Forte Mirani / Forte Al-Mirani

IPA.00024610
Omã, Masqat (G), Mascate, Mascate
 
Arquitetura militar, quinhentista e seiscentista. Forte construído pelos portugueses no início do séc. 16 e reformado na 2ª metade da mesma centúria, com planta irregular adaptada à morfologia do terreno, composta por muralhas e torres circulares tipo tambores, e ultra-semicircular, com paramentos aprumados, terminados em parapeito de ameias e rasgadas por pequenos vãos retilíneos ou em arco.
Número IPA Antigo: OM930600000002
 
Registo visualizado 317 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Forte    

Descrição

Planta irregular adaptada ao contorno e declive acentuado do afloramento rochoso, composto por várias torres circulares, uma delas muito alta, e uma ultra-semicircular. Apresenta paramentos predominantemente aprumados, terminados em parapeitos de ameias, de remate piramidal, pintadas de branco. As torres são marcadas por vários anéis, sucessivamente mais estreitos, e são rasgadas por vãos retilíneos ou em arco, dispostos em diferentes níveis e de dimensões distintas. O denominado baluarte da couraça, de perfil curvo, implanta-se numa cota muito baixa, quase junto ao mar, e é rasgado por amplos vãos em arco; a partir dele, desenvolve-se escada protegida por muralha até ao forte. No INTERIOR, possui pátios desenvolvidos em vários níveis; as ruínas de uma capela, de planta circular, coberta por cúpula, com fachada principal rasgada por portal de arco canopial, com decoração cordiforme, ladeado por pia de água benta e encimado pela inscrição "AVE-MARIA GRATIA SANCTA PLENA DOMINUS TECUM". Possui também grande número de dependências e um labirinto de escadarias. No topo do forte ergue-se, junto à mesquita, uma edificação pintada de branco, "a betel-greja", primitivamente uma das duas igrejas católicas da cidade e hoje com funções administrativas, e uma torre ultra-semicircular. Muitos portais conservam possantes portas de madeira, cravadas com pontas em ferro.

Acessos

Mascate

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Isolado, no cimo de um afloramento rochoso, em posição dominante sobre a baía de Mascate, de frente para o porto. O acesso ao forte é feito por uma escada em espiral, que conduz a vários níveis, ou por um elevador. No interior possui tamarineiros e outras árvores. No lado oposto da baía, ergue-se o Forte de Al-Jalali (v. OM930600000001), também sobre escarpa rochosa.

Descrição Complementar

Existe lápide com a inscrição "REINANDO HO MUI ALTO HE PODEROSO FILIPPE PRIMEIRO DESTE NOME REY HE SENHOR NOSSO NO HOUTAVO ANO DE SEU REINADO NA CROA DE PORTUGAL MANDOU POR DOM DUARTE DE MENEZES SEU VIZO-REI DA ÍNDIA QUE SE FIZESSE ESTA FORTALEZA A QUAL FEZ BELCHIOR CALÇADA SEU PRIMEIRO CAPITÃO E FUNDADOR - 1588". O baluarte da couraça tem a inscrição: "A EXPERIÊNCIA, O ZELO E A VERDADE CONSTITUEM PARA MIM A PROTECÇÃO DA CRUZ QUE ME DEFENDE SOBRE A ORDEM DO GRANDE PODEROSO REI FILIPE, TERCEIRO DE NOME, NO ANO DE 1610". Na torre mais alta do forte, uma pequena sala no pavimento superior serve como museu, existindo sobre a porta uma lápide com inscrição em português. No interior, encontram-se expostas várias armas, como uma espada de Omã, do séc. 17, uma arma inglesa Henry Martin, gama de 1871, uma arma de pavio Omanita do séc. 18, encontrada em Nizwa, e uma arma inglesa de disparo e duplo-cano de 1864; jóias Omanitas em prata, como broches, colares, amuletos e tornozeleiras, um fino Mazrad ou colar com moedas; um par de pinças de filigrana em prata, usadas para extrair picos dos pés; uma protecção de guerreiro em pele de rinoceronte, de 1837; um chifre de pólvora em prata, chamado Talahiq, do séc. 19, usado pelos rapazes à volta do pescoço como ornamento; fotografias do porto de Mascate; etc.

