1880 - obras de beneficiação do campanário, sob a assistência do presidente e tesoureiro de Junta de Paróquia, Joaquim José Fernandes e António das Neves Tarana; 1960, 17 de Maio - intervenção na sineira; 2001 - recolocação de azulejos nas paredes da nave; CMVV: 2005 - obras de beneficiação incluindo preenchimento de frestas do pavimento e na renovação da instalação eléctrica.

Observações

Autor e Data

Marta Ferreira e Rosário Gordalina 2006

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login