Edifício da Assembleia Valenciana / Arquivo Municipal de Valença
| IPA.00023836 |
Portugal, Viana do Castelo, Valença, União das freguesias de Valença, Cristelo Covo e Arão |
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Arquitectura cultural e recreativa, oitocentista. Grémio literário de planta rectangular composta por dois corpos, volumetricamente escalonados, interiormente bastante iluminado e com tectos de estuque. Fachadas de dois pisos, separados por friso, com pilastras toscanas nos cunhais e terminadas em friso e cornija. Fachada principal de três panos marcados unicamente ao nível do andar nobre por pilastras toscanas, rasgada regularmente por vãos rectilíneos, abrindo-se no primeiro duas janelas de peitoril enquadrando quatro portas, com molduras terminadas em pequenas cornijas, e no segundo piso duas janelas de sacada em cada um dos panos, nos laterais de sacada comum, com guarda de ferro e terminadas em friso e cornija. Fachada lateral e posterior rasgada por janelas de peitoril rectilíneas, na primeira inferiormente terminadas em gotas e na segunda em brincos rectos. Vestíbulo com escada de três lanços e dois braços divergentes, o primeiro lanço comum e com pilares volutados suportando urnas, de acesso ao andar nobre. |
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Número IPA Antigo: PT011608150125 |
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Registo visualizado 115 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Cultural e recreativo Associação cultural e recreativa
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Descrição
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Planta rectangular composta por dois corpos rectangulares, com massa disposta na horizontal, volumes escalonados e coberturas diferenciadas em quatro águas, integrando o corpo posterior águas-furtadas rectangulares, dispostas perpendicularmente, de modo sobrelevado e com cobertura em telhado de quatro águas. Fachadas em cantaria de granito, rebocadas e pintadas, percorridas por embasamento de cantaria e com pilastras toscanas nos cunhais. Fachada principal virada a O., de dois pisos separados por alto friso de cantaria e três panos definidos por pilastras apenas ao nível do segundo piso, rematadas inferiormente por gotas, terminada em friso e cornija sobreposta por beiral e rasgada por vãos rectilíneos sobrepostos e com molduras de cantaria terminadas em pequenas cornijas; no primeiro piso rasgam-se, nos extremos, duas janelas de peitoril com gotas na moldura inferior, com caixilharia de guilhotina, enquadrando quatro portas de verga recta; no segundo piso rasga-se no pano central duas janelas de sacada, assentes em cornija, com guarda de ferro de motivos lanceolados e fitomórficos ao centro, e terminadas em friso alto, lateralmente curvo, e cornija recta; ao centro possui brasão; nos panos laterais abrem-se duas janelas de sacada comum, com guarda e remate igual. Fachada lateral direita de acentuado declive e revelando o escalonamento dos dois corpos, o posterior acentuadamente mais elevado; o pano esquerdo é rasgado no primeiro piso por porta de verga recta e janela de peitoril com gotas, ambos com molduras terminadas em pequena cornija e no segundo piso, por duas janelas de peitoril iguais, mas com caixilharia de guilhotina. O pano da direita possui três pisos, o primeiro com alto embasamento de cantaria e rasgado por duas janelas rectangulares jacentes, gradeadas, e o segundo e o terceiro, separados por friso, com duas janelas de peitoril, com gotas e molduras terminadas em pequena cornija, tendo as do último piso caixilharia de guilhotina. Fachada posterior de dois pisos separados por friso e terminada em friso e cornija, rasgada no primeiro por porta de verga recta e bandeira facetada, descentrada, e cinco janelas de peitoril com molduras formando brincos rectos, e no segundo, por seis janelas de peitoril, sobrepostas, com brincos rectos e cantos superiores curvos, todas com caixilharia de guilhotina; da cobertura avança água-furtada revestida a chapa metálica pintada de vermelho, rasgada frontalmente por seis janelas de peitoril, igualmente com caixilharia de guilhotina. Sensivelmente a meio da fachada lateral esquerda, ergue-se sobre a cobertura chaminé rectangular. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de várias cores. Ao centro do primeiro piso, organiza-se o vestíbulo, rectangular, com pavimento em lajes de granito e tecto de estuque formando grandes caixotões; ao centro desenvolve-se a escada de acesso ao andar superior, de três lanços e dois braços divergentes, o primeiro lanço comum, em cantaria e tendo no arranque pilares frontalmente volutados, suportando urnas e com guarda em balaustrada de madeira, e o segundo braço encoberto pela caixa das escadas, com guarda igual; de cada lado do vestíbulo rasga-se uma porta com moldura de madeira e bandeira envidraçada de ligação a uma sala. Ao nível do segundo piso, a caixa das escadas é iluminada por bomba, terminada em arco, moldurada, tendo inferiormente lápide inscrita com "1851 - 1951 1º CENTENÁRIO DA ASSEMBLEIA VALENCIANA"; nos topos dos lanços de escada surge porta de madeira, com "vigias" ovais