Bairro de Casas para Famílias Pobres em Loulé / Bairro Frederico Ulrich / Bairro Municipal

IPA.00024123
Portugal, Faro, Loulé, Loulé (São Clemente)
 
Conjunto arquitetónico residencial unifamiliar. Habitação económica de promoção pública estatal (DGSU) e municipal. Conjunto de Casas para Famílias Pobres de grande dimensão, composto por casas em banda unifamiliares térreas das classes A e B, com logradouro no tardoz e junto à fachada principal, formando quarteirões. Formação urbana estruturada em função da orografia do terreno, da configuração dos limites deste e da orientação solar. A conjugação dos três fatores origina uma implantação linear de unidades habitacionais adossadas e geminadas, com, no mínimo, duas frentes livres opostas (permitindo ventilação transversal), orientadas a NE. (quartos e instalações sanitárias) e SO. (salas e cozinhas). Células de habitação agrupadas por justaposição em volumes de composição tipificada (2 e 4 unidades com variações), repetidos e integralmente envolvidos por logradouros privativos, através dos quais se processam os acessos. Logradouros constituindo recintos contínuos, divididos por vedações em parcelas privativas de cada moradia e delimitados, perimetralmente, pelas vias de trânsito automóvel periféricas e pelos arruamentos pedonais que providenciam o acesso às parcelas privativas. Estrutura viária preconizando a delimitação do trânsito e estacionamento automóvel às vias definidoras do quarteirão, e a dedicação de eixos interiores à circulação pedonal.
Número IPA Antigo: PT050808080058
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico   Edifício  Residencial unifamiliar  Habitação económica  Promoção pública estatal (DGSU) e municipal  Casas para famílias pobres

