Casa da Quinta das Janelas / Casa da Quinta das Flores

IPA.00024735
Portugal, Leiria, Óbidos, Gaeiras
 
Palacete integrado em quinta de recreio e de produção agrícola composta pelos edifícios residenciais, capela, lagares, adegas, picadeiro e chafariz.
Número IPA Antigo: PT031012080058
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Quinta implantada em terreno plano, na base de uma colina. Perímetro da quinta marcado com rede. Casa principal disposta em U, voltada a um vasto pátio fechado com muros e gradeamento, corpos laterais pouco salientes em relação ao central, volumetria de sentido horizontal. Acede-se ao pátio por um portal, com gradeamento, com cantarias almofadadas, arco de volta perfeita e frontão interrompido carregado com a pedra de armas da família Freire de Andrade e rematada com um pináculo e bola. Pátio amplo em saibro, no qual, à esquerda, se implanta um plátano centenário. Corpo principal da habitação à esquerda; de fronte corpo habitacional dos criados e celeiros; à direita continuação de casas de apoio agrícola e casa do feitor. Jardim de buxo e outras plantas ornamentais, parcialmente fechado com gradeamento ou muros com janelas. Edifícios e estruturas construídas em alvenaria de pedra, rebocadas e caiadas com mistura de óxido de ferro vermelho e cal branca, produzindo a cor-de-rosa velho. O conjunto principal é separado das vacarias, áreas de criação de animais, casa de alfaias, lagares, adegas e picadeiro e outros edifícios articulados na função agrícola, por arruamentos calcetados, formando um largo fronteiro à entrada principal, rematado por um chafariz com tanque. Casa principal com planta rectangular, parcialmente com dois pisos e alteada com mansardas, coberturas de telhados múltiplos, geralmente com duas ou quatro águas desniveladas, em telha mourisca. Beirais simples assentes em cimalha Capela a um dos extremos integrada na simetria da fachada, planta rectangular, sem distinção do conjunto a não ser pela presença de uma pequena sineira em cantaria. Fachada E., voltada ao pátio, franqueia o acesso à habitação principal através de uma galeria com nove arcos abatidos, suportados em colunas jónicas. Aos extremos pronunciamento dos corpos com duas janelas de peitoril. Ao lado esquerdo sobreleva-se mansarda com duas janelas dispostas ao baixo. Fachada S. limitada por cunhais de cantaria lisa, 5 janelas de peitoril guarnecidas a cantaria de vão recto com vidraças de guilhotina, beiral assente em cimalha em massa. Fachada O. abrindo para um terraço, com parcialmente com dois pisos, apresenta os seguintes quatro portas e seis janelas de peitoril, guarnecidas com cantarias de vão recto; piso superior com 6 janelas de peitoril. Ao topo do terraço, corpo posterior da habitação, com parede voltada a S. composta por 2 portas no piso térreo e 2 janelas de peitoril, todas guarnecidas a cantaria de vão recto, no piso superior. Fachada posterior a N., com dois pisos, cinge um pátio murada com construções aviários. INTERIOR: Galeria voltada ao pátio principal: Tecto forrado a madeira pintada de branco, pavimento em tijoleira formando padronagem rectangular. No interior, muro baixo guarnecido a azulejaria azul e branca, em padrão enxaquetado, formando uma barra que se repete por baixo das janelas da galeria. Pórtico central no paramento de fronte, sobrepujado por epígrafe, ladeado por duas janelas de cada lado e ao extremo direito desse paramento duas portas. Todos os vão são rectos e guarnecidos a cantaria. Aos topos estão portais com ombreiras assentes em socos lavrados com motivos geométricos, sendo o pórtico da direita (a N.) o acesso à capela. Sobre a porta está uma epígrafe comemorativa, cercada numa moldura lisa rematada, na base, com enrolamentos e, no topo, com uma cruz