Solar dos Pimentéis

IPA.00002362
Portugal, Bragança, Torre de Moncorvo, Torre de Moncorvo
 
Casa unifamiliar barroca, de planta rectangular com duas alas adossadas perpendicularmente à fachada posterior. Fachada principal, de dois pisos e dois panos definidos por pilastras toscanas, terminadas em friso e cornija e regularmente rasgada por vãos sobrepostos de verga abatida, tendo no primeiro piso portais e uma janela de peitoril e no segundo janelas de peitoril, com molduras recortadas, encimadas por cornija contracurvada sobreposta por concha, orelhas laterais e avental recortado com volutas. No interior, vestíbulo com escadaria de acesso ao piso superior, onde as várias salas, têm tectos de estuque, com decoração neoclássica. Palácio com fachada principal formando ângulo, adaptando-se ao perfil do quarteirão e de dois panos, um deles menor, com o mesmo tipo de decoração barroca a envolver os vãos. O pano maior, o principal, tinha inicialmente uma janela de peitoril a cada extremo, tendo a do lado esquerdo sido transformada já no séc. 20 em portal. As mansardas e clarabóia deverão datar do séc. 19, período em que se executaram também os tectos de estuque, do andar nobre. Segundo Liliana Pereira, o estucador terá sido possivelmente um mestre de Afife, uma vez que grande parte dos estucadores portugueses da época vêem da escola de Afife e existem registos documentados de obra de alguns deles na região de Moncorvo. O mesmo sucede no que respeita aos colaboradores (caiador) da obra, que Liliana Pereira nomeia com base em outras obras realizadas na mesma época e local *2. A decoração interior neoclássica, de finais de setecentos / início de oitocentos, caracteriza-se pela racionalidade e a contenção dos elementos decorativos, surgindo motivos do estilo Adam. A iconografia das quatro estações está também presente noutros solares da vila de Torre de Moncorvo como o Solar dos Doutel (v. PT010409160008), o Solar dos Tenreiros e a Casa do Morgado do Sr. Leopoldo Henriques.
Número IPA Antigo: PT010409160020
 
Registo visualizado 934 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa    

Descrição

Planta composta por corpo principal rectangular, formando vértice na fachada principal, e duas alas, também rectangulares, adossadas perpendicularmente na fachada posterior. Volumes articulados desenvolvidos horizontalmente, com coberturas diferenciadas em telhados de duas e quatro águas, em telha de canudo, tendo o corpo principal duas águas-furtadas rectangulares, com telhados de três águas e clarabóia. Fachada principal virada a NO., em alvenaria rebocada e pintada de branco, de dois pisos e dois panos, definidos por pilastras toscanas, que também surgem nos cunhais, percorridos por embasamento de cantaria, e terminadas em friso e cornija sobreposta por beiral. É rasgada regularmente por um módulo de quatro e seis vãos, sobrepostos, de verga abatida; no primeiro piso abrem-se num esquema de a b b a / a b b b b c, correspondendo o a) a porta de 0.9 m de largura, o b) a porta de 1.3 m de largura e o c) a janela de peitoril, todas com molduras de cantaria, com orelhas volutadas recortadas lateralmente e rematada por cornija contracurvada sobreposta por concha central, tendo a janela de peitoril avental, igualmente recortado. No segundo piso abrem-se janelas de peitoril, com caixilharia de guilhotina, de avental recortado de volutas e com molduras superiores iguais às do piso inferior. A E. possui pano de construção posterior *1, rasgado no primeiro piso por porta de verga recta e no segundo por janela de peitoril e caixilharia de guilhotina, de moldura simples. As águas-furtadas têm cada uma, três janelas de peitoril, duas na fachada principal e uma na lateral interior. As clarabóias são, uma circular, com ponto de luz no topo, através de vidro octogonal e a outra quadrangular, com o mesmo tipo de ponto de luz. Fachada posterior irregular e muito alterada, rasgada por vãos rectilíneos diferentes, dando acesso ao jardim, com cota de implantação ao nível do 2º piso, posteriormente fechado pela construção a SE. de diversas construções de pouco mérito. O acesso principal ao interior faz-se pela segunda porta da fachada, a contar da direita. No INTERIOR, o primeiro piso, utilizado inicialmente para serviços e arrecadação, possui vestíbulo com escadaria em granito, de dois lanços, de acesso ao segundo piso. Neste, destaca-se: a sala da música com tecto de estuque octogonal, assente sobre trompas, tendo cada um dos panos, medalhão circular, com motivos alusivos às quatro estações, intercalados por cenas marítimo-fluviais, tendo nos cantos motivos musicais e ao centro decoração vegetalista; um salão, com tecto em falsa abóbada de aresta, de estuque, decorado com motivos fitomorficos, o qual comunica com o jardim; e um quarto com tecto igualmente estucado em forma octogonal.

Acessos

Largo General Claudino nº 6 a 10, Rua Manuel Seixas nº 2 a 10

Protecção

Em estudo / Incluído na Zona de Protecção da Igreja Paroquial de Torre de Moncorvo (v. PT010409160001)

Enquadramento

Urbano, flanqueado, formando frente de rua, localizado no centro da vila renascentista, junto à Igreja Matriz (v. PT010409160001), desenvolvendo-se fronteiro pequeno largo pavimentado a paralelepípedos. Tem adossado à fachada lateral esquerda a Casa da Avó (v. PT010409160039) e na fachada posterior possui um pequeno jardim com fonte em pedra.