Descrição

Conjunto de 48 moradias ocupando a parte maior de um quarteirão de perímetro trapezoidal definido pelas ruas Joaquim Rasquinho (E.), Maurício Serafim Monteiro (NE.), João C. Freitas Barros (NO.) e Assis Esperança (S.). A totalidade deste quarteirão era, até 2004, dedicada à implantação das habitações, para tal dividida em 7 faixas dispostas em paralelo à R. Maurício Serafim Monteiro, intercaladas por 6 arruamentos de trânsito pedonal. Com a utilização da primeira faixa do quarteirão, junto àquela via, para construção de edifícios de habitação multifamiliar em andares, a que correspondeu a demolição de duas das 50 casas inicialmente erguidas e do lavadouro público, o conjunto adquiriu a sua delimitação e estrutura actuais: 6 parcelas de terreno ocupadas com casas e respectivos jardins, acessíveis por 6 arruamentos pedonais (2,5m largura). Tais faixas dispõem-se paralelamente às curvas de nível do terreno, o que faz com que as habitações possuam as fachadas principais, que acompanham os lados maiores das faixas, orientadas a NE. e SO. O bairro é um pequeno troço de malha urbana de dominante horizontal, de grande homogeneidade, sem qualquer elemento que se apresente como marcante (formal ou funcionalmente). É constituído por moradias de dois tipos: Tipo A, com 2 quartos, sala, cozinha e instalação sanitária; e Tipo B, com 3 quartos, sala, cozinha e instalação sanitária. Estes tipos são as unidades básicas da composição do conjunto urbano, e o seu agrupamento em subconjuntos de 2 e 4 casas é feito segundo 3 variantes: bloco com duas unidades tipo A geminadas (AA); bloco com 4 unidades tipo B em banda (BBBB); bloco com duas unidades tipo B (centro) e duas unidades tipo A (extremos) em banda (ABBA). A disposição de tais subconjuntos ao longo das 6 faixas em que se divide o terreno depende da extensão total de cada uma, variável em função da posição dos limites E. e S. do lote, não ortogonal às referidas faixas. Assim, e de NE. para SO., temos a primeira faixa ocupada com dois blocos BBBB; a segunda faixa com 3 blocos AA e um bloco BBBB; a terceira faixa, mais extensa, com dois blocos AA e dois blocos BBBB; a quarta faixa com um bloco AA, um bloco BBBB e um bloco ABBA; a quinta faixa com um bloco BBBB e um bloco AA; e a sexta e última faixa, reduzida a um bloco AA. Os blocos descritos são implantados próximo das frentes NE. das faixas, deixando uma maior área de logradouro sobre as frentes SO., e separados entre si pelo espaço, não construído, equivalente a um bloco AA. Tais intervalos são, em regra, desalinhados entre uma faixa e a seguinte, pelo que os enfiamentos visuais respectivos são sucessivamente cortados. A distinção entre os tipos A e B estende-se, para além da variação no programa, à forma como se dispõem os acessos aos fogos, que são, em todos os casos, duplos. Nos fogos do tipo A, a porta principal localiza-se na fachada lateral e a porta secundária coloca em comunicação directa a sala e o jardim, o qual é atravessado por caminho para acesso à casa a partir do arruamento pedonal a SO., com portão próprio. Nos fogos do tipo B, a mesma ligação é assegurada entre sala e jardim e entre este e o arruamento pedonal a SO., mas a porta principal situa-se na fachada NE., e é acessível, por portão, desde o arruamento pedonal correspondente a este quadrante. Os logradouros das habitações são, pois, cruzados pelos caminhos referidos e objecto de utilização muito variada: cultivo de jardins e canteiros; cultivo de hortas; aproveitamento de áreas originariamente livres com construção para ampliação dos fogos (com especial incidência nos lados NE.); ou usufruto eventual sem manutenção aparente, configurando situações que indiciam abandono. Os volumes construídos, de um piso acima do solo, têm extensão variável (pelos motivos expostos) mas caracterização formal constante, no que toca aos traços primitivos e se forem ignoradas as ampliações, correspondentes a intervenções pontuais de carácter informal e não planificado. A profundidade original é de 6,30m, a que se somam os 1,05m de uma varanda sem guarda, do lado SO.; este elemento de transição interior / exterior é alargado em correspondência das portas secundárias das casas, abertas em planos perpendiculares às fachadas mais extensas, formando alpendres; as coberturas são integrais, em um só plano inclinado abrangendo a totalidade do volume e cujo ângulo formado com a linha-de-terra se repercute, girado de 90º, na inclinação dos contrafortes em alvenaria de pedra rústica que assinalam os cunhais das fachadas SO., elementos que encerram lateralmente as varandas mencionadas. O mesmo material (alvenaria de pedra rústica) surge nos pilares que operam a mudança de plano entre as fachadas SO. e as portas secundárias, no troço correspondente aos vãos de janela das salas, bem como nos nembos dos vãos dos quartos das fachadas NE.. Os vãos das salas (SO.) são enquadrados com molduras salientes de tijolo ao cutelo rebocado, enquanto os restantes vãos (quartos, cozinhas, instalações sanitárias) são desprovidos de moldura. As chaminés, geminadas em todos os fogos, são volumes trapezoidais (3 faces verticais e uma oblíqua) em alvenaria com perfurações circulares de pequeno diâmetro. Interiormente, a estrutura funcional varia entre os tipos A e B. No primeiro caso, os dois quartos concentram-se sobre a fachada NE., sendo a face oposta ocupada com cozinha, sala e instalação sanitária. No segundo caso, a fachada NE. recebe dois quartos, o corredor de entrada e a instalação sanitária, enquanto a face oposta serve a cozinha, a sala e o terceiro quarto da casa. Nos dois tipos, as cozinhas são abertas, em um dos lados, sobre as salas, e estas servem como espaços de distribuição para os quartos, visto não existirem corredores.

Acessos

Rua João Crisóstomo Freitas de Barros; Rua Assis Esperança; Rua Joaquim Rasquinho; Rua Dr. Maurício Serafim Monteiro