latina. Todos os espaços entre os vãos são decorados com azulejaria historiada ou decorativa e apresentam bancos tábua-corrida assentes em cantaria. Capela: sala de pequenas dimensões, rectangular, tecto em abóbada de berço com descarga em sanca de cantaria. Pavimento em tábua. Parede à direita com duas janelas de peitoril abertas para o pátio; entre estas um registo de azulejos barrocos joaninos com a representação de São João Capristano; à esquerda um registo de azulejo semelhante representando São Diogo e uma porta com grade em chapa perfurada servindo de confessionário. Em redor das paredes lambril de azulejos barrocos, azuis e brancos, com albarradas. Parede de topo com um arco em cantaria, de volta perfeita, onde se integra uma mísula com a imagem de Nossa Senhora de Lourdes e um altar com respectivo sacrário em pedra de liós. Presbitério com um único degrau e patim em madeira. Da galeria, ao topo esquerdo, acede-se a uma grande sala, com tectos de maceira, pavimentos em madeira e paredes com lambris de azulejos com decoração revivalista rococó (possivelmente da fábrica de Santana de Lisboa). A sala é rectangular, apresenta duas janelas de peitoril voltadas ao pátio, seguidas de cinco janelas semelhantes voltadas a S., duas janelas (uma de sacada e outra de peitoril) voltadas a O. sobre um terraço; e no paramento subsequente a N, uma grande chaminé de sala, em pedra de liós, vagamente inspirada em volumetrias renascentistas, ladeada simetricamente por quatro portas. Da esquerda para a direita: primeira porta de acesso a um pequeno quarto, sem decoração, com passagem para um salão com lambris de azulejos neo-rococó, tectos com frisos pintados com motivos vegetalistas e uma chaminé de sala em estilo neomanuelino; segunda porta: acesso a um corredor que abre para a referida sala; terceira porta: casa de passagem para a portaria, composta por uma sala dividida em duas áreas através de um lintel apoiado em pilastras e duas colunas, formando também dois tectos de maceira distintos, chaminé neoclássica; quarta porta de acesso à galeria exterior. Da sala da portaria acede-se a um espaço que serve de bengaleiro e a um escritório subdividido em duas salas, com lareira. Deste escritório acede-se a uma sala pintada de verde, sem decorações, com tecto em mau estado de sonservação. Desta a um corredor de acesso a outras áreas funcionais da habitação, a N. Cozinha na prumada desta sala, lambrim de azulejos avulsos neo-pombalinos, grande chaminé guarnecida a cantaria ao topo, tecto com clarabóia de vidro em maceira, pavimento de tijoleira de barro, lavatórios em liós à esquerda da sala, coluna de suporte aparente do tecto que funcional como tubagem de descarga das águas pluviais. Ladeando a chaminé, à esquerda, porta de acesso a corredor, sala de guarda-roupa de mesa e escadas de serviço ao piso superior; porta do lado esquerdo da chaminé: acesso a corredor, despensa e sala de arrumos. Ao nível do piso superior diversas divisões servindo de 8 quartos de dormir e de 4 de banho; acesso a terraço que circunda a clarabóia da cozinha. JARDIM: voltado a O., dispõe de terraço limitado a N. e E. pela habitação. Tem no vértice exterior uma guarita. Barra de padronagem verde e branca; espaço entre vãos preenchido com lambris com composições de azulejaria rococó representando cenas bíblicas e campestres. Do terraço acede-se ao jardim, em plano inferior, através de uma escadaria de dois lanços curvos divergentes. Águas pluviais debitadas do terraço para o jardim através de 6 gárgulas cónicas alinhadas num friso horizontal. Jardim com várias espécies vegetais: buxo, sardinheiras, roseiras, hera, tílias e outras, geralmente pouco cuidadas. CORPO CENTRAL: composto por dois pisos, telhado de duas águas em telha mourisca