Utilização Inicial

Militar: forte

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: Inofre de Carvalho (conjetural, 1559 / 1560); Manuel Homem de Pina (1633). MESTRE: Belchior Calaça (1588).

Cronologia

1507, 2 setembro - data da conquista da cidade de Mascate, então sob o domínio do reino de Ormuz, por Afonso de Albuquerque, Governador do Estado Português da Índia, comandando uma frota de sete navios e de uma força de quinhentos homens; Brás de Albuquerque descreve a cidade como grande, muito bem povoada, cercada da banda do sertão por serras muito altas e da banda do mar batida pelas águas do mar; era um lugar muito gracioso, de casas muito boas, sendo a cidade de Mascate do reino de Ormuz e o sertão do rei Benjabar; perto tinha poços de água doce, pomares, hortas, palmeiras, com poços para regar, sendo a água tirada por engenho de bois; o porto era pequeno, em ferradura, abrigado dos ventos, sendo uma "escapulo" antiga de carregamento de cavalos e de tâmaras; 1517 - ataque à cidade por Suleiman Pasha; 1526 - submissão de Mascate por Lopo Vaz de Sampaio, Vice-rei da Índia; 1551 / 1552 - conquista de Mascate aos portugueses pelo almirante otomano e cartógrafo Piri Reis, acabando no entanto por abandoná-la; 1552 - melhoramento e modernização da fortificação sob o comando do capitão João de Lisboa; 1552 - melhoramento e modernização da fortificação sob o comando do capitão João de Lisboa; 1559 / 1560, entre - deve ter trabalhado na fortificação o engenheiro Inofre de Carvalho; 1580 - ataque à cidade por Ali Bek; 1588 - alteração da fortificação de Mascate por ordem do vice rei D. Duarte de Meneses e sendo governador Manuel de Sousa Coutinho; o mestre encarregado foi Belchior Calaça que, para o efeito se deslocou de Ormuz; segundo Pedro Dias, a reforma deve ter sido projetada por Giovanni Baptista Cairato; D. Duarte de Meneses manda construir o forte de Mirani, inicialmente denominado de Forte do Almirante ou Forte do Capitão, dado que servia de residência ao capitão da praça, ou Forte Ocidental, sobre uma primitiva fortificação islâmica; por volta desta data procede-se também à construção da capela no interior; 1610 - data numa lápide inscrita assinalando a construção do baluarte da couraça, para reforço da defesa do porto e para evitar o desembarque de pequenos navios; 1612, 26 janeiro - carta régia ordenando a Garcia de Melo que fizesse a couraça e outras coisas necessárias, a que ele deve ter dado início; 1622, 3 maio - após a queda do Forte de Ormuz perante os Persas e seus aliados ingleses, a sua guarnição e a população portuguesa, cerca de 2000 pessoas, são enviadas para Mascate; 1633, 3 agosto - o Conselho do Estado da Índia determina mandar a Mascate o engenheiro Manuel Homem de Pina para melhorar as fortificações, compostas por um sistema complexo; decide-se que o ponto nevrálgico da fortificação seria o forte padrastro do boqueirão, como então era chamado o forte de São João, onde devia ficar a casa do capitão e, por cima dele, se deviam fazer os armazéns para as munições e mantimentos; na couraça que estava na ponta do baluarte de Santo António deveria ser feita outra, da parte de fora, desde o alicerce que já estava feito, ocupando todo o espaço disponível para poder ser dotado de uma bateria, e que se fizesse por dentro do dito forte a serventia para a fortaleza velha, até ao varadouro dos navios; na fortaleza velha devia ser feita, no lugar da cisterna e da ermida, uma esplanada onde fosse colocada a artilharia, fazendo-se parapeitos muito fortes, à prova de tiro inimigo; a serventia, ou caminho, que existia na fortaleza velha para a parte do Levadim, deveria ser desmanchada, tornando-se o local inacessível para impossibilitar o ataque desse lado; no alto, onde ficaria a esplanada, levantar-se-ia um