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano. O bairro situa-se a SE. do núcleo antigo da cidade de Loulé, em área de expansão urbana recente na direcção E., ao longo dos eixos viários de ligação a São Brás de Alportel (EN270 e Rua Frei Joaquim Loulé), correspondente à continuação, na 2.ª metade do séc. 20, do processo de crescimento iniciado com a abertura da Avenida José da Costa Mealha, e preenchimento das zonas envolventes. Implantado em terreno pouco acidentado, com ligeira pendente de sentido NE.-SO., o aglomerado insere-se em tecido urbano ainda pouco consolidado, característico de áreas de transição para a envolvente periurbana, com ocupações de densidade variável, mas geralmente baixa e de função diversificada - habitação multifamiliar em altura, pequena indústria, artesanato e logística, instalações desportivas e antigas terras de cultivo dos arrabaldes, hoje em vias de urbanização. Especificamente, envolvem o bairro, a E., a Urbanização Janelas de Loulé (em construção na antiga Horta José da Luz); a N., a área de habitação multifamiliar em prédios de 3, 4 e 5 pisos estruturada em função da Rua Joaquim Rasquinho, do Largo Bartolomeu Dias, da Rua Diogo Lobo Pereira e da Rua Maurício S. Monteiro; a NO., o complexo desportivo do Estádio Municipal de Loulé e a escola do ensino básico adjacente; e a S., a frente sobre a Rua Assis Esperança, dividida entre instalações semi-industriais erguidas na década de 1930 e 1940 e habitação multifamiliar em altura de construção contemporânea, ainda em curso.

Descrição Complementar

Exemplo da concretização de uma das modalidades estabelecidas pelo Estado Novo para enquadramento social das classes economicamente débeis, visando responder aos então crescentes problemas da pressão demográfica sobre os centros urbanos e da proliferação de soluções espontâneas em autoconstrução (bairros de barracas), o Bairro de Casas para as Classes Pobres de Loulé corporiza tal política conciliando o arquétipo eleito oficialmente para o agrupamento de habitação económica - conjunto de pequenas unidades estruturado à imagem da aldeia tradicional, elevando a matriz rural e os seus conteúdos simbólicos de ordem social e política à categoria de modelo urbano a seguir - com uma feição arquitectónica moderna. Aproveitando as referências regionais e os valores plásticos, geometrizantes e abstractos, da arquitectura popular algarvia, Manuel Laginha e Rogério Martins matizam a caracterização formal convencional deste tipo de intervenção - assente na utilização intensa de elementos decorativos de extracção vernacular (telha, beirado, pedra rústica), pensada para a construção de uma imagem nacional estável - com a aplicação de tais elementos em situações formais actualizadas. Podem ser assim entendidas soluções tais como os contrafortes dos volumes que agrupam unidades habitacionais, nos quais a pedra aparelhada rústica que constitui as paredes da casa é deixada por rebocar e cujo volume paralelipipédico é rampeado em correspondência com a inclinação da cobertura; os restantes troços de parede em que é aplicada solução semelhante (nembos, cunhais), inserida no desenho dos vãos adjacentes e em jogo com as molduras de tijolo a cutelo que enquadram estes; as coberturas, de uma água à maneira regional mas projectadas em consola na fachada SO., na qual se ligam aos contrafortes de igual saliência; as chaminés das casas, depuração do elemento vernacular algarvio; e o recurso aos materiais mais comuns na região - tijoleira, pedra, madeira e caniçado na cobertura (não realizado) -, demonstrando a conveniência de atender às constantes locais, testadas e comprovadas, mesmo em propostas de desenho moderno. No interior da obra arquitectónica e urbanística de Manuel Laginha, o projecto do Bairro de Loulé representa a primeira encomenda pública feita a este arquitecto, e tem a particularidade de ter sido elaborado no âmbito do estágio curricular feito sob a orientação do arquitecto Cottinelli Telmo para finalização do Curso de Arquitectura da Escola de Belas-Artes do Porto (1940-1945). Em 1947, Laginha escolhe este projecto para submeter a Concurso para a Obtenção do Diploma de Arquitecto (CODA), obtendo a classificação final de 18 valores.