Descrição Complementar

A sala de música tem os motivos alusivos às quatro estações e as paisagens marítimo-fluviais, pintadas a óleo, em medalhões circulares com moldura de friso simples e em corda, e os instrumentos musicais, nas trompas de ângulos, em estuque, envolvidos por motivos vegetalistas e representam grupos de dois instrumentos entrelaçados (à excepção de um ângulo que apresenta apenas um instrumento), e em redor dos mesmos desenvolve-se decoração vegetalista com folhagens e flores em espirais, sendo os instrumentos: uma guitarra portuguesa, de corpo piriforme, entrelaçada com lira; uma rabeca chuleira e um bouquet em vaso de flores, uma palheta terminando em forma de campânula, justaposta com corneta e, por último, uma trombeta entrelaçada com trompa; as quatro estações são representadas por quatro figuras humanas, do tipo camafeus clássicos, sobre fundo negro pintado: a Primavera, surge como uma figura feminina, vestida com capa de golas múltiplas, assertoada ao centro e ostentando na cabeça flores; o Outono, representado da mesma forma, ostenta na cabeça parras de uvas; o Verão e o Inverno apresentam-se como dois anjos com capas, de cabelos encaracolados. As paisagens marítimo-fluviais são integradas em cenas campestres. Uma das pinturas retrata um porto de mar com pequenas e grandes embarcações, um outro representa um pescador de pé sobre pequena embarcação a remos, outro uma cena campestre, com pastor e o seu cão apascentando o gado, próximo de um edifício de arquitectura neoclássica, e por último, um de temática campestre onde se vislumbra um animal.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Política e administrativa: sese de associação

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

CAIADOR: José Luís Moita de Madureira (atrib.) ou Manuel José de Meireles (atrib.), António Fernandes *2 (atrib.) (séc. 18 / 19). ESTUCADOR: mestre de Afife (atrib.) (séc. 18 / 19).

Cronologia

Séc. 18, 1ª metade - Construção do solar; séc. 18, meados - pertencia a D. Engrácia da Silva, casada com o Capitão-mor João Carlos d'Oliveira Pimentel, pais do General António José Claudino d'Oliveira Pimentel, aqui nascido em 1776; séc. 18, finais / séc. 19, inícios - início de execução dos tectos estucados do andar nobre, possivelmente por um mestre de Afife, discípulo de Giovanni Grossi, com possível colaboração do caiador Luís Moita de Madureira, que procedeu à caiação da Igreja Matriz em 1792 ou de Manuel José de Meireles, que trabalhou na região entre 1849 / 1865 e de António Fernandes; séc. 19 - remodelação da casa, com construção das mansardas; construção de forno de pão tradicional, no prolongamento da ala nascente; séc. 20 - o edifício foi dividido em 2 moradias independentes, correspondendo uma ao edifício principal virada para o Lg. General Cláudino e a outra à parte situada na R. Manuel Seixas; séc. 20, 2ª metade - construção de padaria, no lado SE do jardim, primeiramente com forno tradicional e mais recentemente eléctrico; na parte virada ao largo funcionou ainda um café.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; pilastras, cunhais, molduras de vãos, friso e cornija e escada interior em cantaria de granito; pavimento em madeira; paredes em tabique; tectos em estuque; cobertura em telhado com telha de canudo.

Bibliografia

ANDRADE, António Júlio, Torre de Moncorvo - Notas Toponímicas, in Brigantia, vol. 10, nº 1 / 2, Bragança, 1990, p. 247 - 302; ANDRADE, António Júlio, Dicionário Histórico dos Arquitectos, Mestres de Obras e Outros Construtores da Vila de Torre de Moncorvo, in Brigantia, vol. 11, n.ºs 3-4, Bragança, 1991, pp.21-48; PEREIRA, Liliana Maria Ferreira Figueiredo, Estuques no Espaço Doméstico - Contributos para Um Itinerário na Arquitectura Rústica e Nobre do Norte de Portugal, com particular Incidência no Douro Superior. Estudo de uma peça. O Solar dos Pimentéis, em Torre de Moncorvo, 2 Volumes, Lisboa, (dissertação de Mestrado em História da Arte da Universidade Lusíada), Universidade Lusíada, 2003; SANTOS, Ana Paula Machado dos, A Oficina Baganha: Uma Colecção no Museu Nacional Soares dos Reis, Sep. da Revista Museu, 4ª série, n.º 4, s.l., 1995; SOUSA, Fernando de, O Arquivo Municipal de Moncorvo, Porto, s.e., 1982.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

C. M. de Moncorvo: 1997 - limpeza e pintura do frontispício e das caixilharia.

Observações

*1 - Onde hoje se apresenta o primeiro pano, (na ala E. do corpo principal), existiu em tempos uma ruela que ligava às traseiras do edifício, dando acesso a um forno a lenha localizado na R. César Ribeiro (antiga rua dos Mesteres). *2 - O Auto de Arrematação do fornecimento da cal para a obra dos canos do chafariz, confirma que António Fernandes era o fornecedor habitual da época, pois diz: "Ano de... pareceu António Fernandes caleiro da vila de Mós e disse que ele se obrigava... a fazer este ano todo e o que vem toda a cal que o forno puder cozer para a obra da Igreja desta vila e que sempre em todo o ano que vier tem para a cozer o fará tendo sempre o forno concertado pêra ela pêra que não haja falta na obra que se quer começar e que se lhe dará logo de antemão oito mil reis pêra a fábrica da dita cal", (Levantamento dos caiadores e do fabricante de cal extraído de Andrade, 1991, pp. 32 e 37).

Autor e Data

Paulo Amaral e Miguel Rodrigues 1997 / Sandra Alves 2006

Actualização

 
 
 
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