envidraçadas, molduradas a madeira e com bandeira envidraçada, de distribuição às salas, quer do corpo frontal, quer do posterior. Estas, têm pavimento em tabuado de madeira, rodapé de madeira e tectos de estuque. No corpo frontal, desenvolve-se amplo salão, com tecto de estuque decorado com losangos concêntricos, conservando ainda algum mobiliário. No corpo posterior, possui paralelo à escada, corredor largo com portas envidraçadas de vidros coloridos verdes e beges de distribuição para três salas e para as escadas de acesso ao piso superior; virada à fachada posterior, fica a sala de bilhar, tendo num dos topos amplo armário de madeira e no oposto vão em arco abatido, de comunicação a pequena sala com lareira central. No terceiro piso, no ângulo NE., desenvolve-se perpendicularmente cozinha com grande chaminé em alvenaria de pedra aparente, assente em consolas, seguida de escada de acesso às àguas-furtadas e sala, pintada a rosa, com pequena lareira adossada a uma das paredes e com boca de cena, em arco abatido, revestido a madeira e fecho volutado, onde se faziam as representações teatrais, actualmente cerrado; no corredor, do lado oposto desta sala, existe pequeno cubículo que funcionava como bilheteira, com vão rectangular envidraçado e molduras de madeira. |
Acessos
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Valença, Rua Mouzinho de Albuquerque (antiga Rua Direita) n.º 127 a 133. WGS84 (graus décimais) lat.: 42,032148; long.: -8,645316 |
Protecção
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Incluído na Zona Especial de Protecção das Fortificações da Praça de Valença do Minho (v. PT011608150003) |
Enquadramento
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Urbano, no interior da Praça de Valença, integrado no núcleo medieval da vila envolvido pela muralha, disposto de gaveto junto a vias públicas, adaptado ao declive do terreno. A fachada principal vira-se para a principal rua da urbe, a antiga R. Direita, erguendo-se frontalmente o edifício da Escola Primária José Rodrigues (v. PT011608150136). À fachada lateral esquerda adossa-se casa de interesse arquitectónico e nas imediações a Igreja Matriz (v. PT011608150021), a Igreja da Misericórdia (v. PT011608150027) e a antiga Cadeia (v. PT011608150045). |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Cultural e recreativa: associação cultural e recreativa |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: arquivo |
Propriedade
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Pública: municipal |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1851 - Alvará da fundação da Assembleia Valenciana, por José Augusto da Silva, bacharel, formado em direito, do conselho de sua Magestade, Comendador da Ordem de Cristo e Governador Civil substituto do distrito; foi pago de direitos de mercê e adicionais 16$502 rs; Abril - inauguração da Assembleia Valenciana numa casa baixa *1; a despesa mensal orçava em cerca de três cruzados novos, incluindo a renda da casa; 11 Abril - aprovação dos Estatutos, que tinham por objectivo "promover a civilização, facilitando a instrução, a convivência e o trato civil por meio da leitura; 1855, Fevereiro - delibera-se fazer um novo gabinete de leitura na antiga sala de entrada, com duas janelas para a rua e duas portas para o interior; 1867, 8 Fevereiro - passou a colocar-se na mesa do Gabinete de leitura um livro para se registar os nomes dos hóspedes apresentados pelos sócios, bem como o dia e o ano das suas apresentações; 1886, 10 Outubro - inauguração da biblioteca com 512 volumes oferecidos por diversas pessoas, sendo o seu grande impulsionador Ilídio Augusto Barbosa Dias; 1888 - inauguração da Assembleia Valenciana, assinalando o evento com a edição de folheto "Fiat Lux", no qual constavam todas as obras existentes na época; 1899 - a sua biblioteca possuía 4342 volumes, dos quais cedeu 164 à Biblioteca de Riba d'Âncora, à Assembleia Recreativa de Valença e à Corporação dos Oficiais Inferiores da Guarnição de Valença; foi admitida a proposta da instituição de uma biblioteca pública com base na da Assembleia Valenciana, como forma de poder ser substituída pela Câmara Municipal, mas não foi aceite pelo Município; 1891, 12 e 13 Abril - aprovação dos primeiros Estatutos; 1892 - publicação dos Estatutos; séc. 19 - aquando da sua deslocação a Santiago de Compostela, Alexandre Herculano, visitou as instalações da Assembleia Valenciana; 1910, Dezembro - a Assembleia Valenciana abriu pela segunda vez naquele Inverno as suas salas para reuniões familiares; 1912, Fevereiro - a Assembleia, presidida pelo Dr. José Augusto Soares, comprou o palacete na R. Direita pertencente ao Conde de Santa Maria e anteriormente à família Palha Branco, onde estava instalada, por 3 contos de reis; a aquisição só foi possível devido ao plano do presidente e Justino Guerreiro, coadjuvados por Domingos Vaz Ribeiro, que para tal fizeram a emissão de acções no valor de 10$000 rs cada; mais de metade do capital foi subscrito por sócios residentes em Valença, destacando-se o benemérito Domingos Vaz Ribeiro, subscritor de 20 acções e doador de mais 1000$000 rs, e o capitalista José Joaquim