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Manuel Maria Cristóvão Laginha, Rogério Buridant de Castro Martins ; ENGENHEIRO: Alberto da Silveira Ramos. CONSTRUÇÃO das casas: José Pires Rico (técnico responsável Mário Lima). URBANIZAÇÃO (projecto de arruamentos, drenagem, arborização): Eng. Téc. Alberto da Silveira Ramos. CONSTRUÇÃO dos acessos, pavimentação e arranjos exteriores: Eng. Aníbal de Brito

Cronologia

1924, 17 setembro - a Câmara Municipal de Loulé, considerando que a propriedade denominada "Horta da Campina", localizada nos subúrbios da vila e pertencente à Marquesa de Pomares, reúne as condições necessárias para nela terem lugar "todos os melhoramentos e serviços que pretende levar a efeito", tais como a instalação de feiras e mercados e a construção de um asilo e de uma escola de artes e ofícios, delibera por unanimidade expropriar, por utilidade pública, aquela propriedade (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé, 1924); 1924, 24 setembro - a Câmara delibera mandar levantar a planta da propriedade da Marquesa de Pomares e organizar o projecto de tais melhoramentos, de forma a submetê-lo à aprovação do Governo (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé, 1924). O projecto não terá sido realizado; 1945, 6 abril - publicação do Decreto-Lei n.º 34486, que estabelece o regime de construção de alojamento destinado a famílias pobres; promovendo o Governo, "num prazo de cinco anos, por intermédio dos corpos Administrativos e das Misericórdias, a construção de 5000 casas (...) nos centros populacionais e ilhas adjacentes (art.º 1.º), (...) construídas em harmonia com os projectos submetidos à aprovação do MOPC, por intermédio da DGSU" (alínea 2. do art.º 1.º); na atribuição das casas, é dada preferência às famílias pobres desalojadas na sequência de demolições relacionadas com os trabalhos de urbanização ou outros de interesse público (alínea 2. do art.º 3.º); 1945, 6 novembro - o Decreto-Lei n.º 35.106 especifica os termos da distribuição e ocupação das casas para famílias pobres, impondo como condição essencial para atribuição a pobreza ou indigência dos agregados familiares e dando preferência aos que fossem desalojados em consequência de demolições necessárias a trabalhos de urbanização ou outros de interesse público. A este grupo juntar-se-á, por força da circular da Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior n.º Z-1/23, Lv.º 1-A, de 25 de Março de 1948, a população que esteja a ocupar "barracas de madeira ou quaisquer casas que ameacem ruína ou cujas condições de salubridade não satisfaçam", as quais deveriam ser demolidas logo após o realojamento dos seus habitantes e mesmo que a sua eliminação não estivesse enquadrada na condição anteriormente prevista, isto é, ser necessária a urbanização ou melhoramento urbano (TRINDADE, 1951); 1947 (atri.) - Manuel Laginha e Rogério Martins adaptam o projecto de um "Grupo de 50 casas para pobres" (elaborado pelo primeiro durante o estágio curricular do Curso de Arquitectura da EBAP e apresentado pelo mesmo, neste ano, ao Concurso para Obtenção do Diploma de Arquitecto), a projecto de execução, por encomenda da Câmara Municipal de Loulé. A primeira versão deste projecto distribui as 50 unidades habitacionais por 3 tipos: 10 casas do tipo A (2 quartos); 36 casas do tipo B (3 quartos) e 4 casas do tipo C (4 quartos). As casas dispõem de apenas um acesso (directo para a sala, na fachada SO.), são dotadas de guardas em madeira nos varandins sobre as salas e de equipamentos expressamente desenhados para o efeito, tais como candeeiros e cata-ventos. Em uma segunda versão do mesmo projecto, os arquitectos procedem a acertos tendentes à redução do custo de construção: eliminam o tipo C, dispensam as guardas dos varandins, substituem todo o cimento armado e revêem os materiais de revestimento a aplicar. As janelas, que na primeira versão eram de uma folha de correr com persiana de correr pelo interior, são substituídas, na segunda versão, por janelas de duas folhas de abrir com portadas exteriores de duas folhas de abrir (ML NP 882.DGEMN); 1947, 8 Jan. - a DGSU solicita à Câmara Municipal de Loulé o envio da planta dos terrenos nos quais se pretende edificar "os bairros das casas para pobres". A edilidade, de modo a poder pronunciar-se quanto à localização do segundo bairro de 50 casas então previsto, decide vistoriar