Ermida de Nossa Senhora da Nazaré / Igreja de Nossa Senhora da Nazaré / Santuário de Nossa Senhora da Nazaré

IPA.00024267
Angola, Luanda, Luanda, Luanda
 
Ermida construída no séc. 17, de planta retangular composta por nave e capela-mor, flanqueada por corpos alpendrados, o da direita, encimado por dupla sineira, elevada na década de 1960 a igreja paroquial. A fachada principal termina em frontão triangular e é rasgada por portal de verga reta, encimado por lápide inscrita, entre janelas, as inferiores quadrangulares e as superiores de varandim, e ainda por óculo no tímpano. Os corpos laterais apresentam arcos, de volta perfeita sobre pilares possantes, e janelas. No interior, a nave possui silhar de azulejos de albarradas e o arco triunfal, de volta perfeita, sobre pilastras, é ladeado por dois retábulos colaterais de talha, de planta côncava e um eixo, com estrutura barroca e nicho reformado posteriormente, sendo a parede testeira da nave revestida a azulejos barrocos, com cenas da vida de Nossa Senhora da Nazaré. Na capela-mor surgem painéis com representação da batalha de Ãmbuíla, reconstituídos no séc. 20, em estilo neo-rococó, figurando o naufrágio e o milagre que motivou a construção da capela e o salvamento do naufrágio. A própria cabeça do Rei do Congo, Garcia II, capturado naquela batalha, encontra-se enterrada na igreja, tendo sido transladada para o local em procissão solene, depois de uma missa de corpo presente, na Igreja da Misericórdia. O retábulo-mor tem estrutura semelhante aos da nave.
Número IPA Antigo: AO911103000002
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta retangular, composta de nave e capela-mor quadrangular, tendo adossado de ambos os lados corpos retangulares alpendrados e anexos, o da direita encimado por campanário. Volumes escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e de uma nos corpos alpendrados e anexos, rematadas em beirada dupla. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com cunhais, embasamentos e molduras dos vãos sublinhados a bege. Fachada principal virada a NE., com a igreja terminada em frontão triangular, coroado por cruz sobre acrotério e com tímpano vazado por óculo circular. É rasgada por portal de verga reta encimado por cornija, lápide inscrita e cruz latina, ladeada por duas janelas quadrangulares e, superiormente, por duas janelas de varandim, com guardas em ferro. Os corpos alpendrados, sensivelmente recuados, terminam em empena reta, com cornija, sobreposta por platibanda plena, com o cunhal exterior coroado por pináculo piramidal, e são rasgados por arco de volta perfeita e janela quadrangular, moldurada; o da direita é encimado por campanário de duas sineiras, em arco de volta perfeita, sobre pilares, com remate em empena recortada, definida por volutas, e vazada por óculo, albergando sinos. Os corpos possuem dois pisos, sendo o da direita rasgado inferiormente por três arcos de volta perfeita sobre pilares e, superiormente, por igual número de janelas de varandim, com guarda em ferro; o anexo deste mesmo lado é rasgado por janela. A fachada posterior é cega e a capela-mor termina em empena. INTERIOR com pavimento de ladrilho e as paredes da nave rebocadas e pintadas de branco e com azulejos de albarradas formando silhar, terminadas em duplo friso e cornija, sobre o qual assenta a cobertura. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilares, revestido a azulejos azuis e brancos, que revestem igualmente a parede testeira da nave, onde apresentam composição figurativa, com cenas da vida de Nossa Senhora de Nazaré. É ladeado por dois retábulos colaterais, de corpo côncavo e um eixo. A capela-mor apresenta igualmente as paredes revestidas a azulejos, e possui retábulo-mor de corpo côncavo e um eixo, definido por seis colunas torsas, sobre plintos paralelepipédicos, e duas pilastras interiores almofadadas, que se prolongam pelo remate da estrutura em quatro arquivoltas, as exteriores torsas e a interior lisa. A cobertura é em falsa abóbada de berço, de estuque.

Acessos

Luanda, Largo do Ambiente, servido pela Avenida 4 de fevereiro e a Rua Major Kanhangulo

Protecção

Classificado como Monumento Nacional, Estado Português, Portaria n.º 135, Boletim Oficial n.º 26 de 08 julho 1922

Enquadramento

Urbano, isolado, construído inicialmente nos subúrbios da cidade, quase sobre o mar, frente à baía e com a fachada principal virada à chamada estrada marginal de Luanda. Atualmente, insere-se em adro retangular, vedado por gradeamento em ferro assente em murete e ritmado por pilaretes de alvenaria, com a zona frontal contendo placas ajardinadas, pontuadas por palmeiras e delimitadas por muretes, com passeios pavimentados; em frente da fachada principal, ergue-se cruzeiro, de cruz simples sobre soco de planta quadrangular formado por três degraus.