Rodrigues, de São Julião, subscritor de 10 acções; 11 Abril - assinatura da escritura de compra, por 3.000$000 rs, além dos direitos de transmissão que ascenderam a 243$100 rs; dado que a verba exigida ainda não tinha sido conseguida pelos meios previstos, Domingos Vaz Ribeiro adiantou um conto de reis, que a Assembleia iria amortizar à medida que ia recebendo dos subscritores; naquele dia o edifício foi engalanado e a meio da varando foi colocado uma tira de pano vermelho com a inscrição A.V. II-4º - 1851 - 1912, correspondendo à data de fundação e da compra da casa; 1920, Abril - comemoração do 38º aniversário da fundação da Assembleia nas instalações do palacete do conde de Santa Maria; Junho - arrendamento dos altos da Assembleia à Guarda Republicana por 7$00 mensais; 1929, Abril - comemoração dos 79º anos da Assembleia Valenciana homenageando a memória de dois valencianos: Ilídio Dias e Dr. José Soares, tendo sido descerrados durante a cerimónia dois retratos dos homenageados; 1949, Fevereiro - a Assembleia Valenciana solicitou um aumento para 200$00 da renda do 2º piso do prédio onde a colectividade tinha a sede e onde funcionava a secretaria judicial; aumento das quotas dos sócios para 15$00; 2002, 5 Outubro - os sócios da Assembleia Valenciana, reunidos em assembleia geral, deliberaram, por unanimidade, dissolver a instituição e, em consequência, doar os seus bens - edifício, móveis e biblioteca - ao município. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura rebocada e pintada; pilastras, molduras dos vãos, embasamento, frisos, cornijas e outros elementos em cantaria de granito; brasão em mármore; portas e caixilharia de madeira; guardas e grades em ferro; vidros simples e martelados coloridos; pavimento em lajes de granito e madeira; tectos de estuque; cobertura de telha; revestimento da água-furtada em chapa. |
Bibliografia
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ROCHA, J. Marques, Valença, Porto, 1991; NEVES, Manuel, Augusto Pinto, Valença. Das origens aos nossos dias, Valença, 1997; FERNANDES, Ana Peixoto, Biblioteca de Valença integra 5000 novos livros antigos, Público (Minho), 1 Fevereiro 2003, p. 53; IDEM, O adeus da Assembleia Valenciana, Público (Minho), 3 Fevereiro 2003, p. 52; ROCHA, J. Marques, Valença entre a História e o Sonho, Valença, 2003. |
Documentação Gráfica
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DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN; CMValença |
Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN:DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
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DGPC: DGEMN:DSID; CMValença |
Intervenção Realizada
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CMValença: 2006 - Conservação das coberturas e paramentos exteriores, com projecto da Direcção Regional de Edifícios e Monumentos Nacionais e sendo Eng. Augusto de Oliveira Ferreira & CA, Ldª (obra orçada em 153.939.24 € e com término previsto para 13 Novembro 2006). |
Observações
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*1 - A Assembleia Valenciana esteve instalada em três edifícios na R. Direita, actual Mouzinho de Albuquerque: o primeiro pertencente à família Falcão, o segundo pertencente a António José Fragoso, um dos fundadores da Assembleia, e o terceiro e último correspondente ao palacete de José Pereira Palha Branco, que começou por o alugar por $150 rs. *2 - A Assembleia Valenciana possuía a modalidade de sócios ordinários, mensais e extraordinários. Havia ainda os sócios menores, ou seja, os irmãos, filhos ou tutelados de quaisquer sócios da Assembleia, com mais de 16 anos e menos de 21. *3 - A frequência ao gabinete de leitura era limitada aos sócios, mas também podiam aceder pessoas de confiança destes que estivessem de passagem, os quais eram designados de sócios extraordinários. *4 - Entre as personalidades e instituições que ofereceram livros para a biblioteca da Assembleia Valenciana destacam-se: o Dr. José Maria Rodrigues, José Maria Veríssimo de Moraes, Bulhão Pato, o Dr. Tito Fontes, o Visconde de Feitosa, o Atheneu Comercial do Porto, a Biblioteca Nacional de Lisboa, a Direcção do Palácio de Cristal Portuense, o Ministério do Reino e a Sociedade Alexandre Herculano. As edições mais antigas datam do séc. 17 e 18 e as mais recentes do 19 e 20. As grandes áreas de classificação das obras agrupavam-se em: ciências exactas; matemáticas puras; matemáticas aplicadas; ciências filosóficas e sociais; ciências históricas e geográficas; literatura e poligrafia; literatura didáctica (linguística, filologia, história da literatura, dicionários e gramáticas); literatura inventiva (poesia, romances, contos e crítica literária). Entre as publicações periódicas, destacava-se a Ilustração Espanhola, o Diário Ilustrado, o Noticioso, o Comércio Português, o Dia e o Diário do Governo. Ao todo, a biblioteca contava com cerca de 5000 livros. O seu antigo arquivo integrou o Arquivo Municipal e os livros foram transferidos para a Biblioteca Municipal. |
Autor e Data
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Paula Noé 2006 |
Actualização
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