alguns dos terrenos indicados para tal (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé, 1947). Trata-se, presumivelmente, do bairro projectado por Manuel Laginha e Rogério Martins; 1947, 4 Ago. - data do orçamento para a empreitada de construção de 50 casas para pobres (ass. Alberto da Silveira Ramos), das quais 20 do "Tipo A" (2 quartos) e 30 do "Tipo B" (3 quartos), dividido em mapas designados "I - Orçamento de uma habitação tipo A" (23.875$69), "II - Orçamento de uma habitação tipo B" (28.261$07) e "III - Medição conjunta do Bairro" (mapa que inclui os orçamentos anteriores e os trabalhos a considerar para além dos respeitantes a cada tipo de habitação, tais como contrafortes e socos em alvenaria de pedra rústica e diversos - cata-ventos, ligações dos esgotos, etc.). A um total orçamentado para a obra de 1.321.047$92, corresponde 39.631$43 para o projecto (3%), perfazendo a despesa total de 1.360.679$35, isto é, um custo médio por habitação de 26.420$96; 1947, 24 novembro. - data do caderno de encargos para a empreitada de construção do "Grupo de 50 Casas para Pobres" (ass. Alberto da Silveira Ramos) e de um "orçamento rectificado" resultante de alterações ao projecto entretanto efectuadas (eliminação de candeeiros de entrada; substituição dos artigos "Barrotado e caniçado" e "Aplicação de carbonil no vigamento" pelos artigos "Barrotado com paus de secção circular diâmetro 0,10m, afeiçoados superiormente, e respectivo caniçado assente" e "Argamassa de areia fina em tectos"; e substituição das "Janelas de 0,70 x 0,85" (22) e de "1,30 x 1,30" (23) por 23 "Janelas tipo II" e 22 "Janelas tipo III"). Tais alterações traduzem-se na subida do valor do orçamento, que passa a 1.371.968$18, e do preço unitário por habitação, que passa a 26.640$51 (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.001 1947-1948 Vol.1); 1947, 31 Dez. - anúncio do concurso público da "Empreitada de Construção de um Grupo de 50 Casas para Pobres", deliberado em reunião da Câmara Municipal de Loulé da mesma data. As propostas a concurso serão abertas em reunião da Câmara de 21 Jan. 1948, para uma empreitada com base de licitação de 1.300.000$00, descrita no caderno de encargos e peças escritas e desenhadas constantes do processo, e cuja conclusão está prevista para 10 Nov. 1948. Na mesma reunião, a Câmara delibera dar plenos poderes ao presidente para "depois da apresentação do estudo dos técnicos elaborar a informação da Câmara e submeter à aprovação da DGSU, todo o processo"; 1948, 26 janeiro - declaração do parecer da CML sobre a proposta vencedora. A Câmara considera de aceitar a proposta de José Pires Rico, aquela que apresenta o valor mais baixo (1.209.500$00) dentro das condições da empreitada; 1948, 18 fevereiro - em reunião de câmara, é apreciado um ofício da DGSU comunicando que concorda com a adjudicação da empreitada ao concorrente José Pires Rico, e é deliberado adjudicar a este a construção de "50 casas para pobres na Vila de Loulé", bem como conferir poderes ao presidente para assinar e outorgar a respectiva escritura (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.001 1947-1948 Vol.1); 1948, 5 junho - o periódico "Voz de Loulé" anuncia a construção de "50 habitações integradas no plano geral de construções de casas para pobres", segundo projecto do "jovem arquitecto louletano Manuel Laginha" que "serviu para prova de tese da sua recente formatura na Escola de Belas Artes do Porto e constitui uma feliz conciliação dos novos e sãos princípios de arquitectura racional com o programa estabelecido pela Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, valendo-lhe por isso alta classificação"; 1948, 30 junho - escritura do contrato de empreitada, que é acompanhado do caderno de encargos, do orçamento da empreitada e do orçamento rectificado; 1948, 1 Set. - o responsável técnico da obra (Mário Lima) apresenta proposta de alteração à constituição das coberturas, através da substituição da cobertura em barrotes de madeira e telhado por uma placa de betão armado "com tijolo isolador do tipo n.