e separados com empena corta-fogo, beiral simples apoiado em cimalha de massa. Fachada voltada a S. parcialmente delimitando o pátio principal. Acesso ao piso superior através de escadaria protegida com alpendre assente em duas colunas jónicas, guardas cerradas em alvenaria. Piso superior destinado a celeiro com 5 vãos; piso inferior quartos do pessoal de serviço à habitação, com 2 portas e 4 janelas de peitoril, vão em arco de volta perfeita franqueando a passagem para pátio posterior e, nessa, passagem, acesso à vacaria. Fachada posterior voltada a N. composta por dois pisos, o inferior com 3 frestas e o superior com 3 janelas de peitoril guarnecidas a cartaria, com gradeamentos. Esta fachada cinge um pátio de vacas, também delimitado por um corpo transversal que serve de vacaria e uma cozinha para preparar alimentos para os animais. Ao extremo N. deste pátio, uma eira murada e acedida por uma cancela gradeada de ferro. CORPO DIREITO: composto por dois pisos, telhado de três águas em telha mourisca e separados com empena corta-fogo, beiral simples apoiado em cimalha de massa. Fachada voltada a O. parcialmente delimitando o pátio principal. Piso térreo, 3 janelas de peitoril e 6 portas de acesso a arrecadações; junto às portas argolas de ferro para prender as montadas; ao extremo direito, casa do caseiro, acedida pelo topo exterior ao pátio, pelo piso superior, através de escadaria central e alpendre apoiado em paredes laterais e colunas; nas paredes laterais duas ventanas pequenas e, no interior do alpendre, duas portas de vão recto guarnecidas a cantaria. Nesta fachada voltada a S. é proeminente o volume da chaminé da cozinha, à esquerda. Fachada posterior deste corpo, a E. voltada a um dos arruamentos interiores da quinta, composto por cinco janelas de peitoril e duas portas de acesso, com vãos rectos guarnecidos a cantaria. Prolongando esta fachada existe ainda um grande armazém, com frestas voltadas a E., separados por um portão gradeado de ferro. A E., à direita, casa dos tractores e no topo de um outeiro, casa de água (reservatório alimentado por condutas subterrâneas); à esquerda, 2 LAGARES, cada qual com quatro grandes tanques de prensa com guarnições de cantaria, cobertura de telha vã apoiada em asnas de madeira. PICADEIRO: planta rectangular, cobertura de telha vã apoiada em asnas de madeira, fachada voltada a N., comportando um grande portão, três janelas à direita e uma à esquerda. Interior: portaria rectangular, pórtico de acesso ao picadeiro à esquerda; pórtico de acesso às cocheiras à direita, com boxes em gradeamento de ferro e com revestimentos em azulejaria; de fronte acesso a um corpo adossado que servia de cocheira; pórtico de arco abatido em cantaria. CHAFARIZ, contíguo, com espaldar barroco, formando um arco guarnecido a cantaria, com um pináculo ao topo; empena guarnecida a azulejaria rococó, do mesmo grupo do terraço da habitação principal, com uma cena bíblica. ADEGAS: volume de grandes dimensões, rectangular, fachada voltada a E., fenestração em fresta. No topo S. construções diversas de apoio às actividades agrícolas. Distante cerca de 200 metros a SE um volume de planta quadrangular subdividida em quatro divisões; telhado de uma água em telha mourisca. Fachada voltada a O. com duas portas. Cada uma dá acesso a uma antecâmara que antecede os banhos de águas sulfurosas. Estrutura das salas dos banhos: quadrangulares, com tecto de abóbada de alvenaria e uma chaminé central, tanque com profundidade aproximada de 70 cm, acedidos por 4 degraus. Banhos separados por uma parede ao nível do arranque do arco da abóbada. As divisões voltadas a S. não dispõem de fenestrações; as da direita, cada uma das divisões (antecâmara e banho) dispõem de frestas de iluminação/ventilação.