pano de muralha com travesses, ao longo do cume da elevação onde estava assente, de modo a que a comunicação se fizesse pela escada que servia a couraça, e na base desta devia-se fazer uma parede para cobrir a gente que subisse para essa parte da fortaleza; na praia de Mocala far-se-ia uma cisterna suficientemente grande para abastecer em caso de assédio e na serra onde ficavam os lascarins, junto da torre de vigia, entrando pela barra dentro, do lado esquerdo e em frente do forte de Santo António, construir-se-ia outra cisterna, para ser usada no caso da perda da povoação e aí se recolherem os habitantes; 1635, cerca - representação das fortificações de Mascate por António Bocarro; a enseada, rodeada por escarpas agrestes, era defendida por dois bastiões do lado direito e uma torre tradicional do lado oposto; o reduto mais forte ficava no alto, à direita, com quatro baluartes redondos de ângulo e respetivas cortinas; outra cortina continuava pelo alto do morro, até um outro baluarte redondo, novo e mais forte; a praia era fechada por uma cortina e dois meios baluartes, desenvolvendo-se a cidade a partir daí, sendo fechada por uma nova muralha com seis possantes baluartes, sendo os dos extremos mais desenvolvidos do que os outros; quanto ao forte do Almirante, segundo Bocarro junto ao mar e aos pés do forte tinha o baluarte da couraça e deste atingia-se a parte superior da fortificação, por escada de 60 degraus; na praça ficava a cisterna e a capela; da esplanada subia-se a um orelhão onde ficava a casa dos capitães e se pretendia fazer um reduto que ligasse a outro reduto pequeno que dava sobre a povoação; saindo da casa do capitão, descia-se ao revelim, onde estava a porta, que tinha uma prisão escavada na rocha; 1648, agosto - cerco de Mascate pelos árabes; 31 de outubro - celebração de tratado entre os árabes e os portugueses; 1650, 26 janeiro - até à queda da cidade nas mãos dos árabes, Mascate foi um importante entreposto comercial e a principal cidade da costa de Omã; após a captura da cidade, o forte recebe a designação de Al-Mirani, por corruptela de "Almirante"; 1653 - perda definitiva de Mascate por parte dos portugueses; posteriormente, o forte de Al-Mirani foi sendo reconstruído e reforçado, até alcançar a estrutura atual, tendo-lhe sido acrescentada nomeadamente uma plataforma de artilharia; séc. 18 - alteamento da torre do forte; 1983 - demolição total das muralhas portuguesas da cerca que envolviam o primitivo perímetro urbano e construção de novas muralhas; construção da torre no forte Marini junto ao mar para instalação de um elevador.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Bibliografia

DIAS, Pedro, Arte de Portugal no Mundo. África Oriental e Golfo Pérsico, Lisboa, Público - Comunicação Social, S.A., 2008; MATTOSO, Dir. José, África. Mar Vermelho. Golfo Pérsico. Património de Origem Portuguesa no Mundo. Arquitectura e Urbanismo, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010; http://pt.wikipedia.org/wiki/Forte_de_Al-Mirani, março 2012; http://www.nizwa.net/oman/mirani.html, março 2012.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1983 - obras de restauro do forte, integrado num amplo programa de renovação iniciado pelo Sultão Qaboos bin Said Al Said; no interior, parte do forte recebeu algumas comodidades da vida moderna.

Observações

EM ESTUDO. *1 - No forte de Mirani os canhões eram disparados ao amanhecer e ao entardecer, para anunciar a abertura e o fecho dos portões da cidade murada de Mascate. De acordo com a tradição, os seus canhões também saudavam a passagem de navios ou continham as embarcações que tentassem entrar no porto sem permissão.

Autor e Data

Sofia Diniz 2006 / Paula Noé 2012

Actualização

 
 
 
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