º 1" (abobadilha cerâmica) e viga de bordadura, rebocada superiormente com cimento hidrofugado (para melhorar a estanqueidade) e rebocada e acabada como previsto na face inferior (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.001 1947-1948 Vol.1). A proposta é submetida a reunião da Câmara a 8 Set. (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé, 1948); 1949, Jun. - data da memória descritiva e justificativa do projecto de urbanização do bairro para classes pobres de Loulé (ass. Alberto da Silveira Ramos), na qual se defende o elevado orçamento previsto com argumentos tais como "a grande extensão dos arruamentos do Bairro e respectivos acessos, a rede de esgotos de sistema separativo segundo imposição legal e circunstâncias locais [sistema de recolha separada de esgotos pluviais e domésticos que a vila tinha já generalizado e que obrigava a uma ligação mais longa para o lançamento das águas residuais domésticas] e, finalmente, os pavimentos que necessitam ser de tipo aperfeiçoado". O orçamento excedia os limites impostos pela DGSU para a comparticipação total do Estado na obra, pelo que o projecto foi desdobrado em dois - um para a urbanização (projecto A) e outro para os acessos (projecto B) - mas porque, mesmo assim, o primeiro excedia os limites, foram excluídas todas as obras que podem ser executadas em um segundo momento e agrupadas em orçamento complementar. O processo referente aos trabalhos de urbanização, constituído por programa de concurso (com base de licitação de 279.188$00), condições especiais do caderno de encargos e condições especificas e medições - divididas em terraplanagens, arruamentos, rede de esgotos e distribuição de águas -, preços simples e compostos e orçamento, dá entrada na Direcção de Urbanização de Faro em 16 Ago. 1949. Os blocos de moradias já se encontram, nesta data, construídos (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.002 1949-1950); 1949, 31 Ago. - apresentadas à Câmara as propostas de adjudicação da empreitada de pintura dos vãos exteriores do Bairro dos Pobres (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé); 1952, janeiro - data da memória justificativa (ass. Alberto da Silveira Ramos) do processo apresentado à DGSU para comparticipação do Estado na obra dos acessos. Refere-se que, com excepção dos trabalhos de pavimentação betuminosa e plantações (que aguardam condições de tempo apropriadas), estão concluídos os trabalhos de urbanização mas que, porque a Câmara Municipal de Loulé não dispõe de fundos para suportar a despesa e o Estado ainda não comparticipou nesta, os acessos ao bairro constantes do projecto estão por executar, pelo que o bairro está ainda isolado da vila (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.002 1952 Vol. 1); 1952, 25 Mai. - inauguração do bairro, com a presença do Ministro das Finanças Artur Águedo de Oliveira. O bairro, construído pela Câmara Municipal de Loulé com comparticipação do Estado, atingiu o custo, até 31 Dez. 1952, de 1.778.149$40. Uma vez terminada a obra, a Câmara delibera atribuir ao conjunto a designação oficial de Bairro Frederico Ulrich, em homenagem ao Ministro das Obras Públicas então em funções (Relatório Gerência CMLoulé, 1952); 1952, 7 outubro - a câmara estabelece que as casas do Bairro Frederico Ulrich podem ser cedidas a pessoas que tenham um vencimento, salário ou rendimento, não superior a 1300$00 mensais, e que terão sempre direito de preferência os mais pobres (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé); 1953, 20 outubro - é decidida pela Câmara a execução de tapetes betuminosos nas ruas de acesso ao Bairro Frederico Ulrich (Livro do Senado da Câmara Municipal de Loulé, 1952); 1981, 28 Abr. - a Câmara Municipal de Loulé delibera incumbir o Serviço de Apoio à Habitação de proceder ao levantamento das condições em que se encontra o Bairro Municipal, "dada a situação estranha e incontrolada por parte destes Serviços (...) sendo certo que não corresponde praticamente nenhum nome oficialmente tido como ocupante das casas ao nome do efectivo ocupante hoje em dia", razão por que se propõe que "a possibilidade de utilização das casas do Bairro Operário volte ao seu espírito inicial" e que a Câmara seja informada de cada vez que uma casa fique vaga de modo a poder redistribuí-la em coerência com tal espírito. Desta decisão resulta o "Inquérito ao Bairro Municipal em Loulé", no qual se refere que, das 50 casas existentes, 12 não comportam os agregados familiares que as ocupam, pelo que foram objecto de ampliação, com alteração ao projecto original, e que o conjunto sofre de acentuada degradação, com má aparência exterior e completo abandono dos jardins (CMLoulé, 1981)