Acessos

EN (ligação Óbidos-Caldas da Rainha e ligação Óbidos-Gaeiras)

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, rodeado por campos de cultivo de pomar, vinha, pasto e mata. Pela encosta E. é atravessada pelo IP8, a N. pela estrada que segue para a vila das Gaeiras e a O. a estrada nacional Óbidos - Caldas da Rainha.

Descrição Complementar

Epígrafe sobre a porta central de acesso: "QUEM PROCURAR SUCEDER NESTE MORGADO QUE É MEU MOURO MULATO OU JUDEU POR NENHUM CASO HÁ-DE SER E TAMBÉM DEVE ENTENDER QUEM FOR CAPAZ DE O HERDAR QUE O PERDE SE CASAR COM QUEM SEJA DE NAÇÃO E ADVIRTAM É OBRIGAÇÃO DA TERSA A ELE ANEXAR".Epígrafe sobre a porta da capela: "A VIRGEM NOSSA SENHORA FOI CONCEBIDA SEM PECADO : ORIGINAL ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO DESTERRO 1623". AZULEJO: Azulejaria decorativa da galeria do período rococó, policroma, eventualmente da fábrica do Juncal de Alcobaça. Azulejaria historiada, azul e branco, com aplicação de jarrões policromos, período rococó. Da esquerda para a direita: cenas de caça, montagem bastante irregular parecendo reportar-se á mistura de dois painéis distintos, na parte superior observa-se montaria a cavalo, na parte inferior um conjunto truncado representando um camponês oferecendo aves de caça a um grupo composto por um homem e duas mulheres, eventualmente viajantes. Segundo painel, também bastante mal montado, representa cenas de caça ao urso, cavaleiros e peões com apoio de cães. Terceiro painel: caça à lebre com armadilhas e apoio de cães. Quarto painel, caça ao Javali por dois homens e cães. Quinto painel: caça a patos e galeirões, com arma de fogo, e caça nocturna com rede. Registos azulejares de santos na capela: São João Capristano, representado como um monge trajando o hábito franciscano, tonsurado, com uma áurea em torno da cabeça, erguendo o seu braço direito em jeito de bênção *1. Em pano de fundo uma paisagem campestre muito sintetizada. A composição é emoldurada como que formando um nicho cuja parte superior é em arco de volta perfeita com uma grinalda. A nomeação é feita na base base e sob esta encontra-se uma aconcheado típico do período joanino. O painel que lhe faz par é de São Diogo, trajado, tonsurado e aurelado como o anterior, destacando-se o facto de, à cintura, ter uma chave (da portaria do convento) e um cesto com mantimentos (pão?) preparando-se para o distribuir a um pobre *1. Cenas do Antigo Testamento dos painéis do terraço: Moisés apresentando as Tábuas da Lei (Ex 32,15); Aparição dos três anjos a Abraão (Gn 18); Povo de Israel no deserto - Apanha das codornizes no deserto (Ex 16,13); Moisés e a sarça-ardente (Ex 3,2); Morte da filha de Jefté (Jz 11, 34); Recolha do maná (Ex 16,15). Cena do antigo testamento no fontanário exterior: A água na rocha no Horeb (Ex 17,6) *2.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 16 - provável construção do edifício da quinta denominada por Quinta dos Mosqueiros, pelos morgados Freires de Andrade, passando a denominar-se também por Quinta dos Freires; 1623 - construção da ermida inicial (atestada pela lápide sobre a nova capela); 1742 - Morre na quinta, a 21 de Julho, o Infante D. Francisco, Duque de Beja (irmão de D. João V), sendo o seu corpo velado no convento de São Miguel das Gaeiras; séc. 18 - D. João V e a família real visitam a quinta por ocasião das festas da inauguração do Santuário do Senhor Jesus da Pedra; séc. 19 - Após a extinção das ordens religiosas, são aplicados nas paredes exteriores da quinta, então propriedade de Faustino da Gama, os painéis de azulejos provenientes do convento de Vale Benfeito (PT031012020008) e de uma ermida na Usseira; Séc. 20, inícios - São colocados na nova capela, dedicada a Nossa Senhora de Lurdes, dois painéis de azulejos (São João Capristano e São Diogo) retirados da fachada da igreja do convento de São Miguel das Gaeiras (v. PT031012080009); 1950 - a propriedade é pertença de Luís Xavier da Gama (sobrinho de Faustino da Gama); 1997 - É vendida à Associação Nacional das Farmácias que pretende instalar na propriedade um centro de terceira idade, permanecendo, no entanto, fechada até à presente data.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Estruturas de alvenaria, rebocadas e caidas, vãos de portas e janelas em cantaria, caixilharia de madeira, interiores com pavimentos em tijoleira, pedra e madeira, tectos de masseira em madeira; telhados cobertos em telha tipo marselha

Bibliografia

SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal, vol. V, Lisboa, 1955; Memórias históricas e diferentes apontamentos àcerca das antiguidades de Óbidos ..., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda / Câmara Municipal de Óbidos, 1985; PEREIRA, José Fernandes, Óbidos, Lisboa, Ed. Presença, 1988; BOTELHO, Joaquim S., Óbidos Vila Museu, 2ª edição, Câmara Municipal de Óbidos, 1997; GORJÃO, Sérgio, Catálogo do Museu Municipal, Câmara Municipal de Óbidos, 2000; RODRIGUES, Carlos Orlando, Óbidos Casa das Rainhas, Óbidos, 2001; GORJÃO, Sérgio e RODRIGUES, Carlos Orlando (coord.), Os Franciscanos em Óbidos, Colecção Essencial Descobrir Óbidos, vol. 10, Óbidos, 2002.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

*1- Estes azulejos foram retirados dos nichos da fachada da igreja do convento de São Miguel das Gaeiras (v. PT031012080009) pelo proprietário da quinta quando o convento foi comprado pela família Gama; 2 - Este conjunto de azulejos da Fábrica do Juncal pertenceram ao convento jeronimita de Vale Benfeito (PT031012020008) que, após 1833, por ser convento masculino foi encerrado, sendo pilhado e todo o seu recheio vendido e disperso pela região. O conjunto de azulejos representando cenas do Antigo Testamento são provenientes da nave da igreja e os relativos a cenas de caça à zona da portaria e foram comprados pelo proprietário da quinta e instalados no terraço e fonte. É evidente os acrescentos de novas fiadas de azulejos para encaixe dos painéis.

Autor e Data

Sérgio Gorjão 2004

Actualização

 
 
 
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