Descrição Complementar

A lápide sobre o portal tem a inscrição: "SENDO GOVERNADOR DESTE REINO ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS EDIFICOU ESTA IGREJA A NOSSA SENHORA DE NAZAREH E NELA FICOU POR JUIZ PERPETUO ANNO 1664". Uma lápide em bronze de um antigo canhão, existente sob a arcada exterior direita, tem a inscrição: "DUX CARMONA / REIPUBLICAE LUSITANIAE / PRAESER / HOC SACELLUM INVISENDO / LUSTRAVIT / DIE i AUGUSTI / MCMXXXVIII". Sob a arcaria exterior esquerda existe campa rasa de uma senhora de Luanda, com a inscrição "AQUI JAZ ANGÉLICA ROSA DA SOLEDADE GAIA, BOA FILHA, BOA ESPOSA E BOA MÃE. NATURAL DA BAÍA. MULHER DE JOAQUIM GONÇALVES DA CRUZ GAIA. FALECEU EM 13 DE JULHO DE 1837". Os retábulos colaterais têm corpo côncavo e um eixo, definido por quatro colunas torsas assentes em plintos paralelepipédicos com florões, e de capitéis coríntios, que se prolongam pelo remate da estrutura em duas arquivoltas com fecho vegetalista. Ao centro possuem nicho, em arco de volta perfeita, com moldura ornada de elementos fitomórficos e albergando imaginária. Os azulejos figurativos da parede testeira representam, sobre o retábulo do lado da Epístola, o milagre de Nossa Senhora da Nazaré, surgindo D. Fuas Roupinho a cavalo sobre o precipício, enquanto um veado cai no abismo e, em frente, surge Nossa Senhora da Nazaré, envolta por glória de anjos.

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial / Religiosa: igreja de peregrinação

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Luanda)

Afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1664 - André Vidal de Negreiros, governador de Angola *1, manda construir a igreja como agradecimento a Deus por ter sobrevivido a um naufrágio, numa viagem do Brasil para Angola, possivelmente a mesma viagem que o leva para assumir as funções de governador naquele território; séc. 17 - criação da Irmandade de Nossa Senhora da Nazaré; segundo Cadornega, a ermida fora construída no local onde se erguia a fortaleza de Santa Cruz, destruída pelos holandeses e pelo tempo; o memo refere quelogo após o funeral solene do rei conguês morto em Ambuíla (29 outubro 1665), o governador manda pintar na capela-mor o milagroso sucesso da vitória daquela batalha; séc. 18 - as pinturas são substituídas por dois painéis de azulejos, azuis e brancos, colocados lateralmente na capela-mor; 1836 - data até à qual se sepultam no cemitério contíguo à capela os indígenas batizados, quer sejam escravos, quer livres; 1869, 31 julho - 01 agosto - reposição da imagem da padroeira para as festas realizadas nestes dias; 02 agosto - entrega da ermida ao jovem e ativo missionário Pe. José Fulgêncio Lapeyre, congregacionista do Espírito Santo, que ali se instala; outubro - abertura da escola e catequese; 1876, até - a ermida serve por alguns anos de paroquial de Nossa Senhora do Cabo, enquanto se restaura da igreja na ilha; 1877, setembro - bispo D. Tomás Gomes de Almeida (1871-1879) propõe ao Governo a criação de uma paróquia independente com sede na capela da Nazaré, o que não tem seguimento; 1886, 24 fevereiro - provisão para nova ereção da Irmandade de Nossa Senhora da Nazaré, pelo bispo D. António Tomás da Silveira Leitão e Casto (1884-1891), a pedido de muitas pessoas da cidade "das mais respeitáveis, distintas e piedosas"; fevereiro - entra em funcionamento uma escola de línguas africanas para aprendizagem dos missionários e formação de catequistas auxiliares das missões, nos anexos da ermida; a iniciativa durará pouco anos; finais - Governo manda proceder a algumas reparações urgentes na ermida e prepará-la para as festas do ressurgimento da Irmandade; 1887, 21 janeiro - Governador-Geral Guilherme Augusto de Brito Capelo aprova os estatutos da Irmandade; 01 e 02 fevereiro - sob a presidência do prelado, fazem-se festas solenes, celebrando a instalação da confraria e a data nacional das armas portuguesas em Ambuíla; transferência da imagem do orago da Igreja do Carmo para a ermida; 1909, março - fortes chuvadas provocam a queda do telhado, ficando danificadas algumas paredes, provocando a queda do antigo teto com forro de bordão de palmeira e deixando inutilizada a residência atrás da igreja; transferência das imagens e alfaias para a igreja do Carmo e suspensão do culto durante as obras; dada a falta de recursos, recorre-se ao bispado e a Irmandade ao Governo pedindo ajuda para as obras; 1910, setembro - só nesta data se iniciam as obras, sendo a igreja coberta por um telhado provisório de zinco, a expensas das Obras Públicas, de modo a evitar a ruína completa; 1935 - só aquando do cruzeiro de férias de membros do Governo português às Colónias é que se procede ao restauro da igreja, com montagem de uma exposição histórica para os visitantes; 1937 - conclusão das obras de restauro da igreja; 1938 - para a visita presidencial, faz-se uma nova exposição; 1939,19 março - reabertura solene da ermida ao culto, presidida pelo bispo diocesano, que restabelece a capelania que sempre tivera, com missa dominical; agosto - segunda visita presidencial à capela no regresso de Moçambique e África do Sul; 1942 - colocação de novo painel de azulejos, executados pela Industria Nacional de Lisboa, com representação de Nossa Senhora da Nazaré, colocado no local do retábulo-mor e para servir como tal; 1957, 18 janeiro - decreto arquiepiscopal eleva a ermida a sede dum vicariato paroquial, desmembrado da paróquia do Carmo; 04 junho - ao passar o 10º aniversário do seu falecimento, o Mons. Manuel Alves da Cunha, que vivera 46 anos em Angola e fora o 1º arcebispo de Luanda, é sepultado definitivamente no túmulo aberto na capela-mor da ermida, diante do altar; 1965, 03 agosto - elevação do vicariato a paróquia e a ermida a igreja paroquial de Nossa Senhora da Nazaré.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria rebocada e pintada; betão; elementos de cantaria; portas e portadas de madeira; grades e guardas de ferro; silhar e revestimento em azulejos azuis e brancos; retábulos de talha; pavimento de ladrilho; cobertura de telha.

Bibliografia

GABRIEL, Manuel Nunes - Padrões da Fé. As Igrejas antigas de Angola. Braga: Arquidiocese de Luanda, 1981.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1869 - obras de reparação da capela, exteriores e interiores, por iniciativa do pároco dos Remédios, de que era filial, o cónego José Maria Fernandes, e do comerciante da praça, Francisco Pereira Cidade, com verbas angariadas por meio de uma subscrição pública que rende cerca de um conto; 1886 - obras de reparação do templo; 1910 - obras de reparação da capela; 1935 / 1936 / 1937 - continuação das obras de restauro do templo com subsídios do Governo; reconstituição dos painéis de azulejos, alguns deles colocados a esmo; para defesa contra as inundações do mar ou provocadas pelas chuvas, desafronta-se o templo do lado da baía; 1938 - para a visita presidencial, substitui-se o telhado por fibro-cimento canelado, pintado de vermelho; colocação de grades de ferro vedando o adro, aproveitadas do antigo quartel de infantaria; 1939 - remoção dos muros que vedavam do recinto do pequeno cemitério contíguo, terraplanagem do largo adjacente, para facilitar as festas populares da noite 28 desse mês, que se realizam na presença do chefe de estado e comitiva; 2000, década - obras de restauro.

Observações

EM ESTUDO. *1 - André Vidal de Negreiros (Capitania da Paraíba, 1606 - Goiana, 3 de fevereiro de 1680), foi militar e governador colonial brasileiro a serviço de Portugal. Devido aos seus feitos, foi sucessivamente nomeado Governador e Capitão-Geral da Capitania do Maranhão (1655-1656), da Capitania de Pernambuco (1657-1661), de Angola (1661-1666), e, novamente Pernambuco (1667). *2 - A denominação da igreja advém do facto de procurar ser uma réplica da Igreja de Nossa Senhora da Nazaré, da praia piscatória de Portugal.

Autor e Data

Manuel Freitas (Contribuinte externo) 2011

Actualização

Paula Noé 2014 / João Almeida (Contribuinte externo) 2018 / João Almeida (Contribuinte externo) 2018
 
 
 
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