Dados Técnicos

Casas com estrutura autoportante de paredes maciças resistentes em alvenaria de pedra rústica (contrafortes e socos), de alvenaria ordinária, de barro e de tijolo furado, sobre fundações em alvenaria ordinária. Cobertura em laje aligeirada (vigotas de betão pré-esforçado, abobadilhas cerâmicas, viga de bordadura)

Materiais

Casas com paredes exteriores rebocadas e caiadas de branco, excepto nos contrafortes, socos, vértices interiores das fachadas SO. e nembos dos vãos das fachadas NE., em alvenaria de pedra (calcário) aparelhada rústica; molduras de janelas e portas exteriores em tijolo rebocado e caiado; degraus, soleiras e bordaduras de vãos em pedra (calcário) aparelhada à bujarda; pavimentos interiores em argamassa de cimento corada e esquartelada, ladrilho de barro com rodapés em cimento e tijoleira industrial (tipo "S. Paulo"); cobertura em betão e elementos cerâmicos, exteriormente revestida a tela asfáltica auto-protegida; chaminés em alvenaria de tijolo rebocada e caiada; janelas com caixilharia de abrir em madeira envernizada, portas exteriores e interiores e portadas interiores em madeira envernizada; gradeamentos exteriores e portões em ferro

Bibliografia

BAPTISTA, Luís Vicente - Cidade e Habitação Social. O Estado Novo e o Programa das Casas Económicas. Oeiras: Celta, 1999; Inquérito ao Bairro Municipal em Loulé. Câmara Municipal de Loulé, s.d. [1982]; Loulé, Terra Progressiva. Voz de Loulé, 5 junho 1948; Mais Melhoramentos, Mais Trabalho, 1928-1953, Vinte e Cinco de Valorização Regional. Lisboa: Ministério da Obras Públicas, Comissariado do Desemprego, 1953, vol. I; Quinze Anos de Obras Públicas, 1932-1947, Exposição e Congressos de Engenharia e de Arquitectura. Lisboa, 1949, 2.º volume, pp. 148-153; TRINDADE, Cachulo da - Casas Económicas. Casas de Renda Económica, Casas de Renda Limitada e Casas para Famílias Pobres. Legislação Anotada. Coimbra: Coimbra Editora Limitada, 1951.

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID/Arquivo Pessoal de Manuel Laginha (ML NP 882); CMLoulé : Arquivo Municipal, (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.001 1947-1948 Vol.1, CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.002 1949-1950, CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç002 1952 Vol.1)

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID/Arquivo Pessoal do Arquitecto Manuel Laginha (ML NP 98, NP 975, 977); CMLoulé (reportagem fotográfica "Inauguração do Bairro Operário" 26/05/1952)

Documentação Administrativa

CMLoulé (Livro do Senado); CMLoulé: Arquivo Municipal (CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.001 1947-1948 Vol.1, CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç.002 1949-1950, CMLLE/DIOP/023/Proc.U.B.C.P./Mç002 1952 Vol.1); CMLoulé (Relatório da Gerência da Câmara Municipal de Loulé relativo ao ano de 1952)

Intervenção Realizada

CMLoulé: 1990 - instalação de rede de água quente sanitária em cada fogo; 2002 - pavimentação dos passeios e arruamentos pedonais com calçada de cubos de vidraço; 2004 - impermeabilização das coberturas de todos os fogos; 2006, janeiro - construção, no limite NE. do terreno ocupado pelo bairro, de um edifício para habitação social com 4 pisos, que implicou a demolição de duas casas (do "Tipo A", antigos números 1 e 2) e do lavadouro público do bairro.

Observações

*1 - a Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização (DGSU) foi criada pelo Decreto-Lei n.º 34.337, de 27 de Dezembro de 1944 *2 - a consulta aos arquivos da Câmara Municipal de Loulé contou com a colaboração do Arq. Carlos Pinto

Autor e Data

Ricardo Agarez 2005

Actualização

Anouk Costa 2014
 
 
 
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